Prof. Fernando Antunes Soubhia

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Transcrição:

CAPÍTULO VI DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL SEÇÃO I DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL Constrangimento Ilegal Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de escolha. Garantia do princípio da legalidade CF, art. 5, II 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Constranger impor contra a vontade b) Meio Executório: Violência pode ser direta ou indireta (ex: retirar as muletas de um aleijado ou arrancar as portas de uma casa para forçar os moradores a saírem (HUNGRIA, apud. JUNQUEIRA) Grave ameaça Outro meio capaz de reduzir a resistência da vítima É possível constrangimento por meio de omissão? Sim. Ex: Enfermeira deixa de alimentar o paciente para obrigá-lo a determinado comportamento. c) Ilegitimidade do comportamento imposto: a sujeição a que a vítima se submete deve ser ilegítima. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 1

Constrangimento para impedir alguém de pratique ato ilícito não configura o crime. Deverá ser analisada, no entanto, a proporcionalidade dos meios empregados. Por outro lado, o Constrangimento para evitar a prática de ato meramente imoral (ex: incesto), configura o crime. Atenção: Se o sujeito passivo é constrangido a praticar crime, não responderá em razão da exclusão de sua culpabilidade (coação irresistível). O coator, no entanto, responderá como autor mediato do crime praticado, em concurso material com o constrangimento ilegal. Guilherme Nucci faz uma ponderação importante: Não é porque a lei impõe um dever que outra pessoa está autorizada a forçá-lo mediante violência ou grave ameaça, a cumprir a obrigação, pois vivemos num Estado democrático de Direito, onde o Estado assumiu o monopólio do direito de punir e exigir compulsoriamente a prática de alguma conduta. Portanto, muitas vezes, quando o particular constrange outrem a fazer o que a lei manda estará praticando o crime de exercício arbitrário das prórprias razões (NUCCI, Código Penal Comentado. 12ª Ed. RT: São Paulo, 2012. p. 746) d) Constrangimento para impedir o Suicídio: tirar a própria vida não é considerado infração penal, mas há previsão específica para exclusão do crime quando o constrangimento for praticado para evitar o suicídio alheio (art. 146, 3º, II). A doutrina diverge quanto a natureza jurídica da exclusão do crime. Para uns, trata-se de causa de atipicidade (dominante); para outros, exclusão da antijuridicidade. 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade coagir alguém. 4) SUJEITOS: Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 2

a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa com capacidade de autodeterminação. i. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime material, exige que a pessoa efetivamente pratique ou deixe de praticar o ato. 6) TENTATIVA Admite-se. Aumento de pena 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. 7) Causas de Aumento de Pena a. Mais de três pessoas o concurso intelectual não é suficiente. A pluralidade de agentes deve estar presente na execução do crime b. Emprego de Armas Prevalece que a arma deve ser efetivamente utilizada, não bastando o porte, ainda que ostensivo. Prevalece Também que é necessário que seja arma de verdade, a revogação da súmula 174 do STJ afasta a possibilidade de arma de brinquedo majorar a pena. Há corrente que exige mais de uma arma (Bittencourt), mas prevalece que basta uma (Pierangeli) Prevalece, por fim, que a arma pode ser imprópria. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 3

3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. 8) Exclusão do Crime a. Intervenção médica quando houver iminente perigo de vida b. Impedir o suicídio A doutrina diverge quanto a natureza jurídica da exclusão do crime. Para uns, trata-se de causa de atipicidade, uma vez que o constrangimento deve ser para a prática ou omissão de ato ilegítimo (Nucci - dominante); para outros, trata-se de exclusão da antijuridicidade. Ameaça Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de escolha. A pessoa ameaçada deixa de escolher livremente suas ações. 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Ameaçar prometer causar mal a alguém b) Meio Executório: Palavra Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 4

Escrito Gesto Qualquer outro meio simbólico É possível ameaça por meio de omissão? c) Mal injusto e grave Não haverá crime se o agente prometer realizar mal justo (legítimo). Ex: se não abaixar o som, vou chamar a polícia; Se não pagar em dia, incluirei seu nome no SERASA. A gravidade deve levar em conta a subjetividade da vítima (Mirabete). O critério do homem médio ainda é utilizado (Noronha), mas é injusto. O mal prometido deve ser grave e possível, bem como deve haver credibilidade na ameaça (idoneidade). Por vezes, ainda que o mal seja fisicamente impossível, deve ser analisado se não se trata de uma força de expressão e se não há uma ameaça velada. P. ex: vou arrancar seu couro; hoje a cobra vai fumar; vou triturar você... d) Mal futuro o mal prometido não pode estar na iminencia de ocorrer (ex: gritar vou quebrar sua cara seguido de um soco). Classificações da ameaça: Explícita clara e induvidosa Implícita de forma velada, oculta dentro de uma simbologia Direta mal recairá sobre a própria pessoa ameaçada Indireta o mal recairá sobre terceira pessoa Condicional o mal depende de acontecimento futuro ou de um comportamento da vítima Incondicional o mal não depende de nada Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 5

3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade amedrontar a vítima. Existe discussão sobre o afastamento do elemento subjetivo quando o agente se encontra excepcionalmente exaltado ou mesmo embriagado, pois, em tais situações, a ameaça decorreria do desequilíbrio emocional e não da vontade livre e consciente de amedrontar (Regis Prado). Prevalece que não afasta (Hungria, Damásio, Cunha) 4) SUJEITOS: a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa com capacidade de compreender a ameaça. i. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime formal, não exige que a pessoa se sinta efetivamente amedrontada. 6) TENTATIVA Admite-se, quando praticada por escrito e interceptada. 7) AÇÃO PENAL pública condicionada 8) CONFLITO APARENTE DE LEIS a) CDC, art. 71 - Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um ano e multa. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 6

b) Lei 7170/83, art. 28 - Atentar contra a liberdade pessoal de qualquer das autoridades referidas no art. 26. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos. Seqüestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado: (Vide Lei nº 10.446, de 2002) Pena - reclusão, de um a três anos. 1) OBJETIVIDADE JURÍDICA Liberdade individual, mais especificamente a Liberdade de Locomoção, Liberdade Ambulatória. 2) TIPO OBJETIVO a) Verbo núcleo Privar tolher ou comprometer a liberdade locomotiva de alguém b) Sequestro x Cárcere privado: Sequestro privação de liberdade sem confinamento (ex: em uma fazenda, uma casa) Cárcere Privado privação de liberdade com confinamento (ex: em um quarto, um buraco) A possibilidade de fuga não desnatura o crime, desde que haja risco pessoal ou que a vítima desconheça a possibilidade. c) Meio executório crime de forma livre. Pode ser praticado com violência, grave ameaça, fraude ou até mesmo por omissão (ex: médico que se recusa a dar alta ao paciente). d) Tempo relevante (?) - Parcela da doutrina entende que para se configurar o crime de sequestro ou cárcere privado, a Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 7

privação da liberdade deve se prolongar por tempo relevante (Junqueira). Prevalece, no entanto, que a extensão de tempo da privação é irrelevante, bastando a restrição da liberdade. 3) TIPO SUBJETIVO Dolo. Consciência e vontade de privar a vítima de sua liberdade. Não pode haver elemento subjetivo específico. Se houver o crime se desnaturará para outro (Extorsão mediante sequestro, Exercício Arbitrário das Próprias Razões, Tortura, Redução a Condição Análoga de Escravo...) 4) SUJEITOS: a. Ativo qualquer pessoa. i. Se for praticado por funcionário público poderá caracterizar abuso de autoridade (Lei 4.898/65) b. Passivo qualquer pessoa. i. O consentimento da vítima exclui o crime. ii. Se for praticado contra Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, por motivos políticos, o crime será o do art. 28, da Lei de Segurança Nacional Lei 7,170/83 5) CONSUMAÇÃO Crime formal, consuma-se com a privação da liberdade. O crime é de natureza permanente, de modo que a consumação se prolonga no tempo. 6) TENTATIVA Admite-se, por se tratar de crime plurissubsistente. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 8

1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. 7) QUALIFICADORAS a. Vítima ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, maior de 60 ou menor de 18: Companheiro foi incluído pela lei 11.106/05 Idoso foi incluído pelo Estatuto do Idoso Atenção: por se tratar de crime permanente, caso a vítima tenha sido sequestrada antes das referidas leis, mas a liberação tenha ocorrido depois, aplica-se a qualificadora em razão da súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. b. mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital internação fraudulenta ou simulada. Interna-se a pessoa sem que seja necessário ou contra sua vontade. c. privação da liberdade dura mais de quinze dias argumento de reforço para aqueles que ensinam que a duração da privação da liberdade é irrelevante. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 9

d. fins libidinosos continuidade típico normativa do crime de rapto violento. 8) CONFLITO APARENTE DE LEIS a. ECA, art.230 - Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Trata-se da apreensão de criança ou adolescente em desconformidade com as exigências legais (ECA, art. 106). Se houver cárcere, o crime será o do art. 148, 1º, IV b. CP, art.157, V se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. A distinção reside no tempo de privação da liberdade. Se apenas o suficiente para praticar o roubo, haverá a causa de aumento; se for além do necessário, haverá concurso material de crimes. Direito Penal III Crimes Contra a Liberdade Pessoal Página 10