Ciclos biogeoquímicos: P e S

Documentos relacionados
Cálcio Magnésio Enxofre

1. Objetivo. 2. Introdução

FACULDADE VÉRTICE CURSO AGRONOMIA MICROBIOLOGIA DO SOLO TEMAS: BIOTA E AGREGAÇÃO DO SOLO E OS PRINCIPAIS MICROORGANISMOS DE IMPORTÂNCIA AGRÍCOLA

Ciclagem de nutrientes (com aspectos microbiológicos)

Ciclos Biogeoquímicos

INTRODUÇÃO. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

Eco new farmers. Módulo 2 Solos e nutrientes vegetais. Sessão 2 O sistema planta/solo

O SOLO COMO F0RNECEDOR DE NUTRIENTES

CIÊNCIAS DO AMBIENTE E ECOLOGIA

FUNÇÕES MICROBIANAS NOS SOLOS: ciclos biogeoquímicos

Ciclos Biogeoquímicos

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) Fertilidade do Solo Prof. Josinaldo

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Antoine de Lavoisier

CÁLCIO ENXOFRE E XOFRE DISPONIBILIDADE MAGNÉSIO PARA AS INTRODUÇÃO ORIGEM E FORMAS NO SOLO DISPONIBILIDADE CÁLCIO PARA AS CULTURAS CULTURAS

Matéria Orgânica do Solo. Everlon Cid Rigobelo

NUTRIÇÃO MINERAL GÊNESE DO SOLO. Rochas da Litosfera expostas ao calor, água e ar. Alterações físicas e químicas (intemperismo)

Nutrição Mineral de Plantas FÓSFORO NA APLANTA. Josinaldo Lopes Araujo

INTERAÇÃO MICRO-ORGANISMOS E MEIO AMBIENTE - CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Ciclos Biogeoquímicos

CICLO DO ENXOFRE. O enxofre é indispensável na elaboração de proteínas. cisteina H 2 N CH C CH 2

MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO (MOS) Fertilidade do Solo Prof. Josinaldo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA E QUANTIDADES LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA NATUREZA. Uruguaiana, maio de 2016.

01/03/2013 FLUXO DE ENERGIA E MATÉRIA. A matéria obedece a um ciclo FLUXO CÍCLICO PRODUTORES CONSUMIDORES. MATÉRIA INORGÂNICA pobre em energia química

1) Introdução CONCEITO:

Fluxos de Energia e de Materiais nos Ecossistemas

Água A água é uma substância química cujas moléculas são formadas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O). É abundante no planeta Terra,

IFRN CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Ciclos Biogeoquímicos Luciana Ramalho 2015

GASPAR H. KORNDÖRFER RFER UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

Enxofre Nutrição Mineral de Plantas ENXOFRE. Prof. Volnei Pauletti. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola

Propriedades Químicas

CALAGEM -Aula passada. Tomada de decisão. Preciso aplicar calcário? . Quanto preciso aplicar de calcário? -Procedimentos alternativos

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRONÔMICA NUCLEO DE GEOLOGIA PROPRIEDADES DO SOLO. Profa. Marciléia Silva do Carmo

Vamos iniciar o estudo da unidade fundamental que constitui todos os organismos vivos: a célula.

Ciclos biogeoquímicos

Enxofre Nutrição Mineral de Plantas ENXOFRE. Prof. Volnei Pauletti. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola

BIOLOGIA DO SOLO: estrutura e diversidade

Fósforo. Professor: Volnei Pauletti Mestranda: Iara Lang Martins. Curitiba, 20 de setembro de 2010.

BIOLOGIA. Ecologia e ciências ambientais. Ciclos biogeoquímicos Parte 1. Professor: Alex Santos

A aplicação do composto Ferti Trás-os-Montes nas culturas dominantes na região

Principais funções dos sais minerais:

Ciclos Biogeoquímicos

Prof. Marcelo Langer. Curso de Biologia. Aula 12 Ecologia

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CÉLULA. Prof.(a):Monyke Lucena

Freqüência Relativa das Deficiências de Enxofre no Brasil

MICRONUTRIENTES NO SOLO

CALAGEM -Aula passada. Tomada de decisão. Preciso aplicar calcário? . Quanto preciso aplicar de calcário? -Procedimentos alternativos

Nutrição bacteriana: macronutrientes; micronutrientes; fatores de crescimento; necessidades nutricionais;

O PAPEL DA MATÉRIA ORGÂNICA NA FERTILIDADE E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS. LUSOFLORA SUSTENTABILIDADE E INOVAÇÃO 23 Fevereiro

Biomoléculas e processos Passivos/Ativos na célula

Composição da água do mar

Composição Química das Células: Água e Sais Minerais

NITROGÊNIO. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Campus Experimental de Dracena Faculdade de Zootecnia

SUMÁRIO. Capítulo 1 ESCOPO DA FERTILIDADE DO SOLO... 1

COMPORTAMENTO AMBIENTAL DOS HERBICIDAS. INSTITUTO AGRONÔMICO/PG Tecnologia da Produção Agrícola/Manejo e Biologia de Plantas Daninhas/AZANIA(2010)

Diversidade Microbiana e Habitats

NATUREZA E TIPOS DE SOLOS ACH-1085

Formas e dinâmica do potássio no solo. Avaliação da disponibilidade de potássio. Recomendação da quantidade de potássio

Solo características gerais. Definição: solo = f(rocha+ clima + relevo+biota)

Ciclos Biogeoquímicos

Bases conceituais úteis a fertilidade do solo. Prof. Dr. Gustavo Brunetto DS-UFSM

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS OU CICLOS DA MATÉRIA

Estratégias de manejo do solo e fertilidade

BIOLOGIA MOLECULAR. Água, Sais Minerais, Glicídios e Lipídios. Biologia Frente A Laís Oya

Biomoléculas e processos Passivos/Ativos na célula

Nutrição bacteriana. José Gregório Cabrera Gomez

Dinâmica de nutrientes: solo e planta. Rosana Alves Gonçalves

Eco new farmers. Módulo 2 Solos e nutrientes vegetais. Sessão 1 Solos e fertilização dos solos

INTERACÇÃO ÁGUA-ROCHA O caso das rochas ígneas, sedimentares e metamórficas

CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EM ECOLOGIA PROFª LUCIANA GIACOMINI

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS UFG - PPGA

Química Ambiental Aula 09 Química dos Solos - parte I

Manejo Regenerativo de Solos para Citricultura.

CICLOS BIOGEOQUÍMICOS. O processo contínuo de retirada e devolução de elementos químicos à natureza constitui os chamados ciclos biogeoquímicos.

CURSO DE AGRONOMIA FERTILIDADE DO SOLO

QUÍMICA Com base nessas informações e nos dados da tabela que apresenta algumas propriedades físicas dos haletos de hidrogênio,

Na Atmosfera da Terra: Radiação, Matéria e Estrutura Unidade temática 2

Ciclos Biogeoquímicos. A trajetória dos nutrientes nos ecossistemas

Ciclos em escala global, de elementos ou substâncias químicas que necessariamente contam com a participação de seres vivos.

Ciclos Biogeoquímicos. Prof. Fernando Belan - BIOLOGIA MAIS

Fatores de Formação de Solos

Figura 1. Deposição de matéria orgânica da Mata Atlântica

MANEJO CONSERVACIONISTA DA ADUBAÇÃO POTÁSSICA JOÃO MIELNICZUK

Biomoléculas. * Este esquema não está a incluir as Vitaminas que são classificadas no grupo de moléculas orgânicas. Biomoléculas

Efeito sinérgico do Mg e P

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

Biologia 12º Ano Preservar e Recuperar o Ambiente

SOLO a) Estrutura do solo

Composição da água do mar. Salinidade nos oceanos. Composição da água do mar. Vanessa Hatje. Média Hipersalinos S > 40. Hiposalinos S < 25

Na Atmosfera da Terra: Radiação, Matéria e Estrutura Unidade temática 2

APRESENTAÇÃO SEMINÁRIO - QUI193 TIPOS DE BIORREMEDIAÇÃO E EXEMPLOS DE APLICAÇÃO EM SOLOS CONTAMINADOS

Química Ambiental Aula 09 Química dos Solos - parte I

UNESP Universidade Estadual Paulista Campus Experimental de Dracena Fazuldade de Zootecnia. Curso: Zootecnia Professor: Dr. Reges Heinrichs 2010

DOCENTES: Prof. Ana Barbosa

Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA Ciclos biogeoquímicos: P e S Profª. Renata Canuto de Pinho

Ciclo do fósforo O fósforo é essencial para plantas e animais na forma dos íons PO 4 3- e H 2 PO 4- (ortofosfato) Faz parte de moléculas como ácidos nucléicos (DNA), energéticas (ATP e ADP), de células lipídicas, e da estrutura do corpo de animais como fosfato de cálcio (ossos, dentes, etc.) ausente em celulose, hemicelulose, lignina, e proteínas

Ciclo do fósforo Encontrado em formações rochosas, sedimentos, e em sais de fosfato (absorvido por plantas), mas nunca na forma gasosa Encontrado em pequenas quantidades, por isso é um fator limitante A ciclagem do fósforo é uma das mais lentas, especialmente se estiver nos sedimentos (feita por microrganismos) No solo pode ser adsorvido por partículas, tornando-se, assim, imobilizado

Aspectos globais do fósforo O ciclo do P pode ser diagramado de inúmeras formas aspecto particular a ser enfatizado. Principais compartimentos do P no solo (10 12 kg) Biota terrestre 2,6 dependendo do Fitomassa 1,8 Microbiota 0,8 Água doce 0,09 Rochas mineráveis 19 Oceanos Sedimentos: 840.000 Dissolvido (inorg.): 80 Biota: 0,050-0,12 Solos 96-182

Três formas de fósforo nos solos: Formas no solo Fósforo orgânico: na matéria viva, plantas, microrganismos, etc. Fósforo solúvel: disponível. Orgânico bem como ortofosfato. Menor proporção de P do solo Fósforo adsorvido: indisponível. Anionicamente ligado a cátions de Al, Fe e Ca. O ciclo do fósforo tem 2 componentes principais que ocorrem em diferentes escalas de tempo: No componente local ele cicla nos ecossistemas em tempo ecológico Nos sedimentos ele faz parte da porção classificada em tempo geológico. Somente será mobilizado milhões de anos mais tarde

Ciclo do fósforo Chuva Soerguimento Plantas Intemperização de rochas Escoamento Fosfato em solução Animais Fosfato no solo Lixiviação Precipitação química Detritos depositados Decompositores Sedimentação = nova rocha

Transformações e ciclagem do fósforo Resíduos vegetais e animais (5) Processos: Mobilização Imobilização Aquisição Perdas (A) (A/B) (B/E) Planta (10) Solução do Solo (0,001-0,01) (B) Absorção (C) Biomassa Microbiana (10-30) (E) Fertilizantes (10) (C) A/B Decom./Min. C Imobilização D Solubilização (E) E Adsorção/Reten. Orgânico (100-400) lábil passivo resistente (B) (C) (D) adsorção precipitação mineral Inorgânico (50-200) (kg.ha -1 )

P-orgânico do solo Devido ao alto teor nos micro-organismos (2% MS) é o segundo nutriente mais abundante na MOS (400 kg ha -1 ) Alta correlação com C-orgânico do solo 1 a 3% da MOS: 30-50 % P-inositol (Fitatos) 3-5 % Ác. Nucléicos até 5% outros Importância é evidente como reserva no solo, porém complicada quanto ao efeito nutricional

P-orgânico do solo Frações: lábil, passiva ou resistente: moderadamente lábeis são responsáveis por 80-90 % do P-mineralizado. Macromoléculas precisam ser degradadas antes da mineralização pelos heterotróficos do solo: Hidrólise enzimática 1- Fosfatases Hidrólise de ésteres (MO - fungos, plantas, animais) 2- Nucleases/nucletidases Nucleotídeos e Ac. Nucléicos (MO rizosféricos) 3- Fosfolipases fosfolipídeos (actinomicetos)

Imobilização biológica do fosfato P-orgânico Mineralização PO -3 4 Imobilização Relação C/P: Bactérias do solo = 30:1 Resíduos de alfafa = 260:1 Milho = 600:1 - Teor e relação C/P do resíduo em decomposição C:P 300 tendem a imobilizar. C:P 200 favorece a mineralização líquida Imobilização é temporária em função da progressão da mineralização P-microbiano é a principal fração mineralizável (pode atingir 50% por ano)

Solubilização do fosfato Fosfatos Insolúveis Solubilização Plantas (exsudatos) Microrganismos Pi assimilável Descoberta: Século passado (1908) quando Sackett detectou a Ação solvente de bactérias do solo Gerretsen (1948): Eliminação dos MO reduz absorção de P Sperber (1957): Solubilização é comum dentre os MO do solo e tentou elucidar o mecanismo, sugerindo o envolvimento de ácidos orgânicos Os solubilizadores estão presentes em todos os solos, onde representam até 15% de toda comunidade microbiana

Solubilização do fosfato Os microrganismos solubilizadores de fosfatos (MSP) Ocorrência generalizada (bactérias, fungos): Bacillus, Pseudomonas, Aspergillus Densidade população é variável (rizosfera > solo) Facilidade para solubilização de P-Ca, limitada solubilização para P-Al e P-Fe Ca 5 OH(PO 4 ) 3 + 4H + 5Ca 2+ + H 2 O + 3HPO 4-2 FePO 4 + 2H + Fe 2+ + H 2 PO 4 - AlPO 4 + 2H + Al 3+ + H 2 PO 4 - Tem potencial, mas falta P&D para aplicação em larga escala

Processos biológicos que regulam a disponibilidade de P Moreira & Siqueira, 2006

Efeito antropogênico O fluxo de P no ciclo foi alterado em 400% Atividade industrial, doméstica e agrícola. Uso excessivo de fertilizantes; Contaminação das correntes de água pelo uso de ácido sulfúrico para extrair o fósforo das rochas; Eutrofização de corpos d água.

Ciclo do enxofre Um dos 10 mais abundantes elementos do universo Principais compartimentos do S no planeta (kg) Atmosfera 4,8 x 10 9 Água doce 3,0 x 10 12 Oceanos: 1,3 x 10 18 Biota: 2,4 x 10 11 Pedosfera Solos: 2,6 x 10 14 MOS: 0,1 x 10 14 Plantas: 7,6 x 10 11 Litosfera 24,3 x 10 18 Xisto, carvão, calcário e arenitos

Ciclo do enxofre Moreira & Siqueira, 2006

Origem do enxofre no solo Principal fonte original de S no solo Pirita (FeS 2 )de rochas ígneas. Oxidação Pirita SO 2-4 SO 4 2- é a principal forma de absorção de enxofre pelas plantas

Precipitação ácida Conservar energia; Transporte coletivo; Utilizar fontes de energia menos poluentes; Purificação dos escapamentos dos veículos; Utilizar combustíveis com baixo teor de enxofre.

Prof. Lixiviação de sulfato Teor de Sulfato Alta mobilidade no perfil do solo e baixa no tecido vegetal

Fluxos de S na agricultura Componente kg ha -1 ano -1 Absorção pelas plantas 10-50 Exportação pela colheita 5-20 Exportação em produtos animais 0-5 Entrada de S atmosférico 2-20 Lixiviação 0-50 Intemperização 0-5 Emissões para atmosfera desconhecido Stevenson & Cole (1999)

Mineralização e imobilização Frações do S no solo: - SO 4 2- - S-orgânico lábil (disponível) - S-resistente (complexado) Em torno de 90% do S presente na camada arável do solo acha-se na forma orgânica em estreita relação com o C, N e P. A maior parte está ligada ao C (C-S) - aminoácidos Cisteína Cistina Metionina 30% do S-orgânico do solo

Mineralização e imobilização A relação C/S da MOS é alta 100:1 e não tão consistentes como as relações C/N Por que isso? As alterações resultam de diferenças devido ao material de origem, lixiviação e adições de S Em solo aerado o ciclo do S resume-se basicamente na decomposição/mineralização de S-orgânico à sulfato inorgânico. C/S < 200 Mineralização líquida C/S > 400 Imobilização líquida

Mineralização e imobilização Decomposição: - Heterotróficos - Sulfatases (SO 4 2- ) Solos aerados - Desulfidrases (H 2 S) Solos alagados Transformações Inorgânicas - Redução dissimilatória (respiratória): SO 4 2- ou S 0 S 2- (indesejável devido a formação de chuvas ácidas) - Redução assimilatória (imobilização): SO 4 2- ou S 0 S-orgânico - Oxidação da Pirita (Thiobacillus ferroxidans)

Transformações inorgânicas CO 2 FeS 2 e - ATP NaDPH + Fe 3+ H 2 SO 4 2- Biomoléculas Thiobacillus ferroxidans

Transformações inorgânicas FeS 2 e - Thiobacillus ferroxidans Fe 3+ H 2 SO 4 2- UO 2 Fe 3+ Fe 2+ UO 2 SO 4 2- Uranina solúvel

Bibliografia sugerida