PATRIMÔNIO CULTURAL: Conceitos e definições UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA F A C U L D A D E D E E N G E N H A R I A DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO Curso: Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Tecnicas Retrospectivas II Profª. Raquel von Randow Portes Prof. Fabio Jose Martins de Lima PATRIMÔNIO CULTURAL: Conceitos e definições

O QUE É PATRIMÔNIO CULTURAL? META: A compreensão dos significados da noção de patrimônio cultural, sua origem histórica no Ocidente, bem como suas implicações em nossa vida cotidiana, na atualidade

O Que é Patrimônio Cultural? Senso comum - igrejas antigas, edifícios de grande beleza etc. (representações materiais daquilo que consideramos importante para nós, ainda que o seu significado nos seja desconhecido). Mais recentemente, o que se entende por patrimônio parece se ampliar cada vez mais. (Ouvimos notícias de objetos os mais diversos e inusitados serem considerados como patrimônios: da capoeira à torcida do Flamengo, do samba aos terreiros.) Para compreendermos melhor, devemos primeiramente desnaturalizar essa categoria e tudo o que a envolve, isto é, não tratá-la como se fosse natural, óbvia e tivesse sempre existido. Vamos analisar sua história, observá-la como um dado cultural e não natural.

Patrimônio Cultural uma invenção moderna PATRIMÔNIO: tem origem jurídica e está ligada à idéia de herança, propriedade legada aos herdeiros, transmissão. A expressão PATRIMÔNIO CULTURAL: implica em se conceber a cultura como um bem valioso a ser transmitido às futuras gerações. O termo patrimônio resulta de uma série de transformações históricas que marcaram o processo de modernização ocidental intensificado no final do século XVIII e ao longo de todo o século XIX. A ideia de patrimônio cultural possui duas origens distintas, mas convergentes, na atribuição de valor a certos objetos eleitos como representantes da coletividade. A primeira vem do surgimento da categoria de MONUMENTO HISTÓRICO.

A ALEGORIA DO PATRIMÔNIO(CHOAY, 2001): distinção fundamental entre monumento e monumento histórico. MONUMENTOS: podem ser encontrados nas mais diversas civilizações, desde a Antiguidade. Sua função seria de comemorar ou homenagear os mortos, guardando a memória dos antepassados através de rituais de caráter religioso, para as gerações futuras. MONUMENTO HISTÓRICO: ao contrário, tem uma origem e uma localização mais restritas. Surgiu no Ocidente, mais ou menos na época da Revolução Francesa, em grande parte em função do vandalismo dos revolucionários que ameaçavam a destruição de edifícios históricos na França. Seu significado pode ser o de testemunha da história uma memória que já não é mais a nossa -, ou de celebração de valores (estéticos, culturais, sociais) com os quais nos identificamos. é filho da modernidade, no sentido de que é marcado por uma relação de distanciamento com a tradição e com a memória. Sua relação com o passado é o de saber MONUMENTO PERDE ESPAÇO PARA OS MONUMENTOS HISTÓRICOS (TECNOLOGIAS DE SUPORTE DE MEMÓRIA )

A segunda origem da ideia de PATRIMÔNIO CULTURAL está na prática de montar coleções. PATRIMÔNIO CULTURAL COLECIONISMO prática que se relacionam com bens que, perderam seu valor de uso, mas mantêm algum significado. Ainda, bens que são objetos a que se atribuem uma dimensão sagrada e cuja posse está vinculada a alguma demonstração de poder - exposição. A partir dos séculos XIX e XX é que se assiste a uma nova atitude perante essas coleções, quando o culto da nação vem substituir os cultos religiosos tradicionais. A cultura material passa a ser encarada como patrimônio de uma nação, traduzindo vestígios de sua identidade nacional. MUSEUS, BIBLIOTECAS, ACERVOS - depositários da herança dos povos. MONUMENTOS HISTÓRICOS - CULTURA MATERIAL pressupõem uma relação de distanciamento com o passado, que passa a ser visto como algo passível de ser irremediavelmente perdido, portanto ameaçado de extinção. Sociedade - esforço de preservação - proteção de seus resíduos e símbolos mais importantes - memória da nação.

Patrimonialização processo social, prática cultural, ato político Processo que leva à eleição de certos bens como patrimônios culturais. Quem é o responsável por essa eleição e por quê? A SOCIEDADE seleciona certos bens que ela considera mais significativos do ponto de vista de sua MEMÓRIA COLETIVA, tornando-os visíveis, sejam peças numa exposição de museu, sejam grandes monumentos, como igrejas, fortificações, às vezes cidades inteiras. DECISÕES POLÍTICAS, ESTRATÉGIAS SOCIAIS E PRÁTICAS CULTURAIS. CULTURA enquanto PROPRIEDADE - porque representanta uma IDENTIDADE

CURIOSIDADE... A luta dos funkeiros do Rio de Janeiro pelo reconhecimento do funk carioca como uma manifestação cultural, fato conquistado em 2009 na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, é um exemplo bastante significativo e bem recente de um processo de patrimonialização, no sentido amplo do termo, isto é, de atribuição de valor positivo a uma expressão cultural relativa à identidade de um grupo social específico, pelo poder público, o que confere reconhecimento a tal grupo no conjunto que constitui o todo da sociedade. Com isso uma mudança significativa ocorre: o funk passa a ser assunto da Secretaria de Cultura e não mais da Secretaria de Segurança Pública, como vinha sendo tratado.

CONCEITO DE MEMÓRIA SOCIAL PATRIMÔNIO CULTURAL Os estudos sobre a modernidade apontam como um de seus fatores decisivos a consciência da ruptura com o passado. até a Idade Média: a memória repousava na capacidade das pessoas em se lembrarem do passado daí a importância adquirida pelos exercícios mnemônicos e por práticas sociais que treinavam o uso da memória, a partir dos séculos XV e XVI, até os séculos XIX e XX: observamos o advento dos suportes materiais de memória principalmente livros e obras de arte -, que passam a ter a função de mediar a relação entre a sociedade e sua memória. Na atualmente: podemos destacar o surgimento do computador (e todas as formas de suporte digitais derivados dele) como um novo marco nesse processo de substituição da memória tradicional por formas artificiais de memória

CONCEITO DE MEMÓRIA SOCIAL PATRIMÔNIO CULTURAL Maurice Halbwachs sociólogo francês memória como uma representação coletiva dos grupos sociais, com a finalidade de mantê-los coesos e unidos. Assim... A preservação da memória dos grupos sociais é reivindicada como o fundamento da preservação dos próprios grupos sociais, pois sem ela não teriam como manter sua identidade e coesão internas. TODO PROCESSO DE PATRIMONIALIZAÇÃO ENVOLVE, PORTANTO, SELEÇÕES, REMEMORAÇÕES E ESQUECIMENTOS, QUE SE TORNARAM UM CAMPO DE POLÍTICAS PÚBLICAS, QUANDO SE CONSTITUIU NUM NOVO ÂMBITO DE INTERVENÇÃO NO MUNDO SOCIAL.

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL UMA DIVISÃO HISTÓRICA patrimônio material e patrimônio imaterial ou patrimônio tangível e intangível Patrimônio material: todo monumento histórico consagrado: edificações (civis, religiosas ou militares), centros históricos, sítios urbanos, sítios arqueológicos, acervos museológicos, etc. Patrimônio imaterial: "... as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (UNESCO) (atenção - patrimônio imaterial encerra também uma dimensão material)

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL Decreto-lei 25, de 1937, que criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e instituiu o tombamento como o mecanismo legal de proteção do patrimônio brasileiro. Os objetos das ações de preservação nesse momento - grandes monumentos, símbolos da nação. Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), na década de 1970, quando se desenvolveu uma linha de valorização da cultura brasileira. Enfoque primordial na cultura popular, encarada enquanto conjunto de bens culturais representativos dos grupos formadores da nacionalidade. A noção de referência cultural se tornou a chave para o entendimento dessa nova concepção de cultura, onde as referências eram percebidas como indicadores da diversidade cultural brasileira. EM 1979 Fusão entre CNRC e SPHAN

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL Constituição Federal Brasileira, de 1988 consagrou a ampliação da noção de patrimônio cultural no Brasil, como se pode ver em seu Artigo nº 216, onde apresenta sua definição, bem como as atribuições do Estado nessa esfera: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - As formas de expressão; II - Os modos de criar, fazer e viver; III - As criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - As obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. [...]

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL [...] 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL Decreto federal nº 3551, de 4 de agosto de 2000, criou o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI), essa divisão foi reproduzida, por serem necessários instrumentos legais distintos para tratamento, salvaguarda e proteção do patrimônio cultural de naturezas distintas. Apesar das diferenças dos tipos de bens e das formas de salvaguarda dos mesmos, algumas características comuns podem ser percebidas nas duas legislações, relacionadas ao modo como se dá a patrimonialização e o reconhecimento pelo Estado. O tombamento é realizado em quatro Livros do Tombo: - o Livro das Belas Artes, - o Livro Histórico, - o Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e - o Livro das Artes Aplicadas.

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL O registro dos bens imateriais é também realizado em quatro Livros de Registro: - o Livro dos Saberes, - o Livro das Formas de expressão, - o Livro das Celebrações e - o Livro dos Lugares. Cabe reconhecer que mesmo o patrimônio histórico e artístico nacional, tal como instituído em 1937, já implicava em tipos variados de bens a serem preservados: além das categorias presentes nos quatro Livros do Tombo, é preciso destacar os bens móveis e integrados, ou seja, aqueles bens que constituem o acervo das edificações tombadas. Outra categoria importante, objeto de estudos específicos no âmbito do IPHAN, é a de entorno dos bens tombados. NOVOS MODELOS NOVOS SOLUÇÕES - NOVOS EMBATES

PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL: MARCOS HISTÓRICOS NO BRASIL Atualmente, podemos enumerar diversas outras categorias de patrimônio cultural, de naturezas diversas: 1) Por objeto Patrimônio ambiental (ou natural); Patrimônio genético (ligado a questões de patentes e exploração econômica de bens naturais); Os tesouros humanos vivos; Paisagem cultural; 2) Por área de abrangência Nacional (protegido, no Brasil, pelo IPHAN); Local (de atribuição dos municípios); Regional (abrangido pelos estados); Mundial (UNESCO).

- Patrimônio ambiental (ou natural): o Parque Nacional da Capivara Patrimônio genético (ligado a questões de patentes e exploração econômica de bens naturais): plantas medicinais Os tesouros humanos vivos: os mestres da capoeira do Nordeste Paisagem cultural: região da imigração de Santa Catarina Patrimônio nacional (protegido, no Brasil, pelo IPHAN): qualquer bem tombado pelo IPHAN Patrimônio local (de atribuição dos municípios): Catedral Metropolitana de Campinas, a cavalhada de Brumal, na cidade de Santa Bárbara, em Minas Gerais Patrimônio regional (abrangido pelos estados): Fazenda imperial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro; Estação da Luz em São Paulo; povoado de Vila Velha, na ilha de Itamaracá, em Pernambuco, etc. Patrimônio mundial (UNESCO): a Grande Muralha da China,

PARA REFLETIR: PATRIMÔNIO CULTURAL É como se o Brasil fosse um espaço imenso, muito rico, e um tapete velho, roçado, um tapete europeu cheio de bolor e poeira tentasse cobrir e abafar esse espaço. É preciso levantar esse tapete, tentar entender o que se passa por baixo (MAGALHÃES, Aloísio) Esse texto demonstra a visão da cultura brasileira que embasou as ações do CNRC e, mais tarde, da criação da legislação do patrimônio imaterial no Brasil. RESPONDA: Explique de que maneira essa visão se relaciona com a questão da diversidade cultural tão presente no mundo contemporâneo?

Referências PATRIMÔNIO CULTURAL ABREU. Regina; CHAGAS, Mario. (orgs.). Memória e Patrimônio: ensaios Contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade; Ed. UNESP, 2001. CHUVA, Márcia. Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil (anos 1930-40). Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo. Trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ; MinC-IPHAN, 2ª ed., 2005. GONÇALVES, José Reginaldo S. A retórica da perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2ª ed., 2002. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed. Centauro, 2004. KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, PUC-RJ, 2006. LE GOFF, Jacques. História Memória. Campinas: Unicamp, 1990. MAGALHÃES, Aloísio. E Triunfo? A questão dos bens culturais no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Brasília: PróMemória, 1985. MELLO e SOUZA, Lílian de. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1983. OLIVEIRA, Lucia Lippi. Cultura é patrimônio. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2008. NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: Revista do Programa de Pós Graduação em História, n 10, 1993. POMIAN, Krisztoff. Coleção in Enciclopédia Einaudi, vol. 1, Porto: Imprensa Nacional / Casa da Moeda, 1984, pp. 51-86.