RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E A PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO CURRÍCULO, EDUCAÇÃO DAS FORMAÇÃO DE BÁSICA

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Transcrição:

CURRÍCULO, EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E A FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Profa Dra Ana Beatriz Sousa Gomes Universidade Federal do Piauí (BRASIL), absgomes@ufpi.edu.br

O presente trabalho trata da formação de profissionais da educação básica com relação à educação das relações étnico-raciais tendo como base o currículo do curso de Pedagogia com o propósito de analisar a formação de profissionais da educação básica em relação às exigências da Lei Nº. 11.645/2008 (BRASIL, 2008) que alterou a LBD Nº. 9.394/1996 (BRASIL, 1996). Para isto, necessitamos identificar junto aos alunos egressos do curso Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) práticas docentes relacionadas aos conteúdos do curso ERER. Precisamos também analisar o interesse e a percepção dos egressos do curso sobre a oferta do curso ERER, assim também como Identificar os avanços obtidos na área do curso ERER no contexto de atuação dos egressos do curso.

O Curso de Aperfeiçoamento em Educação para as Relações Étnico- Raciais (ERER) foi ofertado na modalidade semipresencial, vinculado ao Programa Rede de Educação para a Diversidade da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação, ao Programa Universidade Aberta do Brasil, ofertado pelo Centro de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal do Piauí.

O Curso ERER teve como objetivo qualificar profissionais da educação, atendendo às determinações da Lei nº. 10.639/2003 (BRASIL, 2003) que alterou o artigo 26 da LDB nº. 9.394/1996 (BRASIL, 1996) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana (BRASIL, 2004), que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afrobrasileira ; como também visa a contribuir na formação continuada de professores e profissionais da educação para a compreensão dos temas transversais referentes às relações étnico-raciais e na prática pedagógica da escola.

Foi um curso com carga horária de 180h, constituída de 36h presenciais e 144h à distância, distribuídas em cinco módulos. A duração do curso foi de 5 (cinco) meses (setembro de 2010 a fevereiro de 2011). O Curso ofertou 300 (trezentas) vagas, designando 60 (sessenta) para cada polo, constituindo-se duas turmas de 30 (trinta) alunos, em cada um dos 05 (cinco) polos, situados no Estado do Piauí (Picos, Inhuma, Esperantina, Buriti dos Lopes e Canto do Buriti).

Para o levantamento dos dados optamos por uma abordagem qualitativa. Este tipo de investigação permite aos sujeitos responderem de acordo com sua percepção pessoal, sem estarem presos a questões fechadas, permitindo-nos compreender os comportamentos a partir das perspectivas dos sujeitos da pesquisa. A fim de captarmos informações relevantes ao estudo proposto, dependemos de 15 (quinze) discentes egressos do curso, 03 (três) de cada pólo, com formação na área de licenciatura em Pedagogia.

1 A Educação das Relações Étnico-Raciais

A Lei n. 10.639 (BRASIL, 2003), de 9 de janeiro de 2003, altera o Art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, incluindo no currículo oficial das escolas, públicas e privadas, nos Ensinos Fundamental e Médio de todo o País, a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Em 2008, a Lei Nº. 10.639/2003 foi revogada pela Lei Nº. 11.645/2008 (BRASIL, 2008) alterando mais uma vez o artigo 26 da Lei n o 9.394/1996 para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

Nesse processo de implementação da Lei Nº 10.639/2003, foi necessária a regulamentação da temática História e Cultura Afrobrasileira. A Resolução nº 01 do Conselho Pleno do CNE institui oficialmente as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana, regulamentando a alteração na LDB. Foi publicada no Diário Oficial no dia 22 de junho de 2004.

Para esse documento a Educação para as Relações Étnico-Raciais é entendida da seguinte forma: A educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade justa, igual, equânime. (BRASIL, 2004, p. 14)

Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço da marginalização e da desigualdade impostas a outros. E então decidir que sociedade queremos construir daqui para frente. (BRASIL, 2004, p. 14)

Nessas Diretrizes, a Educação das relações étnico-raciais tem por objetivo: [...] a divulgação e produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira (BRASIL, 2004, p.19).

Em estudo recente sobre o processo de implementação da Lei nº 10.639, de 2003 no interior de escolas públicas brasileiras, Gomes (2012) revelou que as atividades pedagógicas para a instituição dessa lei têm sido desenvolvidas em meio a inúmeras contradições, tanto de ordem administrativo-burocráticas quanto de ordem ético-teóricometodológica. A constatação de que boa parte dos trabalhos desenvolvidos nessas instituições escolares fundamentava-se apenas, ou prioritariamente, no conteúdo da Lei (cujo caráter sucinto não oferece orientações pedagógicas aos educadores) coloca em risco a eficácia dessa legislação no que se refere às modificações nos padrões de relações étnico-raciais atualmente vigentes no país.

Nesse sentido, os desafios enfrentados no campo da formação de professores para o cumprimento da lei não derivariam apenas das dificuldades relacionadas à ausência de infraestrutura e/ou de recursos financeiros. De acordo com Jesus e Gomes (2013), tais desafios seriam resultados da permanência de representações sociais estereotipadas sobre o continente africano e sobre os afro-brasileiros no interior da sociedade brasileira, o que nos ajudaria a compreender não apenas as dificuldades enfrentadas no processo de promulgação da Lei nº 10.639, de 2003, mas também os desafios enfrentados no processo de implantação e implementação da lei e de suas diretrizes.

2. Formação de Profissionais da Educação Básica e a educação das Relações Étnico-Raciais

Os aspectos mais evidenciados na análise da Formação Continuada de Profissionais da Educação Básica em relação aos preceitos da Lei Nº. 10.639/2003 por intermédio do curso de aperfeiçoamento em ERER oferecido pela UFPI formaram três bases que serão expressas por intermédio dos seguintes eixos: 3.1)práticas docentes de egressos do curso relacionadas aos conteúdos do curso ERER; 3.2)Identificação no contexto de atuação dos profissionais da educação, egressos do curso, dos avanços obtidos na área do curso ERER; e, 3.3)Analise do interesse e a percepção dos profissionais da educação (egressos do curso) sobre a oferta do curso ERER.

3.1 Práticas docentes de egressos do curso relacionadas aos conteúdos do curso ERER A maioria dos docentes egressos do curso ERER relatou que após o curso continuaram a abordar a temática da educação para as relações étnico-raciais por intermédio de debates, Simpósios, Feiras de Ciências e pesquisas.

Os alunos declararam ainda que a prática docente em relação aos preceitos da Lei Nº. 10.639/2003 foi enriquecedora, pois puderam colocar os conhecimentos em prática através dos planos de ação, exigidos como trabalho de conclusão do curso, desenvolvidos em diversas áreas, abordando a temática da educação para as relações étnicos raciais e o ensino de História e Cultura Africana e afrobrasileira. Além disto, os alunos puderam fazer o relatório onde registraram como os trabalhos de conclusão do curso foram realizados e os resultados dos mesmos.

3.2 Identificação dos avanços obtidos na área do curso ERER no contexto de atuação dos egressos do curso Todos os sujeitos pesquisados relataram avanços obtidos após a conclusão do curso ERER. Na orientação de alunos, no desenvolvimento de pesquisas e na atuação como docente, pois antes não sabiam como lidar com várias questões envolvendo as relações étnico-raciais e agora já alcançaram determinados conhecimentos sobre a História da África e dos afrodescendentes no Brasil advindos do curso ERER.

3.3 Análise do interesse e a percepção dos profissionais da educação (egressos do curso) sobre a oferta do curso ERER Para a maioria dos entrevistados para a efetivação dessa Lei, é fundamental também a criação de cursos de formação de professores(as), capacitando profissionalmente os(as) educadores(as), preenchendo as lacunas deixadas pelas universidades que, por sua vez, também precisam reestruturar os currículos dos cursos de graduação para adaptarem-se as exigências da Lei, reformulando os seus programas, para que os(as) novos(as) professores(as) saiam da academia conscientizados e instrumentalizados. Outro aspecto que foi destacado refere-se ao monitoramento da execução dos trabalhos pelo setor pedagógico das escolas e também por parte da comunidade, principalmente a afrodescendente, no sentido de exigir a aplicabilidade da Lei.

3. Considerações Finais

Este estudo constatou, primeiramente, que o curso Educação para as Relações Étnico-raciais proporcionou uma formação importante para a prática pedagógica dos profissionais da educação básica e que ao longo dos anos a formação continuada destes profissionais não vem abordando estas temáticas. Os dados da pesquisa revelam que os trabalhos de conclusão de curso proporcionaram uma inserção dos profissionais da educação em ambientes de formação de outros profissionais, uma vez que trabalharam com oficinas e minicursos, fazendo uma intervenção pedagógica.

O trabalho também verificou que a opinião dos sujeitos sobre a oferta do curso foi positiva, evidenciaram a qualidade dos docentes e do material didático do curso, além da dedicação dos coordenadores do curso. A prática docente dos profissionais da educação sofreu influencias da formação que tiveram no curso Educação para as Relações Étnico-Raciais. Foi evidenciado também por esta pesquisa a Informação e qualificação dos alunos sobre temática sobre as relações étnico-raciais e sobre a Cultura e História Africana e Afrobrasileira com a perspectiva de serem professores multiplicadores nas comunidades e nas escolas dos municípios que residem e trabalham.

Concluímos que as leis que vigoram na perspectiva de fazer valer a história e a cultura dos grupos oprimidos socialmente, com a sua aplicabilidade, estão promovendo a oportunidade, nunca antes vista, da escola e dos agentes educadores refletirem sobre a realidade de desigualdades raciais e sociais brasileiras. Onde havia silêncio e omissão começa a ser preenchido com vozes descomprometidas com o afamado mito da democracia racial. Cursos como o Educação para as Relações Étnico-Raciais que se impõe com medidas propositivas vem para mostrar que numa sociedade plural e diversa, homens e mulheres, negros e não-negros devem ter a mesma liberdade, as mesmas condições de vida e as mesmas possibilidades de ser cidadãos e cidadãs críticos e conscientes de suas origens e de sua história.

Referências BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília-DF: Ministério da Educação e do Desporto (MEC), 1996.. Lei n.º 10.639 de 9 de janeiro de 2003. Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2003.. Ministério da Educação. SEPPIR. INEP. Diretrizes Curriculares para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura afro-brasileira e africana. Brasília-DF, 2004.. Lei n.º 11.645/2008 de 10 de março de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, 11 mar. 2008.

GOMES, Nilma Lino. As práticas pedagógicas com relações étnico-raciais nas escolas públicas: desafios e perspectivas. In: Nilma Lino Gomes. (Org.). Práticas Pedagógicas de Trabalho com Relações Étnico-Raciais na Escola na perspectiva da Lei 10.639/03. 1ªed.Brasília: MEC/UNESCO, 2012, v. 1, p. 19-33. JESUS, Rodrigo Ednilson de; GOMES, Nilma Lino. Panorama de implementação da Lei nº 10.639/2003: contribuições da pesquisa práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola In: SILVA, Tatiana Dias; GOES, Fernanda Lira. (Orgs.). Igualdade racial no Brasil: reflexões no ano internacional dos afrodescendentes. Brasília, DF: Ipea, 2013. p. 81-96.