Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil - Nota Técnica

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Transcrição:

ISSN 1678-5975 Dezembro - 2014 V. 12 nº 1 119-130 Porto Alegre Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil - Nota Técnica Vanz, A. 1 & Fernandes, L.G. 2 1 Oceanólogo, M.Sc. Epagri/Ciram, Rod. Admar Gonzaga, 1347, 88034-901, Florianópolis, SC, fone (48) 3239-8002, e-mail: argeuvanz@epagri.sc.gov.br; 2 Téc. em Meteorologia e Oceanógrafa. Epagri/Ciram, Rod. Admar Gonzaga, 1347, 88034-901, Florianópolis, SC, fone (48) 3239-8002, e-mail: laisfernandes@epagri.sc.gov.br. Recebido em 03 de novembro de 2014; aceito em 09 de dezembro de 2014. RESUMO Este estudo investiga as causas e as características dos afogamentos que resultaram em morte nas praias do Estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Brasil, durante as temporadas, 1 outubro a 30 abril, de 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, 2011/2012 e 2012/2013. Os dados utilizados foram obtidos da mídia - publicado nas formas faladas e escritas, Corpo de Bombeiros de SC e a EPAGRI/Ciram. Os resultados incluem um total de 106 mortes e a temporada mais trágica foi a de 2009/2010, quando foram registradas 35 mortes. As mortes ocorrem com maior frequência no período da tarde, a maioria das vítimas são do sexo masculino com menos de 30 anos de idade. As principais causas dos afogamentos estão relacionadas com as correntes de retorno e da falta de conhecimento da dinâmica das praias pelos banhistas. ABSTRACT Palavras-chave: morte, correntes de retorno; mar. This study investigates the causes and features of the fatal drownings at the beaches of the State of Santa Catarina and Rio Grande do Sul, Brazil, during the following summer seasons: 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, 2011/2012 and 2012/2013. The dataset used was prospected from the media - published in the spoken and written forms - the Fire Department and the EPAGRI/Ciram. Results count a total of 106 deaths, and the most tragic season is the 2009/2010, when 35 deaths was verified. The deaths occur more frequently in the afternoon, most of the victims are males, being under 30 years old. The main causes of these drownings are related to the rip currents and the lack of knowledge of the shores' dynamics by the bathers.

120 Nota Técnica - Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil INTRODUÇÃO Segundo a UNESCO cerca de 2/3 da população mundial vive atualmente a menos de 50 km do mar. Essa faixa correspondente a menos de 2% do território terrestre e abriga uma população aproximada de 4 bilhões de pessoas. No Brasil, a densidade demográfica da zona costeira fica em torno de 87 hab./km 2, cinco vezes superior à média nacional que é de 17 hab./km 2 (http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/costeiro s.htm). Na região costeira, as praias são os locais mais frequentados por nativos e turistas que procuram atividades de lazer e descanso para veranear. Em alguns casos, as atividades de lazer acabam em tragédias como: afogamentos, acidente com lancha, jet-ski, brinquedos, queimaduras por águas-vivas, etc. Os casos de afogamentos são comuns e suas causas estão relacionadas às condições do mar e fatores humanos. No que se refere ao mar, a presença de recifes, rochas, plataformas costeiras, desembocaduras, correntes de maré, profundidade da água, variação da topografia da praia e zona de surfe com cavas, bancos, canais e depressões, correntes longitudinais e de retorno, tipo de quebra de onda entre outros, quando ignorados, contribuem significativamente para os casos de afogamentos (Short & Hogan, 1994). A costa litorânea de Santa Catarina possui aproximadamente 561,4 km de extensão. O desconhecimento das características marinhas locais, falta de atenção, desrespeito e imprudência em relação aos perigos e comportamento humano são fatores que afetam a segurança do banhista (Hoefel & Klein, 1998; Klein et al., 2003; Maia & Calliari, 2010). Além desses Bulhões (2010) observou que o número de salvamentos é maior nos postos salva-vidas localizados próximos a pontos terminais de ônibus, ou seja, muitos banhistas utilizam o transporte público e moram distante da praia, sendo identificados como grupo de risco aos afogamentos. O afogamento é um trauma definido como aspiração de líquido não corporal por submersão ou imersão (Szpilman, 2000). Estima-se que anualmente 490.000 pessoas morram por afogamento em todo o mundo. Segundo Mocellin (2009) o afogamento, em relação às suas causas, pode ser dividido em primário e secundário. O tipo mais comum é o afogamento primário. Neste tipo de afogamento não há nenhum fator incidental ou patológico que possa ter desencadeado o acidente. Ocorre devido à limitação da capacidade física ou técnica da vítima, ou seja, é inerente à vítima. O afagamento acontece por deficiência de condicionamento físico, fadiga ou falta de habilidade e destreza para natação (Mocellin, 2009). No afogamento secundário patologias ou incidentes estão associados ao fenômeno. Com uma menor frequência, ocorrendo em apenas 13% dos casos de afogamento, os seguintes fatores são apontados como causas: uso de drogas, principalmente o álcool (36.2%), crise convulsiva (18.1%), traumas (16.3%), doenças cardiopulmonares (14.1%), mergulho livre ou autônomo (3.7%), e outros (homicídio, suicídio, lipotimias, cãibras, hidrocussão) (11.6%). O Corpo de Bombeiros de Santa Catarina relata que o uso indiscriminado do álcool é fator preponderante na causa de afogamento secundário. Segundo Mocellin (2006), em 57% das ocorrências de afogamento, houve necessidade de dois guarda-vidas no resgate, sendo que em 45% deles foram utilizados como equipamento somente Nadadeiras e salva-vidas. A utilização de pranchões e bóias vêm aumentando, entretanto dependem das características do mar. Sendo que 55% das ocorrências acontecem na zona de arrebentação, este local instável dificulta a utilização de pranchões em praias com zona de arrebentação extensa, praias dissipativas. Uma atitude preventiva aos afogamentos, além das bandeiras junto ao posto salva-vidas e trechos da praia, é o salva-vidas chamar a atenção dos banhistas que se encontram lugares perigosos da praia (corrente de retorno). Estes locais são sinalizados com bandeiras vermelhas e placas de advertência, mas mesmo assim são ignorados pelos banhistas. Essa atitude preventiva certamente reduz as mortes por afogamentos e apontam para a falta de conhecimento dos perigos do mar e imprudência por parte dos banhistas. A ação preventiva pode evitar mais de 85% dos casos de afogamentos, sendo esta a mais poderosa intervenção que um guarda-vidas pode realizar (Szpilman et al., 2005). Bulhões (2006) acredita que a prevenção é a atitude mais eficaz para evitar os riscos de acidentes fatais e não fatais associados ao banho de mar. Os afogamentos comumente ocorrem em correntes oceânicas que se deslocam de uma

Vanz & Fernandes 121 região a outra sendo influenciada por marés e ventos. Nas regiões de mar aberto como as praias do litoral sul catarinense as correntes podem apresentar qualquer sentido (CBM - SP, 2006). O objetivo do presente estudo é analisar variáveis ambientais e humanas associados aos afogamentos com mortes que ocorreram nas praias do estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul nas temporadas de 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, 2011/2012 e 2012/2013. MATERIAIS E MÉTODOS Os dados de afogamentos foram obtidos de sites e matérias vinculadas à imprensa escrita e falada de SC e do RS, corpo de bombeiros de SC e informações geradas pela Epagri/Ciram. Os meses analisados foram de 1 outubro a 30 abril de cada ano; esses meses compreendem o período de veraneios nas praias de SC e RS e corresponde ao período de temporada adotado pelo corpo de bombeiros de Santa Catarina. São apresentados somente os casos de afogamentos que resultaram em mortes, pois a probabilidade de serem relatados pela imprensa é maior em relação os casos de afogamento sem morte. Foram computados como mortos, as pessoas que caíram dos costões, barcos, etc., e que os corpos não foram encontrados. O dia foi dividido em manhã, tarde, noite e madrugada com os respectivos horários, 6:00h- 12:00h, 12:01h-19:00h, 19:01h-24:00h e 00:01h- 5:59h. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas temporadas analisadas foram registradas 106 mortes, sendo 75 em Santa Catarina e 31 no Rio Grande do Sul. A temporada que apresentou o maior número de mortos foi a de 2009/2010, com 35 casos. Por outro lado, a de 2008/2009, com 10 afogamentos, foi a menos trágica. Na temporada de 2009/2010 a temperatura da superfície do mar (TSM) estava acima do normal, em fevereiro de 2010 foi superior a 29 C na costa norte catarinense (Fig. 1), o que certamente contribuiu para o número maior de afogamentos, uma vez que mais banhistas entram no mar quando a água da praia está mais quente. Figura 1. Temperatura da superfície do mar (NCEP/GFS) em 09/02/2010 na costa sul brasileira. A maior incidência de afogamentos está associada à temperatura elevada da água. Segundo Freitas (2009), em SC, ao norte, há o predomínio das correntes brasileiras com temperatura média anual de 24ºC, chegando a 27ºC no verão, enquanto que no litoral sul

Número de mortes (%) 122 Nota Técnica - Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil predominam as correntes frias vindas da Antártida, com temperatura média anual de 21ºC, dificilmente chegando a 25ºC. Para cada grau centígrado a mais na temperatura da água, o corpo perde 30% menos energia, permitindo uma sensação mais agradável em temperaturas mais elevadas. Isso explica porque os banhistas ficam pouco tempo dentro da água no litoral sul, e maior tempo do litoral norte, aumentando o risco de afogamento. As mortes por afogamentos nas praias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentramse na faixa etária menor de trinta anos, 66% do total. Essa porcentagem sobe para 84% quando computados as mortes até quarenta anos (Fig. 2). Comparativamente a maioria das mortes ocorreu nas praias catarinenses. Estudos realizados na praia do Cassino (RS) e do Futuro (CE) apontam valores similares aos registrados nesse trabalho. Maia & Calliari (2010) relataram para a praia do Cassino (RS) nos verões de 2006 e 2007 que a faixa etária com maior número de acidentes era composta por jovens com idades entre 6 e 25 anos de idade, sendo 83% para 2006 e 77% para 2007. A maioria das vítimas na praia do Futuro (CE) é do sexo masculino (59%), com idade entre 21 e 28 anos (Albuquerque et al., 2010). Nᵒ de mortes x faixa etária - 2008 a 2013 45 40 35 30 25 20 15 SC RS 10 5 0 0 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 70 Faixas etárias (anos) Figura 2. Morte por faixa etária nas praias de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nas praias do Rio Grande do Sul, Pereira et al. (2003) encontraram situação semelhante no verão de 2002 com a maioria dos acidentes ocorrendo nas idades entre 11 e 25 anos. Em SC 76% das vítimas possuíam idade entre 6 e 30 anos (Hoefel & Klein, 1998). Klein et al. (1996) verificou que 49% dos acidentes ocorreram-na faixa etária menor que 20 anos. Nas praias do município do Rio de Janeiro, aproximadamente 86% dos casos situam-se na faixa etária entre 10 e 29 anos (idade média de 22 anos) (Szpilman, 1997). Segundo Menezes et al. (2000) e Mocellin (2006) e o perfil dos afogamentos ocorridos nas praias do litoral catarinense é: pessoa do sexo masculino (62%); possui até 30 anos de idade (63%); veranista ou visitante ocasional (81%); banhista (92%); não sabe nadar (55%); não está sob efeito de droga (70%); manteve-se calmo no momento do resgate (65%); sem lesão (71%). No presente estudo, do total de mortes, duas não foram citadas o sexo. Do restante, aproximadamente 90% das mortes são do sexo masculino e apenas 10% do sexo feminino. Para ambos os sexos, Santa Catarina registra mais mortes em comparação com o Rio Grande do Sul na proporção de 2,5:1. Nas praias do Rio de Janeiro, em média, 75% das vítimas são do sexo

Vanz & Fernandes 123 masculino, 83% são solteiros (Szpilman, 1997). Nas temporadas de 1997 até 2005, no litoral paranaense, 88% dos mortos por afogamento foi do sexo masculino e 12% do sexo feminino (Souza, 2005). No estado do Rio Grande do Sul, das vítimas de afogamento, apenas 12% moravam no balneário, o restante (88%), não eram de outras cidades do próprio estado. Os afogamentos que ocorrem em Santa Catarina 37% vieram de outros estados, 35% eram de outras cidades do próprio estado, 21% moravam no balneário e 6% eram estrangeiros (Fig. 3). Segundo estudo de Szpilman (1997) nas praias Rio de Janeiro 71,4% residem fora da orla marítima. Origem das vítimas (%) - 2008 a 2013 - SC 6 6 21 8 MORA NO LOCAL 23 35 SC PR RS SP ESTRANGEIRO Figura 3. Origem das vítimas por afogamento no Estado de Santa Catarina. No período da tarde ocorreram mais mortes por afogamentos, 58% dos casos registrados, seguido pelo período da manhã com 29%. Em SC ocorrem mais afogamentos no período da tarde em relação ao Rio Grande do Sul, contrariamente nos outros períodos do dia, o número de mortos é maior no RS do que em SC (Fig. 4). Outros estudos apontam que os afogamentos ocorrem no período da tarde. Mocellim (2006) e Santos (2000) observaram que o pico das mortes ocorre entre 16 e 17 horas. Short et al. (2001) estudando praias australianas encontraram 46,7% dos afogamentos entre as 14 e17 horas. A Figura 5 mostra as principais causas dos afogamentos. As correntes de retorno foram responsáveis por 42% dos casos, em seguida as quedas dos costões rochosos com 10% dos casos. Pessoas que sofreram mal súbito aparecem em seguida com 9%. Em torno de 7% dos afogamentos ocorreram quando a pessoa tentou salvar a vítima. A prática de esportes (caiaque e surfe) é citada como a causa de afogamentos em 6% dos registros. Os fatores relacionados ao mal súbito estão o uso de bebidas alcoólicas, desmaios, infartos e congestão alimentar. Além das principais causas citadas, 17% dos afogamentos ocorrem por outros fatores, chamando a atenção que as mortes por afogamentos podem ocorrer nas mais diversas situações como o pescador que se enrolou na rede, a prancha do surfista enroscou em algo no fundo do mar e a vítima ficou presa no banco de areia. Menezes et al. (2000) para a temporada de 99/2000 verificaram que mais de 90% dos acidentes estão associados às correntes de retorno de intensidade moderada a forte.

Número de mortes (%) 124 Nota Técnica - Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil Nᵒ de mortes x período do dia - 2008 a 2013 70 60 50 40 30 20 SC RS 10 0 manhã tarde noite madrugada Período do dia Figura 4. Número de afogamentos por período do dia. Causas dos afogamentos (%) - 2008 a 2013 - RS e SC 17 6 7 Praticava esporte 9 4 Tentou salvar outra vítima Caiu em uma corrente de retorno Entrou no mar à noite Caiu de uma rocha 10 4 42 Sofreu mal súbito Pulou de uma rocha, ponte ou trapiche Outras causas Figura 5. Número de afogamentos por período do dia. As principais atividades associadas ao afogamento relatadas foram falta de habilidade de natação, álcool ou drogas, mergulho, pesca, passeio de barco e atividades de lazer. Outros estudos apontam que nas praias do Rio de Janeiro 83,5% ingeriram alimentos três horas antes do acidente e 46,6% achavam que sabiam nadar (Szpilman, 1997). Algumas características das praias potencializam o risco de acidentes com banhistas, especialmente as correntes de retorno associadas aos fundos móveis e aos estágios morfodinâmicos

Vanz & Fernandes 125 intermediários (Short & Hogan, 1994; Short, 1999). Hoefel & Klein (1998) e Klein et al. (2003) apontam que há predominância em determinantes sociais em relação aos naturais para a questão da segurança nas praias, mas 86% dos resgates foram realizados devido à presença de fracas a moderadas correntes de retorno (rips) e que 80% dos casos foram registrados em dias ensolarados com altura de ondas inferiores a 1 metro. No presente estudo as condições do tempo eram favoráveis ao banho com 66% dos dias ensolarados, 14% nublados e 20% chuvosos. Albuquerque et al. (2010) concluíram que o principal tipo de perigo associado à praia do Futuro (CE) é as correntes de retorno, com 86% das ocorrências. As praias são classificadas em dissipativa, intermediaria e reflectiva cada uma apresentando característica morfodinâmicas distintas (Wright & Short, 1984; Short, 1999; Short, 2006). O estado dissipativo apresenta zonas de surfe bem desenvolvidas (>100m), as ondas são de alta energia e o tamanho de grão varia de areia muito fina a areia fina. A praia apresenta baixa declividade (<3º). O tipo de onda é predominantemente deslizante e normalmente não ocorrem correntes de retorno muito persistentes. Sistemas de bancos múltiplos são observados comumente. Os estados intermediários caracterizam-se pela presença de feições rítmicas (bancos e cúspides). Os bancos são cortados por canais nos quais se desenvolvem as correntes de retorno, comumente presentes nestas praias. São compostos por areia média, podendo variar de areia fina a areia grossa. Possuem uma declividade moderada entre 3º e 8º. Existem quatro estados intermediários ocorrendo uma gradação entre tendências praiais dissipativas ou refletivas. A zona de arrebentação é relativamente próxima da beira da praia, geralmente do tipo caixote ou tubular. O estado refletivo a zona de surfe é quase ausente. A quebra das ondas na face da praia ocorre com grande turbulência. Quando ocorrem ondas, normalmente são tubulares. São frequentemente cúspides praiais. A porção da face da praia apresenta uma declividade acentuada (>8º), ou seja, a profundidade aumenta rapidamente logo após a beira da praia. Normalmente a praia é composta de areia grossa. Segundo Short (1999 e 2002) praias dissipativas apresentam grau 8 em escala de risco de 0 a 10 e praias com ondas de 1,5 m são classificadas de baixa segurança. O espaçamento de postos salva vidas de acordo com o estudo de Mocellin (2006), para praias dissipativas que apresentam risco médio-alto, é a cada 500 m, sendo 250 m para cada lado. Mocellin (2006) verificou que 80% dos acidentes ocorrem em praias intermediárias no litoral norte catarinense. Resultados semelhantes foram encontrados por Hoefel & Klein (1998) e Santos (2000), com 75 e 80% dos acidentes ocorrendo neste tipo de praia. Klein et al. (1996), observaram que 53% dos incidentes com os banhistas ocorreram em praias com características dissipativas. Estudos realizados para a PEGC - Implantação do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (2010) apontaram que das 117 praias arenosas da Ilha de Santa Catarina, 83% apresentam baixa periculosidade quanto à balneabilidade em geral, em base à declividade da antepraia e influência das ondas e correntes de deriva e de retorno. Praias de média periculosidade totalizam 10% das praias, merecendo cuidados especiais para banho. Os 7% restantes caracterizam praias impróprias, ressaltando-se as praias do Pontal de Fora (costa Norte); Moçambique e Mole (costa Nordeste); Morro das Pedras, Armação e Lagoinha do Leste (costa Sudeste); Saquinho (costa Sul) e Ponte (costa Sudoeste). Com base na classificação feita por Silveira et al. (2011) foi analisado os afogamentos por estagio morfodinâmico das praias. A Figura 6 mostra que há pequenas diferenças no número de mortes registrado por estágios morfodinâmicos, principalmente entre o estágio dissipativo e o intermediário. No estágio classificado como dissipativo ocorreram 36%, no intermediário 35% e no refletivo 29%. Os dados levantados no presente estudo mostram que o mais importante não é o estágio morfodinâmico da praia e sim identificação e conscientização dos perigos oferecidos pelas correntes de retorno que estão presentes na praia. O perigo de afogamento está associado às correntes de retorno, as quais, em praias dissipativas são instáveis. Segundo Mocellin (2006), 80% dos acidentes aquáticos estão associados às correntes de retorno, sendo que em SC este valor é de aproximadamente de 97%.

Número de mortes (%) 126 Nota Técnica - Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil Nᵒ de mortes x classificação morfodinâmica das praias de SC - 2008 a 2013 40 30 20 10 0 dissipativa intermediária reflectiva Classificação morfodinâmica Figura 6. Mortes por afogamento nos diferentes estágios morfodinâmicos praiais. Além dos estágios morfodinâmicos foi analisado as mortes por afogamentos em relação à maré (Fig. 7). A maioria das mortes ocorreu na maré vazante em ambos os Estados. Entretanto, no estado de SC a quantidade de mortes na maré vazante é menor quando comparada ao RS. Para a maré enchente ocorre o inverso, SC registra um número maior de afogamentos. Uma explicação para esse fato pode estar relacionada a temperatura da água do mar. Cabe salientar que as mortes ocorreram preferencialmente na parte da tarde (Fig. 4). E a maré no sul do Brasil é classificada como semidiurma e, uma das mudanças de maré de enchente para vazante ocorre no período da tarde. No RS as pessoas entram no mar mais no período da tarde (maré vazante) quando a água do mar está mais quente. Em SC, mesmo no período da manhã a água (maré enchente) já está com temperatura boa para o banho de mar explicando essa relação. A Tabela 1 mostra a distribuição das mortes por afogamentos registradas por municípios. Em Santa Catarina, Florianópolis (25%) e São Francisco do Sul (16%) são os municípios que mais ocorreram mortes em suas praias. Penha, Itapema e Itapoá aparecem em seguida com 7%. Os demais municípios não alcançam valores maiores do que 5%. Para os municípios do Rio Grande do Sul a distribuição é mais homogênea, sendo as maiores, 16%, para Tramandaí, Rio Grande e Cidreira, 13% para Imbé e 10% para Capão da Canoa e Torres. A Figura 8 mostra o número de mortos por afogamento publicados pela imprensa e aqueles registrados pelo corpo de bombeiros para o estado de Santa Catarina. Os valores apresentam diferenças em todas as temporadas analisadas. É compreensível entender quando os valores da imprensa são menores que os registrados pelo corpo de bombeiros uma vez que ela não consegue cobrir todos os casos e por isso não são relatados. Na temporada de 2008/2009 e 2011/2012 os valores da imprensa são maiores daqueles registrados pelo corpo de bombeiros. Isso se deve ao fato que alguns casos que foi considerado como afogamentos pela imprensa se tornaram caso de polícia e nesse caso não são computados pelo corpo de bombeiros. Entretanto, algumas melhorias poderiam ser adotadas pelo Corpo de Bombeiro ajudariam futuras pesquisas e daria mais visibilidade e valorização a esse trabalho tão importante para a sociedade.

Número de mortes (%) Vanz & Fernandes 127 Nᵒ de mortes x maré - 2008 a 2013 80 70 60 50 40 30 SC RS 20 10 0 vazante Maré Figura 7. Mortes por afogamento relacionadas às variações de maré. enchente Tabela 1. Mortes por afogamentos por município de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Municípios de Santa Catarina % Municípios do Rio Grande do Sul % Florianópolis 25 Rio Grande 19 São Francisco do Sul 16 Tramandaí 16 Penha 7 Cidreira 16 Itapema 7 Imbé 13 Itapóa 7 Capão da Canoa 10 Navegantes 5 Torres 10 Barra Velha 5 Arroio do Sal 6 Balneário Camboriú 4 Xangri-lá 3 Palhoça 3 Balneário Pinhal 3 Içara 3 Palmares do Sul 3 Governador Celso Ramos 3 Barra do Sul 3 Piçarras 3 Itajaí 3 Bombinhas 3 Passo de Torres 1 Jaguaruna 1 Laguna 1 Balneário Gaivota 1 Total 100 Total 100 Para Polippo (2011) é de suma importância a inserção das fichas de acidentes no banco de dados; o armazenamento seguro e sem extravio das fichas de cadastros das ocorrências; a consciência da importância dos guarda-vidas civis em preencherem as fichas; o preencher todos os dados solicitados e, ainda, melhorar a estrutura física dos postos de guarda-vidas civis dando condições higiênicas para um bom trabalho e atendimento ao público. Em Santa

Número de mortes 128 Nota Técnica - Mortes por Afogamentos nas Praias dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, Brasil Catarina, segundo Mocellin (2001), o serviço de salvamento aquático cobre quase 320 km de faixa de areia, com cerca de 120 postos de guarda-vidas distribuídos em mais de 80 praias. Klein et al. (2002) mostraram os resultados de seis de estudo relacionando os tipos de praia e a segurança do banho no litoral norte do estado de Santa Catarina, observaram que as mortes passaram de 37 (temporada de 1995/1996) para 8, (temporada de 1999/2000). No presente estudo observa-se que os números de mortes voltaram a subir indicando a necessidade de continuidade nas campanhas educativas (Tab. 1). Registros na Imprensa x Registros nos Bombeiros - SC / 2008 a 2013 35 30 25 20 15 10 Imprensa Bombeiros 5 0 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 Temporadas Figura 8. Número de morte relatado pela imprensa e corpo de bombeiro para o estado de Santa Catarina. CONCLUSÕES Os afogamentos fatais na costa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul nas temporadas analisadas têm como características predominantes: atingem mais o sexo masculino e as faixas etárias até 30 anos, ocorrem no período da tarde e as vítimas são na maioria oriundas de outras cidades do próprio Estado (Rio Grande do Sul ou Santa Catarina). Santa Catarina teve mais que o dobro de mortes por afogamento que o Rio Grande do Sul para o mesmo período. A quantidade de praias com registro de mortes por afogamento é maior no Litoral Catarinense. Na temporada de 2009/2010 foi registrado o maior número de mortes por afogamento, 35 casos. As principais causas dos afogamentos com mortes são as correntes de retorno, como fator ambiental; e a falta de conhecimento das características do ambiente marinho pelos banhistas, como fator humano. A falta de experiência em identificar as correntes de retorno nas praias pelos banhistas sugere que o fator humano é preponderante sobre o ambiental no caso dos afogamentos com mortes nas praias de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, M.G.; CALLIARI, L.J. & PINHEIRO, L.S. 2010. Análise dos Principais Riscos Associados ao Banho de Mar na Praia do Futuro, Fortaleza-Ceará. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, 14(1):1-8. BULHÕES, E.M.R. 2010. Condições Morfodinâmicas Associadas a Afogamentos e Contribuição à Segurança nas Praias Oceânicas da Cidade do Rio de Janeiro. Sociedade & Natureza - Uberlândia, 22(1):121-140. CBM-SP. 2006. Corpo de Bombeiros Militar de São Paulo. Salvamento Aquático. Coletâneas de Manuais Técnicos de Bombeiros, V. 09. 1ª Ed. São Paulo. 52p.

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