VI-034 A FRAGILIDADE DOS SOLOS NO CONTEXTO AMBIENTAL DOS TABULEIROS COSTEIROS MATARACA NA PARAIBA José Bezerra dos Santos (1) Bacharel em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Fotointerpretação em Estudos de Solos. CIAF Colômbia. Mestre em Geociências pela Universidade Federal da Bahia. Professor da Universidade Federal da Paraíba. CCEN/DEGEOC. Laboratório de Geografia Aplicada LGA. Setor de Análise Ambiental. Ivonete Berto Menino Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal da Paraíba. Pesquisadora da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, EMEPA - PB. Mestre em Conservação de Solos pela Universidade Federal da Paraíba. Endereço (1) : Rua Cel. José M. Costa, 126 - Brisamar João Pessoa -PB MG - CEP: 58033-220 - Brasil - Tel: (83) 224-4514 - E-mail: jbzerra@terra.com.br RESUMO O nordeste é por natureza uma região de contrastes, notadamente em seus aspectos naturais, com destaque no clima, geologia, pedologia, vegetação e uso do solo. Influenciada pelas massas continentais, a faixa litorânea é um verdadeiro oásis, principalmente na distribuição das chuvas, sendo esta faixa a de maior precipitação. Esta faixa é dominada pelos Tabuleiros Costeiros, formados por solos desenvolvidos de rochas sedimentares não consolidadas, do período Terciário e Quaternário. Os solos de maior destaque e ocorrência são os Podzólicos e Latossolos, seguidos dos Podzois e Areias Quartzosas. Estas classes de solos em sua maioria apresentam características físicas e químicas pobres ou ruins, sendo normalmente de fertilidade natural baixa e com limitações para exploração agrícola. Estas condições exigem práticas de conservação e adubação de modo a permitir uma rentabilidade econômica com a exploração agrícola. Estas evidências foram observadas em estudos ambientais, realizados na propriedade Santo Antônio, no Município de Mataraca na Paraíba. Os estudos mostraram também os aspectos físicos hídricos dos solos, obtidos a partir de testes de infiltração, realizados nos solos de maior predominância. A interação e correlação dos vários atributos ambientais estudados permitiram uma avaliação e diagnóstico dos compartimentos geomorfológicos e pedológicos. O estudo ambiental permitiu uma análise profunda da sustentabilidade, definindo as áreas de maior ou menor potencial, com delimitações e recomendações de uso. Ocupando uma área aproximada de 51 ha, foi possível observar que apenas 1/3 da propriedade apresenta condições ambientais para exploração agrícola sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Características Ambientais, Geomorfologia, Solos. Aspectos Físicos e Hídricos. Granulometria. Infiltração. Condutividade Hidráulica. INTRODUÇÃO A faixa litorânea que compõe os estados Nordestinos está em sua totalidade relacionados às rochas sedimentares, formadas por sedimentos não consolidados da formação Barreiras, pertencente ao Terciário e em menor proporção aos sedimentos recentes, referidos ao Quaternário. A Fazenda Santo Antônio, localizada no Município de Mataraca na Paraíba, se insere em um destes períodos geológico. O estudo ambiental destaca o período Terciário como sendo de maior conotação e abrangência. A este se relaciona a Formação Barreiras, cujo material originário é responsável pela formação dos Latossolos e Podzólicos Vermelho Amarelo, destacando-se o primeiro pela sua espacialidade e importância. O segundo período relaciona-se ao Quaternário, ocorrendo na área em menor proporção, sendo responsável pela formação dos Podzois e das Areias Quartzosas. O relevo da região é suave ondulado a ondulado, intercalado por superfícies planas de forma tabular, caracterizando os interflúvios, aspecto este imprimido pelos Tabuleiros Costeiros em quase toda a faixa litorânea, com altitudes que variam de 35 a 60m em relação ao nível do mar. ABES Trabalhos Técnicos 1
AMBIENTE PEDOLÓGICO LATOSSOLO VERMELHO AMARELO EUTRÓFICO TEXTURA MÉDIA. Esta classe compreende solos minerais não hidromórficos com horizonte B latossólico, baixas somas de bases trocáveis e capacidade de troca de cátions, apresentando saturação de bases (valor V%) sempre baixa, inferior a 35% no horizonte B2 e textura média no B, variando entre 15 e 35%. São solos profundos, muito porosos, acentuadamente drenados, friáveis ou muito friáveis, ausência de cerosidade, extremamente intemperizados, com predomínio de sesquióxidos de argilas do grupo 1:1 (comumente caulinita) na fração coloidal. PODZÓLICO VERMELHO AMARELO EUTRÓFICO COM FRAGIPAN TEXTURA MÉDIA. Estes solos caracterizam-se por apresentar argila de atividade baixa, normalmente ácidos, com baixa saturação de bases e fertilidade natural baixa. Apresentam-se profundos a muito profundos e bem diferenciados, com drenagem imperfeita ou bem drenados e praticamente sem problemas de erosão. Esta classe de solo se destaca por apresentar um horizonte endurecido, constituindo um fragipan, com relevo plano variando à suave ondulado e ondulado. PODZOL HIDROMÓRFICO Esta classe compreende solos com horizonte B podzol, hidromórficos, muitos arenosos, bem diferenciados, profundos, ácidos, com saturação de bases muito baixa e alta saturação com alumínio. Estes solos apresentam também coesão nas camadas subsuperficiais caracterizadas pelos fragipans ou duripans, horizonte endurecido, ocorrendo, normalmente, em relevo plano. Quanto ao aspecto hídrico, são solos que apresentam limitações por excesso de água no período chuvoso e falta nos meses secos. AREIAS QUARTZOSAS DISTRÓFICAS Este tipo de solo se caracteriza por apresenta-se areno-quartzosos, profundos, com baixos teores de argila (<15%), excessivamente drenados, textura arenosa ao longo do perfil, ácidos, com saturação de bases baixa (valor V %), alta saturação com alumínio trocável e baixa fertilidade natural. Estes solos são sensíveis aos processos de erosão eólica, nas áreas mais expostas à ação dos ventos. Estes solos têm como material originário os sedimentos areno-quartzosos, oriundos da Formação Barreiras, com relevo normalmente plano. Os Latossolos e as Areias Quartzosas são as classes de solos com maiores potencialidades à exploração agrícola, considerando a condição profundidade. Os Podzois e Podzólicos apresentam camadas impeditivas subsuperficiais, condição limitante à de exploração. Na tabela 1 Classes de Solos e Extensão, observa-se os índices de ocorrência e as respectivas áreas de abrangências. Tabela 1 - Classes de Solos e Extensão Unidade Cartográfica Classe de Solos Área (ha) Percentual LV Latossolo textura média profundo 4,66 9 PV1 Podzólico textura média, raso c/fragipan. 20,89 41 PV2 Podzólico textura média, profundo c/fragipan. 12,53 25 HP Podzol textura arenosa c/fragipan pouco profundo 1,94 4 AQd Areias Quatzosas distróficas 10,87 21 Soma 50,89 100 2 ABES Trabalhos Técnicos
Os solos ocorrentes na propriedade com maior condição de exploração agrícola, apresentam baixa potencialidade de fertilidade, com destaque para as soma de bases, CTC e ph, conforme se pode observar na Tabela 2. Tabela 2 Análises Químicas dos Solos Descrição Areias Quartzosas Latossolo Podzólico Complexo sortivo (cmol (+) / kg) Cálcio 0,20 0,30 0,30 Magnésio 0,20 0,39 0,20 Potássio 0,01 0,04 0,02 Sódio 0,05 0,05 0,05 Soma de bases (SB) 0,46 0,78 0,57 Hidrogênio 0,21 0,47 0,49 Alumínio 0,12 0,30 0,06 CTC (ph 7,0) 0,79 1,55 1,12 ph em água 4,3 4,1 4,7 Saturação por bases (V) 58 50 51 Saturação por alumínio 20,69 27,78 9,52 Saturação por sódio 7,59 3,87 5,38 Fósforo assimilável (Mhellch) mg/kg 2 1 3 CARACTERÍSTICAS FÍSICA-HÍDRICAS CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO O conhecimento da capacidade de infiltração de um determinado solo pode variar principalmente com a textura, estrutura e porosidade, sendo estas informações imprescindíveis em projetos de irrigação. Na determinação da velocidade de infiltração, adotou-se o método dos cilindros infiltrômetros, segundo o Manual de Métodos de Análise de Solo (EMBRAPA/SNLCS), BERNADO (1982) e WALKER & SKOJERBOE (1987). As velocidades de infiltração foram determinadas com base nos dados obtidos em campo, sendo os resultados calculados em duas formas: VIm (velocidade de infiltração média) e VIa (velocidade de infiltração aproximada). A VIm baseia-se na infiltração e tempo acumulada e a VIa na infiltração e tempo instantâneo, segundo preconiza SALASSIER BERNADO (1977). Na área de estudo foram realizadas três testes de infiltração, com duas repetições por classe de solo. Em cada teste se utilizaram dois jogos de cilindros infiltrômetros, com leituras realizadas a cada 5 minutos ou de acordo com a tendência da necessidade e comportamento hídrico do solo, quando as leituras eram constantes, conforme se observa no Tabela 3- Velocidade de Infiltração e Tabela 4 Características Hídricas dos Solos. Tabela 03 Velocidade de Infiltração Unidade de Mapeamento Nº do Teste Classe Textural VIB (cm/h) LV 01 Média 18,0 02 10,4 HP 01 Arenosa 48,0 02 60,0 PV2 01 Média 8,0 02 4,0 AQd 01 Arenosa 60,0 02 60,0 ABES Trabalhos Técnicos 3
Tabela 04 Características Hídricas dos Solos Solos Textura C. Campo P. Mucha Água Disponível Densidade Aparente (g/cm3) Cond Hidráulica (cm/h) LV Far 6,8 4,7 2,1 1,38 8,0 Far 6,1 3,9 2,2 1,33 6,1 Fagar 13,7 7,7 6,0 1,32 5,8 PV Arf 4,2 3,1 1,1 1,44 6,6 Far 8,1 5,4 2,7 1,20 5,4 Fagar 13,1 7,8 5,3 1,25 4,4 HP Ar 4,0 3,0 1,0 1,65 9,0 Ar 4,0 3,0 1,0 1,65 9,0 AQd Ar 4,0 3,0 1,0 1,65 9,0 Ar 4,0 3,0 1,0 1,65 9,0 Observações: 1 - Ar Areia; Arf Areia franca; Far Franco arenoso; Fagar Franco argilo arenoso. CONSERVAÇÃO DOS SOLOS A avaliação das terras existente na propriedade mostra que boa parte dos solos é susceptível a erosão devida às condições favoráveis de solo e topografia, além do processo de desmatamento em zonas consideradas de alta fragilidade ambiental. Neste contexto encontram-se os Podzólicos e Latossolos como os mais susceptíveis à erosão, principalmente por se encontrarem em posições do relevo que mais promovem e favorecem ao processo de erosão. SISTEMA PLANEJADO DE USO DO SOLO No uso planejado a propriedade é reorganizada em função das características ambientais, estabelecendo-se as áreas de preservação permanente, reflorestamentos, e exploração agrícola, dentro dos critérios de sustentabilidade e preservação dos recursos naturais. O uso das terras segundo as suas potencialidades e classes de declividades são enfatizados no Tabela 5 Sistema Planejado de Uso do Solo. Tabela 5 - Sistema Planejado de Uso do Solo Descrição Classe Declividade Área (ha) Percentagem Exploração Agrícola A < 2 16,71 33 Reflorestamento para Preservação B 2-3 3,54 7 Pastagem com faixa de reflorestamento C 3-5 19,55 38 Preservação com reflorestamento de nativas D > 15 11,08 22 Soma 50,89 100 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 1 - As classes de solos, Podzólicos Vermelho Amarelo e os Podzois ambos com fragipan, não foram recomendados para exploração agrícola com a cultura de sistema radicular profundo, condicionado pela camada subsuperficial endurecida, fator limitante à penetração das raízes. 4 ABES Trabalhos Técnicos
2 - Os solos pertencentes às classes dos Latossolos e Areias Quartzosas distróficas, apresentam as melhores condições físicas, a estas se recomendou à exploração com culturas de sistema radicular profundo, porém observa-se que estes solos são relativamente pobres em termos de fertilidade, exigindo correções de solos e adubações. 3 - Nas áreas onde o relevo apresenta maior declividade, os Podzólicos encontram-se totalmente decapitados pelos processos de erosão, não sendo recomendado à exploração agrícola, mais a conservação dos solos através de faixas de contorno, com reflorestamento e recomposição da vegetação nativa. 4 - Nas áreas com cobertura florestais, recomendou-se à preservação da vegetação nativa existente, nestas áreas, a declividade é bastante acentuada, superior a 20%, recomendando-se como área de preservação permanente. 5 - Dentre as práticas conservacionistas, sugeriu-se: terraceamento, (cordões de contorno, banquetas individuais, patamares, sulcamento e valeteamento) cultivos em nível, culturas em faixa e reflorestamento, nas áreas com maior declividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. - SANTOS, José Bezerra dos, Avaliação e Diagnóstico Ambiental da Fazenda Santo Antônio. Mataraca Paraíba. Caracterização e Avaliação dos Solos. Relatório Técnico. Não Publicado. João Pessoa Paraíba. 1999. 30p. 2. - SANTOS, José Bezerra dos, ASSIS, E. G. de. A Lito-pedologia na qualidade de água - Curimataú Paraibano. Projeto: Avaliação dos Recursos Hídricos Superficiais na Microrregião do Curimataú Paraibano. PIBIC/CNPq. UFPB. João Pessoa. 1996. 53 p. 3. - LOGAN. J. Interpretação das análises química da água. Agência Norte Americana para o desenvolvimento internacional. Recife. Mimeo. 1965. np. ABES Trabalhos Técnicos 5