Artigo Original INDICADORES DE PARÂMETROS DE CONTROLE DE TREINAMENTO E CICLO CIRCADIANO

Documentos relacionados
Validade da velocidade crítica para a determinação dos efeitos do treinamento no limiar anaeróbio em corredores de endurance

IDENTIFICAÇÃO DO LIMIAR ANAERÓBIO INDIVIDUAL COM TESTE PROGRESSIVO EM JOVENS NADADORES E SUA CORRELAÇÃO COM A VELOCIDADE CRÍTICA

Limiar Anaeróbio. Prof. Sergio Gregorio da Silva, PhD. Wasserman & McIlroy Am. M. Cardiol, 14: , 1964

EDUCAÇÃO FÍSICA ISSN

Avaliação do VO²máx. Teste de Esforço Cardiorrespiratório. Avaliação da Função Cardíaca; Avaliação do Consumo Máximo de O²;

8º Congresso de Pós-Graduação MÉTODOS INVASIVO E NÃO INVASIVO PARA DETERMINAÇÃO DAS CONDIÇÕES AERÓBIA E ANAERÓBIA DE VELOCISTAS E MEIO-FUNDISTAS

Brazilian Journal of Biomotricity ISSN: Universidade Iguaçu Brasil

Objetivo da aula. Trabalho celular 01/09/2016 GASTO ENERGÉTICO. Energia e Trabalho Biológico

INCLUSÃO DE TERMO DE INÉRCIA AERÓBIA NO MODELO DE VELOCIDADE CRÍTICA APLICADO À CANOAGEM

ciência Fábio Yuzo Nakamura 1,2,3 ; Thiago Oliveira Borges 1 ; Antônio Fernando Brunetto 3 ; Emerson Franchini 4 movimento ISSN

19 Congresso de Iniciação Científica CORRELAÇÕES ENTRE PROTOCOLOS ESPECÍFICOS E INESPECÍFICOS PARA AVALIAÇÃO AERÓBICA E ANAERÓBICA DE CANOÍSTAS SLALOM

Determinação do limiar anaeróbio em jogadores de futebol com paralisia cerebral e nadadores participantes da Paraolimpíada de Sidney 2000

A influência de diferentes distâncias na determinação da velocidade crítica em nadadores

A intensidade e duração do exercício determinam o dispêndio calórico total durante uma sessão de treinamento, e estão inversamente relacionadas.

Adaptação do modelo de potência crítica no exercício resistido para predição de uma carga capaz de ser sustentada durante longo tempo

TESTE AERÓBIO DE DUPLOS ESFORÇOS ESPECÍFICO PARA O KARATÊ: UTILIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE BRAÇO KIZAMI E GUYAKU-ZUKI

EDUCAÇÃO FÍSICA Nº 136 MARÇO DE 2007

Rodrigo Zacca Ricardo Peterson Silveira Flávio Antônio de Souza Castro Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA Curso de Educação Física Disciplina: Fisiologia do Exercício. Ms. Sandro de Souza

COMPARAÇÃO ENTRE LIMIAR GLICÊMICO, LIMIAR

Portal da Educação Física Referência em Educação Física na Internet

Velocidade crítica e velocidade média nos 2000 m: diferenças entre o desempenho no remoergômetro e na água

VANESSA HOLTZ FRANCO CORRELAÇÃO ENTRE OS DIFERENTES CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DO LACTATO MÍNIMO

COMPARAÇÃO ENTRE VELOCIDADE NO LIMIAR ANAERÓBICO E VELOCIDADE CRÍTICA EM CORREDORES MEIO-FUNDISTAS

MARIANA ROSADA DE SOUZA

VELOCIDADE CRÍTICA, CONCENTRAÇÃO DE LACTATO SANGÜÍNEO E DESEMPENHO NO REMO

Efeitos de oito semanas de treinamento de natação no limiar anaeróbio determinado na piscina e no ergômetro de braço

INCLUSÃO DE TERMO DE INÉRCIA AERÓBIA NO MODELO DE VELOCIDADE CRÍTICA APLICADO À CANOAGEM

Predição da performance de corredores de endurance por meio de testes de laboratório e pista

Testes Metabólicos. Avaliação do componente Cardiorrespiratório

Efeito da cadência de pedalada sobre a relação entre o limiar anaeróbio e máxima fase estável de lactato em indivíduos ativos do sexo masculino

Validade do ergômetro de braço para a determinação do limiar anaeróbio e da performance aeróbia de nadadores

EDUCAÇÃO FÍSICA ISSN

Fitness & Performance Journal ISSN: Instituto Crescer com Meta Brasil

19 Congresso de Iniciação Científica COMPARAÇÃO DAS RESPOSTAS CARDIOPULMONARES DE MULHERES SUBMETIDAS A EXERCÍCIO DE RESISTÊNCIA DE FORÇA E AERÓBIO

ARTIGO ORIGINAL. Camila Coelho Greco 1,3, Benedito Sérgio Denadai 2, Ídico Luiz Pellegrinotti 1, Aline del Bianco Freitas 3 e Euripedes Gomide 3

Treinamento Intervalado - TI Recomendações para prescrição do treinamento O 2

AVALIAÇÃO DO CAVALO ATLETA EM TESTES A CAMPO

Utilização da Relação Potência-tempo até Exaustão em Testes de Caminhada Para Avaliação da Aptidão Aeróbia

CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DE CORREDORES MEIO-FUNDISTAS DE DIFERENTES NÍVEIS COMPETITIVOS

VELOCIDADE CRÍTICA: ESTIMATIVA DE TRÊS MODELOS DE ANÁLISE

Avaliação do VO²máx. Avaliação do VO²máx

ARTIGO. Comparação do VO 2 max de homens fisicamente ativos mensurado de forma indireta e direta.

Correlações entre capacidade aeróbia, capacidade anaeróbia e potência anaeróbia, determinadas por testes não invasivos e específicos para corredores

Consumo Máximo de Oxigênio

Identificação do lactato mínimo e glicose mínima em indivíduos fisicamente ativos

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO. Educação Física DANIELA CHARETTI REIS

Ergonomia Fisiologia do Trabalho. Fisiologia do Trabalho. Coração. Módulo: Fisiologia do trabalho. Sistema circulatório > 03 componentes

Validação de Dois Protocolos para Determinação do Limiar Anaeróbio em Natação

Estimativa do custo energético e contribuição das diferentes vias metabólicas na canoagem de velocidade

CARACTERÍSTICAS DA BRAÇADA EM DIFERENTES DISTÂNCIAS NO ESTILO CRAWL E CORRELAÇÕES COM A PERFORMANCE *

Predição do Desempenho Aeróbio na Canoagem a Partir da Aplicação de Diferentes Modelos Matemáticos de Velocidade Crítica

SENSIBILIDADE DA VELOCIDADE CRÍTICA EM JOVENS NADADORES DURANTE UM MACROCICLO DE TREINAMENTO

DESEMPENHO DE JOGADORES DE ELITE DE FUTSAL E HANDEBOL NO INTERMITTENT FITNESS TEST

Equação de Corrida. I inclinação da corrida em percentual (%)

25/05/2017. Avaliação da aptidão aeróbia. Avaliação da potência aeróbia. Medida direta do consumo máximo de oxigênio Ergoespirometria (Padrão-ouro)

COMPARAÇÃO ENTRE LIMIAR ANAERÓBIO DETERMINADO POR VARIÁVEIS VENTILATÓRIAS E PELO LIMIAR GLICÊMICO INDIVIDUAL EM CICLISTAS

CONSUMO DE OXIGÊNIO EM EXERCÍCIO EXAUSTIVO REALIZADO NA VELOCIDADE CRÍTICA E NA VELOCIDADE ASSOCIADA AO VO 2MAX

ARTIGO ORIGINAL Características da braçada em diferentes distâncias no estilo crawl e correlações com a performance

V Encontro de Pesquisa em Educação Física EFEITOS DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO SOBRE OS COMPONENTES DE APTIDÃO FÍSICA EM ATLETAS DE FUTEBOL DE CAMPO

A INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA PARA A MELHORIA DO VO2 MÁXIMO DOS CORREDORES DE RUA

E TEMPO DE EXAUSTÃO DURANTE A CORRIDA REALIZADA NA VELOCIDADE ASSOCIADA AO VO 2 MAX: APLICAÇÕES PARA O TREINAMENTO AERÓBIO DE ALTA INTENSIDADE *

Comparação de diferentes índices obtidos em testes de campo. campo para predição da performance aeróbia de curta duração no ciclismo

TÍTULO: EFEITO DA REDUÇÃO DA FREQUÊNCIA SEMANAL NO TREINAMENTO DE FORÇA NO DESEMPENHO DA POTÊNCIA

Brazilian Journal of Biomotricity ISSN: Universidade Iguaçu Brasil

ANÁLISE DO CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO EM ATLETAS PARTICIPANTES DE CORRIDA DE RUA DE 10 KM

Velocidade crítica como um método não invasivo para estimar a velocidade de lactato mínimo no ciclismo *

Faculdade de Motricidade Humana Unidade Orgânica de Ciências do Desporto TREINO DA RESISTÊNCIA

Comparação das intensidades correspondentes ao lactato mínimo, limiar de lactato e limiar anaeróbio durante o ciclismo em atletas de endurance

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício ISSN versão eletrônica

Modelo sigmoide de Boltzmann com erros auto regressivos na descrição da frequência cardíaca em testes progressivos

DETERMINATION OF THE CRITICAL POWER AND ANAEROBIC WORK CAPACITY OF CANOEISTS ON AN ARM ERGOMETER, USING TWO LINEAR EQUATIONS.

Comparação do Ponto de deflexão da frequência cardíaca com a Máxima fase estável de lactato em corredores de fundo

PREPARAÇÃO FÍSICA. Qualidades físicas e métodos de treinamento. 30/09/2014 Anselmo Perez

Palavras-chave: Controle Autonômico; Recuperação; Treinamento Esportivo; Esportes Coletivos.

LIMIAR ANAERÓBICO E VELOCIDADE CRÍTICA EM NADADORES JOVENS

Revista Brasileira de Futsal e Futebol ISSN versão eletrônica

INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA NA CAPACIDADE AERÓBIA

máx estimado e sua velocidade correspondente predizem o desempenho de corredores amadores

BE066 - Fisiologia do Exercício. Consumo Máximo de Oxigênio

PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESFORÇO E FREQÜÊNCIA CARDÍACA EM DIFERENTES PERCENTUAIS DA VELOCIDADE CRÍTICA NO NADO LIVRE

RESUMO. Palavras-chave: Futebol de campo. Capacidades fisiológicas. Antropométrica. VO 2 max. ABSTRACT

TÍTULO: ALTERAÇÕES MORFOFUNCIONAIS DECORRENTE DE DOIS MÉTODOS DE TREINAMENTO DE FORÇA

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - FACIS CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA MARCELO URBANO

Respostas do lactato sanguíneo e da freqüência cardíaca em duas diferentes provas do automobilismo

A APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRA DE PRATICANTES DE AULAS DE JUMP E RITMOS DE UM MUNICÍPIO DO LITORAL DO RS

PALAVRAS-CHAVE: Futebol; Pequenos Jogos; Comportamento Técnico

Perfil fisiológico de canoístas do sexo feminino de alto nível competitivo

Escola da Saúde Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício Trabalho de Conclusão de Curso

EFEITOS DO TREINAMENTO DE FORÇA SOBRE O DESEMPENHO DE RESISTÊNCIA

Avaliação da capacidade aeróbia determinada por respostas sanguíneas e ventilatórias em quatro diferentes ergômetros

COMPARAÇÃO DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA MÁXIMA (FCM) CALCULADA POR 21 EQUAÇÕES E FCM OBTIDA EM EXERCÍCIO DE CORRIDA EM HOMENS E MULHERES

Adaptações Metabólicas do Treinamento. Capítulo 6 Wilmore & Costill Fisiologia do Exercício e do Esporte

COMPARAÇÃO DE DOIS PROTOCOLOS INDIRETOS NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE AERÓBIA DE ALUNOS DO NÚCLEO DE PREPARAÇÃO DE OFICIAIS DA RESERVA.

Esforço percebido durante o treinamento intervalado na natação em intensidades abaixo e acima da velocidade crítica

Força crítica em nado atado para avaliação da capacidade aeróbia e predição de performances em nado livre

AVALIAÇÃO DAS CAPACIDADES FÍSICAS EM ATLETAS DE FUTEBOL NAS CATEGORIAS SUB-15 E SUB-17.

Estudo comparativo de métodos para a predição do consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio em atletas *

Validade das Equações Preditivas da Frequência Cardíaca Máxima para Crianças e Adolescentes

Transcrição:

Artigo Original INDICADORES DE PARÂMETROS DE CONTROLE DE TREINAMENTO E CICLO CIRCADIANO INDICATORS OF CONTROL PARAMETERS OF TRAINING AND CIRCADIAN CYCLE Ramon Cruz 1 Sandro Fernandes da Silva 2 RESUMO A velocidade crítica definida como a mais alta intensidade de exercício que teoricamente pode ser mantida por um longo período de tempo sem exaustão, é um parâmetro de aptidão aeróbia que se tem mostrado sensível ao treinamento de endurance sua determinação envolve procedimentos não invasivos e de baixo custo, que podem ser facilmente aplicados em testes de campo. A expressão ritmos biológicos se refere a mudanças cíclicas que se repetem regularmente em um dado intervalo de tempo e esta relacionada a dar suporte aos processos fisiológicos. Os ritmos circadianos são fenômenos gerados em períodos de 24 horas e o controle do ritmo circadiano nos mamíferos é localizado no hipotálamo anterior. O objetivo deste trabalho foi verificar possíveis influencias do ciclo circadiano sobre parâmetros de treinamento. A amostra foi composta por 8 homens, adultos, 69,23 ± 7,65 Kg, 175,5 ± 3,15 cm e percentual de gordura de 16,95 ± 1,67. Os voluntários executaram três testes (1500, 3000 e 5000m), no menor tempo possível em três momentos do dia (manhã, tarde e noite), de maneira aleatória em uma pista de atletismo de 400 metros, piso de saibro, com o objetivo de identificar a velocidade critica calculada através da razão da diferença do espaço pela diferença do tempo entre duas distâncias. Foram avaliadas também o VO 2máx predito e identificação do maior valor de freqüência cardíaca no teste. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas sobre a influência do ciclo circadiano nas variáveis estudadas. Acredita-se que o desempenho nos testes aplicados podem ter maior relação com os hábitos dos voluntários. Palavras-Chaves: Velocidade crítica, variação circadiana, treinamento esportivo. ABSTRACT The critical velocity defined as to more high intensity of exercise that theoretically can be maintained by a long time without exhaustion, it s a aerobic parameter that has been shown sensible to the of endurance training,this determination involves low-cost and not invasive procedures, that easily can be applied in tests of field. The expression biological rhythm refers to the changes cyclical that are repeated regularly in a given break of time and this related it give support to the physiological trials. The circadian rhythms are phenomenal 1.Graduando em Educação Física pela Universidade Federal de Lavras; Departamento de Educação Física; NEMOH Núcleo de Estudos do Movimento Humano; Grupo de Estudos de atletismo GEA. Lavras MG; Brasil. 2. Professor Doutor da Universidade Federal de Lavras; Departamento de Educação Física; NEMOH Núcleo de Estudos do Movimento Humano; sandrofs@def.ufla.br ; Lavras-MG; Brasil.

generated in 24 hours periods of and the control of the circadian rhythms in the mammals is located in the anterior hypothalamus. The aim of the study was verify possible you influence of the circadian cycle about parameters of training. The sample was composed for 8 men, adult, 69.23 ± 7.65 Kg, 175.5 ± 3.15 cm and body fat 16.95 ± 1.67%. The volunteers performed of random three tests (1500, 3000 and 5000m), in the less time possible in three moments of day (morning, afternoon and night), way in 400 meters a trail of athletics of, floor of gravel, with the aim critical velocity identify, from the reason of the difference of the space by the difference of time and two distances. They were evaluated also the VO 2máx predicted and identification of the higher heart rate in the test. There were not statistically significant differences on the influence of the circadian cycle in the studied variables. It is believed that the performance tests used may have more to do with the habits of volunteers. Keywords: Critical Velocity, circadian variation, sports training. INTRODUÇÃO A expressão ritmos biológicos se refere a mudanças cíclicas que se repetem regularmente em um dado intervalo de tempo e esta relacionada a dar suporte aos processos fisiológicos. Os ritmos circadianos são fenômenos gerados em períodos de 24 horas e o controle do ritmo circadiano nos mamíferos é localizado no hipotálamo anterior 1. É conhecido que há influencia dos exercícios físicos sobre os ritmos biológicos e que há também respostas fisiológicas distintas quando os exercícios são feitos em diferentes momentos do dia 2. Neste sentido estudos indicam que o ritmo circadiano influencia o exercício devido às modificações cíclicas na secreção hormonal e na temperatura corporal, no entanto, resultados contraditórios são encontrados em relação ao desempenho muscular nos diferentes horários do dia 3,4. A velocidade critica (Vcrit) é definida como a mais alta intensidade de exercício que teoricamente pode ser mantida por um longo período de tempo sem exaustão 5, é um parâmetro de aptidão aeróbia que se tem mostrado sensível ao treinamento de endurance 6, sua determinação envolve procedimentos não invasivos e de baixo custo, que podem ser facilmente aplicados em testes de campo 7. Especificamente para a corrida, Kranenburg e Smith (1996) 6, Smith e Jones (2001) 8 e Ortiz et al. (2002) 9 verificaram que a Vcrit pode ser obtida pela regressão linear entre distâncias fixas e seus respectivos tempos, sendo que a Vcrit corresponde ao coeficiente angular da reta obtida. A velocidade critica também foi utilizada como instrumento de estudo de outras modalidades esportivas, como canoagem 10, ciclismo 11, corrida aquática 12, natação 13. Seu conceito é baseado na relação hiperbólica entre intensidades prédeterminadas e seus respectivos tempos. A Vcrit apresenta alta correlação com o limiar anaeróbio, e tem sido comparada com o limiar anaeróbio identificado 34

tanto pela concentração fixa de 4mmol.l -1 de lactato 14 conforme metodologia descrita por Heck et al (1985) 15,16,17, bem como a partir de técnicas considerando o comportamento individual da resposta do lactato 18 e ventilação 19,20 não verificaram diferença significativa entre a velocidade crítica e o máximo estado estável de lactato, entretanto observaram que há uma tendência a superestima do limiar pela Vcrit. Os testes de campo são uma alternativa com protocolos não invasivos e de fácil aplicação têm sido propostos para identificar e controlar o treinamento aeróbico, destacando-se a aplicação de modelos matemáticos que possibilitam a identificação da velocidade critica (Vcrit) a partir da relação distância-tempo em testes de desempenho realizados em corrida 18, 20. OBJETIVO O presente estudo tem por objetivo verificar as diferenças que ocorrem ao largo do dia em parâmetros de controle de treinamento aeróbico como freqüência cardíaca, velocidade crítica e o VO 2MÁX METODOLOGIA Amostra A amostra foi composta por oito homens, adultos e ativos; com média de idade igual a 26,62 ±7,79 anos. As características da amostra estão descritas na tabela 1. Todos os sujeitos assinaram o TCLE aprovado pelo comitê de ética da Universidade de Itaúna sob nº de protocolo 002/09. n Massa corporal (Kg) Estatura (cm) %G 8 69,23 ± 7,65 175,5 ± 3,15 16,95 ± 1,67 Tabela 1- Características da amostra Procedimentos Os sujeitos foram avaliados em 3 momentos do trabalho, sendo que estes foram escolhidos aleatoriamente para as avaliações nos diferentes momentos do dia; manhã (8:00 as 10:00), tarde (14:00 as 16:00) e noite (18:00 as 20:00), ou seja, uns sujeitos realizaram o teste pela manhã, outros pela tarde e uma terceira avaliação ocorreu no período noturno. As avaliações foram aleatórias para todos os participantes. Os mesmos realizaram os testes individualmente na pista. A- Antropométrico: Estimativa de percentual de gordura através da Bioimpedância elétrica RJL Systems, onde detectou-se as seguintes 35

variáveis: A) Porcentagem de gordura; B) Massa Gorda; C) Massa Magra; B- Velocidade Crítica: Foram percorridas 3 distancias, no menor tempo possível, em uma pista de atletismo de 400 metros, piso de saibro, com o objetivo de identificar a velocidade critica calculada através da razão da diferença do espaço pela diferença do tempo entre duas distâncias. VCrit = (Distância 2 Distância 1)/ (Tempo 2 Tempo 1) C- VO 2máx : foi realizado o teste de campo de 2400 metros, onde os sujeitos deveriam percorrer essa distancia na menor velocidade possível, para calculo do VO 2MÁX foi aplicada à equação: VO 2MÁX = ((D x 60 x 0,2)/TEMPO (SEGUNDOS)) + 3,5 2006)21 (ACSM, Análise estatística Para análise estatística utilizou-se teste W de Shapiro-Wilk para verificar a distribuição da amostra, Teste T (p<0,05) para comparação de médias com intuito de identificar diferenças significativas nos três períodos, RESULTADOS Os resultados da Vcrit, calculadas por períodos e distâncias são apresentados na tabela 1, onde não verificamos diferença significativa entre as Vcrits identificadas nas distancias estudadas e nem entre os diferentes momentos do dia. Período 1500/3000 m.s -1 1500/5000 m.s -1 3000/5000 m.s -1 Manhã 3,70 ± 0,65 3,63 ± 0,61 3,58 ± 0,58 Tarde 3,68 ± 0,59 3,56 ±0,58 3,48 ± 0,61 Noite 3,69 ± 0,51 3,62 ± 0,50 3,58 ± 0,52 Tabela 1: Velocidade crítica entre três distâncias e três períodos. Período Tempo 1500m (segundos) Tempo 3000m (segundos) Tempo 5000m (segundos) Manhã 350,5 ± 51,36 767,5 ± 127,54 1340 ± 233,15 Tarde 349,38 ±48,49 766,38 ± 112,54 1357,75 ± 215,73 Noite 344,25 ± 50,10 758,13 ± 106,67 1329,38 ± 194,84 Tabela 2: Tempo, em segundos, encontrados nas três distâncias nos três períodos do dia. 36

VO 2MÀX (ml.kg.min -1 ) A tabela 3 apresenta os valores médios máximos da freqüência cardíaca observados logo após o término de cada teste. Não foram observadas diferenças significativas entre os valores. Período FC Max 1500m (bpm) FC Max 3000m (bpm) FC Max 5000m (bpm) Manhã 183,25 ± 10,38 183 ± 9,56 182,63 ± 5,68 Tarde 188,25 ±10,25 189 ± 9,3 184,88 ± 13,63 Noite 189,12 ±10,74 187,5 ± 13,36 187,63 ± 8,45 Tabela 3: Valores freqüência cardíaca máxima das três distâncias e 3 períodos. A tabela 4 traz os resultados obtidos nas correlações entre cada valor calculado de Vcrit e a média dos valores encontrados para o VO2máx em cada período. Correlações Vcrit x VO2máx 1500/3000 1500/5000 3000/5000 Manhã 0,96 0,93 0,89 Tarde 0,96 0,93 0,89 Noite 0,92 0,91 0,86 Tabela 4: Correlações entre a Vcrit dos três períodos com a velocidade do VO2máx. A tabela 5 apresenta a que porcentagem da velocidade do VO2máx os sujeitos correram em cada vcrit calculada. Vcrit% V VO2max 1500/3000 1500/5000 3000/5000 Manhã 91,03 ± 4,13 89,46 ± 5,71 88,43 ± 7,27 Tarde 92,1 ±4,21 88,95 ± 3,26 86,95 ± 5,89 Noite 88,98 ± 5,11 87,97 ± 6,16 87,34 ± 7,66 Tabela 5: Relação percentual entre a velocidade crítica e a velocidade do Vo2máx. Gráfico 1: Velocidade Vo2máx nos três períodos 60 VO 2MÁX nos 3 períodos 40 20 0 Manhã Tarde Períodos Noite 37

DISCUSSÃO A velocidade crítica é um modo atraente para avaliação, controle e prescrição de treinamento, principalmente em natação, ciclismo e corredores de meia a longa distância. Estudos mostram sua alta relação com limiar anaeróbico, aptidão aeróbica (VO 2Max ) 16 Há também correlação com o máximo estado de estável de equilíbrio do lactato e concentração fixa de 4Mm. A distância mais apropriada para a VCrit deve conter participação predominante do sistema aeróbico, portanto, para adultos indica-se um tempo mínimo de 2 minutos e máximo de 20 minutos 22. Os resultados encontrados neste trabalho, em média, foram menores quando comparados aos obtidos por Denadai, et al., (1998) 23, em seu estudo para distâncias de 1500m e 3000m, verificaram a velocidade de 14,4 Km/h ±1,1. Em nosso estudo verificou-se para as mesmas distâncias a velocidade de 13,32 km/h ± 2,3 (manhã); 13,26 km/h ± 2,10 (tarde); 13,27 km/h ± 1,84 (noite). Vale ressaltar que não foram encontrados estudos avaliando a Vcrit em teste de campo e a influencia da variação circadiana. De acordo com os resultados e análises estatísticas não foram verificadas diferenças significativas entre a velocidade crítica nos três períodos. O tempo de cada distância em seus respectivos períodos também não mostraram diferença estatisticamente significativa, entretanto, os menores valores foram observados no período noturno, para esta amostra este talvez este seja o melhor horário para obtenção de melhores resultados. A Vcrit não se mostrou desta forma, pois é uma medida que relaciona duas variáveis. Na análise estatística do VO 2MÁX também não foi observada diferença significativa. Almeida et al., (2008) 24 encontrou no mesmo teste um VO 2MÁX de 58,38±7,22 ml.kg.min -1, são resultados similares ao encontrado em nosso estudo, evidenciando que para sujeitos treinados esse teste tende a superestimar o VO 2MÁX, já que esse resultado é considerado excelente pela literatura 25. A Fc max tem sido objeto de estudo de diferentes pesquisadores. Reilly e Brooks (1986) 23 aplicaram exercício físico no cicloergômetro nos horários 2:00, 6:00, 10:00, 14:00, 18:00 e 22:00h e encontraram variação circadiana significativa na Fc max. A mesma resposta não foi encontrada no estudo que avaliou a Fc max em quatro horários (8:00, 12:00, 16:00 e 20:00h) 3. Afonso et al., (2006) 27 realizaram testes em esteira ergométrica em diferentes horários (9:00, 12:00, 15:00, 18:00, 21:00 e 24:00 horas), houve diferença significativa entre a FCrep das 15:00 e 24:00 horas (67,2 ± 6,9 e 60,4 ± 6,4bpm) e na FCmax das 12:00 e 24:00 horas (197,4 ± 7,9 e 191,3 ± 5,8bpm). As diferenças foram observadas em horários extremos um ao outro. A falta de controle de algumas variáveis influentes no exercício foi um fator limitante, por exemplo, a temperatura ambiente e temperatura corporal dos voluntários. O não confinamento (como já citado acima) pode ter sido 38

também influente, já que não se pode afirmar se os voluntários seguiram o que lhes foi pedido. O intervalo mínimo de 24 horas foi adequado, apenas um voluntário disse se sentir cansado. Reilly (1990) 26 discute a dificuldade na realização de pesquisas quando é necessário expor o indivíduo em esforço máximo, principalmente devido à relutância dos voluntários em realizar os testes em horários desconfortáveis para os mesmos. Outra dificuldade é o efeito teto da capacidade fisiológica encontrada nesses tipos de avaliações, onde há menores variações fisiológicas dos voluntários em exercícios físicos máximos. CONCLUSÃO Para esta amostra não houve diferença significativa entre a velocidade crítica em três períodos do dia. Há uma tendência média na qual o maior valor de VCrit foi observado no período da manhã. Há dificuldade no controle dos hábitos dos voluntários, o que contraditoriamente pode ser positivo, já que estes estão fidedignamente expostos as variações do clima 27. Há de se considerar também neste estudo que a capacidade máxima de trabalho parece sofrer mais influência da capacidade física dos voluntários do que propriamente do ritmo circadiano. Sendo assim as variáveis estudas não mostraram ser sensíveis a influência circadiana. Outra hipótese é que os costumes dos voluntários são decisivos no desempenho final nos testes. REFERÊNCIAS 1) Aschoff J. Circadian Rhythms In Man. Science 148: 1427 1432, 1965. 2) Dimitriou L., Sharp N C C., Doherty M. Circadian Effects On The Acute Responses Of Salivary Cortisol And Iga In Well Trained Swimmers. Br. J. Sports Med. 36: 260-264, 2002. 3) Deschenes M R., Kraemer W J., Bush J A., Doughty T A., Kim D., Muellen K M., Ramsey K. Biorhythmic Influences On Functional Capacity Of Human Muscle And Physiological Responses. Med Sci Sports Exerc. 30:1399-1407, 1998. 4) Racinais S., Blonc S., Jonville S., Hue O. Time Of Day Influences The Environmental Effects On Muscle Force And Contractility. Med. Sci. Sports Exerc. 37: 256 261, 2005. 5) Hill, D. W. Aerobic And Anaerobic Contributions In Middle Distance Running Events. Motriz.V. 7, P. 63-67, 2001. 6) Kranenburg, K., Smith, D. Comparison Of Critical Speed Determined From Track Running And Treadmill Tests In Elite Runners. Med Sci Sports Exerc 28: 614-618, 1996. 7) Denadai, B.S., Ortiz, M.J., Stella, M.J., Mello, M.T. Validade Da Velocidade Crítica Para A Determinação Dos Efeitos Do Treinamento No Limiar Anaeróbio Em Corredores De Endurance. Rev. Port. Ciên. Desp. Vol. 3: 16 23, 2003. 8) Smith, C., Jones, A. The Relationship Between Critical Velocity, Maximal Lactate Steady State Velocity And Lactate Turnpoint Velocity In Runners. Eur J Appl Physiol. 85: 19-26, 2001. 39

9) Ortiz, M,J., Denadai, B.S. Efeito Do Treinamento Sobre O Limiar Anaeróbio, Velocidade Crítica Determinada Em Pista De Atletismo E Esteira, E Performance De Corredores De Fundo. In Ww Moreira (Ed.) Coletâneas Do Ii Congresso Científico Latino-Americano. Piracicaba: Unimep: 292-297, 2002. 10) Nakamura, Fábio Yuzo Et Al. Predição Do Desempenho Aeróbio Na Canoagem A Partir Da Aplicação De Diferentes Modelos Matemáticos De Velocidade Crítica. Rev Bras Med Esporte[Online]. 2008, Vol.14, N.5, Pp. 416-421. Issn 1517-8692. 11) Hiyane, Wolysson Carvalho; Simoes, Herbert Gustavo And Campbell, Carmen Sílvia Grubert.Critical Velocity As A Noninvasive Method To Estimate The Lactate Minimum Velocity On Cycling.Rev Bras Med Esporte [Online]. 2006, Vol.12, N.6, Pp. 381-385. Issn 1517-8692. 12) Nakamura, F. Y., Gancedo, M. R., Silva, L. A., Lima, J. R. P., Kokubun, E. Utilização Do Esforço Percebido Na Determinação Da Velocidade Crítica Em Corrida Aquática. Rev Bras Med Esporte Vol. 11, Nº 1 Jan/Fev, 2005. 13) Greco, C. G., Denadai, B. S., Pellegrinotti, I. L., Freitas, A. B., Gomide, E. Limiar Anaeróbio E Velocidade Crítica Determinada Com Diferentes Distâncias Em Nadadores De 10 A 15 Anos:Relações Com A Performance E A Resposta Do Lactato Sanguíneo Em Testes De Endurance. Rev Bras Med Esporte Vol. 9, Nº 1 Jan/Fev, 2003. 14) Poole, D.C., Ward, S.A., Whipp, B.J. The Effects Of Training On The Metabolic And Respiratory Profile Of High-Intensity Cycle Ergometer Exercise. Eur J Appl Physiol Occup Physiol. 59:421-429, 1990. 15) Heck, H., Mader, A., Hess, G., Mücke, S., Muller, R., Hollmann, W. Justification Of The 4 Mmol/L Lactate Threshold. Int. J. Sports Med. 6: 117-130, 1985. 16) Wakayoshi, K., Yoshida, T., Udo, M., Kasai, T., Moritani, T., Mutoh, Y. A Simple Method For Determining Critical Speed As Swimming Fatigue Threshold In Competitive Swimming. Int J Sports Med. 13: 367-371, 1992. 17) Kokubun, E. Velocidade Crítica Com Estimador Do Limiar Anaeróbio Na Natação. Rev Paul Educ Fís.10: 5-20,1996. 18) Ascensão, A.A., Santos, P., Magalhães, J., Oliveira, J., Maia, J., Soares, J. Concentrações Sanguíneas De Lactato (Csl) Durante Uma Carga Constante A Uma Intensidade Correspondente Ao Limiar Aeróbio-Anaeróbio Em Jovens Atletas. Rev Paul Educa Fis 15: 186-194, 2001. 19) Morton, R.H., Billat, V. Maximal Endurance Time At Vo2max. Med Sci Sports Exerc. 32: 1496-1504, 2000. 20) Smith, C., Jones, A. The Relationship Between Critical Velocity, Maximal Lactate Steady State Velocity And Lactate Turnpoint Velocity In Runners. Eur J Appl Physiol. 85: 19-26, 2001. 21) Acsm (American College Of Sports Medicine). Manual Do Acsm Para Avaliação Da Aptidão Física Relacionada À Saúde. Rio De Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 22) Bishop, D.; Jenkins, D. G.; Howard, A. The Critical Power Is Dependent On Theduration Of The Predictive Exercise Tests Chosen. Int. J. Sports. Med. V.19, P. 125-129,1998. 23) Denadai, B. S. Gomide, E. B. S. Greco, C. C. The Relationship Between Onset Of Bloodlactate Accumulation, Critical Velocity,And Maximal Lactate Steady State In Soccer Players. Journal Of Strength And Conditioning Research, 19(2), 364-368, 2005. 24) Almeida, P.A.S., Ferreira, G.S., Morais, D.C., Barbosa, E.S., Cardoso, A. T., Rocha, Silva, S. F. Comportamento Dos Parâmetros De Controle De Treinamento Aeróbico Durante Testes De Campo. Fit Perf J. 2008 Nov-Dez, 7(6):406-12. 40

25) Midgley Aw, Mcnaughton Lr, Carroll S. Physiological Determinants Of Time Exhaustion During Intermittent Treadmill Running At Vo2max. Int J Sports Med.2007; 28: 273-80. 26) Reilly T., Brooks G A. Exercise And The Circadian Variation In Body Temperature Measures. Int J Sports Med. 7:358-362, 1986. 27) Afonso, Leandro Dos Santos Et Al. Freqüência Cardíaca Máxima Em Esteira Ergométrica Em Diferentes Horários.Rev Bras Med Esporte [Online]. 2006, Vol.12, N.6, Pp. 318-322. Issn 1517-8692. 28) Reilly T. Human Circadian Rhythms And Exercise. Crit Rev Biomed Eng. 18: 165-179, 1990. Correspondência RAMON CRUZ Universidade Federal de Lavras UFLA, Departamento de Educação Física, Caixa Postal: 3037, CEP.: 37.200-000, Lavras-MG, Brasil. Telefone: (35) 8826-8896 ramonzepp@yahoo.com.br 41