Avaliação dos Danos de Hyalospila ptychis (Dyar) (Lepidoptera: Phycitidae) em Coqueiro

Documentos relacionados
PRODUÇÃO DO COQUEIRO ANÃO-VERDE IRRIGADO NA REGIÃO LITORÂNEA DO CEARÁ: CARACTERÍSTICAS DOS FRUTOS

Avaliação de Acessos de Coqueiroanão em Função dos Descritores de Inflorescência

Estudo do Progresso da Resinose do Coqueiro em Sergipe

ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO ÁCARO DA NECROSE DO COQUEIRO, Aceria guerreronis, NO ESTADO DO CEARÁ.

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

e ecofisiologia Edson Eduardo Melo Passos Bruno Trindade Cardoso Fernando Luis Dultra Cintra

ARTRÓPODES-PRAGA ASSOCIADOS À CULTURA DA MANDIOCA EM PRESIDENTE TANCREDO NEVES, BA

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

BOLETIM AGROCLIMÁTICO DEZEMBRO/2017

COMPORTAMENTO PRODUTIVO DO COQUEIRO ANAO-VERDE IRRIGADO NA REGIÃO LITORÂNEA DO CEARÁ

ESPÉCIES DE CURCULIONIDAE (INSECTA, COLEOPTERA) EM CULTURA DE COQUEIRO ANÃO VERDE, EM LINHARES, ES, BRASIL

Manejo e eficiência de uso da água de irrigação da cultura do abacateiro no Submédio São Francisco

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

BROCA DA CANA DE AÇÚCAR DIATRAEA SACCHARALIS

RESPOSTA DE MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis À ADUBAÇÃO, EM DOURADOS, MATO GROSSO DO SUL

Níveis de infestação e controle de Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae) no município de Cassilândia/MS

PREVALÊNCIA DE Bursaphelenchus cocophilus EM NÚCLEOS DE IRRIGAÇÃO DE PETROLINA-PE

Cultivo de coffea canephora conduzido com arqueamento de Plantas jovens em Condição de sequeiro e irrigado

Desenvolvimento do Coqueiro-Anão- Verde em Cultivo Consorciado com Laranjeira, Limoeiro e Mamoeiro

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE Utetheisa ornatrix (Linnaeus) (Lepidoptera: Erebidae: Arctiinae) POR DIFERENTES ESPÉCIES DE CROTALÁRIA

Irrigação Suplementar de Salvação na Produção de Frutíferas em Barragem Subterrânea

BOLETIM AGROMETEOROLÓGICO 1996

LEVANTAMENTO E MANEJO ECOLÓGICO DE PRAGAS EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF S): ESTUDO DE CASO DE UM SAF SUCESSIONAL NO DISTRITO FEDERAL, BRASIL

PESQUISA EM ANDAMENTO

A região dos Chapadões inicia a colheita do algodão safra

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

2. ALTERAÇÕES NAS PRECIPITAÇÕES OBSERVADAS NA REGIÃO DE MANAUS - AM. MOTA, M. R.; FREITAS, C. E. C. & BARBOSA, R. P.

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1573

CALAGEM, GESSAGEM E MANEJO DA ADUBAÇÃO EM MILHO SAFRINHA CONSORCIADO COM Brachiaria ruziziensis

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - SON PRIMAVERA -

Lucio Alberto Pereira 1 ; Roseli Freire de Melo 1 ; Luiza Teixeira de Lima Brito 1 ; Magna Soelma Beserra de Moura 1. Abstract

2º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense SICT-Sul ISSN

Variabilidade mensal e sazonal da temperatura e umidade do solo no Projeto ESECAFLOR / LBA

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 191

PESQL//SA EM ANDAMENTO

INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS NA CULTURA DO ARROZ (oryza sativa L.) SÃO FÉLIX DO XINGU PA RESUMO

Comunicado 184 Técnico

Autores: JL Maciel, Discente do curso de Agronomia UFU Monte Carmelo; GA Assis, Professora da UFU - Monte Carmelo; B Valoto, Discente do curso de Agro

AMOSTRAGEM DE PRAGAS EM SOJA. Beatriz S. Corrêa Ferreira Entomologia

BOLETIM TÉCNICO nº 19/2017

RENDIMENTO DE CULTIVARES DE FEIJÃO-CAUPI NAS CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS DO MUNICIPIO DE BRAGANÇA, PARÁ

TEOR DE ÓLEO E RENDIMENTO DE MAMONA BRS NORDESTINA EM SISTEMA DE OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

TAXA DE FERTILIZAÇÃO E VINGAMENTO DE FRUTOS. DE Bertholletia excelsa. Estudante do curso de Engenharia Florestal da UFAC, estagiária da Embrapa Acre

ÉPOCAS DE SEMEADURA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO DE CICLO PRECOCE NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA *

Variação vertical da temperatura do ar na Floresta Nacional de Caxiuanã em dois períodos distintos (chuvoso e seco).

Paulo A. Viana, José M. Waquil, Fernando H. Valicente, Ivan Cruz.

NPK EM MUDAS DE GRAVIOLEIRA

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

COMPORTAMENTO DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE MAMONEIRA IRRIGADOS POR GOTEJAMENTO EM JUAZEIRO-BA

Eficiência Relativa de Óleos Brutos Vegetais no Controle do Ácaro-da- Necrose Aceria guerreronis (Acari: Eriophyidae)

Capítulo 5. Controle de Plantas Daninhas no Cultivo do Milho Verde 5.1. Introdução

PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA DO MILHO HÍBRIDO AG7088 VT PRO3 CULTIVADO SOB DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - DJF 2012/ VERÃO -

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO DE SEQUEIRO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

Monitoramento e controle do ácaro da falsa ferrugem Phyllocoptruta oleivora do citros

Cultivo do Milho

SEVERIDADE DA ANTRACNOSE A CLONES DE CAJUEIRO SOB DOIS SISTEMAS DE CULTIVO E COMBINAÇÕES DE NITROGÊNIO E POTÁSSIO

Efeito do inseticida Lorsban na supressão de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na cultura do milho.

Climatologia da Precipitação no Município de Igarapé-Açu, PA. Período:

INSETOS-PRAGA NO BRASIL:

Variabilidade da Precipitação em Belém-Pará Relacionada com os Fenômenos El Niño e La Niña

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DE DUAS CULTIVARES DE MAMONA SOB DIFERENTES DENSIDADE DE PLANTAS NO TOCANTINS UNITINS-AGRO

PALAVRAS CHAVE: mandarová, Erinnyis ello, monitoramento do mandarová, controle do mandarová, baculovirus, Baculovirus erinnyis.

ECA_2ª etapa. 2. Observe os gráficos a seguir: Página 1 de 6

AVALIAÇÃO DE LINHAGENS AVANÇADAS DE FIBRA COLORIDA NOS MUNICÍPIOS DE ANGICAL E WANDERLEY-BA 1

Efeito do Desfolhamento Causado por Brassolis sophorae em Coqueiros sobre a Produção de Albúmen Fresco dos Frutos1. Introdução

ESTUDO DO PROCESSO DE MATURAÇÃO DA MAMONEIRA II: UMIDADE E FITOMASSA DOS FRUTOS E SEMENTES

Comportamento de plantas de açaizeiro em relação a diferentes doses de NPK na fase de formação e produção

AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHETO NA INTERFACE CHUVA/SECA

CARACTERÍSTICAS BIOMÉTRICAS DE VARIEDADES DE MILHO PARA SILAGEM EM SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA NO SUL DE MG

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE INSETICIDAS PARA CONTROLE DE Heliothis virescens NA CULTURA DO ALGODOEIRO

Av. Ademar Diógenes, BR 135 Centro Empresarial Arine 2ºAndar Bom Jesus PI Brasil (89)

PRODUTIVIDADE DA BATATA, VARIEDADE ASTERIX, EM RESPOSTA A DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO NA REGIÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ-SC

PRINCIPAIS PRAGAS DO COQUEIRO E. José Adalberto de Alencar Pesquisador da Embrapa Semi-Árido

PRODUTIVIDADE DAS CULTIVARES PERNAMBUCANA, BRS PARAGUAÇU E BRS NORDESTINA EM SENHOR DO BONFIM-BA

INCIDÊNCIA DE INSETOS EM ÁREAS DE CULTIVO DE HORTALIÇAS PRÓXIMAS A UM SISTEMA AGROFLORESTAL NO DISTRITO FEDERAL PROJETO DE PESQUISA

AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE DE MILHO SAFRINHA SOB DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO MAIS FÓSFORO APLICADOS NO PLANTIO

ADENSAMENTO DE MAMONEIRA EM CONDIÇÕES DE SEQUEIRO EM MISSÃO VELHA, CE

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO SFA/SSV MG - PROCAFÉ BOLETIM DE AVISOS Nº 104 ESTAÇÃO DE AVISOS FITOSSANITÁRIOS - ABRIL/2007

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cultivar BRS Sapoti Ipacuru EMBRAPA

CRESCIMENTO VEGETAL E DE PRODUÇÃO DE MELANCIA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES ESPAÇAMENTOS

COMPETIÇÃO DE GENÓTIPOS DE MAMONEIRA NO PERÍODO OUTONO-INVERNO EM ITAOCARA, RJ*

INFORMAÇÕES METEOROLÓGICAS PARA PESQUISA E PLANEJAMENTO AGRÍCOLA, REFERENTES AO MUNICÍPIO DE SANTO ANTÔNIO DE GOIÁS, GO

16ª. REUNIÃO TÉCNICA PROTEF MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS FLORESTAIS REGIÃO SUBTROPICAL

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE, DICHELOPS FURCATUS (F.) EM PLANTAS DE TRIGO EM DIFERENTES ESTÁDIOS FENOLÓGICOS

CORRELAÇÃO DOS FATORES AMBIENTAIS E O PERÍODO REPRODUTIVO DA PITAIA (Hylocereus undatus) EM LAVRAS-MG INTRODUÇÃO

Avaliação de variedades sintéticas de milho em três ambientes do Rio Grande do Sul. Introdução

TAXA DE DECOMPOSIÇÃO DE ESTERCOS EM FUNÇÃO DO TEMPO E DA PROFUNDIDADE DE INCORPORAÇÂO SOB IRRIGAÇÃO POR MICRO ASPERSÃO

ISSN Agosto, Cultivo da Pimenteira-do-reino na Região Norte

CRESCIMENTO E PRODUÇÃO DA MAMONEIRA FERTIRRIGADA EM MOSSORÓ RN

COMPORTAMENTO DE LINHAGENS DE MAMONA (Ricinus communis L.), EM BAIXA ALTITUDE NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 1

ANÁLISE DOS DESLIZAMENTOS EM SALVADOR A PARTIR DOS DADOS PLUVIOMÉTRICOS

Resgate, conservação, uso e manejo sustentável de populações de coqueiro gigante (Cocos nucifera L.) no Bioma Mata Atlântica

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

BOLETIM CLIMATOLÓGICO TRIMESTRAL DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO IAG/USP - JJA INVERNO -

Efeito do Inseticida Match no Controle de Spodoptera frugiperda (Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) na Cultura do Milho.

Transcrição:

July - August 6 5 CROP PROTECTION Avaliação dos Danos de Hyalospila ptychis (Dyar) (Lepidoptera: Phycitidae) em Coqueiro JOSÉ I.L. MOURA, KÁTIA R.P.A. SGRILLO, IRENE M. CAZORLA, RICARDO B. SGRILLO E JACQUES H.C. DELABIE 4 Estação Experimental Lemos Maia / CEPLAC, 4569- Una, BA, jinacio@bitsnet.com.br Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Rod. Ilhéus-Itabuna, km 6, 4565-, Ilhéus, BA katiasgrillo@uesc.br, icazorla@uol.com.br Seção de Métodos Quantitativos, sgrillo@cepec.gov.br; 4 Unidade de Pesquisa Associada Laboratório de Mirmecologia, Convênio UESC-CEPEC, delabie@cepec.gov.br CEPEC/CEPLAC, C. postal 7, 456-, Itabuna, BA Neotropical Entomology 5(4):5-56 (6) Evaluation of Hyalospila ptychis (Dyar) (Lepidoptera: Phycitidae) Damage in Coconut Palm ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate the losses provoked by the moth Hyalospila ptychis (Dyar) on green-dwarf coconut trees at Una, State of Bahia, Brazil. Inflorescences of trees were inspected monthly, from April 997 to March 998, in a 5 ha orchard. The number of coconuts per inflorescence, fruits damaged by H. ptychis, and fruit losses due to other causes, were recorded. The number of nuts per inflorescence followed a seasonal variation. The average losses caused by the pest were around % of the coconuts and the proportion of losses due to other causes was 59,4%. The number of coconuts lost for other causes and attacked by H. ptychis followed the seasonal variation of the number of fruits per inflorescence. The percent of coconuts attacked by H. ptychis was significantly and positively correlated with monthly average temperature. KEY WORDS: Insecta, Cocos nucifera, loss of production RESUMO - O objetivo deste estudo foi avaliar as perdas causadas por lagartas de Hyalospila ptychis (Dyar) em coqueiro da variedade anã-verde (Cocos nucifera L.), no município de Una, BA. Para isso, foram inspecionadas mensalmente, de abril de 997 a março de 998, as inflorescências de árvores distribuídas numa área de 5 ha, registrando-se o número de frutos por inflorescência, os frutos atacados por H. ptychis e os perdidos por outras causas. O número de frutos por inflorescência apresentou variação sazonal. As perdas médias causadas pela praga foram da ordem de % e a proporção média de frutos que abortaram por causa desconhecida foi de 59,4%. O número de frutos perdidos por outras causas e o número de frutos atacados por H. ptychis acompanharam a variação sazonal do número de frutos por inflorescência. A percentagem de frutos atacados por H. ptychis foi correlacionada significativa e positivamente com a temperatura média mensal. PALAVRAS-CHAVE: Insecta, traça-dos-cocos-novos, Cocos nucifera, perda de produção A baixa produtividade dos coqueiros no Brasil é geralmente atribuída à ausência de tratos culturais, tais como irrigação, manejo de adubação e controle fitossanitário. Todavia, fatores meteorológicos como pluviosidade, temperatura, radiação solar, umidade relativa do ar e velocidade do vento pode também influenciar o desenvolvimento e produtividade dos coqueirais (Frémono et al. 969). A produtividade do coqueiro pode ser afetada pela ação de diferentes artrópodes e doenças (Bondar 94). Entre os artrópodes, várias espécies de insetos e ácaros são responsáveis pela redução da produtividade do coqueiro no Brasil (Ferreira et al. 994, Lins et al., Moura et al. ). Entre os que atacam as flores masculinas, femininas e frutos jovens do coqueiro, destacam-se os lepidópteros Batrachedra nuciferae Hodges (Coelophoridae) e Hyalospila ptychis (Dyar, 99), o curculionídeo Parisoschoenus obesulus Casey, e o ácaro Aceria guerreronis Keifer (Sanchez & Nakaro ; Ferreira et al. 998, ). Apesar deesses artrópodes terem distribuição ampla e generalizada nos coqueiros do Nordeste e Sudeste do Brasil,

5 Moura et al. - Avaliação dos Danos de Hyalospila ptychis (Dyar) (Lepidoptera: Phycitidae) em Coqueiro sua condição de praga varia de um local para outro. Segundo Lopes (999) e Chagas et al. (), H. ptychis destaca-se entre os insetos que causam danos econômicos aos coqueiros no Ceará e Rio Grande do Norte, respectivamente. O imago de H. ptychis é uma mariposa de tamanho pequeno, coloração parda, com,4 cm a,8 cm de envergadura. As lagartas desenvolvem-se nas inflorescências recém-abertas do coqueiro, danificando as flores femininas, perfurando as brácteas dos frutos novos e penetrando neles. Elas se alimentam dos tecidos do mesocarpo, fazendo galerias que interrompem o fluxo de seiva. Grande parte dos cocos atacados não amadurece, e eles acabam caindo bem pequenos, enquanto os que atingem a maturação se deformam, perdendo peso e valor comercial. A infestação é notada pelo acúmulo de dejeções acompanhadas de fios de seda na superfície da flor ou do coco pequeno. A pupa formase fora do fruto, geralmente junto à espata ou outros tecidos mortos da árvore (Ferreira et al. ). Segundo F.B. Sarro et al. (não publicado), o ciclo biológico completo médio de H. ptychis é de,6 dias. No município de Una, BA, região tipicamente de produção cacaueira, não há registro de danos ocasionados por H. ptychis que resultem em perdas econômicas. É possível que as árvores remanescentes da Mata Atlântica utilizadas no sombreamento dos cacaueiros abriguem inimigos naturais de H. ptychis. Porém, no extremo sul da Bahia, coqueiros plantados entre os municípios de Teixeira de Freitas e Mucuri sofrem ocasionais ataques de H. ptychis associados a perdas econômicas. O presente estudo foi conduzido de forma a avaliar as perdas causadas por H. ptychis na produção dessa planta no município de Una. Material e Métodos O estudo foi realizado de abril de 997 a março de 998, num coqueiral de 5 ha situado nas áreas experimentais da Estação Lemos Maia (ESMAI), CEPLAC, em Una, BA. O coqueiral era constituído por árvores da variedade anã-verde, com idade de 8,5 anos, plantados em espaçamento de 7,5 x 7,5 m e densidade de 4 plantas por ha. Os coqueiros receberam, desde o plantio até a idade de sete anos, as seguintes quantidades médias de adubo mineral (g/planta): uréia: g, cloreto de potássio: 64g, fósforo: 74g. Para avaliar o número de flores femininas atacadas por H. ptychis, coqueiros foram marcados com tinta de cor amarela e, mensalmente, fez-se uma inspeção visual ao acaso de plantas que apresentavam inflorescência feminina em antese. As inflorescências localizadas eram marcadas e o número de flores femininas presentes era registrado. Durante o mês seguinte, foram realizadas visitas semanais para avaliação da evolução das flores, registrando-se o número de frutos atacados por H. ptychis, de frutos abortivos e de frutos normais. Foram considerados cocos atacados por H. ptychis aqueles que apresentavam dejeções expelidas para o exterior. Ficou estabelecido que frutos com coloração marrom que se desprendiam facilmente das inflorescências e não apresentavam vestígios de ataque de insetos em seu interior eram considerados abortivos. Os frutos de cor verde foram considerados normais, uma vez que não se desprendiam das brácteas ao serem puxados e não apresentavam vestígios de ataque de insetos. No período de meses, foram avaliadas. inflorescências. Os resultados obtidos foram avaliados graficamente e através de análise de variância e de regressão. Resultados e Discussão Embora Santos et al. (996) indiquem que % a 7% das flores femininas de C. nucifera caem nas primeiras seis semanas após abertura natural da inflorescência, é interessante registrar que, no transcorrer deste estudo, a maioria das flores atacadas por H. ptychis não se desprendia da inflorescência no início do ataque. As médias das variáveis amostradas são apresentadas na Tabela, assim como seus intervalos de confiança e os dados referentes à precipitação pluviométrica mensal e à média mensal de temperatura. Perdas de produção. O número médio de frutos foi de 4, por planta nas. inflorescências examinadas (Tabela ). Desse total,,% dos frutos foram atacados por H. ptychis, 59,4% abortaram por causas desconhecidas enquanto 8,% permaneceram sadios. Estes resultados indicam uma perda total de 6,7% de frutos nos dias que seguem a fecundação. Isto significa que, considerando o número médio de 4, frutos por inflorescência, cada uma deveria produzir em média 6, cocos sadios, se estes fossem chegar à maturação. Em condições de produção comercial, os frutos são normalmente colhidos para consumo sete meses após a fecundação e perdas adicionais ocorrem durante o período intermediário. Para as condições de Una, a maior produtividade média observada até o momento foi de 7,5 cocos por inflorescência. A Fig. apresenta o número médio de frutos atacados por H. ptychis, o de frutos perdidos por causas desconhecidas, assim como o total de frutos por inflorescência nas amostragens mensais no período do estudo. Na figura, identifica-se claramente um padrão sazonal na variação do número de frutos por inflorescência, decrescendo de abril a setembro e crescendo de setembro a abril. Da mesma maneira, o número de frutos perdidos por outras causas e o de frutos atacados por H. ptychis acompanham o padrão dessa variação. Estas observações são comprovadas pela significância da análise de regressão linear (R = 5,9%; F (,) =,76; P =,9), onde foram comparados o número médio de frutos atacados por H. ptychis e o número médio de frutos por inflorescência. A regressão linear obtida entre o número médio de frutos perdidos por causas desconhecidas e o número médio de frutos por inflorescência também é significativa (R = 9,%; F (,) = 4,96; P =,). Esses resultados sugerem que tanto a proporção de frutos atacados pelo inseto, como a de frutos perdidos por outras causas, podem ser consideradas constantes no tempo, com valores pontuais variando ao acaso em torno da média. Considerando-se a produção média de 7,5 frutos por inflorescência, inflorescências por planta/ano, e a

July - August 6 Neotropical Entomology 5(4) 5 Tabela. Número médio de frutos atacados por H. ptychis, de frutos perdidos por outras causas, de frutos sadios e frutos por inflorescência, com respectivos intervalos de confiança, precipitação pluviométrica (Ppt) e temperatura média (T med), Una, BA, abril de 997 a março de 998. Data atacados por H, ptychis Número médio de frutos perdidos por outras causas sadios por inflorescência %defrutos perdidos/ outras causas Dados climáticos Ppt (mm) Tmed ( o C) /4/997,8, 4, 5,4 4,9 4, 88, 6, 49,4 59, 5,45 /5/997,, 8, 4,6,6, 6, 4,6 6,7 8,5 5,9 8/6/997,8,,7,,,,7, 6, 57,8,69 /7/997,, 7,,,6, 6,,5 7, 66,6,7 /8/997,, 6,7,9 7,7,7 4,5, 68,,5,67 4/9/997,,,5, 7,,9 7,8, 58,7 58,6 4,56 //997,,,,9 6,,9 8,7,4 66,5 45, 5,9 //997,5, 9,,9,8,,6,6 57,, 6,7 //997,4,6,,5 9,,9 4,5, 5,9 5, 7,44 //998,5,,7,9 7,9,5 4,,9 56,, 7,64 6//998,7,5 8, 4, 7,,8 46,9 4,7 6, 8,5 9,4 5//998,9,5 4,9 6, 7,4,5 6, 6, 67,9 6, 7,67 Médias,, 5,, 6,,8 4,,6 59,4 57,5 5,67 %, 59.4 8., - - - densidade de 4 plantas por ha, teoricamente poder-se-ia obter 8.6 cocos por ha/ano. Nesse caso, as perdas causadas por H. ptychis seriam de cerca de 67 frutos por ha/ano. Essas perdas (,%) são pequenas quando comparadas com as decorrentes de outras causas e, certamente, não são suficientes para justificar a aplicação de técnicas de controle populacional para H. ptychis, nas condições em que este estudo foi desenvolvido. No entanto deve-se destacar que o período de maior incidência de ataque de H. ptychis ocorreu entre os meses de dezembro a abril, e Frutos 8 6 4 Perdidos por outras causas Frutos/inflorescência Atacados por H.ptychis 4/97 5/97 6/97 7/97 8/97 9/97 /97 /97 /97 /98 /98 /98 Data de amostragem 5 4 Frutos atacados por H. ptychis Figura. Variação do número médio de frutos atacados por H. ptychis, de frutos perdidos por outras causas e de frutos por inflorescência, em amostragens mensais no decorrer de um ano. Una, BA, abril de 997 a março de 998.

54 Moura et al. - Avaliação dos Danos de Hyalospila ptychis (Dyar) (Lepidoptera: Phycitidae) em Coqueiro Frutos/infloresc. e Temperatura (C) 8 6 4 Precipitação Temperatura média Frutos/influorescência Frutos/Inflorescência 4/97 5/97 6/97 7/97 8/97 9/97 /97 /97 /97 /98 /98 /98 Data de amostragem 8 6 4 Precipitação (mm) Figura. Precipitação pluviométrica, médias de temperatura e médias de frutos por inflorescência. Una, BA, abril de 997 a março de 998. que as médias de cocos atacados neste período (,%) foram significativamente superiores (F (,88) = 6,5; P =,) às medias referentes aos outros meses (,%), tendo o pico de ataque ocorrido em dezembro de 997 (5,5%). Ferreira & Filho () recomendam que as medidas de controle de H. ptychis só devem ser adotadas quando houver incidência média de % de frutos com os sintomas de ataque do inseto. Esse limite, no entanto, deve ser estabelecido caso a caso, equacionando-se o valor dos ganhos e perdas potenciais e o custo de aplicação das técnicas de controle. Efeito do clima. A Fig. apresenta os dados climáticos e o número de frutos por inflorescência. Embora a regressão entre precipitação e frutos por inflorescência tenha sido significativa (R = 55,6%, F (,) =,48; P =,5), os resultados não são conclusivos, uma vez que a quantidade de chuva relativa ao mês de abril de 997 foi anormalmente alta (59, mm) e, quando esse dado foi descartado, a regressão deixou de ter significância. Existe também uma relação significativa (R = 4,6%, F (,) = 6,68; P =,7) quando são comparadas a proporção de frutos atacados por H. ptychis e a média mensal das temperaturas, (Fig. ). A proporção de cocos atacados cresceu de acordo com a temperatura, o que era esperado, uma vez que temperaturas mais elevadas (até um certo limite, geralmente estimado em torno de 8 o C) favorecem geralmente o desenvolvimento de qualquer população de insetos. Frutos atacados por H. ptychis (%) 6 5 4 y =,468x - 9,65 R =,46... 4 5 6 7 8 9 Temperatura media (C) Figura. Relação entre a percentagem de frutos atacados por H. ptychis e a temperatura média mensal. Una, BA, abril de 997 a março de 998.

July - August 6 Neotropical Entomology 5(4) 55 Finalmente, conclui-se que, no período avaliado (abril de 997 a março de 998), o número de frutos carregados por inflorescência apresentou variação sazonal que seguiu um ciclo anual, com mínimo em setembro (7,8 frutos/ inflorescência) e máximo em abril (88, frutos/ inflorescência). A proporção de frutos atacados por H. ptychis foi correlacionada significativa e positivamente com a temperatura média mensal. A percentagem média de perda causada pela praga em coqueiro foi baixa (,%), quando comparada com a percentagem média de perdas devido a outras causas (59,4%). O número de frutos perdidos nessas duas categorias acompanhou a variação sazonal do número de frutos por inflorescência. Isso sugere que a proporção de cocos perdidos por razões diversas, independentemente das perdas ocasionadas por H. ptychis, é uma característica constante na população de plantas estudadas, que pode estar correlacionada a fatores fisiológicos intrínsecos ao coqueiro. Agradecimentos Os autores agradecem aos funcionários da ESMAI em Una pela colaboração nas observações de campo, a D.S. Borges pelo auxílio na preparação da versão final do manuscrito, e ao CNPq pela concessão de bolsa de produtividade em pesquisa ao último autor. Referências Bondar, G. 94. Insetos nocivos e moléstias do coqueiro (Cocos nucifera L.) no Brasil. Salvador, Tipografia Naval, 56p. Ferreira, J.M.S., M.F. Lima, D.L. Santana & J.I.L. Moura. 998. Pragas do coqueiro, p.8-8. In R.B. Sobrinho, J.E. Cardoso, & F.C.O. Freire (eds.), Pragas de fruteiras tropicais de importância agroindustrial. Fortaleza. EMBRAPA, CNPAT, 9p. Ferreira, J.M.S., M.M. Filho & P.M.P. Lins.. Pragas do coqueiro: Características, amostragem, nível de ação e principais métodos de controle, p.7-57. In J.M.S. Ferreira & M.M. Filho (eds.), Produção integrada de coco: Práticas fitossanitárias. Aracajú, Embrapa/Tabuleiros Costeiros, 7p. Frémono, Y., R. Ziller & M.N. Lamothe. 969. El cocotero: Técnicas agrícolas y producciones tropicales. Barcelona, Editora Blume, 6p. Moura, J.I.L., R.B. Sgrillo. & F.C. Miguens.. Manejo integrado das principais pragas do coqueiro, p.67-9. In L.S. Poltronieri & D.R. Trindade (eds). Manejo integrado das principais pragas e doenças de cultivos amazônicos. Belém, Embrapa Amazônia Oriental, 4p. Santos, G., P.A. Batugal, A. Otham, L. Baudowin & J.P. Labouisse. 996. Manual on standardized research techniques in coconut breeding. Roma, IPGRI, 45p. Sanchez, S. & O. Nakano.. Ocorrência de Batrachedra nuciferae Hodges (Lepidoptera: Coleophoridae) no estado de São Paulo. Neotrop. Entomol. : 657-658. Siqueira, E.R., F.E. Ribeiro & W.M. Aragão. 994. Melhoramento genético do coqueiro. In J.M.S. Ferreira, D.R.N. Warwick & L.A. Siqueira (eds.). A cultura do coqueiro no Brasil. Aracaju, Embrapa/Tabuleiros Costeiros, 8p. Received /IX/4. Accepted 6/I/6.