A assistência técnica e extensão rural diferenciada: a experiência do PAS

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Transcrição:

INFORMATIVO DO PROJETO ASSENTAMENTOS SUSTENTÁVEIS NA AMAZÔNIA (PAS) NÚMERO 9 JULHO DE 2017 A assistência técnica e extensão rural diferenciada: a experiência do PAS serviço de assistência técnica e extensão rural O (ATER) é parte da estratégia central do projeto Assentamentos Sustentáveis na Amazônia (PAS): ele é capaz de promover mudanças nos padrões produtivos, alavancar o manejo integrado dos lotes rurais e fortalecer atividades de baixo impacto nas áreas abertas, reduzindo a demanda por novas áreas para a produção agropecuária. Um modelo de ATER diferenciado é a chave para melhorar a vida das famílias em assentamentos rurais, com aumento na geração de renda e garantia da segurança alimentar. Além disso, uma ATER capacitada em sistemas sustentáveis inverte a lógica da perda de recursos naturais e aprimora a qualidade ambiental do lote, processos fundamentais para frear a degradação historicamente observada na região e a perda da capacidade produtiva das áreas abertas. Por isso, o IPAM, em parceria com a Fundação Viver Produzir e Preservar e INCRA, assumiu o compromisso de implementar um novo modelo de assistência técnica para as famílias de beneficiários de reforma agrária em três territórios prioritários do Pará: Transamazônica, Baixo Amazonas e BR-163. O sistema de ATER adotado pelo IPAM está em sintonia com os padrões da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER), que estabelece as bases para a execução do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Lei 12.188, de 11 de janeiro de 2010). A construção desse modelo foi feita a partir de experiências prévias na região, como o Programa Proambiente 1 e projeto Roça sem Queimar, ambos com participação do instituto, e aplicação de ferramentas e estratégias pela equipe do PAS, detalhadas a seguir. 1. Planejamento Para oferecer uma ATER ligada à realidade local, que cumprisse seus objetivos em prol do desenvolvimento sustentável dos assentamentos, o primeiro passo foi diagnosticar a situação das famílias e territórios quanto a aspectos econômicos, produtivos, ambientais e sociais, além de um estudar a dinâmica regional onde eles estão inseridos. No PAS, três ferramentas foram aplicadas: ESTUDO DE MERCADO Realizado entre junho e julho de 2013, teve como principal objetivo estudar o mercado local nos po- 1. O Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural (Proambiente) foi adotado pelo governo federal como política pública em 2004. Porém, o programa não se consolidou. Foi uma das iniciativas mais inovadoras voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar na Amazônia.

los de Altamira, Itaituba e Santarém e como os produtos da agricultura familiar, principalmente provenientes dos assentamentos, estavam inseridos nesses mercados. O estudo identificou os produtos com mais potencial de comercialização nas regiões de referência (Transamazônica, Baixo Amazonas e BR-163), as características do mercado consumidor e o potencial dos mercados institucionais (leia o quadro abaixo), que têm uma reserva para a agricultura familiar. Mercados institucionais São os mercados criados pelo governo federal para aquisição de alimentos e fornecimento de merenda escolar: o Plano de Aquisição de Alimentos (PAA 2 ) e o Plano Nacional da Alimentação Escolar (PNAE 3 ). O PAA tem como objetivo a compra de produtos agropecuários com priorização a agricultores familiares 4 ; já o PNAE prevê que 30% do seu valor seja reservado para compras de produtos da agricultura familiar 5. DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO Esse diagnóstico tinha como objetivo conhecer os assentamentos rurais e suas comunidades por meio de oficinas. O IPAM realizou cerca de 25 encontros com lideranças locais e assentados entre dezembro de 2012 e abril de 2013, quando era feito um reconhecimento do território por imagens de satélite e fotos, além de um levantamento das organizações sociais presentes e do perfil geral das famílias residentes nos lotes. DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL Feita com o objetivo de traçar a realidade de cada família residente nos assentamentos, consistia em questionários semiestruturados e aplicados em entrevistas com o apoio de um aplicativo (DroidSurvey) instalados em tablets. Esses questionários continham perguntas relacionadas a força de trabalho, produção agropecuária, renda familiar, aspectos ambientais e estrutura local (moradia, saneamento, educação, saúde, entre outros itens). As informações foram compiladas e estão disponíveis no Simpas (Sistema de Monitoramento do Projeto Assentamentos Sustentáveis), no endereço www.pas-simpas.org.br. O diagnóstico foi realizado em 2013. A aplicação dessas três ferramentas permitiu à equipe do PAS desenhar um quadro abrangente da situação dos assentamentos rurais em escalas regional/territorial e local, e assim construir o melhor modelo de serviço de assistência técnica para as famílias contempladas pelo PAS. 2. Regularização Após o reconhecimento dos territórios de atuação do PAS e da realidade socioeconômica das famílias, a segunda fase foi a regularização da situação ambiental dos lotes e das atividades produtivas ali conduzidas. Este é um passo essencial para abrir mercados e, no futuro, buscar certificações e parcerias. O IPAM emitiu 1.300 cadastros ambientais rurais para assentados de reforma agrária. Dessa maneira, tornou viável a licença ou a dispensa de licença das atividades a serem desenvolvidas na etapa seguinte do projeto. Após a regularização ambiental do lote, a das atividades produtivas foi o próximo passo. O governo do estado do Pará facilita o processo no caso da agri- 2. O PAA foi instituído pelo Art. 19 da Lei nº 10.696, de 2 de julho de 2003, no âmbito do Programa Fome Zero. Esta lei foi alterada pela Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011. 3. Resolução CD/FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013 (atualizada pela Resolução CD/FNDE nº 04, de 2 de abril de 2015) 4. Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006. 5. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. 2

Regularização ambiental (CAR) Licenciamento das atividades Beneficiamento da produção Acesso aos mercados cultura familiar, com a resolução COEMA 107/2013 6, que cria a Dispensa de Licenciamento Ambiental (DLA). A DLA pode ser emitida para atividades de baixo potencial poluidor/degradador, em que se enquadram a maioria das atividades produtivas desenvolvidas pelo projeto, exceto a pecuária. Foram emitidas cerca de mil DLAs pelo projeto. Alguns lotes se encontram em áreas onde já foi realizada a descentralização da gestão ambiental. Nesses, o IPAM realizou os procedimentos necessários para licenciar as atividades. 3. Capacitação O passo seguinte foi estudar melhorias para o fortalecimento da produção para as culturas com mais demanda nos mercados locais e abrir o caminho para viabilizá-las. Com essa intenção, o IPAM realizou o Seminário para Melhorias Produtivas para Assentamentos de Reforma Agrária no Oeste do Pará, em novembro de 2013 em Alter do Chão, e contou com a presença de representantes da Embrapa, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), da Universidade Federal do Pará, da EMATER e Secretaria Estadual de Pesquisa e Aquicultura do Pará, além de Jurandir Melado, da Fazenda Ecológica, para uma capacitação em manejo de pastagem. Os especialistas apresentaram aos produtores, técnicos agropecuários e coordenação do projeto as principais técnicas e tecnologias para produção familiar, incluindo produção agroecológica, piscicultura, criação de galinha caipira, hortaliças, sistemas agroflorestais com cacau, pimenta-do- -reino, lavouras temporárias, melhoramento de rebanho, produção em sistemas silvopastoris e manejo de pastagem. Com os subsídios colhidos no seminário, a equipe do PAS definiu as atividades prioritárias que o projeto apoiaria em cada lote, com definição de quais seriam os investimentos necessários e como seria feita a ATER a qual poderia ser extensiva a outras atividades que estivessem contempladas no plano de uso do lote. Passos da definição do trabalho do técnico no lote: 1. Estudo de mercado 2. Georreferenciamento do assentamento 3. Capacitação e treinamento dos técnicos 4. Avaliação com o produtor dos planos do lote e sistematização dos sonhos 5. Definição das atividades apoiadas pelo projeto e contrapartidas do produtor 6. Acompanhamento por meio da ATER e do SIMPAS 6. Disponível em https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=252212 3

4. Construção do plano de uso do lote Após as capacitações iniciais dos técnicos e da definição do rol de atividades que o IPAM apoiaria diretamente com insumos (que variavam de adubo e calcário a equipamentos), os técnicos começaram a elaborar os planos de uso (PU) do lote de todas as famílias beneficiadas pelo projeto. Esse era o documento guia para o cotidiano da ATER. O produtor é a pessoa que mais conhece seu próprio lote e sua colaboração com a equipe de ATER é essencial para seu sucesso. Dessa forma, o conhecimento do campo une-se às inovações que instituições tecnológicas e de pesquisa produzem esta é a melhor receita para que a produtividade do lote aumente. O processo de elaboração do PU seguiu os seguintes passos: O técnico apresentava ao produtor um mapa atual do lote, com base nas imagens de satélite disponíveis ou o mapa do CAR, indicando as áreas de floresta e produção; Em seguida, conversava com o produtor sobre seu desejo para o lote nos próximos anos, incluindo atividades que gostaria de incrementar e novas atividades que gostaria de desenvolver. A partir daí desenhava um croqui intitulado mapa dos sonhos ; Com o mapa dos sonhos em mãos, o técnico, representando o IPAM, e produtor definiam juntos quais atividades o PAS poderia apoiar e quais seriam as contrapartidas do produtor em cada atividade; Era estabelecido um cronograma de implementação de atividades, com as atribuições do IPAM, os investimentos a serem realizados e as contrapartidas do produtor. A composição de um PU, dentro do PAS, inclui pelo menos: 1. A identificação do lote e seus responsáveis; 2. As características da família proprietária ou ocupante, incluindo uma análise da capacidade e da dinâmica de uso da mão de obra, ou seja, quantas pessoas residem no lote, seu perfil, considerando idade e capacidade física, e qual é a disponibilidade de tempo para as atividades produtivas; 3. Mapas do lote, sendo um atual e uma projeção, descrevendo e quantificando os principais usos da terra; e 4. Um projeto de transição produtiva e conservação/ recuperação ambiental pactuado entre a família e a equipe de ATER, com um cronograma de atividades. Exemplo de mapa integrante de plano de uso de um lote em Pacajá, na região da Transamazônica. 4

Além disso, o PU deve prever um sistema de monitoramento e avaliação. No PAS, o monitoramento do PU é realizado de duas maneiras: pelos atestes assinados e inseridos no sistema de monitoramento do projeto (leia mais a seguir) e também pelas visitas, em média uma a cada dois meses, quando o técnico reajustava o cronograma de atividades caso necessário. Tabela 1: Resumo de planos de uso desenvolvidos pelo projeto Assentamentos Sustentáveis na Amazônia Território Número de famílias atendidas Transamazônica 450 Baixo Amazonas 151 BR-163 49 Total 650 5. Implementação e disseminação Definido o planejamento das atividades do lote, como início do preparo de área, plantio, manejo e contrapartidas do produtor, começavam a implementação do PU e a compra de insumos produtivos. Todas as informações do diagnóstico e do PU são importantes no planejamento do tempo e custo das atividades. As equipes de ATER do IPAM tinham como orientação os planos de uso elaborados com os produtores para guiar as atividades a serem desenvolvidas. As visitas, realizadas a cada dois meses aproximadamente, dependendo das condições climáticas e de estradas, são registradas em atestes, formulários preenchidos durante a visita aos produtores. No ateste é incluída a data da visita, o lote visitado e as orientações dadas ao agricultor na ocasião. Ao final da visita, técnico e agricultor assinam o documento, e cada um fica com uma via. Os atestes são em seguida colocados no Simpas: é basicamente o formulário físico replicado, além de uma cópia digital do ateste assinado. 5

O Simpas congrega as informações de todas as mais de 2 mil visitas técnicas realizadas pelo projeto e as orientações dadas aos agricultores. O Simpas, dessa forma, congrega as informações de todas as mais de 2 mil visitas técnicas realizadas pelo projeto e as orientações dadas aos agricultores. Esse histórico fica à disposição do técnico, que pode consultar a imagem de satélite do lote do produtor, extrair o croqui do plano de uso e verificar o cronograma de atividades. 6. Capacitação do produtor Além das visitas de acompanhamento e orientação, o IPAM promoveu também atividades como oficinas, cursos, intercâmbios e participação em eventos, a fim de difundir o conhecimento entre os produtores e facilitar a ATER individual. A troca de experiências entre os agricultores é peça chave para a disseminação de boas práticas, técnicas e tecnologias novas. Essas atividades propiciaram aos produtores observarem, na prática, técnicas que a equipe de ATER pretendia implantar em sua propriedade. Além disso, os produtores eram estimulados a adotarem novidades em sua propriedade ao comprovarem o sucesso de seus pares. Alguns dos intercâmbios realizados foram: Cultura da banana (março de 2016) O principal objetivo foi mostrar um sistema de produção de banana já consolidado, com o uso de inovações tecnológicas e estrangeiras de comercialização junto aos mercados institucionais. Participaram os assentados do PA Moju I e II e do PA Cristalino. Esse intercâmbio aconteceu na comunidade Bom Jesus, no PA Cristalino II. Fruticultura e visita à Cooperativa Mista de Tomé-Açu (PA) O foco foi conhecer experiências de sistemas agroflorestais. Os agricultores visitados trabalham com cacau, graviola, açaí, dendê, cupuaçu, pupunha e pimenta-do-reino em consórcio com algumas espécies florestais, como a andiroba e o mogno brasileiro. As propriedades agrícolas recebem assistência técnica da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé- Açu (CAMTA). Manejo florestal comunitário (agosto de 2014) Foram realizadas visitas a comunidades e palestras com associações que já desenvolvem algum tipo de trabalho de manejo, com troca de experiência com os moradores do PDS Igarapé do Anta, além de palestra e visitação no pátio de produção da COOMFLONA, palestras de empresas no ramo da produção de cosméticos e demais produtos de origem florestal. Intensificação da pecuária (julho de 2014) Um debate entre assentados e técnicos promoveu o conhecimento de tecnologias de manejo de pastagens e de sistemas de criação de gado com ênfase a produção leiteira. A agenda foi composta de palestras técnicas, visitas a experiências inovadoras e troca de experiências entre os próprios assentados das três regionais de atuação do PAS. As experiências estão localizadas nos municípios de Rurópolis e Itaituba e apenas uma só foi possível conhecê-la por meio de uma exposição técnica do extensionista que a acompanha, localizada no estado do Acre. Pimenta-do-reino (dezembro de 2015) Assentados participaram de um intercâmbio no projeto de assentamento Moju I e II e PDS do Anta, onde visitaram três agricultores que trabalham com a pimenta-do-reino em diferentes modelos de produção. Os tópicos debatidos foram a produção de mudas em diferentes estágios de formação. Sistemas agroflorestais para produção de cacau (novembro de 2015) O objetivo foi demostrar uma forma de recuperação de áreas degradadas com a implantação de 6

sistemas agroflorestais (SAFs), consórcios de culturas agrícolas com espécies arbóreas que podem ser utilizados para restaurar florestas. A tecnologia ameniza limitações do terreno, minimiza riscos de degradação inerentes à atividade agrícola e otimiza a produtividade. Visita à Cooperativa de Cacau de Medicilândia (Cacauway) (2015 e 2016) A CacauWay é a primeira fábrica de chocolate da região Transamazônica, que produz e vende o chocolate para o mercado regional e estadual. Surgiu da união de agricultores familiares no município de Medicilândia, que fundaram a Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (COOPATRANS) para organizar a cadeia produtiva do cacau desde a produção até a industrialização e o mercado. 7. Conclusão A melhoria de vida do assentado não depende só uma produção de qualidade e abundante. Além da porteira de uma propriedade rural existe toda uma logística para transformar esses produtos em renda. A assistência técnica e extensão rural, ATER, tem papel fundamental na transformação da vida dos agricultores familiares e na criação de um novo modelo de desenvolvimento. Durante o projeto, pode-se observar que a assistência técnica precisa ser contínua, ou no mínimo ser realizada por um período de tempo em que seja possível a transmissão de conhecimentos para o agricultor. A criação de uma relação de confiança entre produtor e técnico/ instituição prestadora não é algo que ocorre do dia para a noite e é fundamental para que haja a troca de conhecimentos. Parcerias são fundamentais. O IPAM, apesar de ser o executor do projeto, contou com muitos parceiros locais para a prestação de ATER: universidades como a UFPA, UFRA, UFOPA; entidades públicas como a CEPLAC; secretarias de meio ambiente e agricultura; prefeituras; EMBRAPA; sindicatos e associações de trabalhadores e comunitárias; entre muitos outros. Todos se mobilizaram para que a vida dos agricultores fosse transformada. A contribuição deles foi fundamental para a criação de uma rede de atores que auxiliaram, apoiaram e confiaram no trabalho. As inovações apresentadas pelo sistema de ATER do PAS, sobretudo os conceitos de PU, o sistema de cogestão/gestão compartilhada e o sistema de monitoramento de resultados e impactos proporcionados pelo serviço ATER na vida das famílias atendidas têm grande potencial de contribuir para o aperfeiçoamento dos modelos de assistência técnica rural adotados atualmente. Apesar da carência de recursos humanos e financeiros que ainda predomina na ATER da Amazônia, a experiência mostra que é possível qualificar e aumentar a eficiência dos recursos aplicados. Para isso, no modelo dos contratos atuais de ATER, urge a necessidade de se incluir indicadores de resultados e impactos na melhoria dos sistemas de produção, na renda e na qualidade de vida das famílias atendidas, e avançar da mera comprovação do número de reuniões realizadas e assinaturas recolhidas nesses eventos. O referencial técnico e metodológico construído pelo sistema de ATER do IPAM pode ser replicado e inserido em centenas de contratos de prestadoras de ATER realizados na Amazônia, que são atualmente apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário e pelo INCRA, bem como nas instituições estaduais de ATER da região, com potencial de atender mais de 450 mil famílias de assentados de reforma agrária. É possível qualificar e aumentar a eficiência dos recursos aplicados em assistência técnica e extensão rural na Amazônia. 7

Projeto Assentamentos Sustentáveis na Amazônia INICIATIVA O INSTITUTO DE PESQUISA AMBIENTAL DA AMAZÔ- NIA (IPAM) é uma organização de pesquisa científica, não governamental e sem fins lucrativos, fundada em 1995, que trabalha por um desenvolvimento sustentável da Amazônia que seja pautado pelo crescimento econômico, justiça social e proteção da integridade funcional dos ecossistemas da região. ENDEREÇOS Belém (Sede): Avenida Almirante Barroso, 1133, Bairro Marco, Belém (PA), CEP: 66093-031. Tel.: (91) 2121-0831. Altamira: Rua Lucindo Câmara, 3738, Bairro Jardim Independente, Altamira (PA), CEP: 68.372-823. Tel.: (93) 3515-3510. Brasília: SHIN CA 5, Bloco J2, Sala 309, Bairro Lago Norte, Brasília (DF), CEP: 71503-505. Tel.: (61) 3468-2206 / 2109-4150. Canarana: Rua Horizontina, 104, Bairro Centro, Canarana (MT), CEP: 78640-000. Tel.: (66) 3478-3631. Cuiabá: Rua Corsino do Amarante, 588, Bairro Quilombo, Cuiabá (MT), CEP: 78.043-435. Tel.: (65) 3621-3109. Itaituba: Rua Lázaro de Almeida Baima, 791(2ª Rua), Jardim das Araras, Itaituba (PA), CEP: 68.180-110. Tel.: (93) 3518-1688. Rio Branco: Rua Alvorada, 211, 1º Piso, sala 101, Bairro Bosque, Rio Branco (AC), CEP: 69900-664. Tel.: (68) 3224-8316. Santarém: Av. Rui Barbosa, 136, Bairro Prainha, Santarém (PA), CEP: 68005-080. Tel.: (93) 3522-5538 / 3522-5285 www.ipam.org.br A FUNDAÇÃO VIVER PRODUZIR E PRESERVAR (FVPP) é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1991 por iniciativa de agricultores familiares e movimentos populares da região da Transamazônica e Xingu no oeste do Pará. Desde a sua fundação, se mantém articulada com os movimentos sociais da Amazônia e do país, na proposição e execução de projetos identificados com uma visão sustentável de desenvolvimento. ENDEREÇO: Rua Anchieta, 2092, Altamira (PA). CEP: 68.371-272. Tel: (93) 3515-2406 www.fvpp.org.br O INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E RE- FORMA AGRÁRIA (INCRA) é uma autarquia federal criada pelo Decreto nº 1.110, de 9 de julho de 1970, com a missão prioritária de realizer a reforma agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. ENDEREÇO: SBN Qd. 01, Bloco D, Edifício Palácio do Desenvolvimento, Brasília (DF). CEP: 70.057-900. Tel: (61) 3411-7474 www.incra.gov.br PARCERIA RECURSOS APOIO O Projeto Assentamentos Sustentáveis na Amazônia conta com três grupos de sustentação, situados um em cada território de abrangência do projeto e um grupo de lideranças na região da Transamazônica. Esses grupos são compostos por sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais e associações de produtores, entre outras entidades que representam as famílias assentadas e demais atores envolvidos nas atividades. Tem como objetivo contribuir para o processo de gestão do desenvolvimento dos assentamentos. PARCEIROS LOCAIS Associação dos Agricultores Familiares do Canoé e Cutião CIDS Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Transamazônica e Xingu ASCRAN Associação Comunitária Rural Anapuense APRUC II Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais do Cristalino II) Associação de Agricultores Familiares da Comunidade Santa Inez PA Cristalino II Associação Santa Inez STTR/STM