VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM CENÁRIOS DE REUTILIZAÇÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA

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Transcrição:

VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM CENÁRIOS DE REUTILIZAÇÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA 1 Tatiana C. Amaral, 2 Reinaldo C. Mirre, 3 Lídia Yokoyma, 3 Fernando L. P. Pessoa 1 Discente do curso de Ciências Econômicas Universidade Candido Mendes / RJ 2 Bolsista de PG em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos - CNPq/UFRJ 3 Professor da Escola de Química da UFRJ 2,3 Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Horácio Macedo, 2030, Bloco E, LADEQ, I-164, Sala 03, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro - RJ, CEP 21941-909 e-mail: pessoa@eq.ufrj.br RESUMO A preocupação com o impacto ambiental decorrente de atividades industriais tem levado à necessidade de observar e avaliar os possíveis riscos inerentes. O reaproveitamento da água nos processos industriais altera suas características de qualidade, as quais são gradativamente comprometidas pela concentração de contaminantes nela presentes, necessitando tratamento parcial para o seu despejo no corpo receptor. No entanto, é comum que sua característica ainda permita uma deterioração da qualidade do meio hídrico no qual é lançado. O objetivo deste trabalho é realizar uma pesquisa na área de Economia Ambiental tratando de atribuir valor econômico relativo aos riscos ambientais causados ao corpo hídrico pelo despejo e avaliar os custos inerentes nesse processo. São avaliados cenários de reúso de água industrial cujos custos totais da água devem considerar os impactos ambientais que afetam o custo social. As externalidades negativas decorrentes destes impactos são consideradas através de uma matriz que relaciona a solução para um dado impacto ambiental. Neste caso, constatouse que o método de valoração conhecido como dose-resposta é o que mais se ajusta aos objetivos da análise. Os resultados deste trabalho são importantes para reafirmar a necessidade do reúso de águas como forma de estabelecer uma gestão sustentável dos processos hídricos industriais. Palavras-Chave: valoração econômica, impactos ambientais, reúso hídrico INTRODUÇÃO A exploração dos recursos ambientais e dos serviços por ele prestados conduz ao excesso do seu uso, e futuramente à própria extinção desses bens. Neste sentido, a livre utilização dos bens ambientais acentua a sua escassez. De acordo com Silva (2003), é importante que estudos nessa área orientem a percepção de que os agentes devem internalizar em suas obrigações os custos sociais ambientais. No caso da água, como afirma Motta (2006), a cobrança pelo seu uso deve atentar para dois objetivos: o de financiamento da gestão de recursos hídricos e o de redução das externalidades ambientais negativas, com o objetivo de promover a disponibilidade hídrica e o controle da poluição. As externalidades referem-se aos custos da degradação ecológica que não são pagos por aqueles que as geram (MOTTA, 1998). Esses problemas fundamentam a necessidade de se internalizar os custos ambientais, gerando uma recuperação da esfera ambiental. Silva (2003) pondera que o Desenvolvimento Sustentável é a ponte de ligação entre a Economia e a Ecologia, e em consonância com os seus postulados, é necessário que a atual geração tenha a capacidade de dispor dos meios para a sua sobrevivência sem, no entanto, influir nas condições de vida das próximas gerações. Na opinião de Sinisgalli (2005), a valoração ambiental procura identificar e quantificar os atributos naturais de forma a incorporá-los na dinâmica econômica e ambiental, visando, em última instância, definir parâmetros para a sustentabilidade econômica e ambiental, que reflete na continuidade da vida e suas formas. Visando à permanência da vida na Terra, instrumentos como a valoração

ambiental conduzem a uma análise do próprio meio ambiente. À medida que a consciência ambiental tornou-se fundamental, ferramentas econômicas são cada vez mais amplamente discutidas na esfera ambiental. A Lei 9.433/97 exprime a cobrança pelo uso da água. Essa legislação possibilitou a formação de Comitês de Bacias Hidrográficas como unidade básica de gestão e planejamento. A cobrança pelo uso da água vem sendo implementada como um instrumento de gestão baseado nos conceitos de usuário pagador e poluidor pagador, visando estabelecer a conservação e o uso racional e atenuar a poluição das águas (ANA, 2007). Essa manobra resultou em um aumento dos custos de produção para o setor industrial cuja demanda por água é considerável. As indústrias não podem repassar estes encargos ao consumidor devido às dificuldades encontradas em termos competitivos, do ponto de vista econômico. Nessas condições, as indústrias buscam novas formas de gerenciamento dos recursos hídricos, objetivando a possibilidade de autonomia do abastecimento de água e racionalização do seu uso. A técnica de reúso hídrico já é implementada em algumas empresas de grande porte, que possuem recursos financeiros e técnicos para tanto. Esse método permite o tratamento de efluentes com o intuito de promover a sua reutilização com uma determinada finalidade. O surgimento dessa prática viabiliza a conservação da água e amplia a eficiência e a capacidade do seu uso. Assim, a água na indústria possui vários ciclos, antes de ser descartada. Todavia, seus vários estágios na produção acabam por incorporar um determinado número de contaminantes que inviabilizam a água para uma nova utilização. São os efluentes, resultantes de contaminantes relacionados aos tipos de matéria-prima e de processos industriais utilizados. Nesse momento, a água segue para uma área de tratamento, quando finalmente, em parte, é descartada. O restante segue para um novo ciclo de reutilização. O descarte dessa parte da água, mesmo estando tratada, promove um risco ao meio ambiente. O objetivo final desse trabalho é demonstrar a redução dos custos de produção através da técnica de reúso e evidenciar sua primazia em diminuir externalidades negativas intrínsecas do descarte. VALORAÇÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE Os métodos de valoração econômica dos recursos ambientais (VERA) (MOTTA, 1998) constituem ferramentas da microeconomia do bemestar que buscam quantificar em unidades monetárias os bens naturais e promover a internalização dos custos sociais do aproveitamento desses bens, que são escassos e não possuem valor de mercado. De acordo com Silva (2003) acredita-se que através da precificação serão gerados incentivos para um uso mais racional dos bens. Dessa forma, o método exprime a disponibilidade a pagar do usuário, em termos de quanto às pessoas estão dispostas a abrir mão deste recurso ou a investir na sua manutenção. O modelo é demonstrado pela Equação 1. VERA = VU + VO + VE (1) Seus componentes são: o Valor de Uso (VU), que representa o valor atribuído pelas pessoas ao uso dos recursos, sendo composto pelo Valor de Uso Direto (VUD) e o Valor de Uso Indireto (VUI). O VUD é o valor da utilização efetiva e atual de um bem, relacionado com o presente uso dos recursos, como a exploração dos parques, florestas, rios, reservas minerais, entre outros. Já o VUI representa o benefício atual dos recursos, como a proteção do solo e a estabilidade climática; está ligado ao resultado positivo gerado pelas funções ecossistêmicas. O Valor de Opção (VO) está relacionado com usos futuros que podem gerar algum benefício ou satisfação aos indivíduos. É a opção para o uso futuro, conforme compreendido no valor de uso. O Valor de Existência (VE) é caracterizado por ser um valor de não-uso, e está ligado à preservação dos recursos ambientais. São bens ambientais que não se têm a intenção de utilizá-los na atualidade ou no futuro, como florestas e animais em extinção. O valor ambiental do recurso natural exprime o caráter utilitarista ambiental e seus aspectos naturais e sociais.

A aplicação dos métodos de valoração ambiental é dividida entre duas vertentes: os métodos indiretos e os métodos diretos, conforme mostrado no Quadro 1. Cada método de valoração tem suas próprias limitações; deve-se considerar, entre outras coisas, o propósito da valoração, a eficiência do método e os dados disponíveis. Esses mecanismos diferem-se pela forma de aplicação. O método direto objetiva a obtenção do valor do recurso através das preferências dos consumidores, em mercados hipotéticos. Essa técnica envolve a aplicação de questionários e entrevistas sobre bens ainda não existentes no mercado, com intuito de obter a disposição a pagar (DAP) dos indivíduos. Já os métodos indiretos não procuram medir o estado das preferências diretamente, sua busca é em função da identificação de alterações na qualidade ambiental, em decorrência de danos ao meio natural através de uma função de produção. Quadro 1 Métodos de Valoração Ambiental Métodos de Valoração Ambiental Métodos Diretos Valoração Contingente Preços Hedônicos Custos de Viagem Métodos Indiretos Custos de Reposição Custos Defensivos Função Dose-Resposta Cada método tem seus méritos e suas desvantagens. Os métodos diretos, relacionados à demanda, estão diretamente ligados com a renda da população e a conjuntura presente, implicam também uma técnica mais onerosa. Os métodos indiretos, apesar de mais fáceis de serem adotados, não são sempre aplicáveis. Tratando-se de métodos diretos, é necessário entendê-los como métodos associados à função de demanda; preconiza a disposição a pagar dos possíveis usuários. A Valoração Contingente quantifica as preferências dos consumidores em mercados hipotéticos. Nas palavras de Silva (2008), as pessoas são interrogadas sobre suas disposições a pagar para evitar/corrigir, ou a receber para aceitar a alteração na provisão de um bem e serviço ambiental, mesmo que nunca o tenha utilizado antes. É aplicado a bens e serviços não existentes no mercado. Tal característica torna este método, em muitos casos, o mais adequado na captação do valor de existência. O método dos Preços Hedônicos relaciona as propriedades de um produto e o seu preço de mercado. É mais utilizado para preços de propriedades onde se supõe que características ambientais irão interferir no preço das residências. O método dos Custos de Viagem é utilizado para valorar locais naturais apropriados à visitação pública. O valor do recurso ambiental é estimado pelos gastos de seus visitantes, dentre eles, os meios de transporte, o tempo de viagem e a taxa de entrada. Caracteriza-se por ser o valor recreacional do bem em questão Diferindo-se dos métodos diretos, a ferramenta utilizada na aplicação dos métodos indiretos é a função de produção. Avalia-se o impacto de uma alteração na produção derivado de uma modificação no fornecimento do recurso ambiental na atividade econômica. Silva (2003) exprime que o impacto econômico sofrido na produção será uma estimativa dos benefícios embutidos no recurso ambiental. O método dos Custos de Reposição objetiva o cálculo do recurso ambiental através dos gastos utilizados na reparação dos danos causados pela degradação ambiental. Um exemplo disso é o reflorestamento de áreas desmatadas. Já o método dos Gastos Defensivos incorre no mesmo princípio do método dos Custos de Reposição, apesar de apresentar uma incoerência. Para esse método, o bem ambiental vale ao menos o custo necessário a sua recuperação; no entanto, nesse caso, os gastos ainda não foram efetuados. O método da Função Dose- Resposta aplica-se para estimar somente valores de uso. Pretende estabelecer um valor monetário entre o dano causado e o atributo ambiental, avaliando a perda social de um impacto ambiental. Um exemplo desse modelo demonstrado por Motta (2006) seria a erosão do solo, que representa a dose, e a perda da safra, que corresponde à resposta. METODOLOGIA A prática de reúso nas empresas está associada à redução nos custos da produção. A utilização de águas residuárias

(efluentes) é cada vez mais freqüente, pois conduz não somente à diminuição dos custos como também está relacionada à conservação de bens naturais em benefício da sociedade. O Custo Total da Água em uma indústria sem a utilização de reúso está apresentado na Equação 2. CA = Água Nova + TA + TE + Descarte (2) A Água Nova e a TA (Tratamento da Água Nova) representam uma necessidade do processo e são reconhecidas como o Custo de Captação. O TE (Tratamento de Efluentes) é uma obrigação legal do processo e o Descarte demonstra a evacuação de água na bacia. A implementação da técnica de reúso hídrico tem como alvo a diminuição dos gastos com o custo da água (CA). A economia gerada nesse novo processo induz um aumento da disponibilidade da água, minimiza os impactos da cobrança pelo uso da água e promove a responsabilidade social e ambiental nas empresas. A Equação 3 representa o Custo da Água com o reúso. CA = Água Nova + TA + TR + TE + Descarte (3) A colocação do reúso nas indústrias insere a variável TR, o Custo do Tratamento do Reúso, que está ligada à diminuição do Tratamento de Efluentes (TE) e do Descarte da água no corpo hídrico. É inerente que, em se tratando de despejo de água em corpos hídricos, ocorra um risco ambiental. A produção industrial causa contaminação da água, provocando externalidades negativas ao meio ambiente. Ainda que os efluentes se enquadrem na legislação para descarte, isso não significa, a priori, inexistência de impactos, desconsiderando aspectos de autodepuração dos rios. Ao utilizar a técnica de reúso, a vazão de água no descarte é menor e a concentração de contaminantes, estando de acordo com os limites estabelecidos pela CONAMA 357/05, são elementos que demonstram a atenuação dos riscos ambientais. A proposta fundamental é provocar a conscientização industrial para os danos ambientais intrínsecos ao processo de descarte. A busca se dá pela mensuração do custo das externalidades negativas, demonstrada pela Equação 4. CA = Água Nova + TA + TR + TE + Descarte + CE (4) A variável CE (Custo das Externalidades) está ligada com a compensação ao meio ambiente advinda da indústria. Com intuito de quantificar as externalidades negativas, causadas ao sistema ecológico, estimam-se primeiramente, os possíveis danos provocados ao meio e suas conseqüências. O método de valoração escolhido na pesquisa é o Dose-Resposta, mais utilizado para casos onde há impacto no bem ambiental (dose) causando uma perda de bem-estar ou outra externalidade qualquer que provoca perda econômica (PAULA, 2008). Essa ferramenta preconiza a composição dos custos sociais no arcabouço total das empresas. Uma tentativa de ressarcimento ao meio ambiente é o principal objetivo da valoração de impacto ambiental. RESULTADOS Os cenários estudados foram obtidos a partir da aplicação do procedimento algorítmico Diagrama de Fontes de Água (MIRRE, 2007), o qual sugere configurações alternativas de reúso e/ou reciclo de correntes de processos. Este cenários resultam de um processo industrial da literatura, a partir do trabalho de Mirre (2007). Relativamente ao processo sem reúso, é demonstrada a seguir a redução dos custos totais da água na indústria com a utilização do reúso. O cenário Base representa o processo sem reúso e os cenários 1 e 2, com reúso. Os custos totais da água na indústria foram determinados, e seus valores encontram-se relacionados na Tabela 1.

Tabela 1 Custos Totais Anuais dos Cenários Cenários Captação Descarte Custos Vazão (t/h) Vazão (t/h) Base 762,84 354,84 1 725,26 317,26 2 672,50 266,59 Concentração (ppm) 8,140 (A) 73,48 (B) 0,354 (C) 9,150 (A) 82,26 (B) 0,395 (C) 8,960 (A) 69,71(B) 0,387 (C) R$ 8.108.795 7.636.488 7.158.224 O valor da água nova considerado é de R$ 0,28 /t 1. O Custo de Tratamento da Água (TA) é de R$ 0,76/t. O TR (Custo de Tratamento do Reúso) é inexistente nos casos estudados. O valor do Custo de Tratamento do Efluente (TE) é de R$ 0,36/t. O despejo da água em rios (Descarte) foi considerado no valor de R$ 0,06/t. Estes valores tiveram como base o estudo de Mirre (2007), sendo que a conversão para a unidade monetária brasileira (R$) foi realizada considerando o valor unitário do Dólar americano a R$ 1,90. Esses resultados comprovam a eficácia do processo com reúso. A queda dos custos anuais com a água na indústria demonstra que, além de ganhos ambientais, são também notáveis os ganhos econômicos. A Tabela 1 também demonstra a diminuição da quantidade da vazão do descarte da água devido a sua reutilização. Esse fato contribui para fundamentar que o reúso, ao empreender uma queda no despacho, ameniza os impactos. No entanto, os impactos ambientais são inerentes ao processo de descarte. Com intuito de estudar os possíveis danos decorridos, são listados no Quadro 2 os principais riscos ambientais suscitados nesse processo, demonstrando as suas conseqüências. Quadro 2 Danos Ambientais sobre os Recursos Hídricos Danos Conseqüências Ambientais - Aterramento de rios e lagos Desmatamento - Degradação dos mananciais - Diminuição da qualidade Erosão/ Assoreamento Percolação Eutrofização da água - Compactação do solo - Diminuição da profundidade - Toxicidade da água - Degradação da biota - Perda de biodiversidade - Alterações na composição das espécies (invasão de outras espécies) O desequilíbrio ecológico gerado pelas externalidades negativas causa danos sociais, além de ambientais. Futuramente, esses impactos podem se tornar um fator limitante no desenvolvimento econômico. A estrutura de análise do trabalho baseia-se na inclusão de indicadores em uma matriz conhecida como PEIR, utilizada no projeto GEO Cidades (SVMA- PMSP/IPT, 2004, apud SILVA, 2008) que objetiva realizar uma relação entre pressão, estado, impacto e resposta. Essa abordagem permite observar as possíveis ações estratégicas, visando à retificação do meio ambiente. A matriz procura estabelecer uma conexão lógica com o intuito de orientar uma análise do ecossistema, demonstrando as causas (PRESSÃO) dos danos ambientais, perpassando pelo estado atual do meio ambiente (ESTADO), pelos custos gerados ao meio ecológico e à sociedade (IMPACTO) e a medida de contra-ataque (RESPOSTA) proporcionada ao ambiente. A Figura 1 exprime que o método de valoração econômica de impactos ambientais proposto é o método Função Dose-Resposta. O modelo constitui-se basicamente em quantificar qual será a resposta econômica causada por uma dose de alteração do meio ambiente, conforme PAULA (2008). 1 Esse valor é cobrado pela Agência Nacional de Águas, que implementa as deliberações dos Comitês de Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.

Figura 1 Matriz PEIR Esta função irá mensurar o impacto no sistema produtivo, dada uma variação marginal na provisão do bem ou serviço ambiental e, a partir desta variação, estimar o valor de uso do recurso ambiental. São necessárias duas etapas para a formulação da função requerida. São elas: a elaboração de uma função física dos danos, relacionando a dose de poluição ou a degradação à resposta do ativo ambiental poluído ou degradado na produção; e a formulação de um modelo econômico que mensure o impacto financeiro destas alterações no processo produtivo (SILVA, 2008). A função exige a inclusão de múltiplas variáveis, bem como um estudo de campo bem detalhado para conhecimento de todos os agentes que participam do processo, frisa Silva (2008). CONCLUSÕES A conscientização humana está cada vez mais voltada para as causas ecológicas e as empresas buscam novas formas de sustentabilidade, capazes de impedir a degradação do ecossistema, e influenciadas de certa forma pelas restrições legislativas e pelo grau de competitividade. A estimação de um valor monetário para os recursos ambientais representa uma ferramenta importante no processo de tomada de decisão de metas ambientais. É necessário criar condições para que esses agentes incorporem em suas obrigações os custos de degradação do meio ambiente. O método Função Dose-Resposta é a técnica mais adequada para o caso analisado, pelo fato de incorporar o valor de uso. É o método mais usado quando há um impacto no bem ambiental que provoca externalidades negativas e perda econômica de caráter social. Essa proposta está ligada à internalização dos custos ambientais, e tais práticas estão em sinergia com os objetivos sustentáveis buscados pela atual ordem mundial e demonstram a contribuição efetiva do setor produtivo para a sustentabilidade global. Os resultados deste trabalho são importantes para reafirmar a necessidade do reúso de águas como forma de estabelecer uma gestão sustentável dos processos hídricos industriais. REFERÊNCIAS ANA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). 2007. A implementação da cobrança pelo uso de recursos hídricos e agência de água das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Brasília: ANA. 113 f. MIRRE R.C. 2007. Recuperação e reúso de água na indústria de petróleo: síntese de redes de transferência de massa. Dissertação (Mestrado em Ciências) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Química. Rio de Janeiro. 215 f. MOTTA, R.S. 1998. Manual para valoração econômica de recursos ambientais Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis IBAMA. Rio de Janeiro. MOTTA, R.S. 2006. Economia ambiental. 1 ed. Rio de Janeiro: FGV, PAULA, B.G.C. 2008. Valoração das externalidades negativas sobre a saúde geradas a partir da queima de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto. 83 f. SILVA, J.R. 2003. Métodos de valoração ambiental: uma análise de do setor de extração mineral. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis. 146 f.

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