CINÉTICA DA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA EMPREGANDO ENZIMAS PRODUZIDAS POR Myceliophthora thermophila EM CULTIVO SÓLIDO

Documentos relacionados
SACARIFICAÇÃO DE BAGAÇO DE CANA IN NATURA E PRÉ- TRATADO COM OZÔNIO POR ENZIMAS CELULOLÍTICAS PRODUZIDAS POR FUNGO TERMOFÍLICO EM CULTIVO SÓLIDO

PH E TEMPERATURA ÓTIMOS PARA ATIVIDADE ENDOGLUCANASE DE FUNGOS EM CULTIVO SÓLIDO

Aplicações tecnológicas de Celulases no aproveitamento da biomassa

G.F.A. da SILVA, A. C. S. GOMES e J. C. THOMEO

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO COM E SEM PRÉ-TRATAMENTO COM ÁCIDO SULFÚRICO DILUÍDO

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

TOLERÂNCIA À AGITAÇÃO MECÂNICA DO FUNGO Myceliophtora thermophila I1D3b CULTIVADO EM BIORREATOR DE TAMBOR ROTATIVO

PRODUÇÃO DE BIOETANOL A PARTIR DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

SÍNTESE DE CELULASE POR CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO: OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE EXTRAÇÃO

PRÉ-TRATAMENTO DE BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR POR MOINHO DE BOLAS EM MEIOS SECO, ÚMIDO E NA PRESENÇA DE ADITIVOS

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO TIPO DE PRÉ-TRATAMENTO NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE Brachiaria brizantha UTILIZANDO COMPLEXO ENZIMÁTICO COMERCIAL

AVALIAÇÃO DA HIDRÓLISE DA PALHA E SABUGO DE MILHO PARA PRODUÇÃO DE ETANOL 2G.

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE MATERIAL PARTICULADO EMPREGANDO COQUETÉIS CELULOLÍTICOS FÚNGICOS. Química e Ciências Ambientais

PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE PAPEL DE ESCRITÓRIO DESCARTADO POR Spathaspora passalidarum HMD 14.2 UTILIZANDO HIDRÓLISE ÁCIDA E ENZIMÁTICA

HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA MICROALGA Chlorella pyrenoidosa

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE PRÉ-TRATAMENTO PARA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA BIOMASSA DE JABUTICABA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE PRODUÇÃO DE ENZIMAS CELULOLÍTICAS POR FERMENTAÇÃO SEMI-SÓLIDA POR MEIO DE PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

PRODUÇÃO DE CELULASE POR PENICILLIUM SP. UTILIZANDO RESÍDUO AGROINDUSTRIAL EM FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO

Etanol Lignocelulósico

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO DE ARUNDO DONAX L. PRÉ-TRATADO PARA PRODUÇÃO DE ETANOL 2G.

ESTUDO DO PROCESSO DE HIDROLISE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS DO MILHO PARA PRODUÇÃO DE BIOETANOL

AVALIAÇÃO DO PRÉ-TRATAMENTO ÁCIDO DO SABUGO DE MILHO VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

ESTUDO DO PRÉ-TRATAMENTO QUÍMICO EM FIBRA DA CASCA DE COCO VERDE PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL 2G

Technological Demands for Higher Generation Process for Ethanol Production

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.19, n.2, p , ISSN

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ENZIMÁTICO DE ENZIMAS COMERCIAIS NA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR DO RIO GRANDE DO NORTE

AVALIAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE OLIGOPEPTÍDEOS E ETANOL A PARTIR DA CASCA DA SOJA

PROCESSO SACARIFICAÇÃO

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS SOBRE A HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR E COMPARAÇÃO ENTRE COMPLEXOS ENZIMÁTICOS COMERCIAIS

Processo produtivo do etanol de segunda geração usando bagaço de cana-de-açúcar

COMPARAÇÃO DA SÍNTESE DE CELULASES PELOS FUNGOS Trichoderma reesei E O FSDE15

S. D. de OLIVEIRA Jr 1, P. F. de SOUZA FILHO 1, G. R. MACEDO 1, E. S. dos SANTOS 1, C. F. ASSIS 2

RELAÇÃO DE VAZÃO DE AR E ALTURA DE LEITO COMO CRITÉRIO DE ESCALONAMENTO NO CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO DE ASPERGILLUS NIGER EM BIORREATOR DE COLUNA

PD&I em Processos Bioquímicos

SELEÇÃO DE LEVEDURAS PRODUTORAS DE CELULASES E XILANASES ISOLADAS DE RESERVAS NATURAIS BRASILEIRAS

ESTUDO DA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DA PALHA DA CANA DE AÇÚCAR PARA PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

1. INTRODUÇÃO. J.A.C. CORREIA 1, A.P. BANDEIRA 1, S.P. CABRAL 1, L.R.B.GONÇALVES 1 e M.V.P. ROCHA 1.

AVALIAÇÃO DO RESÍDUO AGROINDUSTRIAL DE ACEROLA PARA PRODUÇÃO DE CELULASES POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO

PRÉ-TRATAMENTO ALCALINO DE RESÍDUO DE MARACUJÁ VISANDO A OBTENÇÃO DE ETANOL 2G

PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DO HIDROLISADO DO ALBEDO DA LARANJA COMO FONTE DE BIOMASSA LIGNOCELULÓSICA

RESSALVA. Atendendo solicitação da autora, o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 11/09/2020.

EFEITO DA CARGA DE SÓLIDOS E DE ENZIMAS NA HIDRÓLISE DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR

APLICAÇÃO DE COMPLEXO ENZIMÁTICO LIGNOCELULÓSICO PARA A HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Estudo cinético da hidrólise de celobiose catalisada por β-glicosidase livre e imobilizada

Desenvolvimento de um processo verde de separação por estireno-divinilbenzeno para eliminar inibidores de fermentação do licor de pré-tratamento ácido

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS PROVENIENTES DO MILHO NA PRODUÇÃO DE CELULASES PELO FUNGO FSDE16 EM CULTIVO SEMISSÓLIDO

VALORIZAÇÃO INTEGRAL DA BIOMASSA

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE PRÉ-TRATAMENTO E HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO RESÍDUO DO PROCESSAMENTO DE GRAVIOLA VISANDO A OBTENÇÃO DE ETANOL 2G

CAROLINE LOPES PEREZ

ETANOL CELULÓSICO Obtenção do álcool de madeira

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR PALOTINA MESTRADO - BIOENERGIA BIOETANOL

PRODUÇÃO DE AMILASE POR FUNGO FILAMENTOSO ISOLADO DA REGIÃO DE DOURADOS MS

INFLUÊNCIA DOS CONTAMINANTES NO RENDIMENTO FERMENTATIVO NA PRODUÇÃO DO BIOETANOL

Equipa QUI605: Álvaro Soares, Ana Pinto, Ana Santos, Ana Carvalho, Cláudia Marques, Inês Carviçais

ESTUDO CINÉTICO DO PROCESSO SFS EM BIORREATOR PARA PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

CINÉTICA DE CRESCIMENTO FÚNGICO EM CULTIVO SÓLIDO POR TEOR DE N- ACETILGLICOSAMINA E ATIVIDADE ENZIMÁTICA

CARACTERIZAÇÃO PARCIAL E AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS CINÉTICOS DE CARBOXIMETILCELULASE PRODUZIDA POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO UTILIZANDO CASCA DE SOJA

PRODUÇÃO DE HIDROLASES POR FERMENTAÇÃO SÓLIDA UTILIZANDO RESÍDUOS DA HIDRODESTILAÇÃO DE ESPÉCIES DO GÊNERO Aniba

Valorização de subprodutos do processamento da Cana-de-açúcar

1. INTRODUÇÃO R. S. SANTOS 1,2, F.K.P. ALVES 3, A. P. F. C. VANZELA 1,2, L. A. PANTOJA 2,4, A. S. SANTOS 2,3

Projeto de Pesquisa para Bolsa de Iniciação Científica (IC) Laboratório Nacional: Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol ( CTBE)

Caracterização de fungos isolados da região Amazônica quanto ao potencial para produção das enzimas envolvidas na conversão da biomassa vegetal

OZONÓLISE NO TRATAMENTO DO BAGAÇO DE CANA DE AÇÚCAR PRA PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO POR HIDRÓLISE ENZIMÁTICA

AVALIAÇÃO DO TIPO DE GÁS E DA PRESSÃO INICIAL NO TRATAMENTO HIDROTÉRMICO DA PALHA DE CANA-DE- AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL CELULÓSICO.

Etanol de 2ª. Geração desafios para instrumentação e automação. Cristina Maria Monteiro Machado Embrapa Agroenergia

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO POR DR - X E FTIR E HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE- AÇÚCAR SUBMETIDO

Produção de Açúcar. Processos Químicos Industriais II

Produção de Bioetanol a partir de Materiais Lenho-celulósicos de Sorgo Sacarino: Revisão Bibliográfica

CINÉTICA DO CRESCIMENTO MICROBIANO. Prof. João Batista de Almeida e Silva Escola de Engenharia de Lorena-USP

ENZIMAS CELULOLÍTICAS DE T. REESEI NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE BIOMASSA SOB EFEITOS DA SONICAÇÃO DIRETA E INDIRETA

APLICAÇÃO DO PLANEJAMENTO FATORIAL 2 4 NA HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO, O BIOCOMBUSTIVEL DO FUTURO

HIDRÓLISE E FERMENTAÇÃO SIMULTÂNEA DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR PRÉ-TRATADO HIDROTERMICAMENTE

EFEITO DA TEMPERATURA DE GASEIFICAÇÃO DE BIOMASSA NA ADSORÇÃO DE CORANTE REATIVO

OS DESAFIOS DO ETANOL LIGNOCELULÓSICO NO BRASIL

Efeito do ph, umidade e indutores sobre a produção de celulases por Trichoderma reesei em fermentação em estado sólido

UTILIZAÇÃO DA METODOLOGIA DE SUPERFÍCIE DE RESPOSTA NA HIDRÓLISE DO BAGAÇO DE JABUTICABA

AVALIAÇÃO DE FONTES DE CARBONO INDUTORAS DA SÍNTESE DE CELULASES POR UM Bacillus sp.

X Congresso Brasileiro de Engenharia Química Iniciação Científica

Fatores Físicos e Químicos que Influenciam a Fermentação Alcoólica

PURIFICAÇÃO DE COMPLEXO CELULOLÍTICO DE Aspergillus niger USANDO SISTEMA AQUOSO DE DUAS FASES COM PEG-CITRATO

ESTUDO DO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO E FRACIONAMENTO DA LIGNINA PROVENIENTE DE RESÍDUOS LIGNOCELULÓSICOS

Utilização de planejamento experimental no pré-tratamento oxidativo em meio alcalino do bagaço de cana-de-açúcar

USO INTEGRAL DA BIOMASSA DE CANA-DE-AÇÚCAR PARA A PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

ESTUDO COMPARATIVO DE FERMENTAÇÃO EXTRATIVA DE ETANOL COM RECICLO CELULAR UTILIZANDO DIFERENTES TIPOS DE SOLVENTES ORGANICOS

PRODUÇÃO DE ETANOL POR COMPLEXO ENZIMÁTICO E Pichia stipitis

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ENZIMÁTICAS DE PECTINASE E POLIGALACTURONASE COM DIFERENTES PROPORÇÕES DE CASCA DE COCO VERDE E SABUGO DE MILHO

PRÉ-HIDRÓLISE ÁCIDA DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR E SUA CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA 1 ALAINE PATRÍCIA DA SILVA MORAIS 2 & FERNANDO BROETTO 3

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE RESÍDUOS DA CADEIA DO BIODIESEL COMO FONTE DE CARBONO PARA PRODUÇÃO DE XILANASE POR

OTIMIZAÇÃO DE CELULASE DE Rhodotorula oryzicola ATRAVÉS DE PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ETANOL POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO A PARTIR DE FARELO DE ARROZ

VIABILIDADE CELULAR DE Pichia stipitis CULTIVADA EM MEIO MÍNIMO E SOBRE A PRESENÇA DE INIBIDORES

UTILIZAÇÃO DO BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR SUBMETIDO A DIFERENTES PRÉ-TRATAMENTOS VISANDO A PRODUÇÃO DE ETANOL PELO PROCESSO SFS

PRODUÇÃO DE PROTEÍNA UNICELULAR A PARTIR DO BAGAÇO DE MAÇÃ UTILIZANDO FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO

OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ETANOL E ÓLEO RESIDUAL DE FRITURAS EMPREGANDO CATÁLISE MISTA: EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DE CATALISADORES

PRODUÇÃO DE ENZIMAS POR FERMENTAÇÃO SEMISSÓLIDA A PARTIR DE FUNGOS ISOLADOS DE RESÍDUOS DA AGROINDÚSTRIA

Reações em meio ácido Sumário e objetivo da aula (2 aulas)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR PALOTINA MESTRADO - BIOENERGIA BIOETANOL

Transcrição:

CINÉTICA DA HIDRÓLISE DE BAGAÇO DE CANA EMPREGANDO ENZIMAS PRODUZIDAS POR Myceliophthora thermophila EM CULTIVO SÓLIDO P. A. CASCIATORI 1, B. R. PENARIOL 2, F. P. CASCIATORI 3, J. C. THOMÉO 2 e R. da SILVA 1 1 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Química e Ciências Ambientais 2 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos 3 Universidade Federal de São Carlos, Campus Lagoa do Sino, Centro de Ciências da Natureza E-mail para contato: pricasciatori@yahoo.com.br RESUMO A produção de etanol de segunda geração é um tema atualmente muito discutido no Brasil e no mundo. Um dos pontos chaves para o sucesso da produção deste biocombustível é uma eficiente, econômica e ambientalmente amigável hidrólise da biomassa lignocelulósica. Estudos recentes indicam que enzimas produzidas por fungos em cultivo sólido podem ser uma alternativa interessante de como obter bons resultados na sacarificação. A hidrólise enzimática da biomassa é afetada pelo tipo de substrato, pela atividade das enzimas e pelas condições da reação (temperatura e tempo). Diante disso, o estudo da cinética de hidrólise é fundamental, haja vista a possibilidade de desnaturação e perda de atividade ao longo da reação. O objetivo do trabalho foi avaliar a cinética de hidrólise de bagaço de cana in natura em diferentes temperaturas, aplicando-se enzimas produzidas por Myceliophthora thermophila em cultivo sólido. As hidrólises foram realizadas em frascos independentes, retirados a cada 2 horas durante 24 horas, em banho termostático com agitação a 45, 55, 65 e 75 ºC. Utilizaram-se 7 ml de enzima (0,43 FPU/mL) para 0,2 g de bagaço. Os açúcares redutores totais (ART) foram quantificados por reação com DNS. Os maiores teores de ART foram obtidos em 45 e 55 ºC após 12 e 8 h de hidrólise, respectivamente, indicando que a enzima é termofílica e termoestável, atributo interessante para aplicações industriais. 1. INTRODUÇÃO Neste momento de discussão da matriz energética mundial e de busca por fontes de energia limpas e renováveis, as enzimas celulolíticas chamam atenção da comunidade científica e industrial tendo em vista sua aplicação na hidrólise de materiais lignocelulósicos na cadeia de produção do etanol de segunda geração. Tal denominação vem do fato de o etanol de segunda geração ter como matéria-prima açúcares provenientes da quebra das cadeias de celulose e hemicelulose que por sua vez

advém de biomassa residual e não alimentar, tais como caules, folhas, cascas, farelos e bagaços, que são sobras ou resíduos da agroindústria, uma vez que o produto primário de interesse já fora extraído. Dentre estes rejeitos agroindustriais, se destaca o bagaço de cana, resíduo da produção do etanol de primeira geração e predominantemente constituído por celulose, hemicelulose e lignina, sendo assim uma potencial fonte de açúcares fermentescíveis (Pandey et al., 2000). A produção brasileira de cana-de-açúcar foi de aproximadamente 632 milhões de toneladas na safra 2014/2015 (UNICA, 2016), o que gerou cerca de 158 milhões de toneladas de bagaço, o que denota o potencial de biomassa residual conversível a etanol no país. A produção do etanol de segunda geração, também chamado de bioetanol, envolve três etapas principais: pré-tratamento do bagaço, hidrólise da celulose e fermentação dos açúcares liberados. A etapa de despolimerização dos carboidratos a açúcares fermentescíveis ou simplesmente hidrólise ou sacarificação, pode ocorrer por duas vias: hidrólise enzimática ou química. A via química, embora eficiente e rápida, gera resíduos tóxicos que devem ser tratados, aumentando o número de operações, consumindo energia e tornando o processo pouco competitivo. A hidrólise enzimática apresenta diversas vantagens sobre a química, dentre as quais se devem destacar o menor gasto energético e a alta especificidade pelo substrato, evitando a produção de compostos indesejáveis. As principais enzimas envolvidas neste processo são as celulases, nome genérico usado para designar uma classe de enzimas que atuam conjuntamente na quebra da celulose a glicose, sendo constituídas por endoglucanases (quebra a celulose na região amorfa e libera os celo-oligossacarídeos), exoglucanases (quebra a celulose e os celo-oligossacarídeos maiores e libera a celobiose) e β-glucosidase (cliva os dímeros celobiose e finalmente libera as moléculas de glicose) (Casciatori, 2015). No entanto, a via enzimática é mais lenta e tem como uma das principais barreiras processos eficientes e viáveis de produção de enzimas a custo que viabilize seu uso (Mishima et al., 2006). Uma alternativa que vem sendo estudada para a produção dessas enzimas a serem aplicadas na hidrólise da biomassa lignocelulósica é o cultivo sólido, uma vez que este processo permite obter tais enzimas também a partir de rejeitos agroindustriais, o que pode ser tanto econômica quanto ambientalmente interessante, dado que acompanha a tendência de agregação de valor a rejeitos agroindustriais de baixo valor agregado e cuja disposição final é problemática. Devido às atividades de água mais baixas encontradas nos sistemas de cultivo sólido, os microrganismos que mais se adaptam a esse tipo de cultivo são os fungos filamentosos, para os quais o cultivo sólido reproduz o habitat natural, o que faz com que estes excretem naturalmente grandes quantidades de enzimas para o meio extracelular. Ademais, dentre os fungos filamentosos que se desenvolvem bem e secretam altos níveis de enzimas em cultivo sólido, os termofílicos apresentam a vantagem adicional de produzir enzimas mais termoestáveis, uma característica bastante interessante do ponto de vista industrial da produção do etanol de segunda geração, sobretudo quando prétratamentos que envolvem o uso de calor são empregados na etapa anterior à hidrólise enzimática (Da Silva et al., 2005). Como as enzimas produzidas por fungos termofílicos atuam bem em temperaturas mais elevadas, é possível gastar uma quantidade de energia menor para resfriamento do material entre as operações de deslignificação a quente e de sacarificação, aumentando a viabilidade do processo.

Os fatores que afetam a hidrólise enzimática incluem o tipo de substrato, a atividade celulolítica e as condições de reação (temperatura, ph, presença de sais, entre outros parâmetros). Para melhorar o rendimento e a taxa de hidrólise enzimática, as pesquisas focam na otimização do processo hidrolítico e no aumento da atividade celulolítica. Quanto ao tipo de substrato, os fatores mais importantes que afetam a hidrólise enzimática dos materiais lignocelulósicos são a cristalinidade da celulose, o grau de polimerização, o conteúdo de umidade, a área superficial disponível e o conteúdo de lignina (Laureano-Perez et al., 2005). Grous et al. (1986) concluíram que o tamanho dos poros do substrato em relação ao tamanho das enzimas é o principal fator limitante da hidrólise enzimática da biomassa lignocelulósica. Diante do exposto, a determinação da cinética de hidrólise do bagaço de cana mostra-se relevante para que a etapa de hidrólise possa ser bem dimensionada, especialmente em termos de temperatura e tempo de processo, haja vista a possibilidade de desnaturação e perda de atividade ao longo da reação. Neste contexto, o objetivo geral do presente trabalho foi determinar a cinética de sacarificação enzimática do bagaço de cana in natura empregando extrato enzimático celulolítico proveniente de cultivo em estado sólido do fungo Myceliophthora thermophila I-1D3b. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Obtenção das enzimas para aplicação A obtenção das enzimas para aplicação na sacarificação do bagaço de cana foi realizada no mesmo biorreator empregado por Casciatori et al. (2013). Esse biorreator consiste em um tubo cilíndrico constituído por módulos encamisados em aço inox, com 7,62 cm de diâmetro interno e 10 cm de comprimento cada módulo. O comprimento total do biorreator é de 1 m, equivalente a 10 módulos contíguos. O cultivo do fungo termofílico Myceliophthora thermophila I-1D3b foi feito em substrato composto por bagaço de cana e farelo de trigo na proporção 7:3 m/m, com umidade inicial 75 % em base úmida. As temperaturas do ar e da camisa foram 45 ºC, temperatura ótima de crescimento e produção de celulases para este fungo, e o tempo de fermentação foi de 96 horas. A taxa de aeração foi estabelecida em 240 L/h. Ao final do processo fermentativo, o extrato enzimático bruto foi obtido por procedimento de extração descrito por Zanelato et al. (2012) e Casciatori et al. (2013), sendo o extrato final homogeneizado e mantido em câmara de congelamento até o momento dos testes de sacarificação.

2.2 Preparo do bagaço de cana para sacarificação Como matéria prima para a hidrólise enzimática, o bagaço de cana gentilmente cedido pela Usina Vale, de Onda Verde SP, foi lavado e seco a 60 ºC até peso constante, triturado e separado em peneira granulométrica de 0,84 mm para padronização do tamanho da fibra, aproveitando-se a porção que conseguiu atravessar a malha da peneira. Este material foi submetido diretamente à hidrólise. 2.3 Cinética de hidrólise Para determinação da cinética, as hidrólises foram realizadas em duplicata em frascos de erlenmeyer independentes, contendo 0,2 g de bagaço de cana e 7 ml do extrato produzido por M. thermophila (0,43 FPU/mL), retirados a cada 2 horas durante 24 horas, em banho termostático com agitação às temperaturas de 45, 55, 65 e 75 ºC. O volume final foi ajustado para 10 ml pela adição de acetato de sódio 0,2 mol/l ph 5,0. A variável de resposta dos ensaios foi a quantidade de açúcares redutores liberados na sacarificação, obtida pelo método de Miller (1959). Os resultados foram ajustados por equações de regressão para cada temperatura de hidrólise e analisados comparativamente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os teores de açúcares redutores totais liberados na cinética da hidrólise enzimática do bagaço de cana in natura, expressos em mg de açúcares redutores totais (ART) por grama de bagaço de cana (BC) estão apresentados na Figura 1. Na Figura 1 observa-se que, os maiores teores de ART foram obtidos em 45 e 55 ºC após 12 e 8 horas de hidrólise, respectivamente. Ademais, é possível notar que em relação ao custo benefício, na temperatura de 55 ºC consegue-se alcançar uma maior quantidade de ART (±70 mg/g) liberada em um menor tempo e, consequentemente, tem-se um menor gasto de energia, obtendo-se então a melhor tríade, tempo x ART x custo.

Figura 1 Cinética da hidrólise expressa em ART em função do tempo de hidrólise. De acordo com a Figura 1, os menores teores de ART liberados foram observados quando a enzima produzida pelo fungo termofílico foi aplicada em 75 ºC. Isto ocorre porque o aumento da temperatura nos ensaios de reações enzimáticas tem dois efeitos opostos. De um lado, o incremento da temperatura, até certo limite, aumenta a atividade da enzima, como ocorre para reações químicas em geral, segundo a lei de Arrhenius, aumentando assim a conversão de substrato em produtos, como observado para a hidrólise realizada a 55 ºC. No entanto, temperaturas acima deste limite reduzem gradativamente a atividade, pela distorção do centro ativo da enzima, até inativá-la completamente, devido à sua desnaturação térmica. Assim, o conhecimento da cinética de hidrólise em diferentes temperaturas é importante para o planejamento dos processos de sacarificação. Também vale ressaltar que, a partir de certo tempo, há o decaimento da atividade enzimática devido à redução gradual da concentração de substrato, diminuindo-se a probabilidade de ataque efetivo da enzima ao substrato. A partir dos teores de açúcares redutores totais liberados na cinética da hidrólise enzimática do bagaço de cana foram realizadas análises de derivada ponto a ponto para cada temperatura em função do tempo, as quais estão apresentadas na Figura 2.

Figura 2 Derivada da cinética da hidrólise expressa em ART em função do tempo de hidrólise. A partir da Figura 2, avalia-se a atividade da enzima em cada tempo, ou seja, a variação do ART em cada intervalo de tempo. Desse modo, visualiza-se que nas quatro temperaturas, a partir de certo tempo, a atividade decai ou estabiliza. Isso fica claro quando se verifica o gráfico da temperatura de 55 ºC, onde foi possível avaliar anteriormente que 8 horas é o tempo suficiente para ter a maior produção de ART, e então pelo gráfico constata-se que a partir das 8 horas o teor de ART liberado fica constante. 4. CONCLUSÕES Na cinética de hidrólise, empregando-se as enzimas produzidas por Myceliophthora termophila em cultivo sólido, os maiores teores de ART foram obtidos em 45 e 55 ºC após 12 e 8 horas de hidrólise, respectivamente, indicando que a enzima é termofílica e termoestável, atributo interessante para aplicações industriais.

5. REFERÊNCIAS CASCIATORI, F. P.; CASCIATORI, P. A.; THOMÉO, J. C. Cellulase production in packed bed bioreactor by solid-state fermentation. In: European Biomass Conference and Exhibition Proceedings, p. 1539-1546, 2013. CASCIATORI, P. A Produção de enzimas celulolíticas pelos fungos Trichoderma reesei e Myceliophthora thermophila e aplicação na sacarificação do bagaço de cana-de-açúcar. 2015. 99f. Dissertação (Mestrado) Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São José do Rio Preto, 2015. DA SILVA, R.; LAGO, E. S.; MERHEB, C. W.; MACCHIONE, M. M.; PARK, Y. K. Production of Xylanase and CMCase on Solid State Fermentation in Different Residues by Thermoascus aurantiacus Miehe. Braz. J. Microbiol., v. 36, p. 235 241, 2005. GROUS, W. R.; CONVERSE, A. O.; GRETHLEIN, H. E. Effect of steam explosion pretreatment on pore size and enzymatic hydrolysis of poplar. Enzyme Microb. Tech., v. 8, n. 5, p. 274-280, 1986. LAUREANO-PEREZ, L.; TEYMOURI, F.; ALIZADEH, H. & DALE, B.E. Understanding Factors that Limit Enzymatic Hydrolysis of Biomass. Appl. Biochem. Biotech., v. 121-124, p. 1081-1099, 2005. MILLER, G. L. Use of DinitrosalicylicAcidReagent for Determination of Reducing Sugar. Anal. Chem., v. 31, p. 426-428, 1959. MISHIMA, D.; TATEDA, M.; IKE, M.; FUJITA, M. Comparative study on chemical pretreatments to accelerate enzymatic hydrolysis of aquatic macrophyte biomass used in water purification processes. Bioresour. Technol., v. 97, p. 2166-2172, 2006. PANDEY, A.; SOCCOL, C. R.; NIGAM, P.; SOCCOL, V. T. Biotechnological potential of agroindustrial residues. I. Sugarcane bagasse. Bioresour. Technol., v. 74, p. 69 80, 2000. UNICA. Relatório final da safra 2014/2015. Disponível em: <http://www.unicadata.com.br>. Acesso em: 28 de janeiro de 2016. ZANELATO, A.I.; SHIOTA, V.M.; GOMES, E.; THOMÉO, J.C. Endoglucanase production with the newly isolated Myceliophtora sp. I-1D3b in a packed bed solid state fermentor. Braz. J. Microbiol., v. 43, n. 4, p. 1536 1544, 2012.