O PATRIARCADO E A MULHER DO SÉCULO XXI: LUTAS E CONQUISTAS Juliete Dutra de Oliveira 1 Endereço: Rua João Neponuceno de Moura, nº 70, Alto do Sumaré, Mossoró Rio Grande do Norte Cep: 59633-390 Telefone: 96369238. E-mail: julietedutra@hotmail.com Resumo: As bases materiais que vão sendo produzidas ao longo da história determinam modos de produção e tipos de relações sociais, políticas e jurídicas na sociedade, sendo estas responsáveis também pela concepção do que é ser homem ou mulher e pelas relações culturais e de poder que são estabelecidas nos grupos sociais. Os padrões culturais vão sendo definidos e organizados, tal como os papéis sociais que cada membro da sociedade desempenha em seu interior. Neste sentido, o presente trabalho buscou analisar as lutas e conquistas vivenciadas pelas mulheres na sociedade contemporânea. O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, tendo como escopo o exame de artigos, textos e obras. A partir das análises dos materiais encontrados, observou-se que as lutas, reinvindicações e conquistas de direito que as mulheres alcançaram nas últimas décadas foram fundamentais para construir um novo contexto sociocultural, propiciando o reconhecimento da mulher em sua totalidade, com necessidades, desejos e projetos, enfim, uma mulher como um indivíduo que constrói e é construída socialmente, que tem autonomia, vez e voz. A mulher passou a ser vista com possibilidades de assumir diferentes papéis, e atuar nos mais variados contextos da vida social, conquistando novos espaços e direitos de exercê-los. Palavras-chave: Patriarcado. Feminismo. Lutas. Conquistas. 1 INTRODUÇÃO Por muitos séculos as mulheres ficaram em segundo plano quando o assunto relacionava-se a participação na formação da sociedade, por estarem reclusas no mundo doméstico, circunscritas ao silêncio do mundo privado, elas não teriam uma história, visto que, somente o espaço público, destinado aos homens, possuía importância (VASCONCELOS, 2005). Para Follador (2009), na história da humanidade as mulheres foram excluídas duplamente. Primeiro porque a elas era impossibilitado o acesso a uma educação profissionalizante que as levasse à produção de conhecimento. Em segundo lugar, pelo fato de que a história positivista preconizava os grandes fatos desencadeados por líderes políticos e militares, o que, novamente, afastava as mulheres da participação como agentes históricos. Assim, a imagem do feminino era expressa pelos homens, aqueles a quem cabiam os relatos à posteridade. O olhar masculino reservava às mulheres imagens que levavam à 1 Aluna do curso de graduação em Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Estagiária do Serviço Social da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários da Universidade Federal Rural do Semi - Árido (UFERSA) e no Ministério Público do Rio Grande do Norte.
formação de um estereótipo que relegava o sexo feminino ao âmbito do lar, onde sua tarefa seria a de cuidar da casa, dos filhos e do marido, e, sendo sempre totalmente submissa a ele. Desse modo, o objetivo geral desse trabalho é analisar as lutas e conquistas vivenciadas pelas mulheres na sociedade contemporânea. No decorrer do texto será feita uma análise sobre a importância do movimento feminista na busca pela conquista de direitos para as mulheres. 2 REFERENCIAL TEÓRICO Para Iop (2009), as relações de gênero que vão se constituindo a partir da formação dos agrupamentos humanos sofrem, no decorrer do processo histórico, algumas mudanças, que implicam a materialização de novas relações entre homens e mulheres dentro de um mesmo grupo social. As bases econômicas da sociedade são um dos principais imperativos dessa materialização Em um passado não tão distante, que tinha seus valores pautados pelo patriarcado, a mulher era educada para desempenhar apenas três funções básicas, ser esposa, dona de casa e mãe. Sendo relegada ao ambiente privado, servindo ao homem em todos os seus desejos (NYE, 1995). A família patriarcal ver a mulher como mero instrumento de procriação da força de trabalho, submissa ao poder do homem. Essa relação de poder em que a mulher era propriedade do homem perdurou nas sociedades ocidentais civilizadas até a segunda metade do século XX. Porém, como a sociedade está em constantes transformações, houve mudanças significativas, que originou novos sujeitos, novas formas de poder e novas relações sociais entre os indivíduos e a sociedade. E a mulher passou a assumir diversos papéis sociais, saindo do ambiente privado e ingressando no ambiente público que antes era destinado apenas aos homens, mas a mulher sempre esteve em desvantagens em relação à posição que o homem ocupa na sociedade (CITELI. 2001) Segundo Beauvoir (1980), as mulheres, de forma geral, conquistaram grande respeito na sociedade como um todo a partir da sua atuação de excelência nos mais variados contextos da vida, desempenhando múltiplos papéis e até conquistando espaços nunca antes imaginados. Apesar disso, sabe-se também que ainda tem muitas mulheres que se intimidam e que resistem a expressar o seu modo de pensar, e assim acabam se subordinando às vontades de outros. A mulher no século XXI tem realmente alcançado novos patamares, aliás, há muito tempo ela tem galgado novos espaços. Hoje, as mulheres são percebidas como altamente capazes de realizar tarefas que antes eram tidas tipicamente como masculinas. A mulher do século XXI é polivalente, por que não dizer multifuncional. Ela consegue dá conta de várias coisas ao mesmo tempo, consegue executar várias tarefas, dá atenção a diversas demandas e resolver os mais variados problemas (BICALHO, 1998). Para Kollontai (2007), a mulher consegue programar o seu tempo, mesmo em meio a tantas responsabilidades. Utiliza-se dos mais variados meios para cumprir com os seus compromissos, para executar suas tarefas. Se comparados a milênios de inferiorização, submissão e desqualificação, os avanços conquistados, arduamente, nas últimas décadas são pequenos, porém são fundamentais para a consolidação do processo histórico e cultural da mulher ao lado do homem com as mesmas possibilidades de ser/atuar na sociedade. Mas mesmo com os direitos sociais conquistados e garantidos por lei, a mulher atualmente vive uma opressão velada, esta continua a estar em disparidade com o homem. A mulher se depara com diversos obstáculos na sociedade, ainda se ver vivendo uma contradição, por um lado, ela tem uma herança histórica que a limitou a ser mãe, esposa e
submissa ao homem, mas tem a possibilidade de escolher seu futuro e se fazer sujeito de sua própria história (THERBORN, 2006). Porém, nem tudo é tão simples assim, ainda há muitas mulheres que não se reconhecem como sujeitos de direitos, que não se veem como um indivíduo que tem autonomia e liberdade de escolha. 3 METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica. O trabalho teve como escopo o exame de artigos, textos e obras similares ao assunto estudado. Como técnica, a pesquisa compreendeu leitura, seleção e análise dos tópicos de interesse para a pesquisa em pauta, com vistas a analisar as lutas e conquistas vivenciadas pelas mulheres na sociedade contemporânea. Os textos foram captados de Periódicos indexados e Livros. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O patriarcado coloca as mulheres como testemunhas vivenciais das mais diversas expressões que permeiam, e definem que estas não podem ter autonomia sobre sua vida, muito menos, sobre seu corpo, negando sua sexualidade e sendo tratada como mercadoria cotidianamente. A sociedade determina o que é feminino e o que é masculino, por meio de suas instituições, da cultura, do sistema educacional, da divisão sexual e social do trabalho, levando a mulher à subalternidade diante de relações desiguais de gênero (THERBORN, 2006). Para Priore (2006), o mercado de trabalho é o espaço em que as mulheres mais encontram dificuldades para se alto afirmarem enquanto sujeitos de direitos independentes de seu gênero. Mas ao longo das últimas décadas, houveram várias mobilizações realizadas pelas mulheres em vários setores sociais de modo a ampliar sua inserção nos mais variados espaços da sociedade. Portanto, foi por meio de diversas lutas que as mulheres ampliaram sua participação no setor do consumo coletivo, em escritórios, no comércio ou em serviços públicos, surgindo mais oportunidades de emprego em diversas profissões. Estas novas demandas exigiram uma maior escolaridade feminina e provocou mudanças no status social das mulheres. Em geral o que se esperava era que as mulheres se dedicassem exclusivamente ao lar e fossem sustentadas pelos maridos, privilégios esses que, se perdidos com o mundo do trabalho, implicariam na perda da feminilidade (BAUER, 2001). Atualmente, verifica-se que a mulher conquistou diversos espaços na sociedade, apesar de as estatísticas afirmarem que a discrepância entre homens e mulheres ainda é gritante. Mas, percebe-se que falta à mulher se inserir mais significativamente no campo político, contribuindo com a administração da sociedade patriarcal, que ainda está representada no modelo político da sociedade e na forma que essa é administrada. Talvez seja isso que falte à mulher, conquistar de vez sua emancipação, criando uma legislação que altere as leis da sociedade patriarcal. Pois, por mais que a mulher já tenha conquistado seu espaço socialmente, essa sociedade é pensada pela lógica patriarcal e, portanto, masculina (IOP, 2009). Para a mulher conquistar a autonomia de uma sociedade, masculina, racional e proprietária, somente desenvolvendo uma sociedade que não esteja alicerçada na família patriarcal e na propriedade privada. O sistema patriarcal é baseado no controle dos homens sobre as mulheres, em que estes ocupam uma posição central, ou seja, as mulheres são vistas
como objetos de satisfação sexual dos homens, reprodutoras de herdeiros, reprodutoras de força de trabalho e reprodutoras de novas reprodutoras (GASPARI, 2003). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, pode-se verificar que as relações de poder e de gênero do patriarcado mantiveram as mulheres submissas ao homem durante muito tempo. A mulher, durante um determinado período da história, ficou confinada ao espaço da vida privada, envolvida no cuidado com o lar, na educação dos filhos, na atenção com o marido, enfim, era tida quase que como domínio exclusivo dos homens. Assim, a história da participação feminina na formação da sociedade foi durante séculos deixada em segundo plano. Isto ocorreu por causa da visão masculina em relação às mulheres, que delimitava papéis e imagens, que, para a sociedade masculina patriarcal, formavam a mulher ideal. No entanto, no século XXI, vários movimentos começaram a assumir a luta pelos direitos da mulher e pela democratização das relações de gênero. E assim, as mulheres conquistaram vários dispositivos que possibilitaram a igualdade jurídica e social com o homem. Desse modo, a mulher passou a ter maior participação dentro na sociedade civil como um todo, passando a ocupar posições de destaque em lugares onde outrora nem imaginava chegar. Mas apesar das conquistas, as mulheres ainda encontram barreiras que tentam impedilas de conquistarem outros horizontes sociais. As ideias patriarcais ainda se encontram mascaradas na sociedade, impedindo que elas conquistem espaço em setores ainda predominado pelos homens. REFERÊNCIAS BAUER, C. Breve história da mulher no mundo ocidental. São Paulo: Xamã: Edições Pulsar, 2001. BEAUVOIR. In: Nova Enciclopédia de Biografias. Rio de Janeiro: Planalto Editorial, 1979. BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. BICALHO, E. A Mulher no Pensamento Moderno. Estudos sobre Gênero. Cadernos de Área, n. 7. Universidade Católica de Goiás. Goiânia: Ed. UCG, 1998. CITELI, M. T. Fazendo Diferenças: teorias sobre gênero, corpo e comportamento. Florianópolis: Revista de Estudos Feministas, vol. 9, n. 1, 2001. FOLLADOR, J. K. A mulher na visão do patriarcado brasileiro: Uma herança ocidental. Revista fato&versões, v.1, n. 2, p. 3-16, 2009. IOP, E. Condição da mulher como propriedade em sociedades patriarcais. Joaçaba: Visão Global, v. 12, n. 2, p. 231-250, 2009. KOLLONTAI, A. Autobiografia de uma mulher comunista sexualmente emancipada. São Paulo: Sundermann, 2007.
NYE, Andrea. Teoria Feminista e as filosofias do homem. Rio de janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1995. PRIORE, M. D. (org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2006. THERBORN, G. Sexo e poder: a família no mundo, 1900-2000. São Paulo: Contexto, 2006. VASCONCELOS, V. N. P. A perspectiva de gênero redimensionando a disciplina histórica. Revista Ártemis, n.03, 2005.