Palavras-chave: rotação soja/arroz; práticas culturais; principais desafios. RESUMO

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Transcrição:

DESAFIOS PARA A ADOÇÃO DE CULTURAS EM ROTAÇÃO AO ARROZ IRRIGADO EnioMarchesan 1 Palavras-chave: rotação soja/arroz; práticas culturais; principais desafios. RESUMO A diversificação de cutivos em áreas de arroz irrigado é uma alternativa técnica e econômica para proporcionar maior sustentabilidade a este ambiente de produção, obtendo maior produtividade por unidade de área, seja de grãos, produção animal, outros produtos. No entanto, este ambiente apresenta limitações em graus variados a cultivos ditos de sequeiro, em função da localização geográfica, da posição do terreno, da declividade, bem como da parte física e química destes solos, entre outros. Em trabalho de Gomes e Pauletto, (eds), 1999, encontra-se a caracterização geral de solos de várzea, destacando-se a drenagem natural deficiente como a principal característica de solos de terras baixas. De forma semelhante, Vedelagoet al. (2013), 1 Eng Agr, Professor Titular Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Av. Roraima, 1000. CEP 97105-900. Santa Maria, RS.

avaliando a aptidão de solos arrozeiros ao cultivo de soja, relatam que nessas áreas, há predominância de solos ácidos, com baixa disponibilidade de nutrientes. Pelo exposto observa-se que o manejo de solos hidromórficos visando a adoção de soja, por exemplo deve envolver, na parte física prioritariamente, questões como a drenagem e a melhoria do ambiente para o desenvolvimento radicular e nodulação e, na parte química do solo, a necessidade de maior disponibilidade de nutrientes, incluindo calagem. Resaltase, entretanto, que atributos de ordem física e química dos solos não podem ser vistos de forma isolada, pois ambos se relacionam e interferem no componente biológico do solo, importantíssimo para a fertilidade e processos de crescimento e desenvolvimento de plantas. Resultados obtidos nesta safra de 2016/17, através do Projeto Soja 6000 do Irga, mostram que a produtividade de soja em áreas de arroz chegou a atingir 6.000kg/ha. Por outro lado, a produtividade média da soja em áreas de arroz no RS até a safra 2015/16, estava ao redor de 2.100 kg/ha e a área cultivada se mantinha em torno de 280.000 hectares.em função disso, o debate gira em torno da identificação dos principais limitantes à elevação da produtividade e as alternativas para resolvê-los.a seguir serão apresentadas as principais contribuições que se pode esperar do cultivo da soja em rotação ao arroz, até como forma de justificar o

trabalho necessário de adequação da área e da equipe para receber este cultivo. Uma delas é que a soja se constitua em outro produto para este ambiente, representando mais renda ao empreendimento agrícola. Outra contribuição é que a soja seja recuperadora e/ou mantedora de tecnologias já utilizadas em arroz irrigado e que enfrentam problemas de resistência de plantas daninhas aos herbicidas utilizados em arroz. Nessa mesma linha, novas tecnologias virão, precisando ser preservadas pelo maior tempo possível, e a rotação de culturas tem papel importante nesta cadeia de sustentabilidade. Espera-se também a elevação dos níveis de produtividade do arroz cultivado em áreas de soja, pela época de semeadura e pelo efeito da rotação. Ainda outro aspecto importante da presença da soja nesse ambiente, é a redução dos custos da lavoura de arroz, pois diminuem as operações para sua implantação. Assim, focando produtividade por um lado e menores custos no outro lado da equação, espera-se aumento da rentabilidade da área.a potencialização do uso das áreas com outros cultivos é outra contribuição importante, pois as melhorias necessárias ao cultivo da soja, como a drenagem, por exemplo, irão beneficiar o arroz outros cultivos de grãos e forrageiras. Por isso, além de reconversora de áreas, a soja, necessariamente, vai fazer com

que se aperfeiçoe o planejamento e a gestão dos processos, pois agora tem dois cultivos na mesma estação de crescimento. E como a soja não vem sozinha, poderão acompanhá-la cultivos forrageiros e a integração lavoura-pecuária, tornando um sistema ainda mais complexo e exigente em termos de gestão de pessoas, especialmente, além de recursos financeiros e do tempo de realizar as práticas de manejo.mas problemas associados a esta nova realidade irão aparecer e é preciso estar atento para detectálos no início, para continuar os avanços. Para isso, a capacitação constante da equipe é o fator diferencial. A seguir, com o objetivo de provocar refexões, serão apresentados e discutidos, de forma geral, alguns aspectos que mais impactam na adoção de cultivos em rotação ao arroz irrigado.nesta apresentação, pelo conhecimento disponível, está sendo utilizada a soja como base das reflexões para a rotação, pois é a cultura de grãos mais utilizada nestas áreas, depois do arroz. 2. DESAFIOS Aqui dois aspectos serão caracterizados como desafios. O primeiro deles é identificar quais os fatores que mais limitam o cultivo da soja em determinada condição de lavoura. Outro, é conseguir dar à planta o que ela precisa no momento e na quantidade que expresse todo o seu potencial de produtividade.

Cada equipe precisa encontrar o seu jeito de como fazer, o que envolve, aspectos técnicos, de planejamento e de gestão. 2.1. DOMÍNIO SOBRE O FLUXO DAS ÁGUAS NA ÁREA DE CULTIVO - DRENAGEM. A drenagem se constitui no grande fator limitante ao cultivo seguro de plantas ditas de sequeiro na maioria das áreas de terras baixas. Se não houver trabalho visando controle da drenagem e adequação da área para receber estes cultivos, o grau de risco vai aumentar na mesma proporção. Em diferentes situações, pode-se ter soja, milho, forrageiras, pecuária, em sucessão e/ou rotação com o arroz irrigado. São plantas com exigências diferentes entre elas e, especialmente, em relação ao arroz. Para reduzir riscos e assegurar potencial produtivo, o objetivo é minimizar os períodos de estresse por deficiência de oxigênio e deficiência hídrica das plantas. Para isso é preciso estabelecer um projeto de organização/adequação da área. Uma das justificativas para realizar este trabalho é ter maior controle sobre o fluxo da água na área e ampliar o número de dias trabalhados, visando implantar os cultivos no melhor momento dentro da época de semeadura recomendada. Outra justificativa é automatizar ao máximo as tarefas e facilitar os trabalhos, com menor esforço físico e necessidade de mão de obra. Assim, a confecção de drenos

externos à lavoura e os canais principais na lavoura, devem estar dimensionados e limpos para a rápida drenagem Dessa forma, a água proveniente das áreas mais altas não deve entrar na área de cultivo, bem como ter mais controle de águas de enchente, ou aomenos, que as águas permaneçam o menor tempo possível na área. Drenos de superfície, associados ao perfeito nivelamento da superfície da área, completam o sistema de macro e micro drenagem. Porém, pode não ser suficiente para a soja, pois em áreas com camada compactada próximo à superfície do solo, os estresses às plantas são muito frequentes. É preciso avaliar o grau de resistência à penetração das raízes, podendo ser necessário o rompimento de parte desta camada, para propiciar a melhoria ao ambiente radicular e de nódulos, pela alteração de atributos de relacionados à resistência do solo e ao fluxo de gases e água às plantas. Neste projeto de organização da área, o sistema de irrigação deve estar previsto, pois trabalhos de pesquisa mostram a resposta positiva da soja, já a partir do período vegetativo( Sartori et al. 2015). Entradas múltiplas nos talhões possibilitam rápida irrigação da área, o que é também desejado para a irrigação do arroz. Tecnologias modernas permitem ter maior qualidade nos projetos de irrigação e drenagem, tornando-os mais eficientes e podem contribuir muito, tanto para irrigação como para a drenagem dessas áreas. No entanto, ainda há práticas simples que

podem ser feitas com custos baixos e que dependem mais da decisão de fazer do que propriamente de elevados recursos financeiros. Por fim, estradas bem planejadas, além de facilitarem a logística, ontribuem na organização do fluxo das águas dentro da propriedade. Se a lavoura estiver localizada em área com elevado grau de risco ou não for possível executar as práticas de adequação da área, é preferível não implantar soja. 2.2. ASPECTOS IMPORTANTES NA IMPLANTAÇÃO DA LAVOURA A implantação é uma das etapas mais importantes e cruciais na formação da lavoura, pois se houver falhas nessa fase, outras práticas de manejo não apresentarão o potencial de resposta esperado. No ambiente de terras baixas, normalmente com maiores períodos de estresse em relação ao grau de umidade do solo, o planejamento é para quea emergência ocorra o mais rápido e uniformemente possível. 2.2.1. ÉPOCA DE SEMEADURA O desafio aqui é realizar a semeadura de toda a lavoura dentro da melhor época para a região, pois é fator determinante para obter elevado potencial de produção, tanto para a soja como para o arroz. No entanto, é preciso analisar em conjunto a busca de realizar o maior potencial produtivo e a minimização dos riscos de ressemeadura. Por isso, é fundamental estar atento aos

prognósticos climáticos, associados a eventos climáticos específicos da região e, a partir daí, estabelecer o momento da semeadura. O propósito é que na hora de semear, todos os esforços estejam direcionados para esta atividade, em função de que os períodos ótimos para semeadura, em relação a umidade do solo, normalmente são de poucos dias. Assim, a área deveria estar pronta neste momento e, para atingir este objetivo o manejo das áreas na entressafra é fundamental e decisivo. Esse trabalho começa já no planejamento da colheita da safra anterior, passando pelo manejo das áreas logo após a colheita e é concluído com o preparo antecipado da área. A equipe deve estar mobilizada para aproveitar muito bem as oportunidades de trabalhar com máquinas na área, visando recuperar o nivelamento da superfície do terreno e o entaipamento, manejar a resteva do arroz, fazer os drenos e assim deixar a área pronta, antes do período de semeadura. 2.2.2. AMBIENTE RADICULAR No que se refere ao ambiente radicular, deve-se considerar aspectos da parte física e da parte química do solo, com o objetivo de reduzir o período de estresse às plantas, tanto por deficiência hídrica ou de oxigênio, especialmente na região de maior volume de raízes e de nódulos. A presença de camada compactada

próximo à superfície do solo contribui para elevar o nível de estresse. Assim, a verificação da presença e localização dessa camada é o processo inicial. Implicações desta camada refletem-se no menor armazenamento de água às plantas, na ocorrência de doenças radiculares e morte de plantas, na menor absorção de nutrientes, na eficiência da nodulação e no efeito salino às plantas, dentre outros aspectos restritivos ao crescimento e desenvolvimento das plantas. O rompimento de parte desta camada compactada, faz com que a planta aumente o período em condição adequada ao desenvolvimento radicular,pelo menos na camada mais superficial do solo. É preciso encontrar a melhor maneira de fazer para cada situação. A escarificação da área pode ser uma alternativa para reduzir o período de estresse. Em trabalho de Muller (2015), avaliando métodos de implantação de soja em área com presença de camada compactada próximo à superfície, encontrou que a escarificaçãoproporcionou um tempo estimado de permanência em condição ótima de oxigênio às plantas de 75%, na camada de 0-10cm do solo. A semeadura sem essa mobilização do solo, por sua vez, experimentou apenas 37% no tempo em condição ótimade oxigênio. Na camada de 10 a 20cm, as plantas permaneceram em deficiência de oxigênio por mais de 60% do tempo estimado para ambos os sistemas, mostrando que o efeito da mobilização do solo

realizada pela escarificação se evidenciou apenas na camada superficial. Trabalho de Sartori et al.(2015) mostra efeito positivo da escarificação do solo, e também a possibilidade de uso de mecanismos da semeadora para auxiliar na redução de estresses nesta camada superficial do solo, refletindo-se em maior rendimento de grãos de soja. Também nesse sentido de melhoria na região do ambiente radicular, Coelho (2017), relata o efeito positivo de aumento da profundidade de atuação do mecanismo da haste sulcadora da semeadora, de 13 para 23 centímetros, bem como do uso da camalhoneira no rendimento de grãos de soja, quando comparado com disco duplo. Assim, na perspectiva da parte física do solo, um dos desafios é proporcionar melhor condição ao desenvolvimento radicular e de nódulos, com menor mobilização do solo e gasto de energia. No que tange à parte química do solo, asexigências de fertilizantes da soja são diferentes daquelas do arroz, e normalmente, em maiores níveis de N, P e K, dentre outros nutrientes, dependendo da expectativa de produtividade. Inicia pela calagem, onde a época e a profundidade de correção são fatores decisivos para o sucesso. Um nutriente muito exigido pela soja é o nitrogênio, sendo que a nodulação eficiente é fundamental para o fornecimento de nitrogênio, principalmente para produtividades mais elevadas.

O desafio é propiciar um ambiente favorável ao crescimento do sistema radicular, através da absorção de água e dos nutrientes do solo, bem como à eficiência do processo de nodulação reduzindo estresses.elevadas produtividades implicam em necessidade de maiores recursos financeiros em termos de adubação, por isso, identificar o nível de produtividade possível a cada situaçãoé um dos itens do planejamento inicial da lavoura. 2.2.3. SEMEADURA E ESTABELECIMENTO INICIAL O objetivo fase é ter rápida e uniforme emergência, com ótima distribuição espacial das plantas, pois é uma fase muito sensível ao excesso hídrico. Para atender a esse objetivo, quatro aspectos são muito importantes no momento da semeadura. O primeiro deles é utilizar sementes de alta qualidade, priorizando o lote de maior vigor. A semeadora por sua vez deve estar com dosadores de sementes e fertilizantes permanentemente regulados, bem como os mecanismos sulcadores adequados à condição da área e que proporcionem perfeito contato sementesolo, para rápida e uniforme absorção de água. Quanto ao processo de semeadura, deve-se adequar a velocidade e profundidade, propiciando deposição uniforme das sementes tanto longitudinalmente como em profundidade. E por fim, a devida proteção das sementes que, associada à necessária

tolerância genética da semente aos principais patógenos e pragas de solo, contribui para aimplantação da lavoura. A morte de plantas, especialmente na fase inicial de estabelecimento da cultura da soja merece atenção especial, pois falhas neste importante componente do rendimento (número de plantas), não podem mais ser recuperadas. Aspectos de reação varietal, tratamento de sementes e práticas de manejo que minimizem a ocorrência precisam ser melhor investigadas. 2.2.4. PLANTAS DANINHAS Uma das contribuições importantes esperadas do cultivo da soja em áreas de arroz é o auxílio no controle de plantas daninhas, já resistentes ou de difícil controle por herbicidas utilizados no cultivo do arroz irrigado, mas o controle químico ainda está alicerçado no uso de glifosato. O número de espécies de plantas daninhas neste ambiente está aumentando, sendo necessário ampliar o uso e o leque de alternativas viáveis tanto de herbicidas pré como de pós emergentes. Por outro lado, é fundamental integrar outros métodos de controle e de manejo de plantas daninhas e não apenas o controle químico, da mesma forma que é preciso reduzir as oportunidades de estabelecimento e de desenvolvimento das plantas daninhas. O controle cultural através do perfeito estabelecimento da soja, não deixando espaços é uma prática eficiente bem como amanutenção do solo com plantas de

cobertura. Por fim, são muito importantes também os cuidados que desfavoreçam a multiplicação dessas espécies na área e ao redor das áreas de cultivo para que se tenha menor pressão de invasoras e redução do uso de herbicidas. 2.2.5. SISTEMAS CONSERVACIONISTAS O preparo do solo, mesmo em áreas arrozeiras, propicia perdas de solo e nutrientes. Da mesma forma, com a evolução do sistema de drenagem das áreas e com o cultivo da soja, outras plantas daninhas encontram agora ambiente para se multiplicar, atingindo níveis que necessitam controle. Assim, a proteção do solo com palhada ou plantas de cobertura é desejável também no aspecto de conservação do solo. No sentido de uma agricultura mais conservacionista, o cultivo da soja traz consigo a necessidade de estabelecer cultivos forrageiros, integrando o cultivo de grãos e produção animal, o que é um grande avanço, auxiliando muito no estabelecimento de um sistema de produção com mais sustentabilidade. No entanto, onde não há uso de pecuária tem-se algumas dificuldades que precisam ainda ser pesquisadas. Uma delas é o manejo da palhada de arroz das áreas colhidas no seco e outra é o manejo e uso de plantas de cobertura em resteva de soja ou de arroz. Uma limitação é que a presença de palha interfere na perda de água no solo, que pode afetar tanto a semeadura na época

desejada como também a qualidade da semeadura, estando muito dependente das chuvas no período. Pelo exposto, manejo com menor mobilização e proteção do solo, seja com plantas de cobertura ou com palhada é uma das áreas de grande necessidade de pesquisa. Sistemas integrados com lavoura e pecuária, agora em patamares de elevada produtividade, constitui-se numa proposta de uso intensivo e sustentável da área aliando uma perspectiva de tratar o processo produtivo como um sistema de produção. 3. RECURSOS HUMANOS A influência do produtor na formação dos preços de comercialização, normalmente é pequena. Assim, se não se pode influenciar nos preços, a rentabilidadeocorre via produtividade e custos. Por essa razão quem faz a diferença são as pessoas, que tomam as decisões e gerenciam os processos. Esta constitui-se em uma nova fronteira possível de avanços, sem elevar custos. Para isso, é preciso definir o papel de cada um dos seguintes atores nessa nova lavoura: proprietário/empresário, consultor/assistência técnica, gerente/líder, os outros colaboradores da equipe e os serviços provenientes de fora da lavoura. O trabalho deve ser na perspectiva de que a planta é que vai determinar o melhor momento e a melhor quantidade para realizar determinada prática

de manejo. A equipe deve estar preparada para identificar este momento e realizar o que for necessário. Para finalizar, a meta é fazer o que tem que ser feito no momento certo, visando atingir 100% da lavoura. Planejamento, gestão, liderança, conhecimento, presença e sentido de equipe, fazem a diferença. Penso que este último é o maior desafio, pois determina o resultado de todos os outros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COELHO, L.L. Manejo de azevém e de mecanismos sulcadores da semeadora no desempenho da soja em área de arroz irrigado. Santa Maria, 2017, 74f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Programa de Pós-Graduação e Agronomia. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2017 GOMES, A. da S.; PAULETTO, E. (Eds). Manejo do solo e da água em áreas de várzea. Embrapa Clima Temperado. Pelotas, 1999, 201p. MULLER, A.E. Capacidade de preparos de solo reduzirem limitações físicas naturais de áreas de várzea para o cultivo de soja. Santa Maria, 2015. 86f.Dissertação (Mestrado em Solos) Programa de Pós Graduação em Ciência do Solo. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015. SARTORI, G.M.S.; et al.. Rendimento de grãos de soja em função de sistemas de plantio e irrigação por superfície em Planossolos.

Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 50, p. 1139-1149, 2015. https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/136567/1/ Rendimento-de-graos-de-soja.pdf VEDELAGO, A et al. Fertilidade e aptidão de uso dos solos para o cultivo de soja em regiões arrozeiras do Rio Grande do Sul.. Boletim Técnico, n. 12. Cachoeririnha, 2013, 52p.