ENSAIO COMPARATIVO DE TRÊS FUNGICIDAS FREQUENTEMENTE REFERIDOS NO CONTROLO DE ESCORIOSE NA REGIÃO DO DÃO

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Transcrição:

ENSAIO COMPARATIVO DE TRÊS FUNGICIDAS FREQUENTEMENTE REFERIDOS NO CONTROLO DE ESCORIOSE NA REGIÃO DO DÃO Jorge SOFIA (1); Cecília REGO (2) (1) Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, Estação de Avisos do Dão, Estação Agrária de Viseu, Estrada de S. João da Carreira, 3504-504 Viseu, e-mail: jorge.sofia@drapc.min-agricultura.pt (2) Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Ciências e Engenharia de Biossistemas, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, e-mail: crego@isa.utl.pt Resumo: Apresenta-se um estudo que procurou responder às inúmeras dúvidas suscitadas por produtores vitivinícolas da região do Dão, quanto à eficácia do tratamento de Primavera no controlo de escoriose provocada por Phomopsis viticola (Sacc.) Sacc. Para o efeito, foram seleccionadas três formulações comerciais frequentemente referidas no combate à escoriose no Dão e delineou-se um ensaio seguindo a prática corrente na região relativamente a este tratamento da vinha. Os resultados do ensaio (tratamento a 40% da vinha entre os estados BBCH 7 e 12), conduzido durante três anos sucessivos (2005, 2006 e 2007), com 4 modalidades (azoxistrobina e folpete, fosetil de alumínio e folpete, fosetil de alumínio e mancozebe e controlo não tratado) e 10 repetições/modalidade, realizado numa parcela de Touriga Nacional situada na Quinta da Cale em Nelas, evidenciam um decréscimo da incidência e severidade da doença face à testemunha não tratada. Os resultados são discutidos e são apresentadas sugestões para, em futuros ensaios, se conseguir uma melhor compreensão deste tema. Palavras-chave: Dão, ensaio, escoriose, fungicidas, Phomopsis viticola, vinha. Objectivo: O presente trabalho procurou responder à questão frequentemente posta por viticultores e técnicos da região sobre a eficiência dos tratamentos mais para a escoriose, procurando aferir da real efectividade desses tratamentos e quais se apresentavam mais eficientes, face às condições encontradas na região do Dão. Introdução: A escoriose causada pelo fungo Phomopsis viticola (Sacc.) Sacc., é uma doença comum a todo o mundo vitícola, cuja ocorrência depende das condições climáticas de Primavera e do historial sanitário das vinhas. Os primeiros relatos da sua presença em Portugal surgem em 1951, mas só a partir da década de 70 do século passado se tornou uma preocupação recorrente da viticultura portuguesa. Os sintomas da doença aparecem desde o abrolhamento, na base das varas não atempadas, sendo caracterizados por pequenas manchas necróticas corticais castanho escuras, de margem violácea, inicialmente alongadas e mais tarde confluentes. No Outono e Inverno, é possível observar, nas varas afectadas, um embranquecimento das varas com pequenos pontuações negras, que não são mais do que as frutificações do fungo (picnídeos). Os gomos afectados podem não abrolhar, ou dar origem a lançamentos estiolados. 1

Na região do Dão o problema da escoriose tem vindo a tomar proporções crescentes, sendo actualmente uma forte preocupação dos produtores. Não havendo levantamentos sistemáticos da situação desta doença reconhece-se ser a casta Touriga Nacional, uma das mais afectadas. Atendendo a esta preocupação dos viticultores, a Estação de Avisos do Dão tem tido a preocupação de, face ao desenvolvimento fenológico da vinha, emitir Avisos alertando para a necessidade de combater esta doença, procurando sempre alertar para a oportunidade, necessidade e produtos disponíveis para combate a esta doença da vinha. Material e métodos: O ensaio decorreu numa parcela de Touriga Nacional sita na Quinta da Cale em Nelas. A escolha da variedade deveu-se ao facto de vulgarmente se considerar esta casta bastante atreita ao problema em estudo. O delineamento experimental usado foi o descrito na norma OEPP Standard PP 1/55(2) com casualização global, tendo-se introduzido pequenas alterações. A percentagem de varas infectadas (incidência da doença) e a percentagem de superfície necrosada nas varas infectadas (severidade da doença) foram avaliadas anualmente numa população total de 74 videiras (4 modalidades x 10 repetições x 2 videiras (unidade experimental) = 80 videiras) num total de cerca de aproximadamente 1000 varas já que, cada videira tinha em média 12 a 13 varas. O ensaio constou de 5 modalidades (Quadro 1). Quadro 1: Modalidades ensaidadas no presente tratabalho Modalidade Substância activa Produto comercial Concentração Água Modalidade 1 Grânulos dispersíveis em água com 25% (p/p) de folpete e 50% (p/p) de fosetil de alumínio Modalidade 2 Grânulos dispersíveis em água com 35% Modalidade 3 (p/p) de fosetil de alumínio e 35% (p/p) de mancozebe Suspensão concentrada contendo 93,5 g/l ou 7,3% (p/p) de azoxistrobina e 500 g/l ou 39,2% (p/p) de folpete. Rhodax Flash Mikal M Flash Quadris Max 300gl/hl 350g/hl 150ml/hl 2

A escolha dos produtos recaiu sobre aqueles, de entre os homologados, à altura, mais frequentemente mencionados pelos produtores da região do Dão para esta finalidade, procurando proceder de acordo com a prática corrente na região. Cada modalidade consistiu em 10 repetições, aleatoriamente distribuídas pela parcela. Em cada repetição foram escolhidas e marcadas duas plantas para acompanhar ao logo dos três anos do ensaio. Os produtos ensaiados foram distribuídos nas respectivas repetições com o auxílio de um pulverizador de dorso quando aproximadamente 40% das plantas constantes do ensaio se encontram entre os estados BBCH7 (saída das folhas) e BBCH12 (folhas livres). Contemplou-se apenas uma época de notação por ano na época de final de Junho/Julho, consistindo na estimação visual da percentagem de superfície escoriada individualmente nos quatro primeiros entrenós de todas as varas das duas plantas marcadas por repetição. Os resultados foram submetidos a análise da variância (ANOVA) com efeitos fixos e distribuição normal, utilizando um delineamento a dois factores (época de tratamento; fungicida), totalmente casualizados e um nível de significância de 5, com recurso ao programa STATISTICA 6.0. A comparação das médias realizou-se recorrendo ao teste de Duncan para um nível de significância de 5. Os valores expressos em percentagens sofreram transformação angular (arcsen x), antes de se proceder à ANOVA. Resultados e discussão Ao acompanhar o ensaio verificou-se que as plantas afectadas por escoriose apresentavam nalgumas folhas pontuações necrosadas com halo amarelo, deformando o limbo que surgia empolado e enrugado (Figura 1a e 1b) Nas varas surgiam manchas necróticas de cor negra (Figura 1d) e fendilhamentos alongados com bordadura negraviolácea, característicos de ataques de Phomopsis spp. (Figura 1e e 1f). Por vezes, numa fase inicial verificava-se a presença de lançamentos estiolados e necróticos junto a folhas sintomáticas (Figura 1c). 3

a b c d e f Figura 1: Diversos aspectos da escoriose no campo - a) pontuações em folhas basais; b)aspecto das pontuações numa fase mais adiantada de desenvolvimento; c) lançamento necrótico por acção da escoriose; d) escoriações na base da vara jovem; e)escoriações na vara; f) escoriações em vara atempada. Evolução da escoriose na parcela Incidência A análise dos resultados obtidos no ensaio de eficácia de fungicidas no campo, permitiu concluir que a incidência da doença nos três anos de ensaio diferiu significativamente para os anos de 2005 e 2007 face ao ano de 2006 (Figura 2). No primeiro ano de ensaio 4

(2005) surgiu com um valor máximo de 5,8 %, no segundo ano (2006) a incidência aumentou (21%) e, no terceiro ano (2007) apresentou um valor intermédio (12,5%). Incidência 2005/2006/2007 25,0 b Incidência (%) 2 15,0 1 5,0 a 2005 2007 2006 a Tratamentos Figura 2: Comparação dos valores médios de incidência de escoriose nos três anos de ensaio. Letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste post-hoc de Duncan para P < 5. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Ao observar o Quadro 2 verifica-se que dos três anos de ensaio, foi em 2006 que ocorreram as condições meteorológicas mais favoráveis a esta doença, nomeadamente elevada precipitação, quer nos meses anteriores ao abrolhamento quer durante o mês de Abril e que, por certo, muito contribuíram para a inversão na tendência decrescente da incidência das doenças. Particularizando para as condições meteorológicas verificadas durante a fase inicial do ciclo vegetativo da vinha, retira-se, da análise conjunta do Quadro 2 e da Figura 3, que o mês de Abril de 2005 foi bastante seco, com fraca precipitação e mal distribuída, sendo a pluviosidade acumulada nos meses que antecederam o abrolhamento bastante fraca. Da análise da Figura 4 verifica-se que Abril de 2006 foi um mês de elevada pluviosidade bem distribuída ao longo do mês e da análise conjunta do Quadro 2 e da Figura 5 que Abril de 2007 teve uma razoável distribuição da precipitação ao longo do mês e que o acumulado dos meses anteriores se situava entre o verificado em 2005 e 2006. Estas observações ajudam a compreender a forma como a doença se manifestou ao longo dos três anos de ensaio. 5

Quadro 2: Precipitação ocorrida antes e após o abrolhamento nos três anos de ensaio Ano 2005 2006 2007 Precipitação acumulada Precipitação acumulada até Abril (mm) em Abril (mm) 122 32 308 76 214 39 Dados meteorológicos do mês de Abril de 2005 Precipitação (mm) 14,0 12,0 1 8,0 6,0 4,0 2,0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 35,0 3 25,0 2 15,0 1 5,0 Temperatura (ºC) CHUVA T.MAX T.MIN Dias Figura 3: Temperatura máxima, mínima e precipitação registadas no posto meteorológico de Santar da EADão, em Abril de 2005. Dados meteorológicos do mês de Abril de 2006 3 3 Precipitação (mm) 25,0 2 15,0 1 5,0 25,0 2 15,0 1 5,0 Temperatura(ºC) CHUVA T.MAX T.MIN 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 Dias Figura 4: Temperatura máxima, mínima e precipitação registadas no posto meteorológico de Santar da EADão, em Abril de 2006. 6

Dados meteorológicos do mês de Abril de 2007 12,0 3 Precipitação(mm) 1 8,0 6,0 4,0 2,0 25,0 2 15,0 1 5,0 Temperatura (ºC) CHUVA T.MAX T.MIN 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 Dias Figura 5: Temperatura máxima, mínima e precipitação registadas no posto meteorológico de Santar da EADão, em Abril de 2007. Relativamente ao efeito do tratamento com fungicidas verificou-se que, no primeiro ano de ensaio (2005), a mistura fosetil de alumínio com mancozebe (Mikal M Flash) foi a que maior redução causou na incidência da doença, não diferindo significativamente das restantes modalidades. (Figura 6). Figura 6: Incidência média de escoriose em 2005 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Em 2006, nenhum dos fungicidas ensaiados diferiu significativamente entre si (Figura 7), sendo no entanto perceptível que a mistura de azoxistrobina com folpete (Quadris Max) foi a que melhor eficácia demonstrou. 7

Figura 7: Incidência média de escoriose em 2006 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Mais uma vez, no terceiro ano de ensaio (2007), se verificou não haver diferenças significativas entre as modalidades ensaiadas (Figura 8). No entanto, é também notório um decréscimo da incidência da doença nos tratamentos efectuados com azoxistrobina com folpete (Quadris Max). Figura 8: Incidência média de escoriose em 2007 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. 8

Severidade A análise dos resultados obtidos no ensaio de eficácia de fungicidas no campo, exposta na Figura 9, permitiu concluir que a severidade média da doença diferiu significativamente entre o ano de 2005 e os demais, enquanto que entre os anos de 2006 e 2007 não diferiu significativamente. No primeiro ano de ensaio (2005) surgiu com um valor máximo de 2,3 %, no segundo ano (2006) a severidade média aumentou (5,6%) e, no terceiro ano (2007) apresentou um valor intermédio (5,4%). Severidade (%) 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 Severidade 2005/2006/2007 b b a 2005 2006 2006 Tratamentos Figura 9: Comparação dos valores médios de severidade de escoriose nos três anos de ensaio. Letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste post-hoc de Duncan para P < 5. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Relativamente ao efeito do tratamento com fungicidas na expressão da severidade verificou-se que, no primeiro ano de ensaio (2005), não houve diferenças significativas entre os diferentes tratamentos (Figura 10). Porém da análise do gráfico é possível inferir que as modalidades com fosetil de alumínio e folpete (Rhodax Flash) e fosetil de alumínio com mancozebe (Mikal M Flash) tiveram valores percentuais de severidade inferiores aos verificados nas parcelas tratadas com azoxistrobina e folpete. 9

Figura 10: Severidade média de escoriose em 2005 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. No ano de 2006, mais uma vez não se verificaram diferenças significativas entre as diferentes modalidades ensaiadas. Figura 11: Severidade média de escoriose em 2006 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. No ano de 2007 (Figura 12) continuou a não se verificar diferenças significativas entre as três modalidades, mas houve algum decréscimo na severidade da doença entre as modalidades tratadas, mais evidente na modalidade com azoxistrobina e folpete (Quadris Max). 10

Figura 12: Severidade média de escoriose em 2007 nas três modalidades tratadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Relativamente ao efeito do tratamento com fungicidas no conjunto dos três anos de ensaio (Figura 13) verificou-se que na incidência da doença, ocorreu um decréscimo da escoriose nas modalidades tratadas e que a maior eficácia se obteve com a mistura de azoxistrobina com folpete (Quadris Max) seguida da mistura de fosetil de alumínio+ mancozebe (Mikal M Flash) e da mistura de fosetil de alumínio com folpete (Rhodax Flash). Esta redução foi verificada também na severidade (Figura 14), embora de uma forma mais atenuada, não havendo praticamente diferenças entre modalidades tratadas. 11

Figura 13: incidência de escoriose nas várias modalidades ensaiadas. Letras diferentes indicam diferenças significativas de acordo com o teste post-hoc de Duncan para P < 5. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. Severidade 2005/2006/2007 Severidade (%) 7 6 5 4 3 2 1 0 a a a a Quadris Rhodax Mikal Testemunha Tratamentos Figura 14: Severidade da escoriose nas várias modalidades ensaiadas. Letras iguais indicam não se ter detectado diferenças significativas entre as modalidades tratadas. A análise comparativa de todas as modalidades em ensaio ao longo dos três anos revela que se obteve sempre uma diminuição da incidência com as modalidades tratadas face à testemunha (Figura 15). As diferenças de incidência que se verificaram estarão directamente relacionadas com as condições meteorológicas verificadas em cada ano. 12

Incidência 2005/2006/2007 30 25 Incidência (%) 20 15 10 5 0 Mikal Rhodax Quadris Testemunha Quadris Mikal Rhodax Testemunha Quadris Rhodax Mikal Testemunha 2005 2006 2007 Tratamentos Figura 15: Incidência - análise comparativa de todas as modalidades em ensaio ao longo dos três anos. A análise comparativa de todas as modalidades em ensaio ao longo dos três anos revela que nem sempre se obteve uma diminuição da severidade (Figura 16) com as modalidades tratadas face à testemunha. Esta situação poderá ser justificada pela diferença de sensibilidade aos fungicidas dos diferentes isolados de P. viticola que surgem de ano para ano. Tal como para a incidência, a severidade verificada anualmente foi condicionada pelas diferentes condições meteorológicas anuais. Severidade 2005/2006/2007 18 16 14 Severidade (%) 12 10 8 6 4 2 0 Rhodax Mikal Testemunha Quadris Quadris Mikal Rhodax Testemunha Quadris Rhodax Testemunha Mikal 2005 2006 2007 Tratamentos Figura 16: Severidade - análise comparativa de todas as modalidades em ensaio ao longo dos três anos 13

Conclusões Os resultados do presente ensaio não foram suficientes para evidenciar algumas formulações face às restantes. Face ao exposto, pese embora o ensaio não ter sido conclusivo, é possível retirar algumas ilações do presente trabalho: é evidente haver alguma eficácia na realização de tratamentos face à opção de não tratar, independentemente do fungicida utilizado; anualmente, a incidência e severidade de P. viticola são influenciadas pelas condições meteorológicas verificadas com realce para a ocorrência de precipitação. Tal facto justifica a realização de tratamentos de carácter preventivo todos os anos em locais onde se verifique a presença da doença. Bibliografia consultada AMARO, P., ABOIM INGLEZ, M. E FREITAS, J. (2004). Escoriose. In Manual Técnico de Protecção Integrada da Vinha na Região Norte. 2ª edição MADRP.88-91. EPPO. 1995. Guideline for the efficacy evaluation of fungicides-phomopsis viticola. PP1/55(2) English: 75-77 PEREIRA A.N., REGO C., OLIVEIRA, H., PORTUGAL J., SOFIA J., BUGARET Y., VIDAL R. e RODRIGUES R. 2010.Manual Bayvitis: A fitossanidade da videira. Bayer CropScience, Lisboa, 303 pp QUINTANS N. 2006. Avaliação da eficácia de indutores de mecanismos de defesa em relação à escoriose Phomopsis viticola Pers. e ao oídio Uncinula necator (Schw.) Burr. da videira. Relatório do Trabalho de Fim de Curso de Engenharia Agronómica do Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 50pp REGO C., NASCIMENTO T.e OLIVEIRA H., 2010. Control of grapevine wood diseases due to Botryosphaeriaceae fungi and Phomopsis viticola. Phytopathologia Mediterranea 49: 131. REGO M.C.N.F., TOMAZ I.L., FERNANDES P.A. e LIMA, A. 1993. Estudo de uma solução alternativa ao emprego de arsenito de sódio na luta contra a escoriose da videira. Publ. Lab. Pat. Veg. Veriss. Almeida, 68. 14

Agradecimento Os autores agradecem a colaboração da engª Vanda Pedroso, do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão no delineamento inicial do ensaio e na escolha e cedência da parcela para o estudo. 15