A abordagem do património cultural no contexto dos impactes sociais. Carlos Simões Nuno



Documentos relacionados
Rede de Língua Portuguesa de Avaliação de Impactes

CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA ACERCA DO PATRIMÓNIO CULTURAL.

ExpressARTE Recursos Didácticos para Aprender a Ser Mais. Igualdade de Género

Carta dos Direitos do Cliente

CÂMARA MUNICIPAL MONCHIQUE. Preâmbulo

PRIMEIROS PASSOS DA AAE EM PORTUGAL APLICAÇÃO À ESTRATÉGIA DE INVESTIMENTO DO PARQUE ALQUEVA

REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

ASSSSUNTTO Interdição, Inabilitação DATTA ASSSSUNTTO Meios de suprir o poder paternal, Tutela

Situação actual na protecção do património geológico. Paulo Pereira

Centro Histórico de Santarém: Como integrar a herança cultural nos desafios do futuro?

O Ecomuseu Municipal do Seixal como sistema de recursos patrimoniais e museais descentralizados no território

Cidades e desenvolvimento

Investigação em Doenças Neurodegenerativas JPND Divulgação e Implementação da Agenda Estratégica Reunião Informal

CARTA INTERNACIONAL DO TURISMO CULTURAL

Declaração de Brighton sobre Mulheres e Desporto

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA JUVENTUDE SOCIALISTA AÇORES

Disciplina Objectivos Conteúdos Programáticos

Índice Descrição Valor

DIREITOS HUMANOS. Concepções, classificações e características A teoria das gerações de DDHH Fundamento dos DDHH e a dignidade Humana

Política Metropolitana de Proteção da Paisagem e Promoção da Diversidade Cultural

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO DO BANCO LOCAL DE VOLUNTARIADO DE ALENQUER

CIRCULAR Nº 2 / 2013 PROCEDIMENTOS DE GESTÃO DE BENS ARQUEOLÓGICOS MÓVEIS EM TERRITÓRIO NACIONAL

Informação Pública: Valor e Limites para as Organizações Cívicas e Solidárias. Dra. Teresa Salis Gomes ( CIVITAS )

PROJECTO DE RESOLUÇÃO N.º 28/IX SOBRE A REVISÃO DA POLÍTICA COMUM DAS PESCAS

REGULAMENTO SOBRE DISTRIBUIÇÃO, AFIXAÇÃO E INSCRIÇÃO DE MENSAGENS DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA CONCELHO DE CAMINHA

Decreto n.º 4/2005 Convenção Europeia da Paisagem, feita em Florença em 20 de Outubro de 2000

Convenção Europeia da Paisagem Florença 20.X.2000

O DIREITO DE AUTOR E A DISPONIBILIZAÇÃO DE OBRAS AO PÚBLICO ATRAVÉS DAS REDES DIGITAIS. Cláudia Trabuco

PLANO ESTRATÉGICO (REVISTO) VALORIZAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, ATRAVÉS DE UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL

MESTRADO EM MEMÓRIA SOCIAL E BENS CULTURAIS. 1.1 Matriz Curricular Disciplinas obrigatórias

Projecto. Normas de Participação

O que são Direitos Humanos?

Regulamento de Funcionamento do Banco Local de Voluntariado de Viana do Alentejo

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 1373/XII/4ª

Normas de Funcionamento do Banco Local de Voluntariado de Sines

Ministério do Ambiente

Programa de Diálogo Intercultural para as Relações Étnico-Raciais da UNESCO no Brasil

disponibiliza a LEI DO VOLUNTARIADO

para GESTÃO DO PATRIMÓNIO:

GESTÃO DO PATRIMONIO CULTURAL E SOCIALIZACAO DO CONHECIMENTO EM ANGOLA

PAISAGEM sistematização, ordenamento e gestão em situações litorais

Metodologia de construção o da co- responsabilidade para o bem estar de todos a nível local

MMX - Controladas e Coligadas

História da cidadania europeia

Constituição da República Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social

Projecto REDE CICLÁVEL DO BARREIRO Síntese Descritiva

Análise de sustentabilidade da empresa nos domínios económico, social e ambiental

A PAISAGEM COMO ELEMENTO DA IDENTIDADE E RECURSO PARA O DESENVOLVIMENTO

Lei n.º 66/98 de 14 de Outubro

Waldir Mantovani

Princípios de Bom Governo

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL

Engenharia de Segurança 2/12

UNESCO Brasilia Office Representação no Brasil Declaração sobre as Responsabilidades das Gerações Presentes em Relação às Gerações Futuras

REGULAMENTO INTERNO DE FUNCIONAMENTO DO BANCO LOCAL DE VOLUNTARIADO DE CAMINHA

PROPOSTA DE REVISÃO CURRICULAR APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA POSIÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL

MINISTÉRIO DO AMBIENTE

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 4ª CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO SUB-GRUPO DE TRABALHO DE TRATADOS INTERNACIONAIS

MATRIZ CURRICULAR CURRÍCULO PLENO

Troca de Experiência com os Formandos do Curso ODC (Angola Noruega) Angola na Avaliação Periódica Universal (UPR)

Conferência Internacional

«Sê voluntário! Isso faz a diferença»: Comissão Europeia lança o Ano Europeu do Voluntariado em 2011

A Declaração recomenda prudência na gestão de todas as espécies e recursos naturais e apela a uma nova ética de conservação e salvaguarda.

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PARA RECURSOS CULTURAIS FÍSICOS

PLANO DE PORMENOR DO DALLAS FUNDAMENTAÇÃO DA DELIBERAÇÃO DE DISPENSA DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL

A pessoa humana. Advento e Natal ESCOLA BÁSICA DO 2 E 3 CICLOS DE RATES

II SEMINÁRIO CATARINENSE PRÓ- CONVIVENCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA ABORDAGEM SÓCIO PEDAGÓGICA NA RUA

A Normalização e a Gestão do Risco

RESOLUÇÃO. Artigo 3º - O Plano de Implantação, Conteúdo Programático e demais características do referido Curso constam do respectivo Processo.

Juliana Santilli Congresso Internacional de Valorização de. Produtos Tradicionais Ponte de Lima-Portugal

PROJETO EDUCATIVO DE ESCOLA

ABAIXO-ASSINADO PARA A REUNIFICAÇÃO DAS ESCULTURAS DO PARTENON

PROJECTO DE LEI N.º 90/XII/1.ª REINTRODUZ O PASSE SOCIAL INTERMODAL

Marilia Leite Conceição

Como é que os locais e os territórios podem contribuir para o estímulo à Inovação Social? Pedro Saraiva - TAGUS - Ribatejo Interior

Sistema de Monitorização e Avaliação da Rede Social de Alcochete. Sistema de Monitorização e Avaliação - REDE SOCIAL DE ALCOCHETE

centro para as artes, ciência e tecnologia investigação, inovação e sustentabilidade

Participação pública. Impactes Ambientais 11 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

4528 Diário da República, 1.ª série N.º de agosto de 2013

Portaria n.º 827/2005, de 14 de Setembro Estabelece as condições de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM)

APRESENTAÇÃO CURSO FORMAÇÃO POLITICA PPS PR Curso Haj Mussi Tema Sustentabilidade

PROGRAMA GEODATA FOMENTO HABITACIONAL E PROMOTORES URBANISTICOS

Responsabilidade Social Empresarial e Auditoria Interna

A Carta da Qualidade da Habitação Cooperativa (Carta) é um

Indicadores Gerais para a Avaliação Inclusiva

CURSO DE FORMAÇÃO DE DIRIGENTES COOPERATIVOS. 18 a 22 de janeiro de 2016

As organizações do trabalho

Plano de Atividades

Coordenadoras formadoras: Ana Rita Canavarro e Sara Barriga Formadoras: Sara Franqueira, Susana Gomes da Silva. Objetivos:

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE SAMPAIO

DOCUMENTO DE CONSULTA PÚBLICA

Grupo Parlamentar. Projecto de Lei n.º 200XI/1ª. Isenção de obrigações contabilísticas gerais por parte das Microentidades

ESTATUTOS. Artigo 1º (Nome e Sede)

REMAx u m d e s a f i o a ç o r i a n o GT 4 REDES E PARCERIAS

Ensaio sobre o Conceito de Paisagem

REGULAMENTO DO BANCO LOCAL DE VOLUNTARIADO DE AZAMBUJA

Nuno Vitorino Faro 22 Junho 2012

Transcrição:

A abordagem do património cultural no contexto dos impactes sociais Carlos Simões Nuno

Alentejo interior tradicional, 2008

Abordagens das várias dimensões do Património Cultural no âmbito da Avaliação Ambiental - na prática da AIA - no seu possível lugar na AAE - na sua relação com os impactes sociais

Património Cultural imaterial Paisagens culturais Patrimónios pobres (etnográfico, de reconhecimento da comunidade) - escassa presença nos EIA (presença do património classificado e dos elementos de carácter arqueológico)

Património consagrado internacionalmente Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972) As paisagens culturais são bens culturais e representam as «obras conjugadas do homem e da natureza». Ilustram a evolução da sociedade humana e a sua consolidação ao longo do tempo, sob a influência das condicionantes físicas e/ou das possibilidades apresentadas pelo seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, económicas e culturais, externas e internas

- paisagem claramente definida, intencionalmente concebida e criada pelo homem - paisagem essencialmente evolutiva, resulta de uma exigência de origem social, económica, administrativa e/ou religiosa e atingiu a sua forma actual por associação e em resposta ao seu ambiente natural - paisagem cultural associativa. A inscrição destas paisagens na Lista do Património Mundial justifica-se pela força da associação a fenómenos religiosos, artísticos ou culturais do elemento natural, mais do que por sinais culturais materiais

Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (UNESCO, 2003-06) - as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões, bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados, que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural

Património reivindicado socialmente Plataforma para o Património Cultural Encontro APAI / IPA sobre Impactes no Património Cultural

Património cultural e a prática em AIA - enquadramento regulamentar e técnico - constrangimentos de operacionalização - quadro limitado de agentes - âmbito restrito de intervenção

Património Cultural e âmbito da AAE - recurso sociocultural - riscos e políticas de salvaguarda e valorização - instrumentalização

Património Cultural e AAE como processo âmbito dos impactes sociais - processos de mudança - negociação e interlocutores - Convenção de Faro Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade (Conselho da Europa, 2005 / Resolução da Assembleia da República n.º 47/2008, 12 Setembro)

Convenção de Faro - Artigo 1.º Objectivos da Convenção As Partes na presente Convenção acordam em: a) Reconhecer que o direito ao património cultural é inerente ao direito de participar na vida cultural, tal como definido na Declaração Universal dos Direitos do Homem; b) Reconhecer uma responsabilidade individual e colectiva perante o património cultural; c) Salientar que a preservação do património cultural e a sua utilização sustentável têm por finalidade o desenvolvimento humano e a qualidade de vida