ANÁLISE DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL Luana Elís de Ramos e PAULA 1 ; Raphael Nogueira REZENDE 1 ; João Evangelista de Paula NETO 2 RESUMO Os objetivos deste trabalho foram avaliar a ocorrência de acidentes do trabalho no Brasil em dez anos e verificar a influência do sexo no número de acidentes dos últimos três anos. Para isso, dados secundários do INSS contidos nos Anuários Estatísticos da Previdência Social de 2001 a 2011 foram utilizados. Os resultados apontaram que o número total de acidentes no Brasil foi crescente, o que também era esperado para o número de óbitos. Em relação aos acidentes por motivo, o destaque foi para os acidentes de trajeto que aumentaram ao longo do tempo; verificou-se também que os acidentes são mais comuns no sexo masculino. INTRODUÇÃO Nos dias atuais devido à grande competitividade é comum a pressão para aumentar a produção nas empresas e nesse cenário quem sofre as maiores consequências é o próprio trabalhador, exposto aos mais variados riscos e situações de grande desgaste físico, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de acidentes de trabalho. Estima-se que até 4% do produto interno bruto de um país sejam gastos com problemas decorrentes dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, o que caracteriza um importante problema de saúde pública mundial na atualidade (GONÇALVES, 2007). 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - Campus Muzambinho. Muzambinho/MG - Email: raphael.rezende@ifsuldeminas.edu.br; luana.paula@muz.ifsuldeminas.edu.br 2 Universidade Federal de Alfenas - Campus Poços de Caldas. Poços de Caldas/MG - Email: joaodepaula.ambiental@gmail.com
Apesar dos acidentes de trabalho representarem um importante problema de saúde pública, social e econômico, pesquisadores da área têm sido categóricos em afirmar a falta de notificação e estudo desses acontecimentos, subestimando a dimensão do problema. Uma das principais ferramentas para reconhecer e avaliar os acidentes de trabalho é por meio da sua notificação, identificando as causas de adoecimento e morte, uma vez que se obtém o número, horário de ocorrência e características dos acidentes e outras informações. Estes itens integram uma cadeia de fatos que devem ser considerados para a construção de medidas de prevenção e de controle dos acidentes (ROBAZZI et al., 2006). Assim, para buscar alternativas que reduzam os acidentes do trabalho tornam-se cada vez mais necessários estudos que interpretam de forma detalhada a incidência e as causas dos mesmos. Neste contexto os objetivos deste estudo foram avaliar a ocorrência de acidentes do trabalho no Brasil em dez anos e verificar a influência do sexo no número de acidentes do trabalho nos últimos três anos. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização desse estudo, foram utilizados dados secundários do INSS, contidos nos Anuários Estatísticos da Previdência Social (BRASIL, 2009; BRASIL, 2012) que contemplam o número de acidentes do trabalho dos anos de 2001 a 2011. A base de dados considera os acidentes de trabalho por categorias: sexo, idade, motivo do acidente, Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), acidentes com óbito, dentre outras. A avaliação dos dados para as categorias total de acidentes de trabalho, motivo do acidente (típico, trajeto ou doença) e acidentes com óbito foi realizada mediante análise e interpretação gráfica no intervalo de dez anos, de 2001 a 2011. Uma análise estatística dos dados foi realizada para a categoria de acidentes por sexo, que correspondeu a um teste de t de student considerando-se um nível de significância de 5% e analisando-se as seguintes hipóteses: existência ou não de diferença no número médio de acidentes entre homens e mulheres. O teste foi realizado no software SPSS, versão 17 e abrangeu o triênio 2009-2011.
Total de acidentes RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 1 está apresentado o gráfico do total de acidentes de trabalho e do número de acidentes com comunicação de acidente de trabalho - CAT registrada em função dos anos, de 2001 a 2011. 800.000 700.000 Total de Acidentes 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 Figura 1. Gráfico do número total de acidentes de trabalho e acidentes com CAT registrada por ano. Observando a Figura 1 verifica-se que o número total de acidentes teve um acréscimo significativo entre 2001 e 2011, cerca de 110%, com destaque para o ano de 2007, que teve um aumento relevante em relação aos anos anteriores. Isso possivelmente ocorreu porque a partir de 2007, o número total de acidentes passou a contabilizar aqueles sem CAT registrada, não comunicados ao INSS. Verifica-se que até 2007, as colunas do total de acidentes e a de acidentes com CAT registrada são coincidentes. Por este motivo, o aumento do número de acidentes com CAT registrada foi inferior ao de acidentes totais, cerca de 58%. Na análise da evolução dos acidentes em função dos anos, deve-se levar em conta o número de trabalhadores. Segundo dados do INSS, em 2001 existiam por volta de 27 milhões de trabalhadores com carteira assinada e em 2011, um valor próximo a 64 milhões. A percentagem de aumento no número de trabalhadores formais foi de 137% no período. O acréscimo no número de acidentes não acompanhou o aumento no número de trabalhadores, esta é uma boa notícia, porém ainda estamos longe de atingirmos o índice ideal de acidentes. As Figuras 2, 3 e 4 apresentam o número de acidentes de trabalho por motivo, esta categoria envolve somente os acidentes com CAT registrada. Observase que o número de acidentes típicos (Figura 2) cresceu ao longo da década, sendo
Acidentes de trajeto Acidentes típicos o ano de 2008 o que apresentou maior valor, contribuindo para o acréscimo no número total de acidentes. 500.000 450.000 400.000 350.000 300.000 250.000 200.000 Figura 2. Gráfico do número de acidentes de trabalho típicos por ano. Nota-se pela Figura 3 que o número de acidentes de trajeto tem aumento progressivamente ao longo do tempo. Os agravos ocorridos durante o deslocamento dos trabalhadores, que pode ser tanto de casa para o serviço, ou vice-versa, independentemente do meio de locomoção, apresentaram um aumento de aproximadamente 158% de 2001 a 2011, sem estabilização ou decréscimo ao longo do intervalo estudado. 110.000 90.000 70.000 50.000 30.000 10.000 Figura 3. Gráfico do número de acidentes de trajeto por ano. Verifica-se na Figura 4 um aumento no número de doenças profissionais no intervalo entre 2004 e 2006 e decréscimo após este período, sendo o valor final do período, 2011, inferior ao encontrado para os anos iniciais. Isso significa que houve um decréscimo do número de doenças profissionais, o que provavelmente ocorreu devido à crescente preocupação das empresas com a saúde do trabalhador, realizando exames periódicos para acompanhamento dos mesmos.
Óbitos Doenças 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 Figura 4. Gráfico do número de doenças profissionais por ano. anos. Na Figura 5 está apresentado o gráfico do número de óbitos em função dos 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 Figura 5. Gráfico do número de óbitos em acidentes de trabalho por ano. Na Figura 5 verifica-se que, em geral, o número de óbitos dos últimos 10 anos permaneceu constante, apesar do aumento no número total de acidentes e de trabalhadores formais. Alguns pesquisadores afirmam que existe uma forte correlação entre o número total de acidentes e os que resultam em óbito, logo, como houve acréscimo no número de acidentes, o esperado seria um aumento crescente no número de óbitos. Segundo Maragon (2009), aventa-se a hipótese de que isso seja devido à possibilidade de não se registrar os acidentes, enquanto que as mortes não podem deixar de ser informadas aos órgãos competentes. Na análise estatística realizada para verificação da diferença entre acidentes por sexo, os resultados do teste t de student apontaram que existe diferença entre o número médio de acidentes com homens (42778,31) e mulheres (17045,28), ou seja, a diferença entre as médias não é efeito do acaso, mas representa o padrão
populacional, e, neste caso a evidência amostral é a de que ocorrem mais acidentes com homens do que com mulheres. Este resultado reflete a composição do mercado de trabalho, tendo em vista a maior presença do sexo masculino no mercado produtor em relação ao sexo feminino. Com isso, os homens adultos, que detêm maior força de trabalho produtiva, apresentam-se como grupo de maior vulnerabilidade para os acidentes de trabalho (BRASIL, 2006; IWAMOTO et al., 2011). CONCLUSÕES Diante dos resultados pode-se concluir que: o número total de acidentes no Brasil foi crescente ao longo de dez anos contabilizados pelo INSS; a não notificação dos acidentes ainda é um problema no país; em relação à categoria acidentes por motivo, o destaque foi para os acidentes de trajeto, que aumentaram progressivamente ao longo do período, ponto este chave para atuação de projetos de redução de acidentes no país; os acidentes ocorrem mais frequentemente com os homens. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Notificação de acidentes do trabalho fatais, graves e com crianças e adolescentes. Brasília, DF, 2006.. Ministério da Previdência e Assistência Social. Anuário estatístico da previdência social. Suplemento Histórico 2008. Brasília, 2009.. Ministério da Previdência e Assistência Social. Anuário estatístico da previdência social 2011. Brasília, 2012. GONÇALVES, J. A. Acidente de trabalho entre a equipe assistencial multiprofissional: uma avaliação da subnotificação. [Dissertação]. Belo Horizonte. Universidade Federal de Minas Gerais; 2007. IWAMOTO, H. H et al. Acidentes de trabalho fatais e a qualidade das informações de seus registros em Uberaba, em Minas Gerais e no Brasil, 1997 a 2006. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 36 (124): 208-215, 2011. MARANGON, C. Estatísticas dos acidentes de trabalho. São Paulo: Livemax; 2009. Disponível em: <http://www.areaseg.com/estatisticas/>. Acesso em 10 de agosto de 2015. ROBAZZI, M. L. C. C. et al. O prontuário hospitalar auxiliando na identificação da violência no trabalho. Revista de Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, p. 499-505, out./dez. 2006.