CAPTURA DE DIÓXIDO DE CARBONO EM ALTAS TEMPERATURAS POR MEIO DA REAÇÃO DE CARBONATAÇÃO DO ORTOSSILICATO DE LÍTIO

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Transcrição:

CAPTURA DE DIÓXIDO DE CARBONO EM ALTAS TEMPERATURAS POR MEIO DA REAÇÃO DE CARBONATAÇÃO DO ORTOSSILICATO DE LÍTIO S. M. AMORIM 1, M. D. DOMENICO 1, T. L. P. DANTAS 2, H. J. JOSÉ 1 e R. F. P. M. MOREIRA 1 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos 2 Universidade Federal do Paraná, Departamento de Engenharia Química E-mail para contato: amorim_sm@yahoo.com.br RESUMO Uma das mais promissoras técnicas de captura de CO 2 em altas temperaturas consiste na sua separação por meio da reação de carbonatação com um sólido inorgânico. Neste trabalho, foi avaliada a cinética da captura de CO 2 do ortossilicato de lítio (Li 4 SiO 4 ) à pressão atmosférica na faixa de temperatura de 500 a 900 ºC. O sólido (97,5 % de pureza) foi caracterizado pelas análises de estrutura porosa, difração de raios X, microscopia eletrônica de varredura e análise térmica. A análise de parâmetros termodinâmicos indicou que a captura pelo Li 4 SiO 4 é fortemente dependente da temperatura, sendo o sólido capaz de adsorver 36,7 % CO 2 em massa na temperatura de equilíbrio (723 C). De acordo com o ensaio não-isotérmico, a reação de carbonatação ocorre na faixa de 500-735 C, sendo que em temperaturas acima de 735 ºC ocorre a reação de descarbonatação. Os ensaios isotérmicos mostraram que o aumento da temperatura favorece a reação, e, em altas temperaturas, é possível capturar 35 % CO 2 em massa, valor muito próximo à capacidade teórica máxima. 1. INTRODUÇÃO A reforma a vapor do metano e a gaseificação de carvão mineral, realizados em altas temperaturas (700-900 C), têm como produto o dióxido de carbono e a sua retirada do meio reacional, além de aumentar a concentração dos produtos gasosos desejados, ainda melhora a eficiência dos processos (Halabi et al., 2011). Uma das mais promissoras técnicas de captura de dióxido de carbono consiste na sua separação por meio da reação reversível com um adsorvente. Sólidos como o carvão ativado e as zeólitas, por exemplo, têm sido largamente estudados, porém, as baixas temperaturas de equilíbrio de adsorção (25-150 ºC) limitam a sua aplicação. O óxido de cálcio (CaO), por outro lado, é capaz de capturar uma considerável quantidade de CO 2 em altas temperaturas (600-700 ºC), mas apresenta baixa estabilidade em repetidos ciclos de carbonatação/descarbonatação e necessita de alta energia para sua regeneração (950 ºC) (Yin et al., 2010). As cerâmicas a base de lítio tais como o óxido de lítio (Li 2 O), o zirconato de lítio (Li 2 ZrO 3 ), o silicato de lítio (Li 4 SiO 4 ), o aluminato de lítio (Li 5 AlO 4 ), a ferrita de lítio (LiFeO 2 ) e Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 1

o titanato de lítio (Li 4 TiO 4 ) têm sido estudadas para a captura de CO 2 (Ortiz-Landeros et al., 2012). O Li 2 O apresenta a maior capacidade de captura por unidade de massa (valor teórico de 147,3 %), porém, sua alta reatividade e corrosão limitam o seu uso. O Li 5 AlO 4 também se destaca pela alta capacidade (valor teórico de 70,0 % em massa) e ampla faixa de operação (200-700 ºC), contudo, devido ao efeito de sinterização, responsável por reduzir a área superficial, ocorre a diminuição da reatividade do sólido (Ávalos-Rendón et al., 2009). A alta capacidade do Li 2 SiO 3 (valor teórico de 48,9 % em massa) não o torna competitivo para captura em altas temperaturas, pois a temperatura de equilíbrio da reação com CO 2 é de 260 C (Nakagawa et al., 2003). O Li 4 TiO 4, o LiFeO 2 e o Li 2 ZrO 3 possuem as menores capacidades teóricas de captura com valores iguais a 31,5 %; 23,2 % e 28,7 % em massa, respectivamente. Nakagawa et al. (2003) reportaram que a temperatura de equilíbrio da reação do LiFeO 2 é relativamente baixa (510 C) se comparada com a de outras cerâmicas de lítio como o Li 2 ZrO 3 (715 C) e o Li 4 SiO 4 (720 C). Dentre os compostos a base de lítio, o ortossilicato de lítio se destaca como um material promissor nesta aplicação, pois, apresenta uma boa capacidade de captura (valor teórico de 36,7 % em massa) de acordo com a reação de carbonatação Li 4 SiO 4(s) + CO 2(g) Li 2 SiO 3(s) + Li 2 CO 3(s), rápida cinética de carbonatação/descarbonatação, excelente estabilidade após vários ciclos e boas propriedades mecânicas (Seggiani et al., 2011; Wang et al., 2011). Muitos autores têm estudado métodos de síntese para produzir este sólido adsorvente (Pfeiffer et al. 1998; Chang et al., 2001; Bretado et al., 2005; Wang et al., 2011), mas nenhum trabalho foi publicado explorando as alternativas já existentes no mercado. Neste trabalho, foi realizada a caracterização do ortossilicato de lítio obtido comercialmente, com o objetivo de analisar as propriedades físico-químicas e a cinética de adsorção do CO 2. 2. SEÇÃO EXPERIMENTAL 2.1. Materiais O ortossilicato de lítio (Li 4 SiO 4 ) utilizado neste estudo foi produzido pela Chemetall e apresenta-se na forma de um pó cristalino com uma pureza de aproximadamente 97,5 %. Os gases utilizados nas análises termogravimétricas foram fornecidos pela White Martins Ltda: nitrogênio (99,996 vol. % de pureza) e dióxido de carbono industrial. 2.2. Métodos A área superficial do sólido foi calculada pelo método BET e a isoterma de adsorção/dessorção (a qual relaciona o volume de N 2 adsorvido em equilíbrio com sua pressão parcial na fase gasosa) foi obtida utilizando o equipamento Nova 2200e (Quantachrome). O tamanho e a morfologia das partículas foram determinados na análise de microscopia eletrônica de varredura (MEV) utilizando um microscópio JEOL JSM-6390LV. As fases cristalinas presentes no sólido foram encontradas por meio da análise de difração de raios X (DRX), a qual foi conduzida em um Difratômetro X Pert (Philips) com scan de 0,038/s e radiação de Cu Kα. A análise de decomposição térmica do sólido foi realizada em um analisador termogravimétrico Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 2

DTG-60 (Shimadzu) com a finalidade de identificar a presença de impurezas na estrutura do Li 4 SiO 4. A análise consistiu em um aquecimento com taxa de 5 C/min desde a temperatura ambiente até 950 C, em atmosfera de N 2. Os experimentos de captura de CO 2 foram realizados no analisador termogravimétrico DTG-60 (Shimadzu) em duas etapas. Primeiramente, foi conduzida uma análise térmica dinâmica, na qual o sólido foi aquecido a 10 C/min em uma atmosfera com 100 % de CO 2, desde a temperatura ambiente até 1000 C. O fluxo de alimentação de CO 2 no equipamento foi mantido constante e igual a 200 ml/min. Na sequência, os experimentos isotérmicos de carbonatação foram conduzidos numa faixa de 500 à 730 ºC utilizando um fluxo de 200 ml/min de CO 2. Antes de cada ensaio, o sólido foi submetido a um pré-tratamento para eliminar substâncias indesejáveis em sua superfície. O pré-tratamento consistiu em um aquecimento com taxa de 5 C/min desde a temperatura ambiente até 750 C em atmosfera de N 2. As reações de equilíbrio termodinâmico entre o ortossilicato de lítio e dióxido de carbono em diferentes temperaturas foram determinadas teoricamente utilizando o programa FactSage 6.3 (FACT - Facility for the Analysis of Chemical Thermodynamics, versão disponibilizada online). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Caracterização A análise textural do ortossilicato de lítio gerou uma isoterma de adsorção/dessorção de N 2 do tipo II (Figura 1) típica de adsorvente não-poroso ou macroporoso. Nesse tipo de isoterma, a formação da monocamada em baixas pressões parciais tem como processo dominante a adsorção das moléculas. Já em altas pressões parciais a adsorção passa a ocorrer em multicamadas e a espessura do adsorbato aumenta progressivamente até que a pressão de condensação seja atingida (Leofanti et al., 1998). Figura 1 Isoterma de adsorção/dessorção de N 2 a 77K do Li 4 SiO 4. Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 3

A área superficial específica determinada pelo método BET apresentou um valor de aproximadamente 11 m²/g, o que concorda com a classificação do sólido como não-poroso. Uma pequena área superficial pode ser um fator limitante na carbonatação, pois o CO 2 pode não ter acesso a toda área ativa do sólido, havendo a necessidade de difusão do gás através da camada de produto ou difusão dos íons de lítio e oxigênio até a superfície para que a reação prossiga. De acordo com a análise de MEV mostrada na Figura (a), o Li 4 SiO 4 possui densas partículas poliédricas irregulares e em alguns pontos aglomeradas com diferentes tamanhos, que variam até aproximadamente 350 µm. A aproximação na Figura 2 (b) mostra a superfície de uma partícula com aspecto liso, confirmando a baixa área superficial encontrada pela análise textural. (a) (b) Figura 2 Análises de MEV do Li 4 SiO 4 com aproximações de 100x (a) e 7000x (b). O difratograma de raios X do Li 4 SiO 4 ortossilicato de lítio (Figura 3) apresentou picos característicos das fases cristalinas do material (Li 4 SiO 4 - JCPDS 37-1472), metassilicato de lítio (Li 2 SiO 3 - JCPDS 83-1517), carbonato de lítio (Li 2 CO 3 - JCPDS 83-1454), hidróxido de lítio hidratado (LiOH.H 2 O - JCPDS 76-1073) e dióxido de silício (SiO 2 - JCPDS 82-1568). Figura 3 Difratograma de raios X do Li 4 SiO 4. Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 4

A presença dos compostos cristalinos LiOH.H 2 O, Li 2 CO 3 e SiO 2 pode ser explicada pela reação do Li 4 SiO 4 com água na forma de vapor em temperatura ambiente conforme estudado por Ortiz-Landeros et al. (2011) e/ou com dióxido de carbono conforme estudado por Kato et al. (2005). As reações com água e dióxido de carbono ocorrem em temperatura ambiente e de forma lenta, portanto, a sua ocorrência pode ser atribuída ao tempo que a amostra ficou armazenada antes da sua utilização. Na análise de decomposição térmica do ortossilicato de lítio, mostrada na Figura 4, foram identificadas quatro etapas onde ocorre a perda de massa. As etapas 1 e 2 consistem na eliminação da água presente na superfície do sólido conforme reportado por Nakagawa et al. (2003) e Cruz et al. (2006). A etapa 3 é atribuída ao processo de desidroxilação do Li 4 SiO 4 (Pfeiffer et al., 1998; Chang et al., 2001). A presença de hidróxido de lítio foi detectada na análise de DRX para o ortossilicato de lítio comercial (Figura 3), o que concorda com o resultado da análise de decomposição térmica aqui mostrada. A descarbonatação é a quarta e última etapa na análise de decomposição térmica e a presença do CO 2 no material também confirmou o resultado obtido na análise de DRX na qual foram identificados os produtos cristalinos Li 2 CO 3 e SiO 2. A perda total de massa resultante do aquecimento do ortossilicato de lítio entre as temperaturas de 28 ºC e 950 ºC foi igual a 12 %, indicando a presença de impurezas e tornando necessária a realização de um pré-tratamento antes dos experimentos de carbonatação. Figura 4 Análise térmica dinâmica do Li 4 SiO 4 em atmosfera de nitrogênio. 3.2. Equilíbrio Termodinâmico As reações de equilíbrio termodinâmico entre o ortossilicato de lítio e dióxido de carbono obtidas pelo programa FactSage 6.3 são apresentadas na Tabela 1. Verificou-se que o adsorvente reage com CO 2 gerando diferentes produtos, dependendo da faixa de temperatura da reação. Ainda, foi observado que a relação estequiométrica CO 2 :Li 4 SiO 4 diminui com o aumento da Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 5

temperatura, o que é um aspecto desfavorável do ponto de vista da captura de CO 2. Por outro lado, foi verificado que as reações de carbonatação são muito lentas em temperaturas baixas (25-262 C). Tabela 1 Reações entre Li 4 SiO 4 e CO 2 a diferentes temperaturas Faixa Temperatura (ºC) Reação 25-228 Li4SiO 4 2CO2 3Li2CO3 SiO2 229-262 2Li4SiO 4 3CO2 3Li2CO3 Li2Si2O5 262-723 Li4SiO 4 CO2 Li2CO3 Li2SiO 3 724-1000 Etapa de descarbonatação 3.3. Cinética da Reação de Carbonatação De acordo com a análise térmica dinâmica do ortossilicato de lítio, mostrada na Figura 5, a faixa de temperatura na qual ocorreu a carbonatação do Li 4 SiO 4 está entre 500 e 735 C. Ainda, verificou-se que nesta faixa, a variação da massa foi de aproximadamente 33%, valor próximo à capacidade teórica máxima calculada para este sólido (36,7 % em massa). Figura 5 Análise térmica dinâmica do Li 4 SiO 4 em atmosfera de CO 2. O fenômeno de descarbonatação do Li 4 SiO 4, por sua vez, ocorreu a partir de 735 C, temperatura próxima aquela encontrada na análise teórica dos produtos gerados pelo programa FactSage 6.3. A massa final do sólido foi menor do que a inicial, o que significa que em temperaturas acima de 950 C ocorreu um processo de decomposição, dado pela equação Li 4 SiO 4(s) Li 2 SiO 3(s) + Li 2 O (g) (Cruz et al., 2006). O mecanismo para captura de CO 2 nos compostos de lítio parece ocorrer em duas etapas. Primeiramente, ocorre a reação do CO 2 na superfície da partícula até a completa formação da Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 6

camada de produtos, composta principalmente por carbonato de lítio (Li 2 CO 3 ). Na segunda etapa, a reação passa a ser controlada por processos difusivos, seja pela difusão do lítio nos produtos da reação ou difusão do CO 2 pela camada de Li 2 CO 3 (Ortiz-Landeros et al. 2012). De acordo com as isotermas mostradas na Figura 6, a cinética da reação de carbonatação foi muito rápida no início, devido à reação do CO 2 na superfície exposta do Li 4 SiO 4. À medida que a reação avança, a velocidade diminuiu devido a limitações difusivas. Contudo, com o aumento da temperatura, a carbonatação ocorreu mais rapidamente e a limitação pelos processos difusivos foi praticamente eliminada. Segundo Huang e Daugherty (1987), esse comportamento decorre da sinterização do carbonato de lítio em altas temperaturas (acima de 700 C) e provoca o aumento na área superficial das partículas em contato com a atmosfera gasosa. Na temperatura de 730 C, o Li 2 CO 3 encontra-se fundido, facilitando a difusão através desse produto. Figura 6 Cinética da reação de carbonatação do Li 4 SiO 4 em diferentes temperaturas. 4. CONCLUSÕES Neste trabalho estudou-se a aplicação de uma cerâmica de lítio (Li 4 SiO 4 ) comercial na captura de dióxido de carbono em altas temperaturas. A ampla faixa de temperatura de carbonatação (500-735 C), a possibilidade de regeneração em temperaturas mais baixas (735 C) se comparado com outros sólidos estudados para o mesmo fim e sua a alta capacidade de captura de CO 2 (35% em massa de CO 2 ) tornam esse sólido comercial competitivo para aplicação na captura de CO 2 em altas temperaturas. 5. REFERÊNCIAS ÁVALOS-RENDÓN, T.; CASA-MADRID, J.; PFEIFFER, H.. Thermochemical capture of carbon dioxide on lithium aluminates (LiAlO 2 and Li 5 AlO 4 ): A new option for the CO 2 absorption. J. Phys. Chem. A, v. 113, n. 25, p. 6919-6923, 2009. Área temática: Engenharia de Reações Químicas e Catálise 7

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