Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: Universidade Federal da Paraíba Brasil

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Transcrição:

Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada ISSN: 1519-0501 apesb@terra.com.br Universidade Federal da Paraíba Brasil Nunes de Sousa, Fátima Regina; Soares Taveira, Giannina; Dantas de Almeida, Rossana Vanessa; Nascimento Padilha, Wilton Wilney O aleitamento materno e sua relação com hábitos deletérios e maloclusão dentária Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, vol. 4, núm. 3, setembro-dezembro, 2004, pp. 211-216 Universidade Federal da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63740309 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Artigo Original O Aleitamento Materno e sua Relação com Hábitos Deletérios e Maloclusão Dentária THE BREASTFEEDING AND RELATIONSHIP BETWEEN MALOCCLUSION AND DELETERIOUS ORAL HABITS Fátima Regina Nunes de SOUSA* Giannina Soares TAVEIRA** Rossana Vanessa Dantas de ALMEIDA*** Wilton Wilney Nascimento PADILHA*** RESUMO Este trabalho objetivou identificar e relacionar a presença de maloclusões dentária, hábitos bucais deletérios e caracterizar a forma e período de aleitamento materno. Foram examinadas 126 crianças entre 2 e 6 anos, de ambos os gêneros, com dentição decídua completa e matriculadas em creches municipais de João Pessoa/PB. Ao exame clínico foram diagnosticados a presença de mordida cruzada posterior, mordida aberta, sobremordida, sobressaliência e topo. Mediante formulário direcionado aos pais, coletou-se informações em relação à presença de hábitos bucais deletérios e sua freqüência (sucção digital, uso de chupeta, onicofagia e morder objetos), bem como o tipo e o período de duração do aleitamento materno. Observou-se que 45 (35,71%) das crianças possuíam maloclusão dentária, e destas 17 (37,78%) apresentavam mordida aberta anterior. Verificouse a presença de sucção digital em 24 (16,78%), uso de chupeta 71 (49,65%), onicofagia em 22 (15,38%) e o hábito de morder objetos em 26 (18,18%). A amamentação mista foi a mais freqüente em 92 (73,02%), seguida da natural 26 (20,63%). Relataram o uso de amamentação natural inferior a seis meses de idade em 60 (47,62%). Na análise pelo teste não paramétrico do qui-quadrado observou-se significância estatística (p<0,01) entre presença de maloclusão e os hábitos estudados (chupeta, onicofagia, morder objetos e sucção digital), e entre o período de amamentação e presença de hábito deletério (p <0,05). Concluiu-se que: a) a duração insuficiente do aleitamento natural está associada à presença de hábitos de sucção persistentes em crianças com a dentição decídua completa e; b) a presença dos hábitos estudados (chupeta, onicofagia, sucção digital e morder objetos) está associada à ocorrência da maloclusão. ABSTRACT This study had the purpose to identify and to relate cases of malocclusion, deleterious oral habits and period and way of breastfeeding. 126 children between 2 to 6 years old, from both genders, were examined. All of them with all deciduous teeth and studying at publics nurseries from João Pessoa/PB. Cross bite, open bite and overbite were diagnosed during clinical examination. In a questionnaire sent to the parents, were asked questions about probably existing deleterious oral habits and its frequency (thumb sucking, nursing nipple, nail biting and to bite objects), such as the period and way of breastfeeding. It was observed that 45 (35.71%) of the children had malocclusion and 17 (37.78%) from these had open bite. It was also observed that 24 (16.78%) practiced thumb sucking, 71 (49.65%) used nursing nipple, 22 (15.38%) bite their nails and 26 (18.18%) used to bite objects. Breastfeeding with also bottle-feeding were used by 92 (73.02%) children, and only natural breastfeeding was used by 26 (20.63%) children. According to the questionnaire, 60 (47.62%) used breastfeeding among children under 6 months old. According to the non-parametric chi squared test, there was a statistical significance (p<0.01) between malocclusion and and the studied habits (thumb sucking, nursing nipple, nail biting and to bite object), and between breastfeeding period and oral deleterious habits (p< 0.05). Concluded that: a) the insufficient duration of the breastfeeding is associated with the presence of persistent habits of suction in children with all deciduous teethe; b) the presence of the studied habits (thumb sucking, nursing nipple, nail biting and to bite objects) is associated with the occurrence of the malocclusion. DESCRITORES Aleitamento materno; Maloclusão; Hábitos deletérios. DESCRIPTORS Breastfeeding; Mallocclusion; Oral habits. * Cirurgiã-Dentista. ** Bolsista PIBIC/CNpQ/UFPB. Aluna do Curso de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba. *** Professora de Odontopediatria da FACIMP-MA.

INTRODUÇÃO O aleitamento materno exclusivo é considerado indispensável nos seis primeiros meses de vida da criança, tanto para seu desenvolvimento físico como emocional (WALTER et al., 1996), previne a instalação de hábitos viciosos (RAMOS-JORGE et al., 2001; FERREIRA et al., 1997; ROBLES et al., 1999) e promove o crescimento e desenvolvimento normal das estruturas da face (PALUMBO, 1999; FORTE, 2000). São muitas as vantagens da amamentação: nutrição, carinho, aconchego, afeto, relação mãe/filho, proteção imunológica, respiração, sendo muito importantes também os exercícios funcionais, realizados pela língua, lábios e bochechas. O processo de amamentação natural desencadeia o trabalho de um conjunto de músculos, de modo a estimular o crescimento e o desenvolvimento ósseos que influenciam a forma da face e a harmonia dos dentes (CAMARGO, 1988). O aleitamento materno, além de alimentar o bebê, tem a função de satisfazer a sucção, devido ao esforço dos músculos exercidos durante a mamada. A não satisfação das necessidades psicoemocionais devido ao tempo inadequado de amamentação natural, leva a criança a supri-las utilizando chupetas ou o próprio polegar. Distúrbios emocionais como ciúmes, rejeição, ansiedade, ou qualquer estímulo que desequilibre o senso de segurança da criança também pode levar ao aparecimento destes hábitos. Sua persistência pode ser também, resultado do simples aprendizado, sem que existam na criança problemas emocionais (FLETCHER apud ZUANON, 2000). Os hábitos se instalam com maior freqüência em crianças que não tiveram amamentação natural, pois o impulso neural da sucção está presente desde a vida intra-uterina e é normal na criança, garantindo sua sobrevivência e sendo até mesmo considerada como a primeira fase da mastigação. Quando a criança tem a amamentação por mamadeiras, o fluxo de leite é bem maior que a amamentação natural, portanto a criança se satisfaz nutricionalmente em menor tempo e com menor esforço. A êxtase emocional com relação ao impulso da sucção não é atingido, e a criança para isso procura substitutos como o dedo, a chupeta e objetos para satisfazer-se (SERRA-NEGRA et al., 1997). A qualificação de um hábito deletério quanto o dano causado ao sistema estomatognático é resultante das variáveis freqüência, duração e intensidade. Todo hábito que perdurar após os três anos de idade ou tiver uma alta freqüência durante o dia e noite, será considerado mais deletério e capaz de causar maloclusões severas (SOARES, 1996). A mamadeira não deve ser utilizada, pois a que ele está acostumado quando mama no seio. Em casos de dificuldades com a amamentação, o leite materno deve ser ordenhado e fornecido em colheres ou copos. Até os seis meses de idade o leite materno deve ser o único alimento e líquido fornecido ao bebê e, assim que atingir essa idade, pode-se iniciar um outro tipo de alimentação (GAVA -SIMIONI et al., 2001). A necessidade fisiológica da sucção cessa entre nove e doze meses de idade podendo a necessidade psicológica permanecer por um tempo maior, por exemplo, nos momentos em que a criança está infeliz, cansada, angustiada, ansiosa ou perto a adormecer. Não há consenso que determine a idade na qual a sucção é considerada normal. Pode prolongar-se até por volta dos três anos de idade, revelando, segundo vários autores, dificuldade de ajuste social e emocional baseado no comportamento, especialmente o stress, podendo causar problemas de oclusão, tanto na dentição decídua quanto na permanente e de dicção (CAMARGO, 1988). Dentre os hábitos bucais deletérios podemos citar: sucção de polegar e outros dedos; projeção da língua; sucção e mordida do lábio; deglutição atípica; postura: má postura no sono e na vigília; onicofagia; sucção habitual de lápis, chupetas e outros objetos; bruxismo diurno e noturno; respiração bucal (QUELUZ, 2000). As maiores conseqüências em relação à oclusão são: mordida aberta, vestibularização dos incisivos centrais superiores, lábios hipotônicos, predisposição à respiração bucal, estreitamento maxilar, abóbada palatina mais profunda, assoalho nasal mais estreito, sobressaliência, sobremordida, retrusão mandibular predispondo a distooclusão (Classe II de Angle). A sucção e mordida dos lábios vêm em seguida, e geralmente é encontrada em crianças cujos pais repreendem severamente os hábitos de chupar dedo e chupeta, mas não têm consciência do por quê a criança os realiza (LINO, 1990; SERRA NEGRA et al., 1997). De acordo com dados obtidos em questionários, bem como em exames clínicos e através da literatura consultada, Robles et al. (1999) verificaram que as crianças que apresentavam tempo maior de amamentação natural demonstraram menor freqüência de hábitos bucais de sucção persistentes em comparação àquelas crianças que tiveram o período de amamentação natural abaixo do ideal consolidando uma associação positiva entre a presença de hábitos e a ocorrência de maloclusões na dentadura decídua. Serra Negra et al. (1997) constataram que há uma forte associação entre o aleitamento natural com a não instalação de hábitos bucais, pois 86,1% das crianças que não os apresentavam foram amamentadas

com hábitos de sucção que, quase em sua totalidade, tinham tido aleitamento artificial quando bebês. O presente estudo tem por objetivo verificar a influência da duração do aleitamento natural na prevalência de hábitos de sucção persistentes em crianças com a dentição decídua completa e relacionar a METODOLOGIA Foi caracterizada segundo Lakatos e Marconi (1995) como tendo uma abordagem indutiva com procedimento comparativo e estatístico. As técnicas utilizadas consistiram em documentação e observação diretas. Os instrumentos constaram de um formulário para os pais /responsáveis e exame clínico para as crianças. O universo constou de crianças regularmente matriculadas em creches públicas na cidade de João Pessoa/PB. A amostragem foi determinada por conveniência, onde participaram da pesquisa 126 crianças da faixa etária de 2 a 6 anos. Os pais/responsáveis pelas crianças autorizaram sua participação na pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Exame de oclusão dentária O exame de oclusão dentária consistiu em inspeção visual realizada sob iluminação natural, em sala de aula e obedecendo aos preceitos de biossegurança, com auxílio de um lápis preto nº 02, régua milimetrada e palito de picolé. Participaram do estudo somente as crianças com dentição decídua completa. Os indicadores da maloclusão que utilizamos foram: mordida cruzada posterior (ausente e presente), trespasse (normal, sobremordida, topo, mordida aberta, sobressaliência). Os dados foram registrados em ficha clínica. Os critérios adotados para definir as situações oclusais são descritas à seguir: 1)Mordida cruzada posterior Para a mordida cruzada posterior foram adotadas duas categorias: Ausente: existe oclusão das cúspides vestibulares inferiores com a superfície oclusal dos superiores (LINO, 1990). Presente: as cúspides vestibulares dos dentes posteriores superiores ocluem nos sulcos oclusais dos inferiores (LINO, 1990). 2) Trespases ser considerados normais até a medida de 3mm. Sobressaliência: Trespasse horizontal acima de 3mm (ARAUJO,1982) Sobremordida: Trespasse vertical acima de 3mm (ARAUJO,1982). Topo: Quando a medida for igual a zero e os dentes anteriores antagonistas apresentarem contatos nas bordas incisais. Mordida Aberta: Definiu-se a condição em que as bordas incisais dos incisivos decíduos inferiores se situam abaixo do nível das bordas incisais dos incisivos decíduos superiores, quando em relação cêntrica. Esta maloclusão foi classificada em presente ou ausente, podendo ser moderada, quando ocorrer sobremordida negativa de até 3mm e severa, diante de sobremordida negativa superior a 3mm (ARAUJO, 1982). Formulário Os pais/responsáveis responderam a um formulário constando doze itens incluindo: tipo de aleitamento, o tempo de amamentação, o tempo de uso da mamadeira, os hábitos que a criança possuía (sucção de digital, uso de chupeta, ato de morder objeto e onicofagia) e o tipo de respiração. Análise Estatística Os dados foram tabulados e submetidos á análise descritiva e de associação empregando programa GMC (versão 6.2), verificando significância ao 2 teste do x ao nível de 5%. RESULTADOS Os resultados são apresentados nas figuras que se seguem. mais de 6 meses 46% nunca 6% menos de 6 meses 48% Figura 1 - Distribuição do período de aleitamento materno

mista 73% natural 21% 59 41 17 9 artificial 6% até 6 meses 6 meses e mais Figura 2 - Distribuição dos tipos de aleitamento na amostra estudada. Presente Ausente Figura 4 - Distribuição da prevalência de hábitos deletérios, segundo o tempo de aleitamento materno na amostra estudada. 40 morder objetos 18% onicofagia 15% 31 sução digital 17% 16 8 4 18 18 8 uso de chupeta 50% Figura 3 - Distribuição dos tipos de hábitos deletérios na amostra estudada. sucção digital uso de chupeta onicofagia morder objetos Presente Ausente Figura 5 - Distribuição da prevalência dos tipos de hábitos deletérios x presença de maloclusão. TABELA 1 - Distribuição em número e percentual das prevalências de hábitos deletérios e alterações oclusais na amostra estudada. Hábitos Deletérios Variável Sim Não Total n % n % Mordida Cruzada Posterior Ausente 79 79,0 26 100,0 105 Presente 21 21,0 0 0,0 21 Normal 61 75,3 20 24,6 81 Sobremordida 5 62,5 3 37,5 8 Trespasses Sobressaliência 16 100,0 0 0,0 16 Topo 1 25,0 3 75,0 4 Mordida aberta 17 100,0 0 0,0 17 0 DISCUSSÃO Conforme pode ser visto na Figura 1 o período de aleitamento ideal - mais de seis meses - foi encontrado em 46,03% da amostra estudada. Este resultado acompanha os estudos feitos por Serra-Negra et al. (1997) que apresentaram 52,5% e Ferreira et al. (1997) com 52,6%. que 93,6% dos casos receberam aleitamento materno, valores próximos ao relatado no estudo realizado por Leite et al. (1999), que verificaram em 81% das crianças e por Palumbo et al. (1999), que encontraram 86% das crianças amamentadas no seio materno.

mista, em concordância com valores relatados por Leite et al. (1999) que encontraram 24% natural e 57% mista; e Bittencourt et al. (2001) que relataram 18% das crianças com aleitamento materno exclusivo. O aleitamento artificial desde o nascimento foi encontrado em 6,43%, valor inferior ao encontrado por Leite et al. (1999) com 19%. Na Figura 3 pode se observar à prevalência de hábitos bucais encontradas, sendo mais freqüente a sucção de chupeta (56,3%) corroborando com Bittencourt et al. (2001), com (55,6%) e Serra-Negra et al. (1997); onde (75,1%) das crianças examinadas faziam o uso da chupeta. As prevalências percentuais de tempo de aleitamento materno e presença de hábitos, mostradas na Figura 4, estão representadas em conjunto com valores obtidos em estudos anteriores disponíveis na literatura, no Quadro 1, com o objetivo de facilitar sua análise. QUADRO 1 - Distribuição encontrada na literatura para os percentuais de presença de hábitos deletérios segundo o tempo de aleitamento materno. posterior foram 21,0%, enquanto que, crianças com ausência de hábitos e com mordida cruzada posterior foram inexistentes (0,0%), concordando com Serra-Negra et al., (1997), que verificaram em seu estudo 23,9% e 7,0% respectivamente. A relação da presença de hábitos deletérios com a ocorrência de trespasses observados na Tabela 1 foi verificada no estudo de Serra-Negra et al. (1997), relatando para mordida aberta 31,9% e sobressaliência 15,6%, como o trespasse vertical e horizontal mais freqüentes, respectivamente. CONCLUSÕES Nas condições do estudo, concluiu-se que: 1) A duração insuficiente do aleitamento natural está associada à presença de hábitos de sucção persistentes em crianças com a dentição decídua completa e; 2) A presença dos hábitos estudados (chupeta, onicofagia, sucção digital e morder objetos) está associada à ocorrência da maloclusão. REFERÊNCIAS ARAUJO, M. C. M. Ortodontia para clínicos programa préortodonticos. 2. ed. São Paulo: Santos, 1982. 286 p. BITTENCOURT, L. P; MODESTO, A; BASTOS, E. P. S; Influência do aleitamento sobre a freqüência dos hábitos de sucção. Revista Brasileira de Odontologia, Rio de Janeiro, v. 58, n. 3, p. 191-193, maio./ jun. 2001. Como pode ser observado existe semelhança entre os valores da literatura. Na análise pelo teste não paramétrico do qui-quadrado observou-se que o tempo de aleitamento materno e presença de hábito deletério apresentou associação estatisticamente significante ao nível de 5% (p<0,05). A Figura 5 nos mostra a relação entre a prevalência dos diferentes tipos de hábito com a maloclusão, sendo identificada uma associação no teste do qui-quadrado ao nível de 1% (p<0,01) para a presença de maloclusão e os hábitos de morder objetos, onicofagia, chupeta e sucção digital. Estripeaut et al. (1989) e Soares et al. (1996) relatam que todos os hábitos deletérios mostram significante relação com a maloclusão na dentição permanente, mas se o hábito for abandonado até o final dos quatro anos de idade, a maloclusão pode ser autocorrigida sem prejudicar a disposição dos dentes no arco dentário. Na análise da relação de hábitos deletérios com o tipo de maloclusão, observou-se na Tabela 1 que CAMARGO, M. C. F., Atendimento longitudinal e continuado na clínica odontopediatria, In: BAUSELLS, J., Odontopediatria - Procedimentos clínicos. São Paulo: Santos, p. 75-78, 1988. ESTRIPEAUT, L. E.; HENRIQUES, J. F. C.; ALMEIDA, R. R., Hábito de sucção de polegar e má oclusão - apresentação de um caso clínico. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 371-375, abr./jun. 1989. FERREIRA, M. I. D. T.; TOLEDO, O. A.;Relação entre tempo de aleitamento materno e hábitos bucais. Rev ABO Nac, São Paulo, v. 5, n. 6, p. 317-320, out. /nov. 1997. FORTE, F. D. S; FARIAS, M. M. A. G; BOSCO, V. L.; Aleitamento materno e hábitos de sucção não- nutritiva. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, João Pessoa, v. 4, n. 1/3, p. 43-47, dez. 2000. GAVA-SIMIONI, L. R; JACINTO, S. R; GAVIAO, M. B. D; PUPPIN RONTANI, R. M; Amamentação e odontologia. Jornal Brasileiro de Odontopediatria e Odontologia do Bebê, Curitiba, v. 4, n. 18, p. 125-131, mar./abr. 2001. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A; Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, p.270, 1995. LINO, A. P. Ortodontia preventiva básica. São Paulo: Artes Médicas, 1990.168 p.

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