CLEITON LOPES DA SILVA,

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Vistos e examinados os autos.

JACIR FRANCISCO BARBIERO MINISTERIO PUBLICO A C Ó R D Ã O

Transcrição:

Comarca de Taquara 3ª Vara Judicial Processo nº 070/204.0001920-8 Capitulação do Delito: art. 168, caput, do Código Penal Autor: Ministério Público Réu: Cleiton Lopes da Silva Juíza: Luciana Barcellos Tegiacchi Data: 24.04.2007 Vistos os autos. O Ministério Público, com base no inquérito policial nº 1678/04, da Delegacia de Polícia de Taquara, denunciou CLEITON LOPES DA SILVA, brasileiro, casado, maitre, com 23 anos de idade na época do fato, nascido em 24.11.1981, natural de Palmeira das Missões-RS, RG nº 3071518082, filho de Hildor Ignácio da Silva e de Zilma Lopes da Silva, residente na Rua São João, 1299, em Taquara-RS, pela prática do delito previsto no art. 168, caput, do Código Penal. Narra a denúncia: No dia 03 de janeiro de 2003, por volta das 19h, na Rua Guilherme Lahm, nº 1351, Cidade de Taquara-RS, mais precisamente nas dependências da Locadora Vídeo Visão, o denunciado Cleiton Lopes da Silva, motivado pela cupidez, apropriou-se de quatro DVD s intitulados A Era do Gelo, Homem- Aranha, Stars Wars e Club Dancing mercadoria avaliada indiretamente, em R$ 411,40 (quatrocentos e onze reais e quarenta centavos), consoante se infere do auto de avaliação da fl.12. Segundo o apurado, nas oportundiades de tempo e local acima mencionadas, o denunciado Cleiton Lopes da Silva locou os referidos CD s e DVD s na locadora de vídeo da vítima Alexandre Berg Godinho, devendo devolvê-los no dia 06.01.2003, contudo não restituiu a dita mercadoria ao seu titular, apossando-se desta definitivamente, como se seu proprietário fosse.

A denúncia foi recebida em 09.02.2005 (fl.02). Após a expedição de diversos ofícios para localização do réu, este foi citado e compareceu ao interrogatório, dizendo que não devolveu a mercadoria para a vítima, porque foi agredido por ela e ficou com medo. Defesa prévia consta na fl.63. Na audiência de instrução, foi ouvida a vítima. Certificados os antecedentes do acusado (fls.6870), no prazo do art. 499, do Código de Processo Penal, o Ministério Público e a Defesa nada postularam. Em alegações finais, o agente ministerial pediu a condenação do réu, pois comprovadas a materialidade e a autoria do delito. Já a Defesa sustentou, em síntese, que: a) a denúncia é inepta, diante da divergência entre a data do fato e aquela que consta na peça de acusação; b) os bens são irrelevantes, não havendo lesão ao patrimônio alheio, o que gera atipicidade da conduta; c) deve ser considerada a figura privilegiada do delito; d) há impossibilidade de condenação com base apenas no relato da vítima; e) é aplicável o princípio da insignificância, diante do pequeno valor da coisa. Pediu a absolvição do réu. É o relatório. CLEITON LOPES DA SILVA foi acusado da prática de apropriação indébita. Inicialmente afasto a alegada inépcia da denúncia, porque o dia 03.01.2003 foi a data em que o réu retirou os DVDs da locadora, sem a intenção de devolvê-los. Essa data é a mesma referida no termo da fl. 10 e que consta na nota da fl.12.

A materialidade do delito está comprovada pela comunicação de ocorrência da fl.08, auto de avaliação indireta da fl.17, bem como pelo depoimento da vítima. Já a autoria decorre das próprias palavras do réu, que acabam por corroborar as da vítima. Disse o acusado, no interrogatório, que tentou devolver os DVDs 10 ou 15 dias depois de ter locado o material, mas foi impedido, diante de agressões da vítima. E como estava desempregado, resolveu não devolver as fitas, tendo vendido a mercadoria por R$ 10,00 cada uma (fl.60). Assim, acabou por confessar que inverteu o caráter da posse, passando a dispor dos DVDs como se fossem seus, praticando o delito. Note-se que a versão acerca das agressões supostamente perpetradas pela vítima não convence, seja pela ausência de prova, seja porque aparecem como mera desculpa para o fato da venda da mercadoria. Ademais, a vítima sequer teve desentendimento com o acusado, pois era seu cliente na locadora (fl.67). Portanto, o denunciado deve responder pela infração penal, não havendo atipicidade alegada pela Defesa, na medida em que o valor é superior a um salário mínimo nacional, quantia que representa lesão ao patrimônio do proprietário da locadora. Por fim, cumpre registrar que não existe previsão legal para o crime privilegiado na hipótese dos autos.

PELO EXPOSTO, julgo procedente a denúncia para CLEITON LOPES DA SILVA nas sanções do art.168, caput, do Código Penal. Passo a aplicar a pena. Analisando os autos, verifico que o réu não possui antecedentes criminais, já que não consta condenação transitada em julgado. Não há elementos para atribuir valor negativo à sua personalidade ou à sua conduta social. As conseqüências do delito não são graves. Embora causado algum prejuízo à vítima, não inviabilizou a sua atuação profissional. O dono da locadora em nada contribuiu para o delito. As circunstâncias do crime são próprias de infração penal contra o patrimônio. Assim, fixo a pena base em 1 ano de reclusão, que passa a ser provisória, diante da ausência de agravantes ou atenuantes. Como também não existem majorantes ou minorantes, fixo a PENA DEFINITIVA em 1 ano de reclusão. Regime de Pena: aberto Substituição: Preenchidos os requisitos do art.44, do Código Penal, substituo a pena privativa de liberdade por prestação pecuniária de um salário mínimo em favor da vítima. Situação para apelar: Como o réu respondeu ao processo em liberdade, sendo substituída a pena por restritiva de direitos, não há fundamento para sua prisão. Multa: Vai fixada em 10 dias-multa, cada um no valor de um trigésimo do salário mínimo federal vigente ao tempo do fato, dada a situação econômica do réu, segundo o art. 49, do Código Penal.

Custas pelo réu, com a exigibilidade suspensa em face da AJG a ele concedia, pois assistido pela Defensoria Pública. Após o trânsito em julgado, lance-se o nome do acusado no rol dos culpados, oficie-se ao TRE, expeça-se o PEC. Oportunamente, encaminhe-se a Ficha PJ-30 e o BIE. Registre-se. Publique-se. Intimem-se. Taquara, 24 de abril de 2007. Luciana Barcellos Tegiacchi Juíza de Direito