RELAÇÃO SOLO-VEGETAÇÃO DE ESPÉCIES PIONEIRAS DO IF SUDESTE MG, CAMPUS BARBACENA MG. Carlos Magno Guedes Azevedo¹, Santuza Aparecida Furtado Ribeiro², Glauco Santos França³, Elton Luiz Valente (in memoriam) 4. 1, 2, 3, 4. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena. 1- Introdução As espécies pioneiras são conhecidas pela sua rusticidade devido à alta resistência à radiação solar e por se desenvolverem em solos de baixa fertilidade. Elas estão preferencialmente presentes em bordas de mata, clareiras, locais abertos, onde ocorre uma maior incidência de luminosidade. E também são de grande importância na reabilitação de áreas degradadas, proporcionando condições favoráveis à biota e promovendo a neogênese do substrato. As espécies pioneiras estão associadas à sucessão que vai até o estágio clímax. São espécies que se adaptam a condições extremas de baixa fertilidade, clima e relevo, sendo utilizadas na reabilitação de áreas degradadas, mananciais e florestas atlânticas. Por apresentarem rápido crescimento, alta adaptabilidade e baixa exigência a fertilidade do solo são espécies que apresentam potencial econômico. (Valente, 2009). As relações solo-vegetação nos Neotrópicos ainda não são perfeitamente estabelecidas. A vegetação de um determinado local pode nos trazer informações sobre a composição físico-química do solo. As pesquisas realizadas sobre a relação solo e vegetação têm como objetivo entender a composição florística de determinadas áreas e sua distribuição. Palavras chave: Relação solo- vegetação; espécies pioneiras, fitossociologia. Categoria/Área: BIC (PROBIC/FAPEMIG; PIBIC/CNPq; PIBIC-Af/CNPq; PIBICTI/IF Sudeste MG) Ciências Agrárias e Ciências Ambientais 2. Objetivo Analisar a influência dos componentes físico-químicos dos solos na distribuição das espécies pioneiras presentes no Campus Barbacena.
3- Materiais e Métodos O Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena está localizado na região do Campo das Vertentes, Serra da Mantiqueira no município de Barbacena, Minas Gerais (21º 14 27 S e 43º 45 47 W). O relevo da região é montanhoso com altitude média de 1.200 m s.n.m. O clima é do tipo Cwb, de Köppen. A fitofisionomia predominante é a Floresta Estacional Semidecidual Montana, sendo encontradas também a Floresta Estacional Semidecidual Aluvial, o Cerrado e áreas de candeal (Araújo, 2009). Os solos na região são de baixa fertilidade, textura média e argilosa, forte grau de suscetibilidade à erosão, composta por diferentes tipos de solos com: 1º Cambissolo Háplico, 2º Latossolo Vermelho-Amarelo (Embrapa, 2010). Outros tipos de solos também ocorrem na região, tais como: Argissolos, Gleisolos, Organossolos e outros de ocorrência restrita. Foram demarcadas seis áreas distintas no Campus Barbacena, a saber: A1 - Mata do Ginásio; A2 - Candeial (NZ); A3_1 - Mata ciliar da Equoterapia; A3_2 - Mata de topo de morro da Equoterapia; A4 - Mata próxima à linha férrea; A5 - Mata próxima à propriedade do Sr. Picinim. Em cada área foi marcado um transecto linear de 200 metros, contendo 20 pontos demarcados por estacas de bambú, com uma distância de 10 metros entre os pontos. Foi utilizado para a amostragem fitossociológica o método de ponto quadrante, sendo analisados quatro indivíduos por ponto. Em cada quadrante realizou-se a coleta de uma amostra de cada indivíduo arbóreo. No total foram estudados 80 indivíduos por área avaliada. O critério para inclusão da planta amostrada foi a medida do CAP (circunferência à altura do peito) maior ou igual a 10 cm, considerando a árvore mais próxima de cada ponto. Foi medida ainda a distância da árvore ao ponto e estimada a altura da mesma com o auxílio de um podão telescópico. Os parâmetros fitossociológicos de cada área foram analisados com o auxílio do programa FITOPAC (Shepherd, 1994). A identificação do material vegetativo foi realizada através de consulta a herbários virtuais nacionais, ao herbário do Campus Barbacena e através de consultas a sites específicos. As amostras de solo foram retiradas próximas ao ponto quadrante, a profundidade de 0-20 cm, sendo 20 amostras simples por área para formar
uma amostra composta. As análises foram realizadas pelo laboratório de solos do Campus Barbacena, para a determinação dos seguintes parâmetros fisicoquímicos: K, P, Ca, Mg, Al, Al+ H, SB (Soma de Bases), t (Capacidade de Troca Catiônica Efetiva), T (Capacidade de Troca Catiônica), V (Saturação de Bases) M.O (Matéria Orgânica), C.O (Contração de Óxidos). Os atributos físicos analisados foram: areia total, argila e silte. 4- Resultados e Discussão As seis áreas estudadas apresentaram como característica em comum o fato de terem sofrido interferência antrópica. Entre estas intervenções pode ser citado exploração de madeira, queimadas sucessivas e áreas de aterro. Os solos das áreas estudadas não apresentaram similaridade em relação aos atributos químicos analisados (Tabela 1): Tabela 1 Características de solo analisadas em cinco áreas de Floresta Estacional Semidecidual Montana no IF Sudeste MG, Campus Barbacena. Os maiores e menores valores encontram-se sublinhados. A1; A2; A3_1; A3-2; A4; A5. A1 A2 A3_1 A3_2 A4 A5 ph em água 5,52 5,62 5,18 5,18 5,18 4,72 H + Al 1,33 2,18 3,22 3,97 3,22 6,92 Al +++ (cmolc.dm 3 ) 0,35 0,45 0,85 1,05 0,3 1,15 Ca ++ (cmolc. dm 3 ) 0,99 0,22 0,78 0,11 2,41 0,33 Mg ++ (cmolc.dm 3 ) 0,19 0,13 0,31 0,09 0,43 0,24 P (mg.dm 3 ) 1,5 2 5,39 3,1 2,5 2,9 K (mg.dm 3 ) 23 29 47 38 48 46 Soma de Bases * 1,24 0,42 1,21 0,3 2,96 0,35 T-Capacidade de troca de cátions * 2,57 2,6 2,06 4,27 6,18 7,61 t-capacidade efetiva de troca de cátions * 1,59 0,87 2,06 1,35 3,26 1,84 m-índice da saturação de alumínio (%) 22 51,7 41,3 77,8 9,2 62,5 V-Índice da saturação de bases (%) 48,2 16,2 27,3 7 47,9 9,1 Matéria orgânica (dag. kg -1 ) 1,52 1,75 2,87 2,48 3,14 3,84 C (dag.kg -1 ) 0,88 1,02 1,66 1,44 1,82 2,23 N (dag.kg -1 ) 0 0 0 0 0 0 Areia grossa (%) 36 43 28 39 27 23 Areia fina (%) 15 7 14 11 13 14 Silte (%) 17 19 10 7 21 7 Argila (%) 32 31 48 43 39 56
* cmolc.dm 3 Algumas áreas estavam localizadas em área de transição de Cerrado e Mata Atlântica, características também observadas em trabalhos realizados por Oliveira Filho, 2008. Nas áreas pesquisadas foram avaliados no total 400 indivíduos arbóreos, sendo distribuídos em 26 famílias e 81 espécies. A família Fabaceae apresentou o maior número de espécies (14), seguida de Myrtaceae (8), Asteraceae (7), Solanaceae (6), Melastomataceae (5), Myrtaceae (4) e Lauraceae (4). As áreas estudadas apresentaram 42 espécies pioneiras, o que demonstrou que estão em regeneração. Considerando os parâmetros de densidade, dominância e frequência relativas entre as 10 famílias com os maiores Valores de Importância (IV), verificou-se que Fabaceae, Asteraceae, Solanaceae e Myrtaceae foram as mais representativas. Fabaceae esteve presente nas seis áreas, e isto provavelmente tem relação com a sua capacidade de recondicionar o ambiente e realizar simbiose com microrganismos fixadores de nitrogênio (Tabela 2). Tabela 2 Características estruturais de cinco áreas de Floresta Estacional Semidecidual Montana do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena. A1 A2 A3 A4 A5 Número de espécie 30 13 38 28 30 Número de família 16 8 18 17 18 Diâmetro médio (cm) 8,84 10,2 8,3 13,81 7,09 Altura média (m) 4,73 4,33 4,68 7,78 4,53 Altura máxima (m) 12 6,8 11 20 12 H' (nats. Indivíduo -1 2,705 1,405 3,363 2,895 2,969 J' 0,796 0,548 0,924 0,869 0,873 *H = Índice de diversidade de Shannon-Wiener. A relação solo vegetação dos Neotrópicos é difícil de ser estabelecida, pois temos muitos fatores que podem ser eventuais responsáveis pela presença ou não de determinada espécie. Microclima, relevo e índice pluviométrico podem ser determinantes, porém a gênese do solo é um dos principais fatores junto à umidade (Valente, 2009). As áreas estudadas foram formadas pelo embasamento cristalino de gnaisse e granito. No geral o solo é ácido, de baixa CTC e baixa saturação de bases. Outro fator determinante foi a altitude que limitou o número de espécies em determinados lugares ou até a sua ausência.
5- Conclusão A distribuição das espécies nas áreas estudadas esteve condicionada a solos ácidos com baixa fertilidade e alto teor de alumínio, esta relação solovegetação ocorreu com a espécie Eremanthus erythropappus. Piptadenia gonoacantha, Machaerium nyctitans, Machaerium acutifolium apresentaram uma boa adaptabilidade às condições físico químicas dos solos em questão. Três espécies de Fabaceae foram importantes condicionadores de solo, pois possuem a capacidade de associação simbiótica com bactérias fixadoras de Nitrogênio (N). Solanaceae apresentou uma grande importância por se estabelecer em solos de baixa fertilidade, ph ácido, alta saturação de alumínio e insolação. Ela foi representada pelas espécies Solanum eryanthum e Solanum lycocarpum. 6- Referências Bibliográficas ARAÚJO, P. O. L. C.; Metodologia Para Adequação das Escolas Agrotécnicas à Legislação Ambiental, tese UFLA. p. 54-65, 2009. Nogueira, N.O.; Oliveira, O.M.; Martins, C.A.S.; Bernardes, C.O.; UTILIZAÇÃO DE LEGUMINOSAS PARA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer. Goiânia, v.8, N.14; p.2122, 2012. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. Conceitos de fertilidade do solo e manejo adequado para as regiões tropicais. Campinas, 2010. OLIVEIRA FILHO, A. T; VAN DEN BERG, A; SOBRAL, M.E.G; PIFANO, D.S ; SANTOS, R.M.; VALENTE, A.M; MACHADO,E.L.M.; MARTINS, J.C.; SILVA, CP.C.; Inventário Florestal de Minas Gerais: Espécies Arbóreas da Flora Nativa. Lavras: UFLA, c. 5, p. 217-418, 2008. SHEPHERD, G.J. FITOPAC 1: manual do usuário. Universidade de Campinas, Campinas. 32p, 1994.VALENTE, E.L.; Relações Solo-Vegetação No Parque Nacional da Serra do Cipó, Espinhaço Meridional, Minas Gerais, tese de doutorado. UFV. p.10-42, 2009.
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