CONFERÊNCIA: SIM OU NÃO AO TRATADO INTERGOVERNAMENTAL

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Transcrição:

Emanuel Augusto dos Santos CONFERÊNCIA: SIM OU NÃO AO TRATADO INTERGOVERNAMENTAL 17 de Fevereiro de 2012

Tópicos 1. Antecedentes do conceito 2. Definição 3. Ciclo e tendência 4. Produto potencial 5. Saldos 6. Constitucionalizar o quê? 7. Questões para refletir 2

1. Antecedentes do conceito 1997: Pacto de Estabilidade e Crescimento (Resolução do Conselho Europeu de 17 de Junho de 1997 e Regulamentos (CE) N.º 1466/1997 e (CE) N.º 1467/1007 de 7 de Julho. Objectivo: reforçar a disciplina orçamental e criar procedimentos de reporte e monitorização (PDE- Procedimento dos défices excessivos). no médio prazo, o orçamento das administrações públicas deve estar em equilíbrio ou em excedente. 2005: 1.ª revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento (Regulamentos (CE) N.º 1055/2005 e (CE) N.º 1055/2005 de 27 de Junho). A situação económica em cada Estado Membro bem como o nível da dívida pública são tidos em consideração na definição do medium-term budgetary objective (MTO). 3

1. Antecedentes do conceito 2011: 2ª revisão do : Pacto de Estabilidade e Crescimento (Regulamento (UE) Nº. 1175/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho de 16 de Novembro). Introdução de mecanismos automáticos para aplicação de sanções aos Estados-Membros que violem as regras orçamentais. Mantém-se o MTO tendo como referência o saldo estrutural que tem como limite inferior -0,5% do produto interno bruto a preços de mercado. 4

2. Definição Saldo estrutural é o saldo orçamental anual ajustado do ciclo económico e corrigido de medidas extraordinárias e temporárias annual structural balance of the general government" refers to the annual cyclically-adjusted balance net of one-off and temporary measures (Treaty on stability, coordination and governance in the Economic and Monetary Union nº.3, artº. 3º.) Elementos complementares da definição: ciclo económico, produto potencial e medidas extraordinárias e temporárias. 5

3. Ciclo e tendência Ciclo económico A actividade económica tem altos e baixos, fases de expansão e de recessão. A estas flutuações com duas fases chamam-se ciclos económicos (business cycles) Ciclo expansão recessão 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 6

1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 3. Ciclo e tendência Além do ciclo, as séries de dados dos principais agregados de uma economia evidenciam normalmente uma tendência movimento de longo prazo que entre outros fatores pode ser explicado pelo progresso tecnológico. Portugal: PIB - preços constantes de 2006 milhões de euros Tendência 180000 160000 140000 120000 100000 80000 Ciclo real 60000 PIB tendencial PIB observado 7

4. Produto potencial O produto potencial (potencial output) corresponde à produção que se obteria se os faores de produção (capital e trabalho) estivessem plenamente utilizados. A tendência do PIB (chamada produto tendencial) seria uma primeira aproximação ao produto potencial, mas considera-se como melhor metodologia a utilização de uma função de produção tendo como variáveis explicativas os valores de tendência dos fatores de produção. Os economistas conceberam a ideia de que é possível estimar uma relação matemática entre o produto (output) e os seus factores (inputs) ou seja Y = f(k,l) onde Y é o produto, K o stock de capital e L o emprego. Para calcular o produto potencial bastaria então conhecer os valores normais /tendenciais de K e L da economia. 8

4. Produto potencial (cont.) A medida de K e L é complexa, não basta contar unidades, por exemplo, o capital tem diferentes graus de obsolescência e o trabalho tem diferentes níveis de qualificação. Para calcular o produto potencial a Comissão Europeia usa uma função do tipo Cobb-Douglas (Y = K a.l 1-a ), tendo como inputs os valores das tendências de K e L apurados através da utilização do filtro HP (Hodrick-Prescott) com o respetivo parâmetro λ= 100. O produto potencial assim determinado é depois usado para estimar as variáveis orçamentais, entre as quais as receitas fiscais, que são utilizadas no cálculo do saldo ajustado do ciclo. A estimativa das receitas fiscais, por exemplo, pode ainda ser feita em bloco, isto é, através da elasticidade receita total/pib ou através das elasticidades das várias componentes do produto. O saldo estrutural é obtido expurgando do saldo ajustado do ciclo as chamadas medidas extraordinárias e temporárias. 9

5. Saldos A Comissão Europeia publica duas vezes por ano Economic Forecast - Spring e Economic Forecast - Autumn Forecasts- os principais dados macroeconómicos para todos os Estados- Membros da UE. Porém, só o saldo ajustado do ciclo figura no anexo estatístico, o saldo estrutural apenas se encontra no quadro individualizado apresentado na secção dedicada a cada país. 12 10 8 6 4 2 Portugal: Saldos, % 0 2008 2009 2010 Saldo CN Saldo aj ciclo Fonte: Comissão Europeia: Economic Forecast-Autumn 2011 10

5. Saldos Défice ajustado do ciclo, média 92-2010 % PIB -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 Grécia Itália Na área do euro, Portugal ocupa um lugar entre a Itália e a França Portugal França Espanha Irlanda Austria Bélgica Alemanha Holanda Finlândia Fonte: Comissão Europeia, Economic Forecast Autumn 2011 11

6. Constitucionalizar o quê? Não o valor de referência de Maastricht, não o saldo ajustado do ciclo mas agora o défice estrutural com um valor mínimo de 0,5 % do PIB. ( with a lower limit of a structural deficit of 0.5 % of the gross domestic product at market prices - artº 3º,nº.1. b) do Tratado Intergovernamental) Argumentos contra: Se o valor de referência (3%) do saldo singelo não foi cumprido, porque é que se deve passar para um critério mais exigente? O saldo estrutural é um conceito complexo cuja medida assenta em hipóteses discricionárias e aleatórias, como é, por exemplo, a escolha do parâmetro λ usado no filtro HP. O saldo estrutural, como os outros saldos, é uma variável endógena (depende do PIB), sendo estranho que seja usada como variável de decisão/instrumental. O Tratado prevê a acualização regular do seu valor-objecivo para cada Estado-Membro, ora, a ciência económica, no seu estado atual, não tem capacidade para prever com exatidão aceitável a evolução das economias nacionais. O argumento anterior introduz incerteza jurídica. 12

6. Constitucionalizar o quê? (Cont.) Argumentos a favor do saldo estrutural: Ao excluir as medidas extraordinárias e temporárias, previne a manipulação do valor do défice. Ao incorporar a correcção do ciclo económico é mais estável e, supostamente, pode admitir medidas anti-cíclicas. O que devia estar no Tratado Tendo em consideração que a norma sobre o saldo estrutural deve ser transposta para as legislações nacionais - constituições ou leis de valor reforçado ( through provisions of binding force and permanent character, preferably constitutional, artº. 3.º, n.º 2) e que a lei deve ter um caráter abstrato, seria mais adequado ficar apenas com o princípio enunciado no n.º1. a) do art.º 3.º ou seja, The budgetary position of the general government shall be balanced or in surplus. 13

7. Questões para refletir Que Europa estamos a construir? Que Europa queremos? Política monetária e política orçamental na UEM: que policy mix? Lições de uma crise não antecipada. 14

"Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada -, tira-se da vida o seu centro de gravidade." (Nietzsche) 15