ANÁLISE DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA DIVISÃO DE ACOLHIMENTO DE JOÃO PESSOA PB SOBRE A POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS

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Transcrição:

ANÁLISE DOS ASSISTENTES SOCIAIS DA DIVISÃO DE ACOLHIMENTO DE JOÃO PESSOA PB SOBRE A POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS Jussara Ferreira de Sousa 1 Almira Almeida Cavalcante 2 Débora Raquel Pereira Cavalcante 3 Resumo: No Brasil, a questão das drogas vem crescendo assustadoramente, principalmente no que diz respeito às crianças e adolescentes, em especial as que vivem em situação de risco e na rua. Têm se criado políticas públicas visando à prevenção, tratamento, recuperação e reinserção social dessa demanda, dentre eles podem destacar a redução de danos. Partindo desse novo mecanismo é relevante analisarmos o conhecimento que os assistentes sociais da divisão de acolhimento de João Pessoa/PB tem a respeito da Política de Redução de Danos, e como tem sido sua prática diante dessa problemática. Palavras-chave: Redução de danos, crianças e adolescentes em situação de rua, Assistentes Sociais. Abstract: In Brazil, the issue of drugs is increasing alarmingly, especially in regard to children and adolescents, especially those who live at risk and in the street. Have established public policies aimed at prevention, treatment, recovery and social reintegration of such demand, and they can highlight the reduction of damage. On this new mechanism is relevant to consider the knowledge of the social division of the host João Pessoa / PB is on the Policy of Harm Reduction, and as has been its practice in front of this issue. 1 Mestranda. Universidade Federal da Paraíba. E-mail: jussarasisreg@hotmail.com 2 Mestranda. Universidade Federal da Paraíba. E-mail: debora_kell@yahoo.com.br 3 Graduanda. Universidade Federal da Paraíba. E-mail: debora_20raquel@hotmail.com

I INTRODUÇÃO O presente trabalho é fruto da experiência vivenciada no Setor de Proteção Social Especial de Alta Complexidade (acolhimento de crianças em situação de risco e na rua), da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) na Prefeitura de João Pessoa/PB. Tendo como objetivo analisar a visão que os técnicos do Serviço Social desse setor têm a respeito da Política de Redução de Danos, e como estes aplicam este modelo na sua prática profissional com as crianças e adolescentes em situação de rua que fazem o uso de substâncias psicotrópicas. Este tema é de extrema importância, pois é cada vez maior o aumento do consumo de drogas lícitas e ilícitas, principalmente, em relação às crianças e adolescentes em situação de rua, uma vez essa realidade associada a outros elementos aumenta e favorece o consumo de drogas. A Redução de Danos surgiu como mais uma estratégia para minimizar o consumo de drogas e também minimizar os riscos à saúde do usuário. A Redução de Danos tem sido uma política prioritária para o desenvolvimento de ações junto a usuários de drogas. O trabalho dessa política, quando iniciado no Brasil, estava focado apenas para usuários de drogas injetáveis, com tudo, ao ter uma ampliação no seu campo de atuação, concebeu-se a Redução de Danos como uma política de saúde. II CRIANÇA E ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE RUA O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado pela Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, regula as consubstanciadas na Constituição Federal de 1998 em favor da infância e da Juventude. Ele nasceu da necessidade de leis especiais que garantissem proteção às crianças e aos adolescentes e teve origem na declaração Universal dos Direitos da Criança, assinada na Assembléia Geral da ONU em 1959. Essa Declaração foi sendo atualizada ao longo dos anos. A última revisão aconteceu em 1989, servindo de base para o ECA. O ECA desloca a tendência da assistência prevalecente em programas destinados ao público infantil juvenil, e a substitui por propostas de caráter sócio educativo, de cunho emancipatório. Dessa forma, consegue conferir à criança e adolescente a condição de sujeito de direitos frente ao sistema administrador da justiça para a infância e a juventude.

Segundo Simões (2007, p. 207); O ECA institui os direitos fundamentais e as mediadas preventivas, socioeducativas e protetivas [...]. Estabelecer as linhas de ação da política de atendimento, como as políticas e programas sociais, serviços de prevenção, entidades de atendimento, medidas de proteção e organização pública. Prioriza a reinserção familiar, como medida de ressocialização, em vez da tutela de instituições estatais ou conveniadas. Define os atos infracionais, estabelece os direitos e as garantias processuais e as pertinentes aos pais ou responsáveis. A efetivação do ECA vem ocorrendo gradativamente com a busca da garantia de direitos da criança e do adolescente, como, também, a valorização dos vínculos familiares. Mas por diversos motivos podemos observar o grande número de crianças e adolescentes em situação de rua. A denominação crianças e adolescentes em situação de rua é, dentre os inúmeros termos encontrados, o que melhor expressa a real condição destes indivíduos, que não pertencem à rua, mas encontra neste espaço uma circunstância de vida. A questão do abandono social da infância e adolescência insere-se em um contexto social, político, econômico e cultural. Essa categoria social que tem a rua como um território de vida e de trabalho, é resultado de um processo social de dominação, exploração e de exclusão. As políticas de atenção à criança e adolescente em situação de rua em nosso país são marcadas por uma trajetória de enorme descompasso político entre discurso legal, ideologias e práticas, ações governamentais e não governamentais desarticuladas, com as mais diversas concepções sobre questão do abandono social da infância. Neste contexto, as políticas de atenção a crianças e adolescentes em situação de abandono social em nossa realidade, são aparatos que visam minimizar a questão. III DROGAS: CONCEITOS E CLASSIFICAÇÃO De acordo com a organização Mundial (OMS, 2008), droga é qualquer substancia não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, Produzindo alterações em seu funcionamento. Existem drogas lícitas e ilícitas. As drogas podem ser classificadas em: Drogas depressoras da atividade mental: Ex. álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos, opióides, solventes ou inalantes; Drogas estimulantes da atividade mental: Ex. Anfetaminas, cocaína; Drogas perturbadoras da atividade mental: Ex. Anfetaminas, cocaína;

O uso de drogas desencadeia diversas reações orgânicas, inclusive dependência física, psíquica, tolerância e síndrome de abstinência, causando abuso e dependência química. De acordo com Figlie, Bordin, Laranjeira (2004, p.5), Não existe uma fronteira clara entre uso, abuso e dependência. Poderíamos definir uso como qualquer consumo de substancia, seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; abuso ou uso nocivo como o consumo de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico ou social); e, por fim, dependência como o consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário. Vários estudos demonstram que o consumo de drogas inicia-se durante a adolescência. As drogas mais utilizadas são por ordem de consumo: o álcool, o cigarro, a maconha e os estimulantes. Merece destaque o fato de ser a adolescência o começo do uso, pois é nessa fase que ocorrem as modificações mais intensas física e emocionalmente, bem como a formação da identidade, a busca de pertença grupal e o sentimento de onipotência característico dessa etapa da vida. Tornando-se grande fator de risco para diversas situações envolvendo atividades perigosas, gravidez precoce e esse risco aumentam em relação às crianças e adolescentes em situação de rua. IV POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS, NO BRASIL A primeira iniciativa de Redução de Danos, no Brasil ocorreu em Santos (SP), em 1989, quando a cidade ficou conhecida como a capital da AIDS. Devido ao grande número de usuários de injetáveis, que se infectava com HIV e Hepatite C. A infecção entre os usuários era da ordem de 70% das doenças citadas à cima. Era preocupante este índice. A Secretária Municipal de Saúde da cidade fez a primeira tentativa de distribuição e equipamento para o uso seguro de drogas injetáveis, mas o Ministério Público interpretou esta ação como incentivo ao uso de drogas e interrompeu esta intervenção. Em 2004, a Portaria n.2.197, de 14 de outubro, amplia e redefine a atenção integral para usuários de álcool e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde. O Ministério da Saúde, em 1º de julho de 2005, publica a Portaria nº. 1.028, institui a Política Nacional de Redução de Danos. Com a construção de leis que garantam a redução de danos para sua execução local, sua inserção no cenário das leis nacionais e a inserção do direito a saúde do usuário de drogas que não pode, não quer ou não consegue parar de usar drogas no contexto dos direitos humanos e dos direitos a saúde.

O objetivo principal de preocupação da abordagem de redução de danos, decorrentes do uso de drogas, encontra-se na centralidade da pessoa humana (e não na substância em si e na sua proibição), no sofrimento humano, advindo do tipo de relação que o sujeito tem com a droga. Tal abordagem compreende que os danos não são determinados apenas pelo produto em se, mas resultam da interação entre o sujeito, um produto e um contexto sócio-cultural. (VELOSO, CARVALHO e SANTIAGO, 2004, p.173). A redução de danos para alguns autores tornou-se uma estratégia de suma importância para minimizar os efeitos prejudiciais que o uso abusivo de drogas causa nos indivíduos em todo o mundo. Já que esta comprometida com o cumprimento dos princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que respeitam a liberdade de escolha dos indivíduos. V PESQUISA REALIZADA COM ASSISTENTES SOCIAIS E PSICOLÓGOS DA DIVISÃO DE ACOLHIMENTO DE JOÃO PESSOA/PB A Divisão de Proteção Social Especial de Alta Complexidade está vinculada à Diretoria de Assistência Social e esta á Secretaria de Desenvolvimento Social SEDES - do município de João Pessoa/PB. Cabe a divisão de Acolhimento à responsabilidade para o desenvolvimento do Programa de Retaguarda para Crianças e Adolescentes de Risco e Rua, de acordo com a Política Nacional da Assistência Social - PNAS e do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, voltada para a Política de Atenção à Infância e à Juventude. Fundamenta-se nos princípios da Doutrina da Proteção Integral, estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente ECA. O objetivo desse estudo foi o de analisar os discursos dos profissionais do Serviço Social que compõem a equipe técnica dessa instituição. A visão que eles têm a respeito da política de redução de danos e como estes aplicam esta política na sua prática profissional com as crianças e adolescentes em situação de rua que fazem o uso de substâncias psicoativas. Mostraremos o resultado da pesquisa, de acordo com as entrevistas realizadas: A pesquisa de campo foi realizada com um total de quatro assistentes sociais: Todas são do sexo feminino, com idade entre 24 e 41 anos e com pós-graduação em áreas afins;

Os dados revelam que 66% das entrevistadas fizeram capacitação profissional para melhorar o atendimento e ter uma melhor compreensão acerca da garantia dos direitos da criança e do adolescente; Verificamos que 70% têm conhecimento superficial sobre a temática (redução de danos), apesar de todos terem passado por capacitação. O que dificulta ainda mais o trabalho com essa demanda; Observamos que 100% das entrevistadas concordam com a política de redução de danos, compreendendo que diante da situação de vulnerabilidade social em que vivem as crianças e adolescentes é preciso sensibilizá-los a reduzir o uso de drogas; Constatamos que 100% das profissionais têm dificuldades de implantar a Política de Redução de Danos no seu ambiente de trabalho, justificando o pouco conhecimento cientifico sobre as drogas e seus malefícios, mas mesmo assim, concordam que esse é um mecanismo de melhor aceitação entre os jovens; Cerca de 80% das entrevistadas afirmaram que sentem dificuldades de colocar em prática essa política, pois além da falta de investimentos em recursos humanos qualificados, também há falta de materiais adequados, estrutura física (programas acessíveis); Esse modelo de gestão pragmática dos danos sanitários e sociais advindos do uso de drogas legitima um conjunto de práticas, tais como distribuição de agulhas e seringas, tratamentos de substituição, programas acessíveis aos usuários sem que a interrupção do uso seja um pré-requisito, trabalho de campo com os mais marginalizados [...] (CARVALHO, ROCHET E PAULINO, 2008, p. 264). Podemos observar que as assistentes sociais desta instituição não possuem muitos conhecimentos acerca da política de redução de danos o que dificulta a eficácia no tratamento com as crianças e adolescentes em situação de rua. Essa Política é polêmica, pois é mais uma alternativa para o tratamento da dependência química, porém, para alguns ela é contraditória, podendo tornar-se mais um incentivo ao uso de drogas. VI CONCLUSÃO Para que a Assistência Social, seja de fato, reconhecida como direitos sociais é necessário romper com qualquer mecanismo que insiste em permanecer no modelo tradicional, focaliza e residual. Mesmo com os avanços conquistados na área social, na

Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, com a LOAS, ainda, infelizmente, a assistência social possui alguns traços tradicionalistas, como resultados do processo de precarização pelo qual ainda passa alguns serviços de cunho social. Em relação à Política de Redução de Danos, ainda prevalece à concepção de que o usuário de drogas tenha que parar o consumo de drogas. Nesse contexto surgem práticas discriminatórias, que desloca o debate sobre redução de danos para o campo moral, isto dificulta uma discussão reflexiva sobre o aspecto da saúde pública, de forma mais pragmática e racional e, portanto, menos valorativa. A abstinência pode ser uma alternativa, mais não é a única, torna-se cada vez mais necessária uma nova abordagem da questão das drogas, baseada na autonomia e respeito de escolha dos indivíduos. Essa Política de RD torna-se capaz de subsidiar o entendimento do fenômeno do uso e abuso de substâncias psicoativas partindo de uma lógica de saúde pública e social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, D. B. B. de; ROCHET, J.; PAULINO, F. O., Política Pública de Redução de Danos e uso de drogas no Brasil: contradições do processo de construção de uma política nacional. IN: BOSCHETTI, I. et al (org.). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2008. FIGLIE, N.B., BORDIN, S., LARAGEIRA, R. (org.). Aconselhamento em Dependência Química São Paulo, Editora Roca, 2004. SIMÕES, S. Curso de Direito do Serviço Social São Paulo, Editora Cortez, 2007. VELOSO, L.; CARVALHO, J.; SANTIAGO, L. Redução de Danos decorrentes do uso de drogas uma proposta educativa no âmbito das políticas públicas. IN: BRAVO, M. I. S. et al (org.). Saúde e serviço social. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2004. Organização Mundial de Saúde (OMS). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/drogas#conceito>. Acesso em 16/07/2008.