I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 18-21 julho 2004, São Paulo. ISBN 85-89478-08-4. O USO DE PROTÓTIPOS EXPERIMENTAIS DE BAIXO CUSTO PARA AVALIAÇÃO DE MATERIAIS DE VEDAÇÃO QUANTO AO SEU DESEMPENHO TÉRMICO Eduardo Krüger (1); Estelamaris Lezman Rodrigues (2); Geísa Fabiola Kobay (3); José Augusto Cerri (4); Maiara Nakamura (5) (1) Programa de Pós-Graduação em Tecnologia / Departamento de Construção Civil - CEFET-PR, krueger@ppgte.cefetpr.br (2) Graduanda em Engenharia da Produção Civil - CEFET-PR (3) Graduanda em Engenharia da Produção Civil - CEFET-PR (4) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e Materiais / Departamento de Construção Civil - CEFET-PR, cerri@cefetpr.br (5) Graduanda em Engenharia da Produção Civil - CEFET-PR RESUMO Com o propósito de avaliar diferentes materiais de vedação, empregados de um modo geral na construção civil, comparou-se, nesta pesquisa, o desempenho térmico de blocos de concreto tradicional, blocos de concreto celular e da alvenaria convencional, por meio de monitoramento térmico realizado em protótipos do tipo test-cells". Optou-se pela construção de protótipos de execução simplificada, na escala 1m 1m 1m, que puderam ser confeccionados com menor dispêndio financeiro, procedendo-se à avaliação de desempenho térmico, adotando-se, para isto, data loggers no interior de cada protótipo e um sensor externo, protegido contra chuva e de radiação solar direta. Apresenta-se neste artigo a descrição de cada protótipo, seguida de seu orçamento, além da avaliação do desempenho de cada um, considerando a situação de inverno de Curitiba. Palavras-Chave: Test-cells, Desempenho Térmico, Protótipos 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento sustentável deve procurar atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Em seu sentido mais amplo, sua estratégia básica visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza, através da ciência e da técnica, a chamada tecnologia apropriada. Assim, a tecnologia apropriada pode ser analisada sob o aspecto humano e natural, atendendo às necessidades da população e utilizando os recursos disponíveis na região (SCHUMACHER, 1993). Umas dessas necessidades diz respeito à adequação de edificações a determinadas condições térmicas, relacionadas ao organismo humano e às trocas de energia com o meio ambiente, de modo que a temperatura interna mantenha-se dentro de determinados limites de habitabilidade. Prever no projeto elementos que resultem em características térmicas convenientes não significa necessariamente um aumento no custo da construção. Ao contrário, isso possibilita uma diminuição do custo de utilização e manutenção, além de contribuir para uma maior conforto térmico dos usuários. Na elaboração de um
projeto, deve-se ter em mente: a importância da orientação solar; o dimensionamento adequado das aberturas de ventilação e iluminação; a escolha certa dos materiais de vedação, levando-se em conta que, para cada região ou lugar específico, tem-se determinado tipo de clima. A escolha correta para cada um destes itens contribuirá para melhorar o conforto ambiental e, no caso de ambientes climatizados, para a racionalização no uso de equipamentos para climatização destes ambientes, na redução do consumo energético, enfim, na preservação dos recursos naturais (GIVONI, 1998). Segundo a ASHRAE (American Society of Heating Refrigerating and Air Conditioning Engineers, 1981), conforto térmico é um estado de espírito que reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa. Se o balanço de todas as trocas de calor a que está submetido o corpo for nulo e a temperatura da pele e grau de exsudação estiverem dentro dos limites estabelecidos, pode-se dizer que o Homem sente conforto térmico. O desenvolvimento tecnológico busca satisfazer as necessidades de conforto do ser humano através de pesquisas de novos materiais, sistemas construtivos e detalhes de projeto. Avaliar o desempenho térmico de um material de vedação é verificar se as condições que ele proporciona atendem ou não a um conjunto pré-fixado de exigências do usuário. Estas condições internas são o resultado de decisões de projeto - variáveis controláveis interagindo com as variáveis climáticas do local - variáveis não controláveis. Assim, a importância do estudo do desempenho térmico situa-se, sobretudo, na melhor utilização de materiais e componentes para determinadas regiões ou lugares específicos, podendo contribuir para a melhoria dos níveis de conforto em habitações, ambientes de trabalho etc. Com o propósito de verificar diferentes materiais de vedação empregados de um modo geral na construção civil, propõe-se, nesta pesquisa, comparar o desempenho térmico de blocos de concreto vazados, blocos de concreto celular autoclavado e tijolos cerâmicos furados, por meio de monitoramento térmico realizado em protótipos do tipo test-cells" (células teste: Fig. 1). ELEVAÇÃO TEST-CELL Figura 1: O protótipo experimental A exemplo de experimentos simples relacionados à área de conforto e desempenho térmico (KRÜGER, 2002), procurou-se elaborar dispositivos de baixo custo que permitam uma análise experimental de materiais sob o aspecto mencionado. Tais protótipos possibilitam comparações de diferentes materiais de construção, fixando-se variáveis que, em situação real (do tipo habitação), acarretam variações das condições ambientais devido à ação dos usuários, como alterações na taxa de ventilação, uso de equipamentos e a própria ocupação dos ambientes por parte dos usuários. Além disso, padronizando-se as dimensões dos protótipos bem como sua pintura externa ou tipo de cobertura, pode-se obter respostas térmicas especificamente relacionadas aos materiais em teste, com vantagens evidentes para a elaboração de padrões habitacionais (como o Projeto de Norma Técnica sobre Desempenho Térmico de Edificações: RORIZ et al., 1999) e/ou pesquisa de materiais que mais se adequem às condições de Curitiba, particulares, quando se considera o clima característico do continente brasileiro1. 1 A capital mais fria do Brasil (LAMBERTS et al., 1997), tem altitude média de 910 metros, latitude 25 31 Sul, longitude 49 11 Oeste. Das 8 zonas definidas pelo zoneamento bioclimático brasileiro, conforme a Norma de Desempenho Térmico de Edificações, Curitiba se encontra na Zona Bioclimática 1, correspondente a apenas 0,8% do território nacional.
O uso de protótipos de pequena escala para testes de materiais e componentes ocorre desde a Segunda Guerra Mundial, sendo as test cells construídas em Los Alamos consideradas as precursoras (LITTLER, 1993). Dentre os fatores considerados por Littler como desfavoráveis ao emprego de test cells, o custo relacionado a sua confecção dificultaria a sua replicação. Em vista disso, optou-se pela construção de protótipos de execução mais simplificada, na escala 1m 1m 1m, que possam ser confeccionados com menor dispêndio financeiro. Apresenta-se, mais adiante, os custos relacionados a materiais e mão-de-obra para a confecção dos protótipos do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR). Ainda, o presente artigo mostra os primeiros resultados obtidos com esses protótipos, considerando a situação de inverno de Curitiba. 2. PROTÓTIPOS EXPERIMENTAIS PARA MONITORAMENTO TÉRMICO DE DIFERENTES MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO 2.1 Projeto e Execução Os protótipos desenvolvidos têm uma base em concreto armado (sapata de 1,70 x 1,70 m com espessura de 10 cm) e as paredes são conforme o material estudado. Para a colocação da cobertura, foi feita uma pequena estrutura em madeira com caibros de cambará com dimensões de 2 x 2 polegadas. Sobre esta estrutura foi disposta uma manta de lã de vidro de densidade de 16 kg/m³ e espessura de 50 mm fixada com fita dupla face para posterior colocação das telhas de fibrocimento (Figura 2). Entre as frestas da manta com as paredes, foi também adotada uma vedação com espuma expansiva de poliuretano. Espuma Expansiva de Poliuretano (d = 20 kg/ m3) Telha Fibrocimento 140 x 140 cm (e = 6mm, i = 5 %) Manta de lã de vidro (d = 16 kg/ m3, e = 50 mm) Caibro Cambará 2 x 2 ' Parede de Vedação Sapata 1,70 x 1,70 m (e = 10 cm) - Concreto 15 MPa - Armadura: Malha 15 x 15 x 4,2 cm Camada Brita 01 (e = 3 cm) Figura 2 : corte da célula teste As células teste foram implantadas no terreno do CEFET-PR, situado na Rua Deputado Alencar Furtado, bairro Campo Comprido Curitiba PR. Para isto foi realizado levantamento in loco da orientação solar determinando-se o Norte Magnético com auxílio de uma bússola e efetuados cálculos de correção para o Norte Verdadeiro. O espaçamento entre as células teste é de 1,50 m para evitar a sombra de um protótipo sobre outro. A altura de paredes de cada protótipo é de 1 metro. Previu-se a colocação de uma camada de brita com espessura de 3 cm contornando os protótipos com o fim único de conter o crescimento de plantas (Figura 3).
Telha Fibrocimento 140x140 cm e = 6mm Projeção Célula Teste Telha Fibrocimento 140x140 cm e = 6mm Projeção Célula Teste Telha Fibrocimento 140x140 cm e = 6mm Projeção Célula Teste Camada Brita nº 01 e = 3 cm Camada Brita nº 01 e = 3 cm IMPLANTAÇÃO CÉLULAS TESTE Sapata 1,70 x 1,70 e = 10 cm Sapata 1,70 x 1,70 e = 10 cm Sapata 1,70 x 1,70 e = 10 cm Figura 3: implantação e planta das células teste 2.2 Orçamento O levantamento quantitativo foi determinado conforme dados levantados nos projetos. A Planilha Orçamentária para a construção dos protótipos é apresentada na Tabela 1. Os blocos de concreto celular autoclavado e a Manta de Lã de Vidro não têm seus preços registrados tendo em vista que foram concedidos isentos de custos pelos fornecedores. Tabela 1: planilha orçamentária DESCRIÇÃO QUANTIDADE CUSTO UNITÁRIO TOTAL FÔRMAS, CONCRETO E ARGAMASSA. Tábua 1 X 12 Pinus 2,5 m 10 un R$ 2,346 R$ 23,46 Prego 17 x 27 1 kg R$ 3,067 R$ 3,067 Cimento CPII F Classe 32 saco 50 kg 5 un R$ 17,28 R$ 86,43 Areia média 1,5 m 3 R$ 26,00 R$ 39,00 Brita nº 01 1 m 3 R$ 21,60 R$ 21,60 Armadura Malha 200 x 300, 15x15x4,2 1 un R$ 28,89 R$ 28,89 PAREDES DE VEDAÇÃO Tijolo Cerâmico Furado 9x14x19 cm 125 un R$ 0,093 R$ 11,64 Bloco de Concreto Vazado 39x19x14 cm 54 un R$ 1,110 R$ 60,00 Bloco de Concreto Celular Autoclavado 15x30x60 cm 24 un - - SICAL COBERTURA Caibro Cambará 2 x 2 6 un R$ 4,805 R$ 28,83 Telha de Fibrocimento 244 x 110cm e = 6 mm 4 un R$ 20,15 R$ 80,61 Manta de Lã de Vidro c/ vinil branco 50 mm ρ = 16 kg/ 5,2 m 2 - - m3 ISOFIBRAS Espuma expansiva de Poliuretano ρ = 20 kg/ m3 500 ml 3 un* R$ 21,84 R$ 65,52 REVESTIMENTO (chapisco e emboço) Cal Hidratada comum saco 20 kg 3 un R$ 2,920 R$ 8,770 Cimento CPII F Classe 32 saco 50 kg 2 un R$19,07 R$ 38,15 Areia média 1 m 3 R$ 26,00 R$ 26,00 MÃO DE OBRA
Base, Parede de Vedação e Cobertura. vb R$ 150,00 R$ 150,00 Revestimento vb R$ 120,00 R$ 120,00 TOTAL MATERIAL R$ 522,03 TOTAL MÃO-DE-OBRA R$ 270,00 TOTAL GERAL R$ 792,03 * A recolocação dos aparelhos para medições no período de verão implicou na utilização de 5 un de Espuma expansiva de Poliuretano para a garantia da adequada vedação das células testes com um custo adicional de R$ 109,20. As características de cada célula teste podem ser observadas nas figuras 4, 5 e 6. No custo para construção já está incluso o custo da mão-de-obra. - Quantidade de blocos utilizados:125 - Espessura das paredes s/ revestimento: 90 mm - Perímetro Interno: 4,84 m - Perímetro Externo: 5,20 m - Área Interna: 1,46 m2 - Custo para construção s/ revestimento: R$ 187,46 Figura 4: célula teste de tijolos cerâmicos furados - Quantidade de blocos utilizados:54 - Espessura das paredes s/ revestimento: 140 mm - Perímetro Interno: 4,64 m - Perímetro Externo: 5,20 m - Área Interna: 1,35 m2 - Custo para construção s/ revestimento: R$ 235,82 Figura 5: célula teste de blocos de concreto vazados
- Quantidade de blocos utilizados:24 - Espessura das paredes s/ revestimento: 150 mm - Perímetro Interno: 4,60 m - Perímetro Externo: 5,20 m - Área Interna: 1,32 m2 - Custo para construção s/ revestimento: R$ 175,82 Figura 6: célula teste de bloco de concreto celular autoclavado Ressalta-se que o paralelismo entre as células, sua forma quadrada e a fixação de parâmetros como a utilização dos mesmos materiais para a execução da base, cobertura e juntas, bem como a inexistência de fatores como a ocupação atuaram de forma favorável à avaliação exclusiva dos materiais utilizados para a vedação das paredes. Os materiais adotados, bem como suas características termofísicas são apresentados na tabela 2. Tabela 2: características termofísicas dos materiais usados MATERIAL ρ (kg/ m3) λ (W/ m. K) c (kj/ kg.k) Tijolo Cerâmico Furado 9x14x19 cm 1000 0,70 0,92 Bloco de Concreto Vazado 39x19x14 cm 2200 1,75 1,00 Bloco de Concreto Celular Autoclavado 15x30x60 cm 400 0,17 1,00 3. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO TÉRMICO DOS PROTÓTIPOS A avaliação de desempenho térmico das células teste foi realizada segundo as seguintes etapas: Medições nos protótipos a temperatura e umidade relativa foram monitoradas no período de inverno nas 3 células teste sem revestimento. Tratamento dos dados obtidos em planilhas EXCEL, com conversão dos dados (de quinze em quinze minutos) para dados horários. Análise bioclimática dos resultados utilizando o software ANALYSIS. 3.1 Equipamentos de Medição e Ferramentas de Simulação Para monitoramento da temperatura e umidade relativa foram utilizados aparelhos registradores (data loggers) do tipo HOBO. Os sensores de temperatura operam na faixa de 40º C a + 120º C e na faixa de umidade relativa de 0 a 95% sem que haja condensação. Sua incerteza de medição, segundo o manual de uso do aparelho (ONSET COMPUTER CORPORATION, 1999), é de aproximadamente ±0,7 º C, para a faixa de operação utilizada nas medições (temperaturas entre 5º C e +35ºC). Após aferição, os aparelhos foram instalados num ponto central do interior das células, ou seja, a 0,5 metros do piso (base em concreto) e 0,5 m das paredes. A forma quadrada das células favorece para que os efeitos das diferentes orientações solares se compensem, mas o posicionamento dos aparelhos é estratégico para a minimização da interferência solar em relação à temperatura interna. Para a avaliação do desempenho térmico das células foi utilizado um software desenvolvido pelo LabEEE/ NPC/ UFSC denominado ANALYSIS 2.1 BIO. Após a geração dos arquivos TRY, a partir dos dados de temperatura (T) e umidade relativa (UR), lançou-se estes arquivos no ANALYSIS o que permitiu a análise bioclimática com a plotagem dos dados de temperatura e umidade na carta psicrométrica, de acordo com o modelo de Givoni (1992) e a extração de um relatório com a porcentagem de horas de FRIO, CONFORTO e CALOR.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS As medições para a estação de inverno foram realizadas no período de 13/08/2003 a 21/09/2003. Os sensores de temperatura e umidade relativa foram instalados no centro de cada célula teste e previamente programados para medições tomadas de 15 em 15 min, sendo os dados coletados integrados para uma hora. Obteve-se dados de 960 horas (40 dias), sendo que os dados foram considerados a partir das 24 horas do dia 13 de agosto às 23 horas do dia 21 de setembro. Para obtenção da temperatura e umidade relativa externas foram obtidos os dados junto à estação climatológica situada no Centro Politécnico da UFPR, do Sistema Meteorológico do Paraná SIMEPAR (Tabela 3). Tabela 3: dados externos período de monitoramento Período T ºC UR % % horas Início Fim Mínima Média Máxima Mínima Média Máxima Frio Conforto Calor 13/08/2003, 21/09/2003, 3,00 14,86 28,70 17,30 72,17 97,6 74,30 24,00 1,77 às 24:00 às 00:00 4.1 Análise de Temperaturas O gráfico a seguir (Figura 7) apresenta a comparação dos dados obtidos, hora a hora, do período completo de medição para cada célula teste com os dados externos definindo seus respectivos perfis de temperatura. 27,00 Tijolo Cerâmico Furado T ºC 22,00 17,00 12,00 7,00 Bloco de Concreto Vazado Bloco de Concreto Celular Autoclavado Ambiente Externo 2,00 1 46 91 136 181 226 271 316 361 406 451 496 541 586 631 676 721 766 811 856 901 946 t [h] Figura 7: dados de temperatura para o período de inverno Para melhor compreensão da dinâmica do clima local durante o inverno, selecionou-se uma das semanas na qual houve registros das temperaturas mais baixas (Figura 8).
22,00 Tijolo Cerâmico Furado T ºC 17,00 12,00 7,00 Bloco de Concreto Vazado Bloco de Concreto Celular Autoclavado Am biente Externo 2,00 1 9 17 25 33 41 49 57 65 73 81 89 97 105 113 121 129 137 145 153 161 t [h] Figura 8: dados de temperatura para o período de 08/09/2003 a 14/09/2003 medidas por 24 horas a partir da 0:00 h Observando o gráfico acima, percebe-se a grande variação climática diária característica de Curitiba, principal causa de desconforto de seus cidadãos, submetendo-os a diferentes tensões térmicas no decorrer das horas, dos dias e das estações (DUMKE, 2002). Durante o período de análise, a amplitude média da temperatura foi de 11,54 K, sendo que no dia 12 de setembro de 2003 observou-se uma variação de temperatura no valor de 18,70 K, máxima oscilação diária registrada no período. Na célula teste construída com blocos de concreto celular autoclavado, observou-se uma menor amplitude térmica, enquanto que na célula teste construída com blocos de concreto esta foi pouco inferior à externa (Figura 9). Amplitude térmica em Kelvin 20,00 18,00 16,00 14,00 12,00 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 0,00 Máximo Média Mínimo Tijo lo C erâm ico F urado 16,80 10,81 3,80 B lo co de Concreto Vazado 17,30 11,38 3,40 B lo co de Concreto Celular 8,80 5,58 1,90 Autoclavado Ambiente Externo 18,70 11,54 3,50 Figura 9: gráfico de comparação de oscilações diárias de temperatura
Todos os protótipos apresentaram maior capacidade de amortecimento térmico em relação às temperaturas externas frias do período. Porém, em relação às temperaturas mais altas, a célula teste construída com blocos de concreto vazados apresentou temperaturas mais elevadas que a temperatura externa. O protótipo construído com tijolos cerâmicos furados teve um comportamento térmico parecido com o do protótipo construído com blocos de concreto vazados, havendo uma oscilação média de temperatura entre os dois protótipos de 0,59 K. O protótipo construído com blocos de concreto celular autoclavado manteve uma temperatura média de 14,94 ºC, porém sua temperatura mínima jamais foi inferior a 7,10ºC (Tabela 4). Tabela 4: comparação entre temperatura máximas, médias e mínimas. Protótipos (CÉLULAS TESTE) Temperatura (ºC) Mínima Média Máxima Bloco de Concreto Vazado 4,90 16,09 29,90 Tijolo Cerâmico Furado 4,40 15,50 28,30 Bloco de Concreto Celular Autoclavado 7,10 14,94 23,20 Externo 3,00 14,86 28,70 4.2 Avaliação Bioclimática Com os dados de temperatura e umidade relativa obtidos pelas medições dos protótipos, integrados em dados horários no período analisado, foram gerados os arquivos no formato TRY para serem plotados da carta psicrométrica com o software ANALYSIS (LMPT/ EMC e NPC/ ECV, 1994). Desta forma, quantificou-se a porcentagem do tempo de medição em termos de horas que se situam na zona de conforto ou fora dela (horas de desconforto). Os resultados dessa avaliação, para o inverno, são apresentados na Tabela 5. A comparação com as condições externas e em termos de temperaturas mínima, média e máxima, quantidade em porcentagem sobre o total das horas monitoradas (960) de frio, conforto e calor levando em conta a faixa de temperaturas de conforto térmico para países em desenvolvimento, definida por Givoni (1992) como sendo de 18 a 29 ºC, para cada protótipo estão registradas na tabela. Protótipos Tabela 5: resumo resultados inverno % horas Temperatura (ºC) (CÉLULAS TESTE) Frio Conforto Calor Mínima Média Máxima Bloco de Concreto Vazado 68,3 29,0 2,7 4,90 16,09 29,90 Tijolo Cerâmico Furado 73,1 25,5 1,4 4,40 15,50 28,30 Bloco de Concreto Celular Autoclavado 82,7 17,1 0,2 7,10 14,94 23,20 Externo 74,3 24,0 1,7 3,00 14,86 28,70 No período monitorado, as temperaturas externas apresentaram 24% das horas na faixa de conforto e 76% das horas em desconforto, sendo 74,3% em desconforto por frio e 1,77% em desconforto por calor. Observa-se que as temperaturas externas mínima e média encontram-se na faixa de desconforto por frio: respectivamente 3,0 ºC e 14,86 ºC. Nota-se que a temperatura mínima está a 15,0 K abaixo da faixa de conforto, a média a 3,14 K abaixo desta faixa e a máxima dentro da faixa de conforto. No interior dos protótipos, apresenta-se alta porcentagem de horas com temperaturas na faixa de desconforto por frio, mas pode-se observar que no protótipo construído com blocos de concreto vazados a porcentagem de horas de desconforto por frio é inferior a porcentagem de desconforto por frio externamente e, mesmo tento maiores oscilações de temperatura, apresentou a maior porcentagem de horas de conforto. É interessante notar que o protótipo construído com blocos de concreto celular autoclavado obteve a temperatura mínima mais alta e as mais baixas oscilações de temperatura, no entanto isto não resultou na maior porcentagem de horas de conforto, tendo em vista que neste protótipo foram poucos os registros de temperaturas que encontravam-se na faixa de conforto (18 T 29 ºC), pois a maioria desses registros ficaram na faixa de desconforto de frio (T < 18 ºC).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Protótipos em escala reduzida permitem comparações entre desempenho de materiais (no caso, considerou-se apenas os materiais usados nas paredes, tendo sido os outros parâmetros fixados a priori), sendo que, o que muitas vezes se pretende é avaliar determinado sistema construtivo (o que pode ser realizado satisfatoriamente com protótipos habitacionais). No entanto, no caso desses protótipos em escala reduzida, pode-se ter uma noção inicial do potencial de determinado material de fechamento quanto a sua inércia térmica, tomando-se como referência uma situação padrão, como, por exemplo, uma parede constituída de alvenaria de tijolos cerâmicos. Da mesma forma, a pesquisa pode ser conduzida no sentido de se avaliar materiais de cobertura, estratégias de ventilação, acabamento de superfícies etc. Ressalte-se o valor didático de se experimentar soluções de projeto por meio de comprovação direta de seus efeitos: os protótipos apresentados fazem parte de estudos realizados por graduandos em Engenharia da Produção Civil do CEFET-PR. Além disso, com os protótipos ora apresentados, procura-se oferecer uma forma de se proceder a avaliações dessa natureza, de modo que se possa replicar os mesmos em outras regiões do país. Neste particular, a questão do custo relativamente baixo de execução dos protótipos pode permitir uma difusão maior dos mesmos no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Society of Heating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE). Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Atlanta: ANSI/ASHRAE Standard, 1981. DUMKE, E. Aplicação do Conceito de Tecnologia Apropriada em Habitação de Interesse Social Avaliação do Desempenho Térmico e Recomendações. Curitiba: Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE/CEFET-PR), 2002 (Dissertação de Mestrado). GIVONI, B. Climate Considerations in Buildings and Urban Design. New York: Van Nostrand Reinhold, 2002 GIVONI, B. Comfort, Climate Analysis and Building Design Guidelines. Energy and Buildings, Vol. 18., 1992. KRÜGER, E.L. Experimentos simples na área de conforto e desempenho térmico. Revista de Ensino de Engenharia - ABENGE, Brasília, v. 21, n. 1, p. 43-48, 2002. LAMBERTS, R.; DUTRA, L. ; PEREIRA, F.O.R. Eficiência Energética na arquitetura. PW Editores. São Paulo, 1997. LITTLER, J. Test Cells: Do We Need Them? Building and Environment, Vol. 28, N.2, 1993, p. 221-228. LMPT/EMC e NPC/ECV, UFSC. Analysis, versão 1.5: Programa Analysis para avaliação bioclimática e de conforto térmico. LMPT e NPC/UFSC, 1994. Programa. 3 Disquetes 3 ½ pol. ONSET COMPUTER CORPORATION. Manual HOBO Datalogger RH-Temp. ONSET, 1999 RORIZ, M.; GHISI, E.; LAMBERTS, R. Uma proposta de norma técnica sobre desempenho térmico de habitações populares. In: ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 5, 1999, Fortaleza: ANTAC, 1999. SCHUMACHER, E.F. Small is beautiful. Reino Unido : Vintage, 1993. AGRADECIMENTOS À FUNCEFET-PR (Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do CEFET-PR), pelo apoio financeiro para construção das células.