RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA INSERÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO SUPERIOR

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#1

Transcrição:

RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA INSERÇÃO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO SUPERIOR Rio de Janeiro RJ - 10/2015 Gianna Oliveira Bogossian Roque - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RIO - gianna@ccead.puc-rio.br Ana Luiza Ferreira Portes - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RIO - analuiza@ccead.puc-rio.br Gilda Helena Bernardino de Campos - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RIO - gilda@ccead.puc-rio.br Pesquisa e Avaliação Educação Continuada em Geral Formas de Assegurar a Qualidade Investigação Científica RESUMO Este artigo tem por finalidade compreender como as universidades e os seus professores preparam-se com o intuito de atender as demandas do novo perfil de aluno conectado. Apresenta um relato de experiência que reflete a percepção dos alunos da graduação quanto à inserção das tecnologias digitais, móveis ou não, em suas disciplinas, especificamente a adoção da educação na modalidade a distância. A análise apresenta dois eixos norteadores: (a) uso de um ambiente virtual de aprendizagem e (b) relação professor-aluno. O foco da análise apontou não só para a melhoria da qualidade das disciplinas como, também, para a compreensão da interação e do processo de aprendizagem nessa modalidade de ensino. A pesquisa ocorreu ao longo de 9 (nove) semestres letivos envolvendo 4.284 (quatro mil duzentos e oitenta e quatro) alunos com cerca de 24% de respondentes ao longo de todos os semestres. Palavras-chaves: educação a distância, universidade, relação professor- aluno.

2 1. Introdução O desafio de educar, foco da atividade acadêmica, é o desafio da construção do conhecimento. A maneira na qual é definido, como o obtemos e o aplicamos reflete a pedagogia e a filosofia subjacente às aulas. Compreender, analisar e aplicar são expressões da busca da díade professor- aluno, e a modalidade a distância possibilita, entre outras questões, a atualização e renovação dos processos educacionais. Desde a criação da Portaria Nº 4.059 de 2004, as Instituições de Ensino Superior estão autorizadas a oferecer, de forma integral ou parcial, até 20% da carga horária total dos seus cursos na modalidade a distância. No entanto, muitas das instituições ainda não investem em formação de seus professores para que estes realizem a transposição didática da modalidade presencial para a modalidade a distância. Algumas questões têm sido apontadas por diversos autores (como Serres, 2013; Prado e Silva, 2009) que revelam a ausência de prepararo para a inserção das tecnologias em sala de aula, seja no Ensino Superior ou na Educação Básica. Serres (2013) descreve os jovens de hoje, suas crenças, valores e hábitos, questionando o que transmitir, a quem transmitir e como transmitir. (...) temos jovens aos quais pretendemos ensinar, em estruturas que datam de uma época que eles não reconhecem mais: prédios, pátios de recreio salas de aula, auditórios universitários, campus, bibliotecas, os próprios saberes (p.24). O autor considera o perfil de aluno, engajado nas redes sociais, consumindo informação a todo momento através de celulares, tablets, laptops, entre outros, e a partir da leitura do ensaio de Barber, M.; Donnely, K. & Rizvi, S. realizado em 2013, surgiu a motivação deste relato de pesquisa e experiência a fim de verificar se há transformações socioculturais em nossa universidade e como a relação professor-aluno mediada pelas tecnologias no contexto de graduações presenciais que oferecem disciplinas totalmente a distância são percebidas pelos alunos.

3 2. Interação na relação professor-aluno Serres (2013) aponta que os jovens de hoje não possuem mais a mesma cognição que seus antepassados e não habitam mais o mesmo tempo e espaço: Essas crianças, então, habitam o virtual. As ciências cognitivas mostram que o uso da internet, a leitura ou a escrita de mensagens com o polegar, a consulta à Wikipédia ou ao Facebook não ativam os mesmos neurônios nem as mesmas zonas corticais que o uso do livro, do quadro-negro ou do caderno. Essas crianças podem manipular várias informações ao mesmo tempo. Não conhecem, não integralizam nem sintetizam da mesma forma que nós, seus antepassados (2013, p. 19). Compreendemos que a educação e seus processos não permanecem alheios a essa mudança de comportamento do jovem e que a aprendizagem mediada por recursos tecnológicos ocorre a partir de práticas pedagógicas ainda pouco exploradas. Nesse contexto que se insere a educação a distância que, para Valle (2012), tem como finalidade: (...) a autoformação dos sujeitos envolvidos. É este o fim que a justifica e que não pode estar contido na simples aplicação de um meio, que não se evidencia inteiramente em nenhum produto : a auto- formação é práxis constante, que implica necessariamente a presença do outro (...). Eis o interesse e o sentido de dizer que, na EaD online, a interatividade é o meio, ou o contexto em que se pode, ou não, realizar uma autêntica práxis, uma interação este tipo muito especial de atividade do sujeito em que ele se autoconstrói como ser a uma vez singular e social, atividade inesgotável e transformadora que tem por objetivo ele próprio, seu mundo, os outros (VALLE, 2012, p. 982). Há necessidade, portanto, de planejar situações de aprendizagem que privilegiem a interação entre o professor, aluno e conteúdo a fim de que possam ser colocados em oposição, ao questionar a si mesmo, ao desestruturar suas estruturas cognitivas, gerando uma reflexão entre aquilo que se sabe e o que é novo, que será maturado e assimilado através do distanciamento e derivações entre a figura do eu em relação ao outro, isto é, entre o professor e/ou os demais colegas. 3. Introdução à Filosofia a distância: um relato de experiência na Universidade A disciplina Introdução à Filosofia é oferecida tanto na modalidade presencial como na modalidade a distância, ficando a critério dos alunos essa opção no ato da matrícula.

4 Na modalidade a distância, a disciplina é estruturada de forma que seja disponibilizada virtualmente aos alunos uma aula por semana, de um total de 13 (treze), abrangendo assim todo o semestre letivo. O conteúdo da disciplina está dividido em duas partes principais: a primeira compreende as cinco primeiras semanas e é comum a todos os inscritos na disciplina, objetivando uma apresentação geral das noções centrais da Filosofia. A segunda parte compreende as oito semanas restantes e consiste no estudo das principais noções pertencentes a um tópico especial da Filosofia, que o aluno pode escolher dentre os quatro oferecidos, a saber: Ciência, Técnica e Natureza; Ética e Política; Estética e Linguagem. Após a quinta semana os alunos optam por um dos quatro módulos, de acordo com a sua área de interesse. Essa flexibilidade, apreciada pelos alunos, representa um diferencial em relação às turmas presenciais, uma vez que no presencial todos os alunos recebem o mesmo conteúdo, sem levar em consideração seus interesses pessoais. A possibilidade de escolha de um módulo específico de estudo na segunda parte do curso foi uma ótima estratégia adotada para este curso, que por si só é muito amplo, já que a Filosofia abrange as mais variadas áreas do saber. E, às vezes, o aluno não se interessa por todas essas áreas, o que, em minha opinião, é mais do que compreensível. Logo, essa estratégia adotada permite que estes alunos e também os outros se dediquem mais à matéria, uma vez que estarão estudando aquilo que realmente gostam (aluno, 2013.1). Todas as atividades solicitadas ocorrem de forma assíncrona no Ambiente de Aprendizagem on-line e podem ser realizadas de acordo com a agenda individual de cada aluno. A cada semana uma nova aula é disponibilizada e são propostas atividades a serem desenvolvidas e enviadas pelo ambiente ou tópicos a serem discutidos no fórum de debates. A avaliação da aprendizagem se dá por meio da participação nas diferentes atividades que o aluno realiza de forma on-line durante o curso, assim como por uma prova presencial ao final do semestre, conforme exige a legislação. 3.1. Estruturação do curso Desde o primeiro semestre de 2009 são oferecidas 400 vagas para a disciplina Introdução à Filosofia na modalidade a distância que foram preenchidas em sua totalidade. Em alguns semestres houve a necessidade de abrir novas vagas a fim de atender a demanda (Gráfico 1). É possível perceber, logo no

5 primeiro ano de oferecimento (2009), que a procura por parte dos alunos ultrapassou a expectativa esperada, chegando ao número de 471 alunos matriculados. Ao longo dos demais semestres o quantitativo de alunos não sofreu alterações significativas, perfazendo o limite de vagas ofertado. Observamos apenas um aumento expressivo de matrículas no período de 2010.2, quando chegamos ao número de 537 alunos, apontando para um perceptível aumento do interesse dos alunos em relação a cursar uma disciplina a distância. Gráfico 1 Quantitativo de alunos matriculados na disciplina a distância Para atender ao quantitativo de alunos matriculados, geralmente são formadas de oito a dez turmas, com aproximadamente 30 a 40 alunos em cada. Essa disciplina conta com o acompanhamento de professores do Departamento de Filosofia, que após o período oficial de matrícula e de formação das turmas, definem a distribuição do número de turmas para cada professor. Na tabela a seguir apresentamos o número de alunos aprovados no período de 2009.1 a 2013.2. Período Matriculados Matriculados Percentual de Aprovados Reprovados 1º Módulo 2º Módulo Aprovação 2009.1 471 393 369 24 78% 2009.2 401 300 267 43 67% 2010.1 361 339 298 33 83% 2010.2 537 462 - - - 2011.1 381 347 283 39 74% 2011.2 389 314 254 42 65% 2012.1 399 329 240 39 60% 2012.2 397 335 279 39 70% 2013.1 378 319 254 35 67% 2013.2 341 306 264 28 77% Tabela 1 Quantitativo de alunos matriculados, aprovados e reprovados.

6 3.2. Interação Uma vez que a disciplina é realizada totalmente a distância, com exceção da prova presencial e da abertura da disciplina onde ocorre a formação no ambiente de aprendizagem on-line, a interação entre alunos e professores ocorre inteiramente por meio do ambiente e considera-se, portanto, a participação no fórum incluída na avaliação de desempenho do aluno. 4. A percepção dos alunos de graduação sobre a EAD: aplicação do questionário de avaliação Com o intuito de compreendermos a percepção dos alunos sobre a experiência de vivenciar uma disciplina a distância e, também, de acompanharmos o curso verificando o grau de atendimento às expectativas dos alunos, ao final de cada semestre é sugerido aos alunos que participem de um questionário de avaliação on-line, cujo preenchimento não é obrigatório. O questionário de avaliação é composto por questões objetivas, elaboradas em escala Likert, com variação de 1 a 5, onde o 1 significa o grau de concordância inferior (discordo totalmente) e o 5 o grau mais alto de concordância (concordo totalmente), além de questões discursivas onde foram solicitadas opiniões, sugestões, críticas dos alunos a respeito das suas impressões sobre cursar uma disciplina a distância. As questões foram separadas em categorias a fim de posteriormente facilitar a análise dos dados coletados, a saber: conteúdo didático; ambiente virtual de aprendizagem; atuação do professor; atividades avaliativas; suporte técnico e auto - avaliação. O preenchimento do questionário pelos alunos está ocorrendo desde o primeiro semestre em que disciplina foi oferecida a distância (2009) até hoje (2015). Contabilizamos, para fins deste trabalho, os alunos das turmas formadas após a escolha do módulo que compreendeu as 8 (oito) últimas semanas da disciplina. A tabela a seguir apresenta o quantitativo de respondentes ao longo do período 2009.1 a 2014.2. Período Nº de Alunos -2º Módulo Nº de Respondentes % 2009.1 393 167 42% 2009.2 300 55 18% 2010.1 339 41 12% 2010.2 462 - - 2011.1 347 98 28%

7 2011.2 314 76 24% 2012.1 329 56 17% 2012.2 335 83 25% 2013.1 319 33 10% 2013.2 306 39 13% 2014.1 423 59 14% 2014.2 417 104 25% Tabela 2 Quantitativo de respondentes do Questionário de Avaliação A análise das respostas dos questionários, sobretudo as discursivas, vem contribuindo, ao longo dos últimos seis anos, para a melhoria da qualidade do curso. A percepção dos alunos é fundamental para conhecer melhor o público no que se refere a sua fluência tecnológica, habilidades de aprendizagem e autonomia. Desse modo, é possível entender como se dá o processo de aprendizagem e a forma na qual se relacionam com o conhecimento quando mediado pelas tecnologias. Neste trabalho é apresentada uma visão geral a respeito das diferentes perspectivas dos alunos a partir de dois eixos norteadores: Ambiente Virtual de Aprendizagem e a relação professor- aluno mediada virtualmente. a) Ambiente de Aprendizagem on-line O Ambiente Virtual de Aprendizagem foi considerado um dos elementos fundamentais para a compreensão dos alunos, pois é através dele que o processo de aprendizagem é realizado. Alguns depoimentos emergiram das respostas às questões abertas do Questionário de Avaliação do curso que apontam para fatores que influenciaram diretamente a experiência de cursar a disciplina a distância. Inicialmente, percebemos que as respostas dos alunos versavam sobre uma maior compatibilidade entre o navegador (browser) e o ambiente utilizado pela instituição. Com o tempo, as respostas passaram a sinalizar o desejo de utilizar dispositivos móveis para acessar o conteúdo do curso. Ambiente virtual funcionando em qualquer browser, não apenas no internet explorer (aluno do período 2009.1) De preferência, o uso do html5, para tornar viável a leitura da matéria em dispositivos móveis, e não apenas no computador. O uso do flash limita o alcance do site (aluno do período 2010.1). A partir de 2011, ocorreu uma mudança na percepção dos alunos em relação ao ambiente e estes passaram a demandar uma maior familiaridade dos professores com o uso dos recursos disponíveis e a possibilidade da disponibilização de vídeo-aulas com assuntos referentes ao conteúdo. Os alunos

8 passaram a solicitar maior organização dos materiais e dos fóruns de debate disponíveis, pois consideravam que não havia uma organização dos temas no fórum por tópicos, o que acarretava a perda do sentido daquilo que deveria ser tratado naquela atividade. Sugiro que os fóruns sejam sempre separados por tópicos, cada novo tópico de discussão deve ser criado um novo fórum, para que os assuntos não se confundam conforme as pessoas forem postando seus comentários em momentos diferentes (aluno do período 2012.2). Notamos que entre o 2º. Semestre de 2013 e o 1º. semestre de 2014 houve uma alteração no que se refere aos mecanismos de comunicação do ambiente. A partir do momento em que os alunos concentram-se em outros mecanismos tal como redes sociais e mensagens no smartphone, estes solicitam a inclusão no ambiente de outros mecanismos. Em 2015.1 foi disponibilizada a webconferência para os professores contatarem os alunos. Ainda não temos estas avaliações disponíveis. Cabe ressaltar que os alunos que optaram por cursar a disciplina na modalidade a distância são oriundos de diferentes cursos de graduação. A partir das falas destes alunos nas questões discursivas, é possível notar suas expectativas a respeito do ambiente de aprendizagem on-line de uma disciplina a distância. b) Relação professor e aluno É sabido que a inserção do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação na educação vem alterando significativamente a maneira como professores e alunos se relacionam e interagem. Buscou-se compreender na perspectiva dos alunos como essa interação ocorre. As questões formuladas tencionavam identificar se o professor acompanhou as discussões nos fóruns de debate, se esclareceu as dúvidas apresentadas e se motivou e incentivou a turma a participar, entre outras questões (Gráfico 1).

9 Gráfico 1 - Respostas de 2014.1 Nos depoimentos obtidos referentes à questão aberta Espaço para um comentário livre sobre o curso, o conteúdo, os professores, os monitores, a dinâmica, ou qualquer outro tópico que julgue pertinente, foi possível perceber que o item com maior grau de importância para os alunos foi o fórum de debates considerado um dos elementos mais envolventes do curso, uma vez que tornava possível discutir os temas propostos com os colegas da turma, o professor e o monitor da disciplina. Através do diálogo constante e do embate de ideias, os alunos apropriaram-se dos conteúdos semanais e construíram sua aprendizagem, conforme o relato a seguir, nos mostra: 5. Conclusão Minha sugestão se restringe ao fórum de debates. Penso que este é o aspecto mais interessante do curso, porque as discussões são muito boas, e quando encontramos alguém que pensa diferente, fica mais interessante ainda. Por vezes ficamos constrangidos em expor nossas opiniões frente aos outros no ambiente presencial, mas no ambiente online isso não acontece tanto. Por isso, minha sugestão é que o fórum de debates tenha papel mais relevante no decorrer do curso, porque é realmente muito legal expor nossos pensamentos, ver as discordâncias (aluno do período 2013.1). Independente da modalidade educacional, presencial ou a distância, existe o consenso de que o papel do professor foi reformulado na sociedade do conhecimento, passando de transmissor de conteúdos para um mediador ou orientador da aprendizagem. Cabe ao fazer pedagógico criar conexões entre diferentes campos do saber e, sobretudo, a capacidade criativa para instigar nos alunos o desejo de querer aprender. Verificou-se que questionamentos desafiadores parecem configurar uma solução para o estímulo ao fórum de debates e construir ambientes de aprendizagem colaborativos. As falas apontadas pelos alunos reforçam a importância da participação ativa do professor

10 ao promover uma discussão, fazer questionamentos pertinentes ao tema e direcionar os alunos para indagações que ajudem a aprendizagem através da interação. Valle (2012) aponta para o papel primordial do distanciamento, não apenas geográfico que a educação a distância possibilitou, mas a distância entre aquilo que o sujeito sabe e aquilo que se pretende atingir enquanto objetivo de aprendizagem: Para a formação humana, a distância é, portanto, muito mais do que uma questão de distanciamento ou proximidade física: ela é a relação que a cada vez se estabelece entre o sujeito e o seu projeto de auto-formação, entre o sujeito e aquele que, na relação pedagógica, testemunha aquilo que o sujeito quer atingir o professor, ou o autor que lhe servem de referência (VALLE, 2012, p.7). Valle (2012) ainda reforça a importância da interatividade como um elemento próprio, que dá sentido a existência humana, pois não há como desassociarmos o processo de ensino aprendizagem de uma construção social, do convívio e das transformações recorrentes em contato com os seus pares e com o professor. Dessa maneira, interagir e confrontar em um fórum de discussão remete ao chamado estado piagetiano de desequilibração. Há, portanto, evidências de que o papel solicitado ao professor na EaD é o de mediador entre o aluno- conteúdo, com participação ativa, no decorrer do percurso. Estabelecer novas conexões que atuarão como potenciadoras da sua aprendizagem é, pois, a função do professor. 6. Referências bibliográficas BARBER, M.; DONNELY, K. & RIZVI, S. An avalanche is coming. Institute for Public Policy Research. MIT. Março.2013. PRADO, Maria Elizabette Brisola, SILVA, Maria da Graça Moreira. Formação de educadores em ambientes virtuais de aprendizagem. In, Em Aberto, Brasilia, v.22,n.79,p.47-74,jan.2009 SERRES, Michel. Polegarzinha: Uma nova forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. VALLE, L. do; BOHADANA, E. Interação e Interatividade: por uma reantropolização da EaD Online. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 121, p. 973-984, out.-dez. 2012. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.. Sobre presença e distância reflexões filosóficas a ead online. Disponível em: http://33reuniao.anped.org.br/33encontro/app/webroot/files/file/trabalhos %20em%20PDF/GT17-6042--Int.pdf