TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical INFORMAÇÕES SOBRE A CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS TRABALHISTAS Guilherme Brandão Advogado Como se sabe, a Lei nº 12.440, de 7 de julho de 2011 instituiu a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, expedida gratuita e eletronicamente, para comprovação da inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho. Por conta disso, o empresário terá que estar quite com a Justiça do Trabalho, pois, de outro modo, não conseguirá obter a referida certidão (artigo 1º, 1º) quando em seu nome constar: I o inadimplemento de obrigações estabelecidas em sentença condenatória transitada em julgado proferida pela Justiça do Trabalho ou em acordos judiciais trabalhistas, inclusive no concernente aos recolhimentos previdenciários, a honorários, a custas, a emolumentos ou a recolhimentos determinados em lei; ou II o inadimplemento de obrigações decorrentes de execução de acordos firmados perante o Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia. Uma vez constatada a existência de débitos garantidos por penhora suficiente ou com exigibilidade suspensa, será expedida Certidão Positiva de Débitos Trabalhistas em nome do interessado com os mesmos efeitos da CNDT (artigo 1º, 2º). A CNDT certificará a empresa com relação a todos os seus estabelecimentos, agências e filiais ( 3º do mesmo artigo), sendo que o prazo de validade da CNDT será de 180 (cento e oitenta) dias, contados da data de sua emissão. Visando regulamentar a expedição da CNDT, foi expedida a Resolução Administrativa do TST, de nº 1.470, de 24 de agosto de 2011, instituindo o Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, composto de dados necessários à identificação das pessoas naturais e jurídicas de direito público e privado inadimplentes perante a Justiça do Trabalho, o que impedirá a participação destas empresas em licitações. Confira-se: Art. 1º. É instituído o Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), composto dos dados necessários à identificação das pessoas naturais e jurídicas, de direito público e privado, inadimplentes perante a Justiça do trabalho quanto às obrigações:
2 I estabelecidas em sentença condenatória transitada em julgado ou em acordos judiciais trabalhistas; ou II decorrentes de execução de acordos firmados perante o Ministério Público do Trabalho ou Comissão de Conciliação Prévia. 1º. Para os fins previstos no caput, considera-se inadimplente o devedor que, devidamente cientificado, não pagar o débito ou descumprir obrigação de fazer ou não fazer, no prazo previsto em lei. 2º. A garantia total da execução por depósito, bloqueio de numerário ou penhora de bens suficientes, devidamente formalizada, ensejará a expedição de Certidão Positiva de Débitos Trabalhistas, com os mesmos efeitos da CNDT. 3º. Não será inscrito no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas o devedor cujo débito é objeto de execução provisória. 4º. Verificada a inadimplência, é obrigatória a inclusão do devedor no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. Estabelecidas em sentença condenatória transitada em julgado ou em acordos judiciais trabalhistas; A Resolução em comento trata, ainda, de outras questões referentes à matéria, com o objetivo de padronizar e regulamentá-la, inclusive no tocante à gestão e à fiscalização do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. Entretanto, a citada Portaria poderá trazer sérios prejuízos ao empresariado brasileiro. Por conta disso, visando sanar vários aspectos controversos, foi marcada uma audiência com o atual Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ministro João Orestes Dalazen. Tal iniciativa partiu da Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF), que, juntamente com a Federação Nacional dos Bancos (FENABAN), sugeriu, ainda, a participação da CNC e de outras Confederações interessadas. A FENABAN reuniu casos reais, apurados por diversos Bancos (Itaú, Santander, Bradesco, etc.), sobre problemas constatados junto ao Banco de Devedores da Justiça do Trabalho. São eles: I) Cadastro no Banco de Devedores de processos com juízo já garantido; II) Cadastro no Banco de Devedores de processos em execução provisória, já com juízo garantido; Trabalhos Técnicos
3 III) Cadastro no Banco de Devedores de empresas que sequer fazem parte do polo passivo da ação que motivou o apontamento; IV) Cadastro no Banco de Devedores de processos julgados improcedentes pela Justiça do Trabalho; V) Cadastro no Banco de Devedores de empresas que foram excluídas do polo passivo da ação; VI) Cadastro no Banco de devedores de empresas que sequer foram intimadas para realizar depósito de dívida reconhecida no processo; Todas essas colocações foram seguidas de vários documentos comprobatórios entregues pela FENABAN, que detectou esses erros, ao Presidente do TST. Além disso, foi ressaltado que a nomeação de bens à penhora só poderia ser feita após o início do processo de execução, e que entre o trânsito em julgado e a referida penhora há um prévio processo de liquidação de sentença (lembramos que praticamente todas as sentenças são ilíquidas), cuja iniciativa cabe ao empregado. Antes da conclusão desse processo, o empregador sequer poderá cumprir a obrigação, para o fim de depositar o valor constante desse título judicial. como: Por todas estas razões foram feitas algumas sugestões, por parte dos envolvidos, tais Pedido de alteração do art. 10 da Resolução 1.470/2011, com disponibilidade do Banco Nacional de Devedores somente a partir de 4 de julho de 2012. Ou, alternativamente, que: diante das inúmeras inconsistências apontadas, seja determinado aos Tribunais Regionais do Trabalho o não lançamento de processos no Banco de Devedores até o dia 29 de fevereiro de 2012, possibilitando às empresas, durante esse período, a eliminação desses equívocos e erros que vêm sendo cometidos, com o objetivo específico de emitir Certidões Positivas com efeito de Negativas para os processos de licitação que ocorrerão no início do ano; Seja imediatamente determinado a todos os Tribunais Regionais do Trabalho manter plantão durante os dias de recesso forense para tratamento das pendências lançadas no Banco Trabalhos Técnicos
4 de Devedores em nome das empresas reclamadas, fato que possibilitará a regularização dos apontamentos feitos até o dia 4/1/2012, data em que a CNDT entrará em vigor. Adicionalmente aos itens apontados, sugere-se ao colendo Tribunal Superior do Trabalho recomendar a adoção das seguintes cautelas pelos Tribunais Regionais do Trabalho ao lançar processos no Banco de Devedores: Que todo e qualquer lançamento a ser feito no Banco de Devedores seja obrigatoriamente precedido de intimação expressa da empresa reclamada para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o débito ou cumprir a obrigação de fazer ou não fazer, sob pena de inscrição do devedor no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. Foi enfatizado que esta medida trará maior segurança às empresas e minimizará o risco de eventuais equívocos pelos Tribunais Regionais do Trabalho, vez que o devedor terá tempo hábil para comprovar a garantia do débito ou o cumprimento da obrigação, evitando que o caso seja lançado indevidamente no banco de Devedores. Por outro lado, não comprovado o pagamento do débito ou não cumprida a obrigação de fazer ou não fazer no prazo estipulado de 10 (dez) dias, inexistirá dúvida a respeito da correção do lançamento no Banco de Devedores; Os lançamentos no Banco de Devedores deverão ser realizados única e exclusivamente na primeira semana de cada mês, possibilitando às empresas tratarem as pendências nas semanas restantes do mesmo mês, uma vez que o lançamento diário e indiscriminado feito atualmente pelos Tribunais Regionais torna impossível para as empresas obterem a Certidão Positiva com efeito de Negativa. O Sr. Presidente do TST mostrou-se sensível a todas estas considerações, ficando de decidir as sugestões elaboradas pela FENABAN, com o apoio de Confederações que participaram da referida audiência. Em 2 de janeiro do corrente ano, foi alterada a Resolução Administrativa nº 1.470/11, que regulamenta a expedição da CNDT, através do ATO TST GP 001/2012. Inicialmente, os parágrafos 1º e 4º foram modificados da seguinte forma: 1º. É obrigatória a inclusão no BNDT do devedor que, devidamente cientificado, não pagar o débito ou descumprir obrigação de fazer ou não fazer, no prazo previsto em lei. Trabalhos Técnicos
5 4º. Uma vez inscrito, o devedor comporá pré-cadastro para a emissão da CNDT e disporá do prazo improrrogável de 30 (trinta) dias para cumprir a obrigação ou regularizar a situação, a fim de evitar a positivação de seus registros junto ao BNDT. (grifamos) O artigo 1º da referida resolução foi acrescido dos seguintes parágrafos: 1º - A. Antes de efetivar a ordem de inclusão do devedor no BNDT, em caso de execução por quantia certa, o Juízo de Execução determinará o bloqueio eletrônico de numerário por meio do Sistema BACENJUD (art. 655, I, CPC) e também registrará no sistema, quando for o caso, a informação sobre a existência de garantia total da execução. 5º. Transcorrido o prazo de que trata o parágrafo anterior, a inclusão do devedor inadimplente acarretará, conforme o caso, a emissão de Certidão Positiva ou de Certidão Positiva com efeito de negativa, na forma do art. 6º desta Resolução. Esclareça-se, por necessário, que a Certidão Positiva com efeito de negativa ocorre quando, a par de existir débitos, eles são vincendos ou estão garantidos por penhora em processo de execução, ou ainda se encontram com sua exigibilidade suspensa, o que não impedirá, contudo, o devedor de participar de licitações. A Resolução ora em estudo informa, também, que, para os devedores incluídos no BNDT até o dia 4 de janeiro de 2012, o prazo de regularização de que trata o artigo 1º, 4º dessa Resolução terá início nessa data. Outros artigos foram modificados, mas sem alterações significativas. Portanto, embora possa, agora, o devedor dispor de 30 (trinta) dias para cumprir a obrigação ou regularizar sua situação, as questões expostas acima como casos reais constatados junto ao Banco de Devedores pela FENABAN não foram dirimidas, podendo, assim, prejudicar demasiadamente a participação das empresas nos processos de licitação. Desse modo, sem adentrarmos, nesta oportunidade, nas questões jurídicas advindas da aplicação da Lei nº 12.440/2011, entendemos que, na prática, ainda deverão ser feitos vários ajustes, para que se possa viabilizar o integral cumprimento da referida norma, sem que dela decorram prejuízos ao bom empregador. Trabalhos Técnicos