Discurso da Senhora Bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Sessão Solene de Abertura do II Congresso da Ordem dos Enfermeiros. Pavilhão Atlântico

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Transcrição:

Discurso da Senhora Bastonária da Ordem dos Enfermeiros Sessão Solene de Abertura do II Congresso da Ordem dos Enfermeiros Pavilhão Atlântico 10 de Maio de 2006 Exmº Sr. Prof. Correia de Campos, Ministro da Saúde. Permita-me agradecer-lhe desde já o facto de nos honrar com a sua presença na Sessão Solene de Abertura deste II Congresso. Para a Ordem é sempre um privilégio recebê-lo nos nossos encontros e acredito que os enfermeiros presentes nesta sala estão ansiosos por ouvir as palavras que irá dirigir a esta assembleia. Quero agradecer-lhe igualmente pelo facto de estar a representar o Exmo. Sr. Primeiro-Ministro, Eng. José Sócrates. Ex.ma Srª Enfª Alves de Brito, Presidente da Mesa da Assembleia Geral Exmª Srª Profª Teresa Oliveira Marçal, Presidente da Comissão Organizadora deste II Congresso Exmos. Srs. Representantes das associações profissionais de enfermeiros dos PALOP, Brasil e Timor Senhores Deputados, Senhores Bastonários, Srª Bastonária, Enfª Mariana Diniz de Sousa Senhor Alto Comissário para Saúde, Prof. Pereira Miguel Senhores Directores-Gerais Altas Individualidades da Educação e da Saúde Senhores Presidentes ou Representantes de várias Organizações Sindicais e Associações de Enfermagem Senhores Presidentes e Representantes das Associações de Enfermeiros dos Países de Língua Oficial Portuguesa Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste.

Srª Presidente do Conselho Jurisdicional, Prof. Lucília Nunes Sr. Presidente do Conselho de Enfermagem, Enfº Delfim Oliveira Sr. Presidente do Conselho Fiscal, Prof. Norberto Messias Digníssimos membros da Comissão de Honra deste II Congresso Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros colegas e amigos, Quatro anos volvidos desde o I Congresso da Ordem, voltamos a juntar-nos num evento que pretende ser um espaço de reflexão relativamente aos desafios que se colocam à profissão e à prestação de cuidados ao cidadão. Em 2001, o tema escolhido para o I Congresso que congregou mais de 1500 participantes foi «Melhor Enfermagem Melhor Saúde». Na altura estiveram em discussão assuntos como os direitos e necessidades dos cidadãos em cuidados de Enfermagem e a excelência do exercício. Estes temas continuam actuais e irão certamente perpassar neste II Congresso. Mas entre Dezembro de 2001 e Maio de 2006 assistimos a acontecimentos que tiveram, têm e provavelmente ainda terão implicações em vários contextos. A título de exemplo, e aproveitando para relembrar a sessão de encerramento presidida pelo então Ministro da Saúde, Prof. Correia de Campos deixem-me relembrar-vos que foi aí reconhecida a importância da experiência que os enfermeiros possuem na área da gestão, na capacidade de intervir a todos os níveis nas organizações etc. Foi uma passagem rápida pela governação, ocorrida, aliás, dentro de um período marcado por uma considerável instabilidade nas orientações políticas, que, como é óbvio, também se fez sentir no sector da Saúde. A nível internacional, e no mesmo período de tempo, a ameaça do bioterrorismo e as mutações verificadas em alguns agentes patogénicos trouxeram novos cenários à Saúde Pública mundial e novas exigências aos profissionais de saúde, donde os enfermeiros se incluem. Por estas e outras razões onde se incluem as mudanças perspectivadas ao nível do Ensino Superior, da organização dos Cuidados de Saúde Primários, Cuidados Continuados, gestão dos hospitais e do desenvolvimento de perspectivas liberalizadoras do mercado da Saúde a Ordem dos Enfermeiros considerou que este II Congresso deveria apostar na relação que norteia a existência e o exercício da profissão: «O Enfermeiro e o Cidadão: Compromisso (d)e Proximidade». Num momento em que cada vez mais se assume que o cidadão/utente tem de estar no centro do sistema de saúde, assume-se como imprescindível aprofundar esta temática, tendo em conta o papel privilegiado que os enfermeiros desempenham junto de quem recorre aos serviços de saúde. Pretende-se, pois, reforçar o compromisso que assumimos, todos os dias, com o cidadão. Essa proximidade e continuidade de cuidados implicam não só uma prática orientada para a defesa da autonomia e dos direitos dos utentes, para a promoção da saúde e para a prevenção da doença onde o enfermeiro surge como elemento fundamental na gestão dos projectos de saúde individuais e das famílias, mas também uma atitude proactiva dos enfermeiros na definição das políticas de saúde.

Assim, decidimos começar este Congresso com um painel que analisou a governação em saúde, nomeadamente o papel que os enfermeiros podem desempenhar neste âmbito, e a importância que os sistemas de informação em Enfermagem assumem na continuidade dos cuidados e no apoio à tomada de decisão política. A importância do aprofundamento que desejamos realizar enraíza-se também na consciência cada vez mais alargada de que o compromisso de proximidade não é apenas uma questão de espaço, mas de competência de gestão desse tempo com o(s) outro(s), que na fragilidade tem potencial para fazer face aos processos de saúde/doença. Fazer isto bem não é nem pode ser obra do acaso. É cada vez mais uma exigência profissional. Por isso é necessário reafirmar que a centralidade dos cuidados, ou seja a prática clínica, exige uma formação sólida, abrangente, capaz de fornecer as ferramentas necessárias ao desenvolvimento da prática autónoma do exercício profissional. Capaz de integrar o conhecimento e o seu desenvolvimento através da investigação. Ao mesmo tempo é necessário garantir as condições para um exercício de qualidade pelo que a gestão assume um papel determinante. Daí que aprofundar os vários campos de actividade dos enfermeiros, tendo a «centralidade dos cuidados» como a principal referência, será o objectivo do painel desta tarde. Tratando-se de um evento que promove a reflexão sobre vários aspectos da profissão e os diferentes modos de melhorar a qualidade dos cuidados prestados aos utentes, seria imperdoável não abordar o desenvolvimento profissional dos enfermeiros. Este é um assunto que será abordado amanhã através dos contributos dos prelectores e comentadores que vão intervir no nosso terceiro painel, mas também no decurso da Assembleia-Geral, aquando da votação de uma proposta que define um modelo de desenvolvimento profissional assente na certificação de competências. Enquanto garante da qualidade dos cuidados de Enfermagem, a Ordem dos Enfermeiros tem a responsabilidade de, através da certificação profissional dos enfermeiros, fornecer aos cidadãos a garantia do que podem e devem esperar de cada enfermeiro. É nesse quadro que, à semelhança de outras profissões reguladas, se pretende desenvolver um modelo de certificação de competências versus atribuição de títulos profissionais, mais consentâneo com as exigências de desenvolvimento profissional e de formação ao longo da vida. Trata-se de promover e desenvolver um modelo capaz de motivar os profissionais a manter, desenvolver e a adquirir novas competências profissionais, cada vez mais adequadas às necessidades de cuidados de Enfermagem, e ao permanente desenvolvimento científico e técnico que suporta os cuidados de saúde em geral e os de enfermagem em particular, o que implica envolvimento do próprio, mas também das organizações prestadoras e formadoras. Advogamos um regime de maior exigência na relação com a prática clínica no que respeita ao reconhecimento das competências para e no exercício profissional dos enfermeiros. Daí defendermos que no futuro os recém-licenciados só poderão ter acesso ao título profissional após terem realizado um período de prática tutelada e obtido aprovação no respectivo exame. Do mesmo modo, defendemos que a aquisição do título de enfermeiro especialista seja o produto de um processo formativo directamente ligado à prática clínica devidamente orientada e suportada na investigação e no conhecimento próprio de cada área. Assume aqui particular importância o necessário apoio ao

desenvolvimento da investigação em enfermagem com o mesmo nível de importância que hoje já é assumido para outras disciplinas da área da saúde. Queremos ainda que o modelo futuro contemple os mecanismos de recertificação das competências como um importante instrumento de garantia de que todos os enfermeiros, de acordo com o título profissional que possuem, tenham as melhores condições de responder às exigências crescentes que a sociedade nos coloca. Mas para que tudo isto se concretize, o Ministério tem um importante papel a desempenhar, nomeadamente na criação de condições que permitam ter serviços de saúde com idoneidade reconhecida para a formação pré e pós-graduada. Foi precisamente para debater esta temática que a Ordem reuniu recentemente com o Dr. Rui Gonçalves, Secretário-Geral do Ministério da Saúde. O processo está iniciado e terá seguramente continuidade. Sabemos que se trata de uma matéria que exige tempo para a sua construção, desenvolvimento e consolidação. Mas estamos certos de que esta é uma vertente estratégica para o efectivo desempenho do mandato social que à profissão compete desenvolver. Num Congresso dedicado ao compromisso social da profissão de Enfermagem, não quisemos deixar de dar a voz ao utente sujeito aos cuidados. Também queremos conhecer a perspectiva da comunicação social sobre a prestação de cuidados ao cidadão. No quarto e último painel vão estar igualmente em destaque as mudanças em curso no SNS e as novas áreas de intervenção dos enfermeiros, onde aprofundaremos a importância que é e que cada vez mais deverá ser o enfermeiro de família enquanto pivot e gestor das respostas e dos suportes às necessidades em cuidados de proximidade. O exemplo de Vila Real, trazido a público pelo Coordenador da Sub-região, é como em outras regiões uma evidência. É possível fazer diferente e rentabilizar melhor os recursos que se têm. Mas para além do debate das questões atrás referidas, os enfermeiros que aqui se encontram vão também certamente viver momentos de celebração, pois a 12 de Maio assinalar-se-á o Dia Internacional do Enfermeiro. «Dotações Seguras Salvam Vidas» foi o tema escolhido pelo International Council of Nurses, numa alusão à progressiva escassez de recursos humanos na Enfermagem. Neste contexto, não posso deixar de referir aquilo que encaro como uma situação que poderá levar à ruptura de muitos serviços e que, consequentemente, poderá ter sérias consequências para os cidadãos e também para os profissionais. Não posso concordar com a redução de horas de cuidados disponibilizadas pelo enfermeiros quando devidamente validada a sua necessidade. Digo e reafirmo que não se pode concordar com medidas que implicam inevitavelmente problemas de ordem ética e deontológica, tanto para aqueles que prestam cuidados como para aqueles que têm a responsabilidade de gerir os recursos disponíveis nos serviços. Estou a falar de serviços onde a necessidade destas horas é uma verdade insofismável, plenamente conhecida das administrações. As administrações sabem que as necessidades em cuidados não podem ser cobertas com o actual número de enfermeiros em teimam em ser essa a via para a diminuição das despesas. Esta é uma preocupação que não podia deixar de aqui colocar pelas implicações que daqui decorrem para os cuidados prestados, para os enfermeiros e seu desempenho profissional, e também porque, ao contrário do que o Sr. Ministro afirmou aquando do Dia Mundial da Saúde, assistimos à redução de horas disponibilizadas por enfermeiros

através da modalidade de horários acrescidos. Tanto quanto julgo saber, em muitas instituições, esse facto não está a corresponder à contratação de outros enfermeiros, por razões muito diversas. Mas algumas delas prendem-se com medidas fortemente determinadas pelo corte cego de despesas. A falta de enfermeiros é uma realidade a nível mundial, não é exclusiva de Portugal. O ICN tem vindo a alertar os responsáveis políticos para um problema que já está a provocar sérios constrangimentos na prestação de cuidados de enfermagem, em especial nos países em desenvolvimento. A necessidade de encontrar soluções que melhorem a formação, recrutamento e manutenção dos enfermeiros tem estado a ser estudada por aquele organismo, tendo já sido enunciadas áreas prioritárias de intervenção para fazer frente à crise. Este Dia Internacional do Enfermeiro servirá para chamar a atenção da sociedade e dos decisores políticos para a necessidade de dotar os serviços de saúde com o número adequado de profissionais. Tudo para que a qualidade e segurança dos cuidados não seja posta em causa. Em suma, vamos ter três dias bastante preenchidos. São muitos os colegas que prepararam comunicações e pósteres que ao longo destes dias vão ser dados a conhecer. Estes últimos são parte integrante da mostra de cuidados de enfermagem que o público pode connosco partilhar. Este é um tempo e um espaço que é nosso e por isso faço votos que todos retirem o máximo de um evento que será o ponto de partida para as respostas aos novos desafios que a saúde dos cidadãos coloca aos enfermeiros e à enfermagem portuguesa. Bem hajam, Maria Augusta de Sousa Bastonária da Ordem dos Enfermeiros