MEMÓRIA E HISTÓRIA: O DVD EDUCAÇÃO POPULAR 1947-1966



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Transcrição:

MEMÓRIA E HISTÓRIA: O DVD EDUCAÇÃO POPULAR 1947-1966 Osmar Fávero Universidade Federal Fluminense Programa de Pós-Graduação em Educação 1. A produção do DVD A produção do DVD Educação Popular 1947-1966 visou disponibilizar o acervo documental sobre as campanhas de alfabetizaçăo do período1947-1963 e os movimentos de cultura e educaçăo popular do início dos anos de 1960, reunidos no Núcleo de Estudos e Documentaçăo de Educaçăo de Jovens e Adultos (Nedeja), da Faculdade de Educaçăo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Este acervo compreende projetos, programas e propostas de educaçăo de jovens e adultos, documentos instituidores de campanhas e movimentos, relatórios de experiências, depoimentos, entrevistas, livros, artigos, periódicos, teses, dissertações, monografias e especialmente material didático (cartilhas, livros de leitura, discos, vídeos, fotos, slides, filmes, folhetos de cordel, entre outros). Muitos desses materiais são exemplares raros, originais ou únicos, salvos do pouco apreço à preservação de nossa memória ou que sobreviveram ao desmonte dos movimentos populares ocorrido após o golpe militar de abril de 1964. A referida documentação foi reunida ao longo de 50 anos. A coleção de documentos do MEB Movimento de Educação de Base foi guardada desde o início dos anos de 1960 e complementada no início dos anos 1980, em pesquisas realizadas para a elaboração de teses e dissertações sobre este Movimento. 1 Dos outros movimentos do período de 1960-1964, parte da documentaçăo também foi obtida diretamente junto a esses movimentos 1 Algumas publicadas em livros: Luiz Eduardo W. Wanderley, Educar para transformar: educação popular, Igreja católica, política no Movimento de Educação de Base (Petrópolis: Vozes, 1984); Osmar Fávero, Uma pedagogia da participação popular; análise da prática educativa do MEB Movimento de Educação de Base, 1961/1966 (Campinas: Autores Associados, 2004); Maria da Conceição Brenha Raposo, Movimento de Educação de Base: discurso e prática, 1961-1967 (São Luís: Universidade Federal do Maranhão e Secretaria de Educação do Estado do Maranhão, 1985); José Pereira Peixoto Filho, A travessia do popular na contradança da educação (Goiânia: Editora da Universidade Católica de Goiás, 2004).

2 quando do seu funcionamento, e complementada posteriormente com doaçőes e achados Esses achados correspondem a materiais escondidos em tetos de igrejas, fundo de caixas d água, durante os anos negros da ditadura, descobertos casualmente muitos anos depois, alguns parcialmente deteriorados. O filminho sobre a Campanha De Pé no Chão também se Aprende a ler foi enterrado em um sítio, por uma funcionária da Secretaria de Educação de Natal, e recuperado vinte anos depois; bem mais tarde descobriu-se outra cópia na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Os diapositivos do Plano Nacional de Alfabetizaçăo (PNA), elaborados no final de 1963 e utilizados no início de 1964, estiveram guardados durante trinta anos, sem maiores cuidados, em uma geladeira, também em Natal. Para a apresentação no DVD foram tratados um a um, cuidadosamente, no fotoshop. Por sua vez, os materiais didáticos da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), bastante deteriorados, assim como documentos fundamentais do II Encontro Nacional de Educação de Adultos, realizado no Rio de Janeiro em 1958, foram obtidos, em parte, na Biblioteca Anísio Teixeira, que funciona na Universidade Federal do Rio de Janeiro e contém o acervo do antigo Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Apesar do esforço realizado ao longo de muitos anos, essa coleção não é completa; como foi dito, muitos materiais foram perdidos após o golpe militar de 1964, particularmente o material do Centro Popular de Cultura (CPC) quando do incêndio criminoso da sede da UNE, e do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP), também incendiados, não se sabe por quem. O principal objetivo do Nedeja, quando de sua criação em 2000, era catalogar o acervo disponível e organizar um banco de referências sobre educaçăo popular e educação de jovens e adultos no Brasil. Visa-se colocá-lo à disposição para consulta dos estudiosos do tema, especialmente alunos dos cursos de graduaçăo, especialização, mestrado e doutorado da UFF, bem como discentes, professores e pesquisadores de outras instituições. No entanto, o acesso a essa documentação tornou-se restrito, por não se dispor de pessoal para o atendimento regular aos alunos e aos interessados. Para facilitar a utilização do material catalogado foi organizado o DVD, contendo, em uma primeira fase, a parte mais importante da documentação das campanhas de alfabetização e dos movimentos de cultura e educação popular do período 1947-1967. Compreende principalmente o histórico dos movimentos, o material didático por eles produzido, depoimentos, materiais de divulgação, resenhas de livros e indicaçăo de ensaios e artigos que analisaram esses movimentos. Também foram incluídos arquivos de áudio e vídeo contendo

3 músicas, entrevistas, fotografias e desenhos relativos às experiências abordadas. Na elaboração do DVD, essa documentação original foi enriquecida, no que diz respeito às campanhas, por matérias publicadas na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos e em publicações específicas. No caso dos movimentos de cultura popular, além de entrevistas realizadas com seus coordenadores e participantes divulgadas em livros e periódicos, foi essencial para o trabalho a leitura ou a releitura dos livros escritos pelos próprios participantes das experiências, 2 ou de teses e dissertações produzidas sobre elas, principalmente as publicadas em livros. No esforço mais recente de pesquisa na produção desses trabalhos têm sido localizadas e reproduzidas também matérias publicadas nos jornais locais ou nacionais, cujos recortes ou cópias estão sendo progressivamente incorporados ao acervo. Para uma visăo descritiva das campanhas e dos movimentos de cultura e educaçăo popular do período 1947-1966, assim como para apresentação e análise dos diversos movimentos, foram trabalhados praticamente todos os livros disponíveis, a maioria deles esgotada. No DVD reproduziram-se as capas das diversas edições e elaboradas resenhas indicativas de seu conteúdo; alguns poucos, com autorização dos autores, foram digitalizados integralmente. Por sua vez, para ampliar as fontes essenciais para a análise das campanhas e movimentos, foram selecionadas algumas obras que abordam não só as concepções de educação de adultos ou de cultura popular, mas também a presença dos católicos ditos progressistas e dos marxistas, filiados ou não ao Partido Comunista, nas experiências do início dos anos de 1950. Essas obras, consideradas como gerais, também foram resenhadas. 3 2 Por exemplo, além dos citados na nota 1, Moacyr de Góes, De Pé no Chão também se Aprende a Ler (1961-1964); uma escola democrática (1ª ed. Civilização Brasileira, 1980; 2ª ed. Cortez, 1991); Margarida de Jesus Cortez, Memória da Campanha de Pé no Chão também se Aprende a Ler; reflexões sobre a prática pedagógica de ontem e de hoje (Cortez e Ed. da UFRN, 2005); Maria das Dores de Oliveira Porto e Iveline Lucena da Costa Lage, CEPLAR História de um sonho coletivo; uma experiência de educação popular na Paraíba destruída pelo golpe de estado de 1964 (João Pessoa: Conselho Estadual e Secretaria Estadual de Educação, 1995); Carlos Lyra, As quarenta horas de Angicos: uma experiência de educação (São Paulo: Cortez, 1996). 3 Vanilda Paiva, História da educação popular no Brasil; educação popular e educação de adultos (São Paulo: Loyola, 1 a ed. 1973, 6 a. ed. revista 2003); Celso de Rui Beiseigel, Estado e educação popular: um estudo sobre a educação de adultos (1ª ed. São Paulo: Pioneira, 1974, 2ª ed. Brasília, Líber Livro, 2004); Carlos Rodrigues Brandão (org.), A questão política da educação popular (São Paulo: Brasiliense, 1980); Osmar Fávero (org.), Cultura popular e educação popular; memória dos anos 60 (Rio de Janeiro: Graal, 1ª ed. 1983, 2ª ed. 2001); Cândido Mendes, Memento dos vivos; esquerda católica no Brasil (Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966); Marcelo Ridenti, Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV (Rio de Janeiro e São Paulo: Record, 2000).

4 O DVD foi distribuído gratuitamente para universidades e organizações que trabalham com a temática de educação de jovens e adultos. Seu conteúdo está sendo disponibilizado também pela internet, no Portal dos Fóruns de EJA do Brasil (www.forumeja.org.br.) e deverá ser constantemente complementado com novos materiais e enriquecido com novas análises e comentários. Ao mesmo tempo, está sendo reorganizado o acervo documental, que compreende inclusive materiais não reproduzidos no DVD. Esse acervo continua sediado no Nedeja, para consulta de pesquisadores credenciados. 2. O conteúdo do DVD O DVD é aberto com um texto introdutório, no qual constam as informações apresentadas no item anterior e a indicação dos livros gerais (capas e resenhas), complementado com um texto didático sobre o período e as campanhas e movimentos abordados no conteúdo (aberto pela chamada leia mais). Ao final apresentam-se os créditos: ficha técnica, agradecimentos e indicação das fontes. 4 O conteúdo propriamente dito está dividido em: a) Campanhas, compreendendo a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos, sistematizada em 1947, a Campanha de Educação Rural, criada em 1950 como reforço à primeira, o Sistema Radio Educativo Nacional (Sirena), também criado no mesmo ano, e a Mobilização Nacional contra o Analfabetismo, criada em 1958. Delas apresentam-se alguns documentos constituintes e respectivos materiais didáticos (Cartilha Ler, livro de pós-alfabetização Saber e a Radiocartilha); b) Ceplar - Campanha de Educação Popular da Paraíba; c) CPC Centro Popular de Cultura, criado pela UNE, com sede no Rio de Janeiro, com vários desdobramentos nos estados; d) MCP Movimento de Cultura Popular, inicialmente implantado no Recife e depois estendido para outros municípios de Pernambuco; d) MEB Movimento de Educação de Base; d) Sistema de Alfabetização Paulo Freire (experiência de Angicos e montagem do Plano Nacional de Alfabetização) ; e) Campanha De Pé no Chão também se Aprende a Ler, de Natal. Para cada um desses movimentos, além de um texto inicial contendo breve histórico, são 4 A coordenação do projeto ficou sob minha responsabilidade, contando com Ana Karina Brenner como assistente de pesquisa e produção e Elisa Motta Moreira de Souza como bolsista de iniciação científica. A pesquisa foi em parte financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e a produção física do DVD foi coberta com recursos da Secretaria de Alfabetização, Educação Continuada e Diversidade (SECAD/MEC). Durante todo o trabalho contou-se com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF, na pessoa de seu coordenador, Paulo Carrano.

5 apresentados: livros, documentos, material didático, textos de divulgação, fotos, peças de teatro, áudio e vídeo. 5 Durante todo o processo de produção do DVD colocaram-se duas questões: a) até que ponto esse processo pode ser considerado fazer pesquisa? b) a obtenção e o processamento dos documentos das campanhas de alfabetização e educação rural dos anos 1947-1963 e dos movimentos de cultura e educação popular do início dos anos de 1960 consistem evidentemente na recuperação da memória dessas campanhas e movimentos; mas até que ponto isto significa fazer história? Estes dois pontos serão desenvolvidos a seguir. 3. O processo de pesquisa A busca intencional e orientada da documentação, em grande parte feita nos anos de 1980, e seu aproveitamento na produção das teses e dissertações citadas, constituíram, sem dúvida, um movimento de pesquisa. Seu tratamento arquivístico e sua digitalização, tendo em vista a disponibilização do material, envolve basicamente um trabalho técnico, mas não se limita a ele. Ainda há uma busca intencionada de outros documentos que se sabe ou que se supõe existir; há a procura, seleção e análise de livros, artigos e reportagens existentes, nem sempre disponíveis; contextualiza-se a produção das campanhas e movimentos, comparando criticamente sua apresentação, informando sobre sua repercussão e a censura sofrida após o golpe militar de 1964. Embora não se tenha conseguido trabalhar o grande número de teses e dissertações produzidas sobre as campanhas e os movimentos nos programas 5 Entre os movimentos do início dos anos de 1960, o CPC - Centro Popular de Cultura é o mais rico em publicações e depoimentos colhidos em entrevistas. Além de seus textos fundantes, publicados em Carlos Estevam, A questão da cultura popular (Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1962) e Ferreira Gullar, A cultura popular posta em questão (1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965, 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002), do relatório de pesquisa de Manoel Berlink, Um projeto para a cultura brasileira nos anos 60: análise sociológica do Centro Popular de Cultura, realizado na Unicamp, e do livro CPC da UNE: uma história de paixão e consciência (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994), organizado por Jaluza Barcelos com depoimentos de líderes estudantis e participantes dos diversos CPCs implantados em vários estados, o periódico Arte em Revista, (v. 2, n. 3.março 1980, dedicado ao problema da cultura) e a publicação Memorex: elementos para a história da UNE (São Paulo: DCE Livre Alexandre Vanuchio, s.d.) trazem outros importantes depoimentos. Sobre um dos dirigentes mais importantes do CPC, dispõe-se ainda do excelente Vianinha, cúmplice da paixão, de Denis de Moraes (1ª ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991, 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000), e sobre um dos autores do filme Cinco Vezes Favela, temos Leon Hirszman, o navegador das estrelas, escrito por Helena Salem (Rio de Janeiro: Rocco, 1997). Em termos mais críticos, podemos nos valer do memorável Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde, 1960-1970, de Heloisa Buarque de Holanda (Rio de Janeiro: Rocco, 1980) e da crítica radical de Marilena Chauí, Considerações sobre os Cadernos do Povo Brasileiro e o Manifesto do CPC, inserida em O nacional e o popular na cultura brasileira (São Paulo: Brasiliense, 1983).

6 de pós-graduação, como afirmado, foram consideradas as mais importantes, publicadas como livros. Por sua vez, o próprio modo de apresentar o material selecionado e processado valeu-se de um formato técnico, mas ultrapassou-o, pelo objetivo decididamente acadêmico: a intenção era colocar na mão de pesquisadores, iniciais ou experimentados, com toda a autenticidade, não só materiais originais como informações tão precisas quanto possível sobre as experiências. Isto tem sido particularmente difícil no caso das experiências mais antigas, como das escolas radiofônicas criadas a partir dos anos de 1930 e mesmo das campanhas de alfabetização e educação de base dos anos de 1940 e das atividades de educação rural nos aos de 1950. Os arquivos dessas últimas campanhas no Ministério da Educação e Cultura foram destruídos e são encontrados apenas algumas publicações e alguns relatórios no já citado Espaço Cultural Anísio Teixeira. Se entendermos fazer pesquisa como um processo contínuo e sempre inacabado, a recuperação e a divulgação da memória das campanhas de alfabetização e dos movimentos de cultura e educação popular não são apenas subsídios para isto, mas se inscreve nesse processo. E, em nosso caso, a iniciativa tem-se desdobrado em duas frentes, a saber: a) mestrandos e doutorandos da área de história têm estudado experiências importantes de escolarização e educação de adultos em séculos passados muitas delas promovidas por empresas ou sociedades beneficientes, assim como movimentos político-sociais importantes, quase sempre financiadas pelos poderes públicos; e b) mestrandos e doutorandos da área de educação de jovens e adultos documentam e analisam iniciativas mais recentes, sobretudo de educação popular. 4. Recuperar a memória e fazer a história Como foi dito inicialmente, a história da educação de adultos e a história da educação popular não aparecem nos livros de história da educação brasileira; uma ou outra vez são encontradas referências esparsas, não raro apenas a Paulo Freire, pela sua projeção. Toda a produção sobre essas modalidades educativas consta de livros específicos, a maioria deles provenientes de trabalhos de teses e dissertações, já indicada. Além disso, o relativamente difícil acesso a esses livros, encontrados apenas em bibliotecas universitárias e em sebos, e o pouco empenho no estudo aprofundado das campanhas e movimentos, inseridos nos respectivos contextos históricos, tem levado a interpretações parciais e não raro incorretas.

7 Um exemplo pode ajudar a entender em que termos a memória assim recuperada e disponibilizada ajuda a fazer a história. Desde a I Conferência Brasileira de Educação, realizada em 1980, tem-se como senso comum que as campanhas de alfabetização e os movimentos de cultura e educação popular, entre eles o Sistema de Alfabetização Paulo Freire, destinaram-se exclusivamente a adultos, ignorando a importância da escola pública para crianças. 6 Na verdade, a ênfase na educação de adultos, qualquer que fosse sua motivação político-ideológica, não se restringia aos adultos; a ausência de escolas, tanto no meio urbano quanto no meio rural, encaminhava para essas classes de emergência, além dos adultos, crianças, adolescentes, jovens e também idosos, o que se pode comprovar nas fotos encontradas. Mais que isto, uma das importantes ações do MCP era a oferta da escola primária para as crianças da periferia da cidade do Recife 7 e a Campanha De Pé no Chão se Aprende a Ler originariamente foi uma inteligente e inovadora oferta de escolas primárias para crianças nas áreas pobres da cidade de Natal, abrindose só em um segundo momento para uma ação mais ampla de alfabetização e cultura popular. 8 5. Concluindo Pretende-se continuar a processar a documentaçăo relativa às experiências de educaçăo popular e educação de jovens e adultos em outros períodos. Presentemente, embora sem apoio financeiro, estão sendo trabalhados projetos desenvolvidos entre 1967 e 1990: propostas renovadas do MEB Movimento de Educação de Base, até 1970; a Cruzada ABC - Açăo Básica Cristã; o Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização; experiências de alfabetizaçăo funcional assessoradas pela Unesco e realizadas pelo Incra - Instituto de Colonização e Reforma Agrária e pela Ancar - Associação Nordestina de Crédito e Assistência Rural; Projeto João de Barro, no Maranhão; Projeto de Alfabetização de Adultos da Universidade Federal de São Carlos. O conjunto de experiências de educaçăo popular realizadas no período pelos movimentos sociais e por organizações da sociedade civil, 6 Ver Vanilda Paiva, Estado e educação popular: recolocando o problema, no livro A questão política da educação popular, organizado por Carlos Rodrigues Brandão e publicado pela Editora Brasiliense, em 1980; e Celso de Rui Beisiegel, Ensino público e educação popular, em Perspectivas e dilemas da educação popular, organizado por Vanilda Paiva e publicado pela Graal, em 1984. 7 A única referência disponível sobre essa ação é o artigo de Silke Weber, Política e educação: O MCP do Recife, publicado em Dados Revista de Ciências Sociais, v. 27, n. 2, 1984. 8 Como é fartamente demonstrado nos livros de Moacyr de Góes, Willington Germano Filho e Margarida de Jesus Cortez, citados, assim como nas fotos e no vídeo sobre a Campanha.

8 fortemente apoiadas pelas Igrejas católica e protestantes, pela sua riqueza e expressão, demandará um projeto específico. Pela necessidade de ter disponíveis para aulas e seminários, tem-se digitalizado também materiais didáticos do período mais recente, como os do Programa Integrar e do Programa Integração, desenvolvidos pela CUT Central Única dos Trabalhadores, e Palavras de Trabalhador, do Serviço de Educação de Jovens e Adultos de Porto Alegre. Em termos nacionais, com apoio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, trabalha-se na implantação de Centros de Memória da Educação de Jovens e Adultos, em três pólos regionais: Sudeste (inicialmente Rio de Janeiro) Nordeste (João Pessoa, Natal e Recife), Centro-Oeste (Goiânia, Brasília, Cuiabá e Campo Grande), tendo como objetivos mapear, processar e disponibilizar em rede a documentação histórica e recente sobre EJA, assim como colher depoimentos de pessoas-chave nas experiências antigas e atuais. Para além da recuperação da memória e de sua disponibilização em meios mediáticos, uma tarefa importante seria elaborar a historiografia da educação de adultos e da educação popular. Parte dessa tarefa já foi realizada, em termos de crítica aos objetivos, referenciais e metodologias relativos às iniciativas anteriores de alfabetização e educação de adultos. 9 A produção do DVD enfatizou também a inadequação dos materiais didáticos utilizados nas campanhas, por ignorar a realidade em que viviam e vivem os adultos e infantilizar o conteúdo proposto. Esta é outra temática a ser aprofundada, considerando não só a produção do início dos anos de 1960, original e marcadamente política, e a produção que se apresenta renovada, atualmente. A historiografia da educação de jovens e adultos, por sua vez, designação que passou a ser utilizada somente a partir de meados dos anos de 1980, somente nos dias atuais tem sido objeto de pesquisa sistemática. 10 Sua forma ainda predominante escolarizada, na qual a certificação é peça fundamental, ou nas ações de formação profissional nas quais, salvo exceções, vigora a preparação imediata para o trabalho, a afastam da 9 Destaca-se a excelente produção de Carlos Rodrigues Brandão, desde o primeiro trabalho Da educação fundamental ao fundamental na educação (Rio de Janeiro: Fase, 1972 e Campinas: Cadernos Cedes n. 1, 1980), complementada por Pensar a prática; escritos de viagem e estudos sobre a educação (São Paulo: Loyola, 1984), até o Em campo aberto; escritos sobre educação e cultura popular (São Paulo: Cortez, 1995). 10 Em especial, as publicações organizadas por Sérgio Haddad: Educação de jovens e adultos no Brasil 1986-1998 (Brasília: MEC/INEP, 2002. Série Estado do Conhecimento n. 8) e Novos caminhos em educação de jovens e adultos EJA; um estudo de ações do poder público em cidades de regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo: Global, Ação Educativa e Fapesp, 2007) e o n. 72 da série Em Aberto, sobre Educação de Jovens e Adultos, organizado por Margarida Maria Machado (Brasília: MEC/INEP, 2009).

progressiva e radical ampliação tanto do conceito e do entendimento da educação popular, como exigência e complemento dos movimentos sociais, e também da perspectiva de uma educação continuada ao longo de toda a vida. 9