Redesenhando o papel da Televisão no cenário tecnológico: O caso Haiti: 1



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. Indice. 1 Introdução. 2 Quem Somos. 3 O que Fazemos. 4 Planejamento. 5 Serviços. 6 Cases. 9 Conclusão

Transcrição:

Redesenhando o papel da Televisão no cenário tecnológico: O caso Haiti: 1 Kátia Cristina dos REIS 2 1. Introdução Observa-se que a televisão tem sido afetada, de maneira direta, pelos meios de produção das tecnologias da convergência, seja pela emergência dos novos meios interativos, bem como pela intensa e diversa circulação de conteúdos por diferentes sistemas de distribuição (VILCHES, 2003; JENKINS, 2008). Além disso, a enorme capacidade de recepção de imagens estáveis em aparelhos móveis ou portáteis como celulares e laptops instaura uma nova forma de fruição e sinaliza para uma maior multiplicidade dos conteúdos. Tal perspectiva coloca a questão em pauta na transmissão das primeiras informações no terremoto no Haiti, uma vez que, as novas interfaces tecnológicas foram utilizadas como fonte alternativa e até mesmo principal de informação diante do colapso comunicacional que ocorreu no país após o desastre. 2. Da indústria cultural até a cultura da mobilidade Desde que as teorias clássicas da indústria cultural foram criadas e difundidas, principalmente pelos pensadores da escola de Frankfurt, o que se previa era que as tecnologias usadas pelos meios de comunicação seriam exclusivamente controladas por empresas capitalistas. No entanto, a intensa inovação tecnológica acabou barateando o uso desses meios, permitindo que várias alternativas de produção possam se realizar, criando situações nas quais os indivíduos podem intervir. Dessa forma, é necessária uma análise das transformações provenientes das diferentes formas de comunicação e pela inserção das novas tecnologias na sociedade contemporânea. Primeiramente, observa-se a transição da cultura oral para a cultura de massas com a invenção da prensa de Gutenberg que possibilitou a produção em larga escala. Chegando aos anos 80, surge a cultura das mídias, onde os novos equipamentos e dispositivos passam a permitir a cultura do disponível e do transitório (SANTAELLA, 2004). Já no terceiro momento, a idéia de cibercultura é desenvolvida por Levy (1999), Lemos (2002), Costa (2002) como sendo uma cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Leão (2004, p. 166) analisa que esta forma de cultura é constituída por um conjunto de técnicas, práticas, modos de pensamento e valores que se desenvolvem junto ao ciberespaço 3. 1 Trabalho apresentado no Celacom 2010. 2 Mestranda do curso de Redes, Estética e Tecnocultura na UFJF e pós-graduanda em Tv, Cinema e Mídias Digitais na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG). Orientador: Cícero Inacio da Silva. Email: katia.reis@hotmail.com. 3 O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga (LEVY, 1999, p. 17). 4 Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Tim O Reilly. Disponível em: <http://www.oreillynet.com>. Acesso em 4 jun. 2009.

Na cibercultura, os processos de comunicação são produzidos e distribuídos de maneira legível no computador. Forma digital que significa que quaisquer fontes de informação podem ser homogeneizadas de cadeia de 0 e 1. Isso viabiliza que a mesma tecnologia básica seja utilizada para transmitir todas as formas de comunicação, em um sistema integrado, onde os bits dígitos binários aparecem como denominador comum para os demais meios de comunicação. Atualmente, com menos de dez anos após a consolidação da cibercultura, há uma variação avançada da mesma, em concomitância com o potencial aberto pela Web 2.0, chamada de cultura da mobilidade - baseada nos dispositivos móveis e já começa a chamar a atenção de teóricos e críticos da comunicação. Observa-se, no entanto, que apesar das mudanças nos processos comunicacionais, a internet permaneceu no centro dos atuais debates. Para Castells, a internet é a própria base da sociedade em rede: A internet constitui a base material e tecnológica da sociedade em rede (...) O que a internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (CASTELLS, 2003, p. 287). Além disso, ressalta-se que o advento das tecnologias, estruturadas pela rede e viabilizadas pela internet trouxe inúmeras modificações para a sociedade. A visão do ser humano multifacetado em contra posição aos estereótipos amplamente divulgados, as miríades de caminhos propostos pela sociedade em rede e as novas possibilidades do antigo receptor que ganha status de agente ativo e de construtor do seu próprio labirinto mexe nos antigos sistemas estruturais. As posições que eram estritamente definidas deram lugar à troca de papéis que permite que emissores e receptores cruzem-se, confundem-se e contaminem-se (LEÃO, 2005, p. 42). Esta análise serve como indicativo de que novos padrões estão surgindo no campo da Comunicação, em conseqüência do impacto das tecnologias. 3. Haiti: Mensagens e vídeos da rede viram pauta para TV No terremoto em Porto Príncipe, no Haiti, a internet exerceu um papel fundamental ao permitir a comunicação em tempo real do país com o resto do mundo. Ela atuou como fonte alternativa de comunicação, já que a infra-estrutura comunicacional estava em colapso. Por conta da precariedade nos sistemas de comunicação, a população e principalmente, os parentes das vítimas, tinham dificuldades de encontrar desaparecidos. No entanto, a rede passou a servir como único canal de comunicação entre as pessoas. A rede social Twitter, por exemplo, foi uma ferramenta-chave na distribuição de imagens e informações do Haiti. As fotos enviadas pelo Twitpic e outros serviços baseados nesta rede circulavam pela internet muito antes das agências de notícias terem tempo suficiente para produzir algo parecido. Observa-se que tudo que foi registrado pelos celulares que funcionam com diferentes necessidades infra-estruturais - centenas de antenas que não dependem de conexões por cabo - tornou o acesso à rede viável, pois seu funcionamento é independente da luz elétrica. Com isso, em poucos segundos após o tremor, o Twitter foi inundado com inúmeras mensagens sobre o desastre. Tanto as informações dos oficiais, como os depoimentos do povo haitiano foram se proliferando. A partir daí, a empresa Twitter criou o canal "#relativesinhaiti" para

que parentes no exterior pudessem descobrir informações sobre desaparecidos, enquanto o canal "#rescumehaiti" foi utilizado pelos que participam diretamente das operações de resgate. Vários sites também começaram a fornecer serviços alternativos para informar sobre a situação do Haiti. O site Ushahidi, passou a disponibilizar mapas que detalhavam os danos e ajuda humanitária e tanto o Google quanto o site Facebook elaboraram listas de desaparecidos. Com tanta informação disponível na rede e diante da inviabilidade comunicacional do país, os diversos veículos de comunicação passaram a veicular tanto as informações, como os vídeos e imagens que estavam sendo postados na rede. A repórter Ana Luíza Guimarães, do Jornal Bom Dia Brasil, afirma em reportagem realizada no dia 13.02.10 que: muitas das informações nos chegam pela internet. Ela apresenta então um vídeo feito por uma haitiana e declara: você vai ver agora o relato desesperado de uma mulher que do alto de uma montanha descreve a situação em Porto Príncipe (G1, 2010). O apresentador Renato Machado ainda completa: as imagens foram gravadas momentos depois do terremoto e foram postadas no youtube. Este relato no youtube já recebeu mais de trezentos mil acessos. A seguir as imagens são transmitidas (G1, 2010). Mulher filma capital de Haiti logo após terremoto Fonte: <http://g1.globo.com/bomdiabrasil> Além disso, no site do youtube inúmeros vídeos sobre o terremoto podem ser acessados, assim como imagens anteriores a tragédia, condições atuais do país, pontos mais devastadados e pedidos de ajuda. O relato de um haitiano, por exemplo, que já recebeu mais de duzentos mil acessos e exibe como foram os primeiros momentos após a tragédia. No vídeo, ele resolve solicitar ajuda pela web cam e relata que as pessoas não estavam conseguindo utilizar os telemóveis telefones - conforme imagem a seguir:

Haitiano usando webcam relata cenário de caos Fonte: <http://www.youtube.com/watch?v=9ft7yviznb0 > Constata-se que rapidamente as imagens do terremoto, as milhares de vítimas e os escombros chegaram aos noticiários, assim como a solidariedade mundial com os feridos logo ganhou espaços nos principais noticiários televisivos. No entanto, diversos blogs e mensagens postadas no Twitter questionavam a ajuda que era tão divulga pelos veículos de comunicação, mas não chegava ao Haiti. Em um blog de pesquisadores da Unicamp (2010) que estão no Haiti, traz algumas declarações que podem dar uma dimensão diferente na construção da realidade das pessoas. Os pesquisadores relataram alguns fatos que presenciaram no país durante e após o terremoto. Eles declaram que a ajuda divulgada conseguia chegar nos hotéis de luxo, onde se hospedavam os estrangeiros, enquanto o restante da população se perguntava onde estavam todas as doações anunciadas. Segundo relato de um haitiano no blog A ajuda internacional não se vê, não se come nem se bebe, só se escuta. Os pesquisadores afirmam: Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela? Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros. Blog dos Pesquisadores da UNICAMP no Haiti

Fonte: <http://lacitadelle.wordpress.com/2010/01/13/haiti-estamos-abandonados/> Várias constatações como esta, também se propagaram na rede e no Twitter, por exemplo, que exibia diversos e diferentes registros de cidadãos no Haiti solicitando por ajuda e indignados pela falta da mesma. Muitos, também questionavam a posição da ONU - Organização das Nações Unidas - que se ausentou e só aparecia para resgatar seus militares e civis, bem como para remover os escombros do Hotel Montana, onde se hospedavam os estrangeiros. Observa-se que o papel da internet foi importante não só sob a perspectiva de ter sido uma fonte de informação alternativa diante do colapso comunicacional, mas também de ter exercido um papel diferente do habitual, ou seja, o da divulgação da informação sob a ótica dos indivíduos. 4. Redesenhando o papel da televisão no cenário das novas tecnologias Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturas e sociais, coloca Henry Jenkis (JENKIS, 2008, p.27). Jenkis expõe que os meios de comunicação não estão sendo substituídos, mas sim modificados a partir da inserção das novas tecnologias, o que altera a forma de produzir e consumir informações. Dentro deste contexto pode-se verificar o papel da televisão,já que ela tem sido afetada, de maneira direta, pelos novos meios de produção das tecnologias da convergência e ao contrário do que expõem os alarmistas, a experiência histórica mostra que os novos meios não irão substituir formas anteriores, mas provocar modificações nos meios. Com isso, a TV deverá reconfigurar-se, apropriar-se de seus recursos como já vem executando mas tendo uma questão primordial a pensar que reside na multiplicidade dos aspectos disponíveis na rede. Em relação à questão do Haiti ressalta-se três pontos principais. O primeiro liga-se diretamente a importância do papel mobilizador da televisão, que foi utilizado para arrecadação de doações em prol da questão. Afinal, é fato que as doações aumentavam significativamente graças ao papel de mobilização social que a televisão possui.

No entanto, o segundo ponto que merece atenção é a ênfase dada, ou pela falta da mesma na abordagem dos aspectos do acontecimento, já que a ajuda anunciada pelos veículos de comunicação eram questionadas pelos usuários na rede, sejam eles do Brasil, no Haiti ou de outra nacionalidade. Após este primeiro momento, a disparidade nas informações relativas as doações veiculadas pela televisão e as reclamações oriundas dos usuários na rede que estavam no Haiti pela rede, já que as toneladas de alimentos e recursos financeiros não chegavam efetivamente a quem precisava. Este novo cenário desencadeia a necessidade de uma abordagem mais ampla dos acontecimentos pela televisão, afinal, se a ênfase dada para determinado aspecto não conseguiu compreender a gama de aspectos necessários a cobertura do acontecimento gerados pelos pelos usuários da rede. Já o terceiro mostra a importância da internet e dos novos protagonistas da informação, ou seja, as pessoas, afinal, as primeiras informações foram obtidas e veiculadas sob a ótica dos indivíduos e posteriormente veiculadas pelos veículos de comunicação. Conforme já analisa Montez, Becker (2005) a convergência midiática irá proporcionar uma nova releitura do que é televisão e a introdução da interatividade TV alterará forma de produzir, distribuir e consumir conteúdo televisivo. Essa quebra de paradigmas não representa o fim da televisão, pois a atual forma de ver TV pode continuar. Representa isso sim, o surgimento de uma nova mídia, com características próprias e peculiares a sua natureza tecnológica (MONTEZ; BECKER, 2005, P. 58). O atual modelo da televisão deverá começar a ser repensado neste contexto tecnológico, onde há uma multiplicidade de olhares e as miríades de caminhos disponibilizados pela a informação na rede. Observa-se ainda a utilização de fontes de informação da rede que ganham espaço de credibilidade. 5. Metodologia Para desenvolvimento do artigo foi utilizado o método bibliográfico, através da leitura e fichamento das obras pertinentes ao tema em questão. Foram utilizados livros e a internet, bem como fontes que ofereceram subsídios para a pesquisa do tema proposto. A análise e interpretação dos dados obtidos das investigações do conteúdo postado na internet através de Blogs e redes sociais como Orkut, Twitter, YouTube, juntamente com o suporte teórico bibliográfico, foram a base da dissertação. 6. Conclusão Constata-se no epidódio no Haiti que a internet viabilizou a conexão do mundo com o país e permitiu uma visão diferente da habitual, uma vez que as primeiras informações sobre o terremoto vieram através da rede e sob a ótica dos indivíuos e posteriormente viraram matéria nos principais veículos de comunicação do mundo. Diante das miríades de caminhos propostos pela sociedade em rede, é necessário que a televisão redefina seu papel na sociedade, uma vez que, a verdade pré-estabelecida pode ser facilmente desestruturada mediante ao que for divulgado na rede.

Dar maiores possibilidades de aspectos e diferentes ângulos da notícia poderia ser um dos pontos mais trabalhados a partir de agora, já que através da internet e do surgimento das mídias sociais as pessoas tem a oportunidade de refletir melhor sobre a construção da realidade sem depender apenas do que é transmitido pela televisão. 7. Referências CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. COSTA, Rogério. Cultura digital. São Paulo: Publifolha, 2002. G1. Cobertura completa: terremoto no Haiti. Disponível em: <http://g1.globo.com/noticias/mundo/0,,mul1446514-5602,00cobertura+completa+terremoto+no+haiti.html>. Acesso em: 2 set. 2009.. Mulher filma capital de Haiti logo após terremoto. Disponível em: <http://g1.globo.com/bomdiabrasil>. Acesso em: 25 de jan. 2010. JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. LEÃO, Lucia (org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume; Senac, 2004. LEÃO, Lucia. O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo: Editora Illuminuras Ltda, 2005. LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital Interativa: Conceitos, Desafios e Perspectivas para o Brasil. 2.ed. Florianópolis: UFSC, 2005, 201.p. PESQUISADORES DA UNICAMP. Grupo de pesquisadores da Unicamp sobre o Haiti no Haiti. Disponível em: <http://lacitadelle.wordpress.com/2010/01/13/haiti-estamos-abandonados/>. Acesso em: 15 de fev. 2010. SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004. VILCHES, L. A migração digital. São Paulo/ Rio: Ed. PUC-Rio. Ed. Loyola, 2003.

YOUTUBE. Haitiano usando webcam relata cenário de caos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=9ft7yviznb0>. Acesso em: 15 de jan. 2010.