Comunicado. Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha

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Transcrição:

Comunicado Técnico Julho, 293 ISSN 980-3982 Colombo, PR 202 Foto: Edson Alves de Lima Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha José Mauro Magalhães Ávila Paz Moreira Edson Alves de Lima 2 Ives Clayton Gomes dos Reis Goulart 3 A madeira é amplamente usada como fonte de energia e calor, principalmente em sua forma bruta, tradicionalmente conhecida como lenha, tendo oferecido uma valorosa contribuição histórica para o desenvolvimento da sociedade (BRITO, 2007). Em países em desenvolvimento, ainda são poucas as alternativas desenvolvidas para geração de energia e calor que apresentem relação benefício/custo competitivas com a madeira (BUAINAIN; BATALHA, 2007). Aproximadamente 58% da produção mundial de madeira nas últimas duas décadas se destinou a biomassa (energia). Ela participa atualmente com cerca de 0% da geração de energia primária na matriz energética brasileira (MOREIRA, 20). A produção nacional de madeira para lenha oriunda da silvicultura vem apresentando crescimento desde 2003, passando de 33,8 milhões de m³ para 49 milhões de m³ em 200 (IBGE, 202). Neste mesmo período, o preço real médio do m³ de lenha pago ao produtor no estado do Paraná aumentou 87%, passando de R$ 7,7 m -3 em 2003, para R$ 33,7 m - ³ em 200. O aumento real nos preços pagos aos produtores pela lenha de silvicultura evidencia uma escassez de lenha no mercado interno. Esta escassez de madeira incentiva a busca por formas de aumentar a eficiência da sua conversão em energia, bem como o desenvolvimento de alternativas para comparar o custo da energia obtida com a queima da lenha com outras fontes de energia (BRITO, 993; LIMA, 200). Algumas alternativas já foram desenvolvidas, umas visando comparar o seu custo e potencial com outras fontes de energia (BRITO, 993), e outras para propor uma melhor estimativa do preço a ser pago pela madeira em função do seu potencial de liberação de energia para o sistema ao invés do seu volume empilhado (estéreo) (LIMA, 200). O potencial energético do volume empilhado da lenha é calculado por meio de um indicador que chamaremos de densidade energética (DE), o qual varia em função do poder calorífico útil (PCU) da madeira, sua densidade e fator de empilhamento. O PCU varia de acordo com o poder calorífico superior (PCS) da madeira e o seu teor de umidade no momento da queima (BRITO, 993). O preço médio foi obtido pela divisão do valor da produção pela quantidade produzida da pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura realizada pelo IBGE. Os preços reais (R$ 200) foram estimados pela deflação dos valores de preço pelo IGP-DI Geral centrado da Fundação Getúlio Vargas (IPEA, 202). Engenheiro Florestal, Doutor, Analista da Embrapa Florestas, josemauro@cnpf.embrapa.br 2 Licenciado em Ciências Agrícolas, Doutor, Pesquisador da Embrapa Florestas, edson@cnpf.embrapa.br 3 Engenheiro Agrônomo, Mestre, Analista da Embrapa Florestas, ives.goulart@cnpf.embrapa.br

2 Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha Uma das maneiras mais eficientes de aumentar o ganho de energia da madeira é o manejo do seu teor de umidade (LIMA et al., 2008; LIMA, 200), o qual apresenta uma relação inversamente proporcional com a quantidade de energia liberada pela sua queima para o sistema de produção. A energia potencial que a queima da madeira proporciona é dada pelo seu poder calorífico, que pode ser apresentado de duas formas (BRITO, 993): o PCS, que considera a energia gerada para que a água evaporada pela queima da madeira encontre-se em estado líquido (volume constante); e o poder calorífico inferior (PCI), onde a água encontra-se em estado gasoso (LIMA, 200). Na prática, o PCI deve ser preferido (BRITO, 993), mas o método comumente utilizado para obtenção do poder calorífico da madeira é o PCS. Metodologia de cálculo De acordo com Brito (993), as análises de PCS e PCI são diferenciadas pelo teor de hidrogênio na madeira, valor relativamente constante em todas as madeiras (em torno de 6%). Descontando-se do valor do PCS a quantidade de energia necessária para se retirar o hidrogênio da madeira, obtêm-se o valor do PCI (equação ). PCI = PCS 324 () PCI = poder calorífico inferior (kcal kg - ) PCS = poder calorífico superior (kcal kg - ) Durante o processo de combustão da madeira, parte da energia potencial é utilizada para evaporar a água nela contida, caso o seu teor de umidade não seja nulo. Esta energia não é disponibilizada para o sistema de produção, devendo ser subtraída da quantidade de energia que o sistema de produção recebe, restado o poder calorífico líquido (PCL) (BRITO, 993) ou o PCU (LIMA et al., 2008), calculado através da equação 2 (BRITO, 993). A quantidade de energia perdida em decorrência do teor de umidade da madeira varia em função do seu teor de umidade e do seu PCI. ( U ) PCU = PCI 6 U (2) PCU= poder calorífico útil (kcal kg - ) U = teor de umidade da madeira (% - kg/kg base úmida) O PCU estabelece uma relação entre energia e massa (kcal kg - ), mas a comercialização da madeira normalmente é realizada com base em volume de madeira empilhada. Dessa forma, os valores da densidade da madeira e o fator de empilhamento irão influenciar a quantidade de energia potencialmente disponível para o sistema por estéreo (LIMA, 200). O cálculo dopotencial energético da madeira empilhada será realizado por meio da densidade energética (DE), cuja unidade será Gcal st -. A densidade básica (DB) é dada pela massa seca da madeira dividida pelo volume da madeira completamente saturada, sendo expressa pela unidade (kg m -3 ). A fórmula do fator de empilhamento, cuja unidade é (st m -3 ), está representada na equação 3. VE FE = (3) VS FE = fator de empilhamento (st m -3 ) VE = volume de madeira empilhado (m 3 ) VS = volume de madeira sólido (m 3 ) O preço da madeira é expresso em reais por metro estéreo (R$ st - ). A DE é calculada por meio da equação 4. Para um melhor ajuste de escala, a unidade de energia é convertida em Gcal, multiplicando o seu denominador por.000.000. ( U ) DB ( PCS 324) 6 U DE = 6 FE 0 DE = densidade energética (Gcal st - ) DB = densidade básica (kg m -3 ) (4) O custo da energia obtida a partir de um metro cúbico de madeira empilhada é calculado através da equação 5, que é expresso em R$ Gcal -. 6 ( Preço FE 0 ) CE = U (5) DB ( PCS 324) 6 U CE = custo da energia (R$ Gcal - ) Preço = preço da madeira (R$ st - )

Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha 3 A DB e o PCS variam entre espécies, entre indivíduos da mesma espécie e até dentro de um mesmo indivíduo de acordo com a sua idade, altura e diâmetro. Entretanto, para facilitar as comparações e o processo de tomada de decisão sobre a aquisição de madeira para energia, consideraremos um valor padrão de DB e PCS para uma mesma espécie de madeira. Análise de sensibilidade As análises da densidade energética e do custo da energia foram realizadas para seis principais matérias primas florestais utilizadas pelas cooperativas do Paraná para geração de energia, sendo: Eucalyptus benthamii, E. camaldulensis, Corymbia citriodora, E. dunnii, E. grandis e o híbrido E. urograndis (GOULART, 202). Além destes, a bracatinga também foi considerada por ser uma importante espécie nativa explorada para produção de lenha na região sul do Brasil. Na Tabela são apresentados os valores médios considerados de PCS e DB para as espécies florestais selecionadas. Tabela. Poder calorífico superior (PCS) e densidade básica (DB) médios das espécies florestais consideradas. Espécie florestal DB (kg m - ³) PCS (kcal kg - ) Eucalyptus benthamii 477 (a) 468 (a) E. camaldulensis 630 (a) 5085 (a) Corymbia citriodora 730 (a) 478 (a) E. dunnii 550 (a) 4732 (a) E. grandis 475 (a) 4650 (a) E. urograndis 526 (a) 4523 (a) Mimosa scabrella 560 (b) 4700 (b) (a) Pereira et al.(2000); (b) Carvalho (2003). O preço considerado para as análises foi obtido a partir de contatos telefônicos e conversas informais realizadas no mês de maio de 202 com cooperativas paranaenses sobre o valor pago pelo estéreo de lenha entregue no comprador. O valor médio obtido é de R$ 60 st -, sendo o preço médio pago pelas cooperativas do leste do Paraná (R$ 50 st - ) inferior ao valor pago pelas cooperativas do oeste (R$ 75 st - ). Esta diferença é explicada em parte pelos custos com frete para transporte da madeira, uma vez que a maioria dos plantios florestais do Paraná se situam na região leste do estado (ANUÁRIO..., 20). O fator de empilhamento considerado é o mesmo para todas as espécies, sendo de,43 st m -3, valor normalmente adotado na prática (MACHADO; FIGUEIREDO-FILHO, 2003). A utilização deste valor fixo deve-se à falta de informações de valores calculados para cada espécie, nas condições consideradas no presente trabalho. A análise de sensibilidade considerou uma variação de teor de umidade das espécies florestais entre 20% e 60%. Tais valores são considerados razoáveis para a lenha seca ao ar livre. A variação da DE, que quantifica a energia útil liberada para o sistema, por meio da combustão de um metro estéreo de lenha das diferentes matérias-primas ao longo dos teores de umidade considerados pode ser observada na Figura. A Figura demonstra o impacto no aumento de energia útil para o sistema ao se secar a madeira, ou quando se trabalha com matérias-primas diferentes. O ganho de densidade energética entre o menor e o maior teor de umidade considerado é muito semelhante para todas as espécies, sendo algo em torno de 43% de acréscimo entre os teores de umidade de 60% e 20%. Entretanto, em termos absolutos, o ganho em densidade energética é maior em madeiras com maior densidade básica, variando de 0,66 Gcal st - (E. benthamii e E. grandis) a,02 Gcal st - (C. citriodora). Tais resultados indicam que é possível superar o dobro da densidade energética da madeira pelo manejo do seu teor de umidade. Na Figura 2 é apresentada a variação do custo da energia útil liberada para o sistema de produção, por meio da combustão de um metro estéreo de lenha das diferentes matérias primas ao longo dos teores de umidade considerados. O decréscimo no custo da energia apresenta comportamento não linear para todas as espécies estudadas, diminuindo a taxas decrescentes. Isto significa que os ganhos econômicos obtidos a partir da secagem da madeira vão decrescendo à medida que o seu teor de umidade vai caindo.

4 Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha 2 Densidade Energética (DE) - (Gcal st - ),8,6,4,2 0,8 0,6 0,4 C. citriodora E. camaldulensis Bracatinga E. dunnii E. urograndis E. benthamii E. grandis 0,2 0 0 0 20 30 40 50 60 70 Umidade (%) Figura. Análise de sensibilidade da DE obtida com as diferentes matérias-primas entre teores de umidade de 20% a 60%. 40 20 E. grandis E. benthamii E. urograndis E. dunnii Bracatinga Custo da Energia (R$ Gcal - ) 80 60 40 E. camaldulensis C. citriodora 20 0 0 0 20 30 40 50 60 70 Umidade (%) Figura 2. Análise de sensibilidade do custo da energia obtida com as diferentes matérias primas entre teores de umidade de 20% a 60%. Conclusões Existe uma diferença significativa entre a densidade energética do volume de lenha empilhada a partir de diferentes espécies florestais e teores de umidade da madeira. A secagem da madeira pode chegar a dobrar a quantidade de energia disponibilizada para o sistema, e o ganho absoluto é maior para madeiras com maior densidade básica. O custo da energia obtida pela queima de um estéreo de madeira decresce com a diminuição do

Impacto do teor de umidade e da espécie florestal no custo da energia útil obtida a partir da queima da lenha 5 teor de umidade da madeira, mas este decréscimo é não linear e diminui a taxas decrescentes. Este trabalho apresenta informações que visam orientar a decisão da compra de madeira para energia, particularmente a lenha, para os consumidores deste produto. Os produtores de florestas para energia, sejam elas plantadas ou nativas manejadas, devem incluir a produtividade das espécies na sua análise para gerar um indicador de produção de energia (ou rentabilidade) por unidade de área. Tal consideração é necessária porque a produtividade pode variar com as espécies, e a baixa densidade energética, em termos de volume, pode ser compensada pela maior produtividade da espécie, gerando uma maior quantidade de energia por hectare. Referências ANUÁRIO Estatístico da ABRAF 20: ano base 200. Brasília, DF: ABRAF, 20. 30 p. BRITO, J. O. Expressão da produção florestal em unidades energéticas. In: CONGR ESSO FLORESTAL PANAMERICANO,.; CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 7., 993, Curitiba. Floresta para o desenvolvimento: política, ambiente, tecnologia e mercado: anais. São Paulo: SBS; [S.l.]: SBEF, 993. v. 3. p. 280-282. BRITO, J. O. O uso energético da madeira. Estudos Avançados, São Paulo, SP, v. 2, n. 59, p. 85-93, jan./mar. 2007. BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. Cadeia produtiva de madeira. Brasília, DF: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: IICA, 2007. 82 p. (MAPA. Agronegócios, v. 6). CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2003. v.. 039 p. GOULART, I. C. G. dos R. Diagnóstico preliminar das demandas por tecnologias florestais em cooperativas agropecuárias do estado do Paraná. Colombo: Embrapa Florestas, 202. 37 p. (Embrapa Florestas. Documentos, 234). No prelo. IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática: SIDRA. Rio de Janeiro R J, 202. Disponível em: <http://www. sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 202. IPEA. IPEADATA: índice geral de preços: disponibilidade interna (IGP-DI). Disponível em: <www.ipeadata.gov. br>. Acesso em: 0 jun 202. LIMA, E. A. de; ABDALA, E. M.; WENZEL, A. A. Influência da umidade no poder calorífico superior da madeira. Colombo: Embrapa Florestas, 2008. 3 p. (Embrapa Florestas.Comunicado técnico, 220). LIMA, E. A. de. Alternativa para estimar o preço da madeira par a energia. Colombo: Embrapa Florestas, 200. 3 p. (Embrapa Florestas. Comunicado técnico, 260). MACHADO, S. do A.; FIGUEIREDO-FILHO, A. Dendrometria. Curitiba, 2003. 309 p. MOREIRA, J. M. M. A. P. Potencial e participação das florestas na matriz energética. Pesquisa Florestal Brasileira, Colombo, v. 3, n. 68, p. 363-372, abr./jun. 20. PEREIRA, J. C. D.; STURION, J. A.; HIGA, A. R.; HIGA, R. C. V.; SHIMIZU, J. Y. Características da madeira de algumas espécies de eucalipto plantadas no Brasil. Colombo, 2000. 3 p. (Embrapa Florestas. Documentos, 38). Comunicado Técnico, 293 Embrapa Florestas Endereço: Estrada da Ribeira Km, CP 39 Colombo, PR, CEP 834-000 Fone / Fax: (0**) 4 3675-5600 E-mail: sac@cnpf.embrapa.br a edição Versão eletrônica (202) Comitê de Publicações Expediente Presidente: Patrícia Póvoa de Mattos Secretária-Executiva: Elisabete Marques Oaida Membros: Álvaro Figueredo dos Santos, Antonio Aparecido Carpanezzi, Claudia Maria Branco de Freitas Maia, Dalva Luiz de Queiroz, Guilherme Schnell e Schuhli, Luís Cláudio Maranhão Froufe, Marilice Cordeiro Garrastazu, Sérgio Gaiad Supervisão editorial: Patrícia Póvoa de Mattos Revisão de texto: Patrícia Póvoa de Mattos Normalização bibliográfica: Francisca Rasche Editoração eletrônica: Rafaele Crisóstomo Pereira CGPE 9966