Efeitos do tempo e da umidade relativa do ar na armazenagem sobre parâmetros tecnológicos no óleo para biodiesel

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Transcrição:

Efeitos do tempo e da umidade relativa do ar na armazenagem sobre parâmetros tecnológicos no óleo para biodiesel Diego Batista Zeni¹, Maurício de Oliveira¹, Cristiano Dietrich Ferreira 1, David Bandeira da Cruz¹, Rafael de Almeida Schiavon¹, Paulo Romeu Gonçalves 2, Moacir Cardoso Elias¹ 105 1 Laboratório de Pós-colheita, Industrialização e Qualidade de Grãos, Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas. www.labgraos.com.br. 2 Laboratório de Oleoquimica e Biodiesel, Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química e Geociência, Universidade Federal de Pelotas. Resumo Na armazenagem a conservabilidade está sujeita a fatores, como temperatura e umidade relativa do ar (UR), que controlam a umidade e a velocidade dos processos bioquímicos dos grãos, como matéria-prima para os biocombustíveis. Visando estudar efeitos da (UR) e do tempo de armazenamento, grãos de canola com umidade próxima a 8% foram armazenados por 10 meses em ambiente com de 55-65 e 75-85% de UR. Resultados indicam que as condições estudadas preservam os parâmetros em níveis aceitáveis para produção de biodiesel, pelo menos para até 200 dias de armazenamento. Palavras-chave: Brassica napus L., teor de óleo, índice de peróxido, índice de acidez. Introdução A produção de canola (Brassica napus L.) tem crescido rapidamente nos últimos 40 anos, subindo da sexta para segunda posição de oleaginosa mais produzida mundialmente. O óleo de canola, obtido a partir de esmagamento de grãos de canola, foi o terceiro óleo vegetal mais produzido no mundo em 2009. Entre 2000 a 2009 o óleo de canola foi 13 a 16 por cento da produção mundial de óleos vegetais (USDA-ERS, 2010). Devido ao programa brasileiro de incentivo á produção de biocombustível, a canola que tinha somente importância na alimentação humana, adquiriu um potencial para fins energético. Do ponto de vista ecológico da produção de energia, há uma tendência mundial e um crescimento na 722

procura deste tipo de energia, porém o país apenas industrializava o óleo necessário para o consumo interno, mas com o biocombustível derivado de óleo vegetal o cenário esta mudando. Os óleos e gorduras são compostos extraídos por solventes orgânicos e constituídos pelos triglicerídeos e suas propriedades físicas dependem da estrutura e da distribuição dos ácidos graxos presentes (CASTRO et al., 2004). Lipídios designam um grupo heterogêneo de substâncias insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. São três grandes grupos: lipídios simples (ésteres de ácidos graxos e álcoois), lipídios combinados ou mistos (lipídios simples conjugados com moléculas não lipídicas) e lipídios derivados (produtos da hidrólise lipídica). Os principais constituintes dos óleos e gorduras são os acilgliceróis, ésteres de glicerol e ácidos graxos. Juntamente com os acilgliceróis, os fosfolipídios são os maiores componentes lipídicos da natureza. Os lipídios contêm pequenas quantidades de diversos componentes menores, impactando significativamente suas propriedades físicas e químicas (BOBBIO & BOBBIO, 2001). Com uma média de 40% de óleo (peso de grãos na base seca), grãos de canola são usados para consumo de óleo e farelo (KIMBER & MCGREGOR, 1995). A proporção de ácidos graxos insaturados e saturados em canola, com uma densidade de 0,91 g/cm 3 (DMYTRYSHYN, 2004), são 93 e 7%, respectivamente. Este último, a canola é o mais baixo em comparação com outros óleos vegetais. As combinações de ácidos graxos monoinsaturados contêm 61% de ácido oléico, 11% ácido linolênico e 21% de ácido linoléico (IZQUIERDO, 2003). Os triglicerídeos dos óleos vegetais são também importantes fontes renováveis de energia e de matérias-primas para indústria oleoquímica que poderiam eliminar os prejuízos ecológicos dos petroderivados e ainda viabilizar a utilização de altas pressões durante o processo extrativo, considerando-se que estas altas pressões poderiam ser requeridas em etapas subsequentes de processamentos químicos e físicos do óleo extraído (CANAKCI & VAN GERPEN, 2001). De acordo com NETO & ROSSI (2002), a oxidação é um processo acelerado pela alta temperatura e é a principal responsável pela modificação das características físico-químicas e organolépticas do óleo. O óleo torna-se viscoso, escuro, tem sua acidez aumentada e desenvolve odor desagradável, comumente chamado ranço. A deterioração oxidativa tem como consequência a destruição das vitaminas lipossolúveis e dos ácidos graxos essenciais, além da formação de subprodutos com sabor e odor fortes e desagradáveis (TURATTI et al., 2002). O teste de índice de acidez é um método simples para monitorar a qualidade dos biocombustíveis e óleos (KNOTHE, 2005). Os lipídeos têm dificuldade de formar interação com a água, a qual pode promover hidrólise das ligações ésteres, liberando ácidos graxos e participando das reações de rancificação (PUZZI, 2000). A decomposição dos glicerídeos é acelerada pelo aquecimento e pela luz, e a rancificação é quase sempre acompanhada pela formação dos ácidos graxos livres. Altos índices de acidez têm efeito negativo sobre a qualidade dos óleos podendo torná-los impróprios para a alimentação humana ou até para fins carburantes. A pronunciada acidez dos óleos pode catalisar reações intermoleculares dos triacilgliceróis, ao mesmo tempo em que afeta a estabilidade térmica do combustível na câmara de combustão. Também no caso do emprego carburante do óleo, a elevada acidez livre tem ação corrosiva sobre os componentes metálicos do motor (DANTAS, 2006). 723

Visando estudar efeitos da umidade relativa do ar (UR) e do tempo de armazenamento, grãos de canola com umidade próxima a 8% foram armazenados por 10 meses em ambiente com 55-65 e 75-85% de umidade relativa. Material e métodos Os grãos de canola foram colhidos com umidade próxima a 15%, através de colheita mecanizada (colhedora autopropelida) com corte e trilha simultaneamente. Após a colheita os grãos foram limpos em máquina de ar e peneira, dotada de duas peneiras, peneira superior com perfuração circular de 2,4 mm e peneira inferior com perfuração oblonga de 1,3 por 19 mm, até a concentração de impureza e matéria estranha ficar abaixo de 2%. A secagem foi realizada em um secador de leito fixo (protótipo), sem aquecimento, equipado com sistema de controle de temperatura e fluxo de ar, a temperatura do ar utilizada foi de 20 a 25 C, com câmara de secagem com capacidade de 0,027 m³, com camada delgada de 60 cm e 24 cm de diâmetro, instalado no Laboratório de Pós-colheita, Industrialização e Qualidade de Grãos do DCTA-FAEM-UFPel. Os grãos secos e limpos foram armazenados em dois ambientes distintos com umidade relativa e temperatura controlada de 55 a 65 e 75 a 85%, e 21 ± 3 C respectivamente. As amostras foram coletadas logo após a secagem e a cada 100 dias, até os 300 dias. Os grãos foram armazenados em sacos de algodão para facilitar as trocas térmicas e gasosas com o ambiente, e transferidas para câmaras de armazenamento (marca MARCO TOZZO) adaptadas, com controle de temperatura e umidade relativa do ar. Estas foram instaladas em salas de armazenagem dotadas de controle de temperatura e indicador da umidade relativa do ar no Laboratório de Grãos do DCTA. Os teores de óleo e o Índice de Peróxidos foram determinados de acordo com o método nº. 30.20 e Cd-8b-90 da AOCS (1998). O índice de acidez do óleo foi avaliado segundo método proposto por AOAC (2000). Resultados e discussão As características tecnológicas do óleo de canola são apresentadas nas Tabelas 1 a 3, os resultados das determinações teor de óleo, índice de acidez e índice de peróxidos dos grãos armazenados por 300 dias em ambientes com características psicométricas diferentes (55 a 65 e 75 a 85% de umidade relativa do ar (UR)). 724

Tabela 1. Teor de óleo (%) dos grãos de canola*, submetidos a diferentes períodos de armazenamento até um total 300 dias em ambientes com UR alta e UR baixa a 21 C. Umidade relativa do ar no armazenamento Dias de armazenamento** UR baixa (55-65%) UR alta (75-85%) 1 a 44,0 A a 44,0 A 100 a 43,8 A a 45,9 A 200 b 40,5 A b 35,0 B 300 c 36,5 A b 34,5 A * Médias aritméticas simples, de três repetições, seguidas por letras minúsculas diferentes, na mesma coluna, e letras maiúsculas diferentes, na mesma linha, indicam diferença, pelo teste de Tukey a 5% de significância (P<0,05); ** Armazenamento em ambiente com manejo técnico operacional, onde as condições psicométricas são controladas e ocorrem monitoramento e controle de pragas. Na Tabela 1 observa-se que entre o primeiro (1 ) e o centésimo (100 ) dia de armazenamento não houve alteração significativa do teor de óleo dos grãos de canola armazenados nos dois ambientes. No ducentésimo (200 ) e no trecentésimo (300 ) dia verificou uma redução progressiva do teor de óleo dos grãos armazenados em ambiente com UR baixa. Já no ambiente com UR alta observou que no 200 dia a redução do teor de óleo foi significativamente maior que no ambiente com UR baixa, e do 200 ao 300 dia verificou uma estabilidade significativa no teor de óleo dos grãos. Para períodos curtos de armazenamento o teor de óleo bruto dos grãos de canola a umidade relativa do ar no ambiente ou entre os grãos (espaço intragranular) não apresenta diferença significativa, entretanto, em períodos médios e longos de armazenamento nota-se um decréscimo no teor de óleo, principalmente no ambiente com UR alta. Deduzindo assim que o melhor ambiente para armazenar os grãos de canola para manter as parâmetros tecnológicos no óleo bruto é com a umidade relativa do ar entre 55 a 65%. Tabela 2. Índice de acidez (mg KOH.g óleo -1 ) do óleo bruto dos grãos de canola*, submetidos a diferentes períodos de armazenamento até um total 300 dias em ambientes com UR alta e UR baixa a 21 C. Umidade relativa do ar no armazenamento Dias de armazenamento** UR baixa (55-65%) UR alta (75-85%) 1 b 1,97 A c 1,97 A 100 b 1,66 A c 1,86 A 200 a 2,84 A b 2,71 A 300 a 3,05 B a 3,45A * Médias aritméticas simples, de três repetições, seguidas por letras minúsculas diferentes, na mesma coluna, e letras maiúsculas diferentes, na mesma linha, indicam diferença, pelo teste de Tukey a 5% de significância (P<0,05); ** Armazenamento em ambiente com manejo técnico operacional, onde as condições psicométricas são controladas e ocorrem monitoramento e controle de pragas. Observa-se na Tabela 2 que entre o 1 e o 200 dia de armazenamento não há alteração significativa no índice de acidez do óleo bruto dos grãos de canola armazenados nos dois ambientes. No ambiente com UR baixa, os grãos armazenados por 200 dias tiveram aumento significativo, e do 200 ao 300 dia notou-se uma estabilidade significativa no índice de acidez do óleo. No 200 e no 725

300 dia foi verificada uma redução progressiva do índice de acidez do óleo bruto dos grãos armazenados em ambiente com UR alta. No 300 dia de armazenamento o índice de acidez do óleo bruto dos grãos de canola no ambiente com UR alta foi significativamente superior do que no ambiente com UR baixa. Isto demonstra que para um período mais longo de armazenamento, a umidade relativa do ar no ambiente tem efeito negativo sobre o índice de acidez e para períodos mais curtos, não apresenta diferença significativa. Tabela 3. Índice de peróxido (meq O.kg óleo -1 ) do óleo bruto dos grãos de canola*, submetidos a diferentes períodos de armazenamento até um total 300 dias em ambientes com UR alta e UR baixa a 21 C. Umidade relativa do ar no armazenamento Dias de armazenamento** UR baixa (55-65%) UR alta (75-85%) 1 c 0,00 A c 0,00 A 100 c 0,00 A c 0,00 A 200 b 1,12 A b 1,08 A 300 a 2,65 B a 6,17 A * Médias aritméticas simples, de três repetições, seguidas por letras minúsculas diferentes, na mesma coluna, e letras maiúsculas diferentes, na mesma linha, indicam diferença, pelo teste de Tukey a 5% de significância (P<0,05); ** Armazenamento em ambiente com manejo técnico operacional, onde as condições psicométricas são controladas e ocorrem monitoramento e controle de pragas. Na Tabela 3 é possível verificar que até 200 dia não há diferença significativa entre os ambientes de armazenagem. No ambiente com UR baixa o aumento foi progressivo, já para UR alta houve uma maior taxa de oxidação, onde para o 300 dia apresentou o maior valor. Os resultados estão em acordo com os relatos de Frankiel (2005), segundo o qual a taxa de oxidação depende de uma série de fatores como disponibilidade de oxigênio, presença de luz e temperatura. A auto-oxidação, que ocorre na ausência de luz, segue um mecanismo de radical livre, onde inicialmente a absorção de oxigênio resulta na formação de hidroperóxidos. Estes compostos lábeis se decompõem produzindo uma mistura complexa de compostos orgânicos voláteis, compostos como aldeídos, cetonas, hidrocarbonetos, álcoois e ésteres. Referências bibliográficas 726 AOAC- ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemistry. 16 ed. Arlington: Washington, v.i e II, 2000. AOCS AMERICAN OIL CHEMISTS SOCIETY. Official and tentative methods of the American Oil Chemistss Society. 3 ed. Chicago, 1998 BOBBIO, P.A., BOBBIO, F.O. Química do processamento de alimentos. São Paulo: Varella, p. 397 409, 2001. CANAKCI, M.; VAN GERPEN, J., Biodiesel production from oils and fats with high free fatty acids. Trans. ASAE, v.44, p.1429-1436, 2001

CASTRO, H.F.; MENDES, A.A.; SANTOS, J.C. Modificação de óleos e gorduras por biotransformação. Química Nova, Vol. 27, No. 1, 146-156, 2004 DANTAS, H.J. Estudo termoanalítico, cinético e reológico de biodiesel derivado do óleo de algodão (Dissertação de Mestrado), março de 2006 DMYTRYSHYN, S.L.; DALAI, A.K.; CHAUDHARI, S.T.; MISHRA, H.K.; REANEY, M.J. Synthesis and characterization of vegetable oil derived esters: evaluation for their diesel additive properties, Biol. Technol. 92, 55 64. 2004. FRANKEL, E.N. Lipid oxidation (2nd ed.). Bridgewater: Barnes, P.J. & Associates, The Oily Press. 2005. IZQUIERDO, I.F.; CARAVACA, M.M.; ALGUACIL, ROLDN, A. Changes in physical and biological soil quality indicators in a tropical crop system (Havana, Cuba) in response to different agroecological management practices, Environ. Manag. 32, p 639 645. 2003. KIMBER, D.S., MCGREGOR, D.I. The species and their origin, cultivation and world production, IN: D.S. KIMBER, D.I. MCGREGOR (Eds.), Brassica Oil Seeds; Production and Utilization, CAB International, Wallingford, Oxon, UK, 1995, p 1 7. KNOTHE, G.; STEIDLEY, K.R. Kinematic viscosity of biodiesel fuel components and related compounds. Influence of compound structure and comparison to petrodiesel fuel components. Fuel, v. 84, p. 1059-1065, 2005. NETO P.R.C.; ROSSI, L.F.S. Produção de biocombustível alternativo ao óleo diesel através da transesterificação de óleo de soja usado em frituras. Química Nova, São Paulo, Vol. 23, nº. 4, p. 531-537, 2000. PUZZI, D. Abastecimento e armazenagens de grãos. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 2000. 603p. TURATTI, J.M.; GOMES, R.A.R.; ATHIE, I. Lipídeos Aspectos Funcionais e Novas Tendências, Campinas : ITAL, pp. 9-14, 58-61, 64-65, 2002. USDA - United States Department of Agriculture, Economic Research Service (ERS), http:// www.ers.usda.gov/briefing/soybeansoilcrops/canola.htm, 19/05/2010 as 14:00. 727