Relatório DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 22/ CC /2015. N/Referência: PºR.P.86/2014 STJ-CC Data de homologação:

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Transcrição:

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 22/ CC /2015 N/Referência: PºR.P.86/2014 STJ-CC Data de homologação: 10-03-2015 Recorrente: Ana Maria., Notária Recorrido: Conservatória do Registo Predial da. Assunto: Invocação de usucapião, em escritura de justificação, quanto a dois lotes resultantes de loteamento já registado, mas em que um deles não fora devidamente desanexado na dependência desse registo Falta de menção da existência e identificação do alvará de loteamento - Escritura outorgada por cônjuges casados na comunhão de adquiridos, invocando um deles a usucapião como bens próprios, com indicação da data do início da posse e da data do casamento unicamente por referência aos respetivos anos (In)exigência da prova da data de casamento Limites à utilização do procedimento de suprimento de deficiências. Palavras-chave: Justificação Usucapião - Início da posse Casamento - Alvará de loteamento Usucapião Suprimento de deficiências - Relatório 1. O prédio descrito sob o nº 00423/290688 da freguesia de., concelho de..., foi objeto de loteamento ( alvará nº 34/88), com a respetiva área distribuída pelos lotes 1 e 2 e por parcela de cedência para integrar o domínio público. Apenas o lote 1 foi desanexado na dependência da inscrição da autorização de loteamento, tendo ficado descrito sob o nº 00424/290688. O prédio correspondente ao lote 2, que ainda não havia sido desanexado, foi ulteriormente objeto de outro loteamento (alvará 24/89), que determinou a constituição dos lotes 1, 2 e 3. O lote 2 do primeiro loteamento veio a ser descrito na dependência da inscrição do segundo loteamento ( que o teve por objeto), sob o nº 00630/131189. Na dependência da segunda inscrição de autorização de loteamento foram apenas desanexados da descrição 00630/131189 os lotes 2 e 3, para formar as descrições nºs 00631/131189 e 00632/131189. Em resultado das indicadas desanexações e das condições constantes da inscrição de autorização de loteamento, constata-se que o prédio descrito sob o nº 00630 ficou a abranger o lote 1, com 7610m2, a área a integrar no lote 1 do alvará 34/88 [ o supra 1/9

mencionado nº 00424 ] com 264m2 e área a ceder para integrar a via pública, com 215m2. 2. Por escritura pública de justificação de 1 de agosto de 2014, celebrada perante a Notária ora recorrente, Maria.. Figueiredo e marido, João Figueiredo, casados na comunhão de adquiridos, declararam, entre outras coisas e no que para a presente impugnação interessa, Que a outorgante mulher é a legítima dona e possuidora, como seus bens próprios, com exclusão de outrem : - Prédio urbano designado por lote nº 2, descrito sob o nº 00631; - Prédio urbano designado por lote nº 1, com 7610m2 (85m2 de superfície coberta e e 7525m2 de superfície descoberta), a desanexar do descrito sob o nº 00630. Mais declararam: - «Que aqueles prédios foram adquiridos por doação meramente verbal que lhe foi feita em data que não sabe precisar, no ano de 1989, ainda no estado de solteira, pelos titulares inscritos José da Silva.., e mulher, Rosa dos Anjos. Que posteriormente em mil novecentos e noventa, a outorgante casou com o seu identificado marido. Que, tendo entretanto falecido os doadores, não dispõe do título necessário à efetivação do ato de registo de aquisição a seu favor, nem tendo forma de o obter». 3. Foi a indicada escritura de justificação que foi apresentada como título no pedido de registo efetuado online pela ora recorrente ( a que coube a Ap... de 2014/10/07), o qual foi ainda instruído com prova da participação para liquidação do imposto de selo e com os respetivos documentos matriciais, que mereceu a seguinte qualificação, objeto do presente recurso hierárquico: «PROVISÓRIA POR DÚVIDAS No título, em que é invocada a aquisição por usucapião do direito de propriedade sobre lotes de terreno para construção, deverão constar as menções sobre loteamentos urbanos exigidas pela lei em vigor no momento em que se verificou a aquisição do direito, o que não se verifica no título apresentado a registo; cfr. Artigo 57 nº 1 do DL 400/84 de 31/12 Também Parecer no Proc. 17/96 in BRN 11/95, entre outros. Por outro lado, estando em causa a afetação dos imóveis à massa patrimonial de um dos cônjuges haveria que precisar as datas do início da posse e do casamento da justificante, e comprovar documentalmente a data em que ocorreu a mudança de estado civil; uma vez que a qualificação de bens adquiridos na constância do casamento quanto à sua natureza própria ou comum, é decidida segundo critérios legalmente e objetivamente definidos, e nomeadamente do disposto no artigo 211º do C.R.C. e artigo 1722 nº 2 alínea b) do C.C.. Não o tendo sido feito e tendo-se verificado que o casamento do justificante ocorreu em 02/03/1989, há contradição nos termos da escritura, em considerar que os lotes de terreno 2/9

criados/autonomizados em 27/09/1989 (data do alvará de loteamento) integram o património próprio da cônjuge mulher, contradição que há que esclarecer. Finalmente, a escritura não indica o código de acesso das certidões permanentes do registo predial, cfr. artigo 46 nº 1 alínea g) do Código de Notariado. Artigos citados e artigos 68 e 70 do C.R.P.» 4. Da mencionada qualificação interpôs a apresentante o presente recurso ( Ap... de 2014/11/25), cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos, no qual, depois de admitir ter havido confusão dos outorgantes, ao terem declarado 1990 como ano do casamento( já que o casamento religioso celebrado nessa data havia sido precedido de casamento civil celebrado em 1989), muito sinteticamente, alega 1 : - Que, tendo as certidões permanentes ficado arquivadas, não é aplicável o disposto na invocada alínea g) do nº 1 do artigo 46º/1/g) do Código de Notariado, quanto à menção dos respetivos códigos de acesso, mas a sua alínea f); - «será viável exigir a alguém que se lembre do dia preciso em que ocorreu determinado facto[ início da posse]não comprovável documentalmente há vinte e cinco anos atrás? A única coisa de que a justificante e seu marido se lembram é que tal facto ocorreu em data que não sabem precisar no ano de 1989, antes de casarem, o que, à luz da Lei em vigor, tem que ser considerado suficiente para os efeitos pretendidos»; - A declaração prestada na escritura quanto às data do início da posse e do casamento dos outorgantes bastaria para concluir pela natureza própria dos bens, pelo que, de acordo com o que já foi entendido no Pº R.P.5/2013 STJ-CC, não deveria a recorrida ter acedido à base de dados do SIRIC, na procura de provas que sustentem o contrário ( «o que nem conseguiu fazer, pois a doação verbal terá ocorrido no início de 1989, antes de a justificante ter casado»), nem diligenciar por descobrir a data de emissão do Alvará de Loteamento, a qual não consta da respetiva inscrição; - Não existe qualquer dúvida quanto à identidade do lote nº 1, pois que «é um prédio com 7610m2 que compõe o lote 1 de um loteamento já registado, e que se encontra ainda incluído na descrição nº 630, da qual foram já desanexados os restantes lotes! Isto não resulta claro da análise das descrições prediais em causa e do título apresentado a registo?»; - Duvida da existência de acolhimento legal para o entendimento de que no título deveriam constar as menções sobre loteamentos urbanos exigidas pela Lei em vigor à data do início da posse, e que, 1 A recorrente contesta ainda a forma como foi utilizado o procedimento de suprimento de deficiências, pelo facto de a Conservatória lhe ter enviado emails por três vezes, de cada vez com uma nova deficiência a suprir. Dos autos constam apenas dois emails, o primeiro exigindo esclarecimento quanto à identidade do lote 1 nomeadamente pela menção- omitida na escritura de justificação do alvará de loteamento que individualizou o lote, sobre o qual pretende o registo, cfr. art.49 do DL 555/99 de 16 de dezembro e o segundo exigindo que fossem precisadas as datas do início da posse do casamento. e da celebração 3/9

ainda assim, o art. 57º/1 do D.L. nº 400/84 não é aplicável à situação, uma vez que o ato em causa não implicou qualquer fracionamento. Perante a verificação feita pela recorrida de que a data do casamento (logo a data de início da posse no estado de solteira) é anterior à data da emissão do alvará de loteamento, o que manifestaria uma contradição, já que se assim foi, à data do início da posse os prédios ainda não estavam autonomizados pelo alvará de loteamento - questiona-se a recorrente: - «Segundo a Ex.ma Sr.ª Conservadora seria impossível a aquisição dos prédios antes daquela data [ da emissão do alvará ]! ( ) será possível que os prédios já estivessem demarcados, embora a licença camarária não tivesse ainda sido emitida, tendo a doação recaído sobre uma parte especificada do prédio mãe que, meses depois, veio a corresponder, precisamente, aos lotes 1 e 2? Deveremos agora inquirir testemunhas para confirmar, precisamente, como as coisas se passaram? Deveremos determinar uma peritagem aos eventuais muros e divisórias a fim de apurar se existem há 25 ou há 26 anos?!?! ( ) Não parece à recorrente que seja este o intuito do legislador, nem esta a missão do registar, conforme já defendido no referido Pº nº R.P. 5/2013 SJC-CC.» 4. No despacho proferido nos termos do art. 142º-A do Código de Registo Predial ( CRP), cujos termos aqui se dão por integralmente reproduzidos, a recorrida sustentou a qualificação objeto de impugnação, argumentando, em síntese, que: - Tem sido seu entendimento que não basta a mera de declaração do estado civil à data do início da posse, sendo necessária a respetiva prova por meio de certidão do assento de nascimento, a qual, não tendo sido exibida no título, deve ser apresentada com o pedido de registo e que, porque o não foi, obteve essa prova por consulta à base de dados do SIRIC; - A inscrição de autorização de loteamento é omissa quanto à data de emissão do alvará, que dele deve constar, elemento que «cumpria verificar, para concluir a inscrição de loteamento, obstando à duplicação do lote nº 1, e qualificar o registo solicitado»; - As menções sobre loteamentos urbanos exigidas pela lei em vigor no momento em que se verificou a aquisição do direito ( art. 57º/1 do D.L. nº 400/84, de 31/12) cfr. o parecer emitido no Pº 17/96 R.P. 4- não são despiciendas e cumprem a finalidade de conformação do título com as normas relativas ao direito do urbanismo, constituindo a existência de alvará condição de admissibilidade da própria escritura; - Ao contrário do entendimento constante do Pº R.P.5/2013 SJC-CC, invocado pela recorrente, «crê-se que o intuito do legislador não é o mesmo desde 1964, as alterações legislativas operadas pelo D.L. 116/2008 de 4/7 e posteriormente pelo D.L. 125/2013 de 30/8, são emblemáticas e operadas em circunstâncias muito distintas. ( ) Por outro lado, alteração legislativa vertida no artigo 73 do C.R.P. tem de ser interpretada não só à luz do princípio da desburocratização, mas também da proporcionalidade e da eficiência, pelo que a simplificação e facilitação da vida dos cidadãos e das empresas, não pode ir contra e além da proteção devida a 4/9

terceiros, nem premiar declarações erradas, fazendo o registo predial publicitar atos que antecipadamente sabe errados e potencialmente geradores de litígio»; - Repara o despacho de qualificação quanto à exigência de menção do código de acesso às certidões permanentes na escritura pública; Saneamento: o processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito. Pronúncia: a posição deste Conselho vai expressa na seguinte Deliberação 1. A falta da menção da existência e identificação do alvará de loteamento, em escritura de justificação em que, com base em posse iniciada na vigência do D.L. nº 400/84, de 31 de dezembro e depois da emissão do alvará de loteamento, foi invocada a usucapião de dois lotes constituídos por autorização de loteamento já registada, não constitui fundamento de qualificação desfavorável do registo da correspondente aquisição, mesmo quanto a lote que não tenha sido devidamente desanexado na dependência da inscrição de autorização de loteamento 2 3. 2 Como deixámos relatado, quando foi registado o alvará de loteamento nº 24/89 no prédio 00630, não se procedeu à desanexação de todos os lotes - como, aliás, já tinha sucedido com o registo do alvará de loteamento nº 34/88, que incidira sobre o prédio 423 - prática que traduziu violação do disposto no art. 80º/3 do CRP que, à data desses registos, determinava que O registo da autorização para loteamento dá lugar à descrição de todos os lotes de terreno destinados a construção. Em resultado da prática seguida na Conservatória (não a agora recorrida, mas a da área da situação dos prédios), o lote nº 1 continuava, à data da escritura de justificação, a fazer parte da descrição do prédio objeto de loteamento (00630), conjuntamente com uma parcela destinada a ser integrada no lote 1 do alvará 34/88( descrição 00424) e com terreno a integrar no domínio público, e daí que a sua identificação na escritura tenha mencionado que esse prédio é parte a desanexar do nº 00630. A recorrida procedeu oficiosamente (por averbamento autónomo) à desanexação do referido lote 1, que estava em falta, com base no respetivo alvará de loteamento. Porém, ao contrário do que é invocado pela recorrida no despacho de sustentação, a data de emissão do alvará de loteamento não constituía, à data do registo, requisito especial da inscrição (a alínea f) do nº1 do art. 95º do CRP referia-se apenas às condições fixadas). Só com a alteração introduzida pelo D.L. nº 30/93, de 12 de fevereiro é que aquela data passou a constituir requisito especial da inscrição, que entretanto passou a ser designada por emissão de alvará de loteamento, em vez da anterior autorização de loteamento para construção. Carece, assim, de fundamento legal, o averbamento efetuado oficiosamente pela recorrida à inscrição de autorização de loteamento, que aliás não inclui, como devia, a data em que foi efetuado ( art. 102º/1/a) do CRP). 3 Não é a primeira vez que a (in)aplicabilidade à escritura de justificação da norma que, preventivamente, obriga o Notário a fiscalizar o cumprimento do regime legal dos loteamentos urbanos, é objeto de pronúncia por parte deste Conselho. E a resposta foi 5/9

sempre afirmativa, dando por aplicável a norma do diploma em vigor à data do início da posse [cfr. Pº 17/96 R.P.4, in BRN nº 12/96(II), Pº R.P.28/2001, in BRN nº 10/2001(II), Pº R.P. 80/2007 DSJ-CT e Pº R.P. 39/2010 SJC-CT, disponíveis em www.irn.mj. (Doutrina)]. Mas, que tenhamos conhecimento, é a primeira vez que é objeto de pronúncia situação em que o objeto da justificação da invocação da usucapião são lotes constituídos por alvará de loteamento já registado. Até ao D.L. nº 555/99, de 16 de Dezembro- isto é, na vigência dos diplomas que anteriormente e ao longo do tempo foram regulando esta matéria (D.L. nº 289/73, de 6 de junho, D.L. nº 400/84, de 31 de dezembro e D.L. nº 448/91, de 29 de novembro) - que não inclui previsão legal do vício, a lei sancionava a falta das menções legais com o vício da nulidade. No Pº R.P. 165/2000 DSJ-CT, in BRN nº 4/2001(II), relativamente a situação a que se aplicava o indicado D.L. nº 448/91, foi apreciada a natureza da nulidade em causa, tendo-se concluído, quanto a essa questão, que : «I - São formalmente nulos os atos ou negócios jurídicos, que impliquem operações de loteamento urbano, celebrados na vigência do Decreto-Lei nº 448/91, de 29 de novembro, com violação da obrigatoriedade de exibição e identificação do alvará de loteamento no próprio título que os formaliza art.ºs 53º, nº 1, e 56º, nº 3, do referido Decreto-Lei. ( ) III Aquela nulidade formal que é manifesta e acrescerá, mas sem com ela se confundir, à nulidade substantiva de que eventualmente os referidos atos estejam feridos por efetivo incumprimento dos preceitos imperativos da lei do loteamento reveste-se de características próprias de uma nulidade mista ou atípica, apresentando o seu regime desvios em relação àquele que os art.ºs 285º a 295º do Código Civil fixam para a nulidade ( tout court ou absoluta). IV Assim é que devem considerar-se convalidados aqueles atos ou negócios jurídicos - apenas formalmente nulos relativamente aos quais se venha a comprovar que afinal, não obstante a violação da norma que impõe a exibição e a identificação do alvará nos termos sobreditos, este já existia no momento em que o ato foi praticado ou que a respetiva operação de loteamento preenche, com referência ao mesmo momento, os requisitos que a dispensam do regime de licenciamento. V Tal convalidação ocorre ope legis - considerando-se o respetivo ato válido a partir da sua prática, não obstante a irregularidade de que enferma sem dependência de celebração de nova escritura, retificativa ou complementar daquela onde a violação das citadas formalidades se verificou. VI Por idêntico motivo, sendo apresentada certidão camarária que ateste existir o condicionalismo legal necessário à validade material do destaque (irregularmente) titulado, também não é lícito ao conservador recusar o registo do facto que implicou tal destaque a pretexto da sua nulidade formal». Na nota 12 do mesmo parecer antecipa-se a apreciação do regime constante do indicado D.L. nº 559/99 a Lei nº 13/2000, de 20 de julho suspendera a sua vigência - defendendo-se que o facto de ter deixado de existir previsão legal de nulidade formal não significa que não continue a existir nulidade substantiva, mas que, não sendo a mesma manifesta( perante título que tenha violado a obrigação legal), o registo deve( tal como no regime anterior) ser efetuado como provisório por dúvidas. Cfr. também o Pº C.P.89/2002 DSJ-CT, in BRN nº 9/2002(II). É discutível - tanto ao abrigo dos diplomas que anteriormente sancionavam a violação da obrigação legal com o vício da nulidade, como ao abrigo do regime actual-, que essa obrigação seja aplicável à escritura de justificação em que se invoca a usucapião do direito de propriedade sobre lotes de terreno para construção já autonomizados em sede de registo predial, na dependência do registo do loteamento mas, ainda que se entenda que deva responder-se afirmativamente, uma coisa é certa: é o próprio registo do alvará de loteamento que permite dar por manifestada a inexistência da nulidade substantiva, ou seja, que o ato não violou as normas legais respeitantes ao loteamento. E deve, para esse efeito, considerar-se indiferente a circunstância de o objeto da invocação da usucapião abranger um lote que inadvertidamente não foi oportunamente desanexado com base na inscrição de loteamento, quando, como acontece na presente situação, não se manifeste qualquer dúvida (séria) sobre a identidade entre o prédio identificado no alvará(ainda não desanexado) e o prédio identificado na escritura de justificação. 6/9

2. A ausência, em escritura de justificação notarial, da menção de que tenha sido feita prova legal da data de casamento dos cônjuges casados na comunhão de adquiridos, traduz, para efeito da (in)aplicação do disposto no art. 1722º/2/b) do Código Civil, uma insuficiência/deficiência do título falta de comprovação do estado civil ao tempo do início da posse, que não se basta com as declarações do justificante - suprível nos termos do art. 73º/1 da CRP, mediante acesso direto à base de dados do Registo Civil (SIRIC) 4. 4 Cfr. art. 211º do Código de Registo Civil, que trata dos meios de prova dos factos sujeitos a registo e do estado civil das pessoas. Esta matéria, da exigência de conhecimento sobre se a posse se iniciou antes ou já na constância do casamento, já se colocou em diversos processos objeto de apreciação por parte deste Conselho, mas sempre, que tenhamos conhecimento, relativamente a situações em que o título era omisso quanto à verificação daquelas anterioridade ou posterioridade, ou seja, em que não estava sequer assente no título a qual das massas patrimoniais os bens pertenciam. Cfr., a título exemplificativo, o já mencionado Pº R.P. 28/2001 DSJ- CT e os Pº R.P.214/2004 DSJ-CT, Pº R.P. 48/2006 DSJ-CT e Pº R.P. 108/2010 SJC-CT, todos disponíveis em www.irn.mj.pt (Doutrina). O acesso ao SIRIC, em sede de suprimento de deficiências, justifica-se pelo facto de a deficiência (falta de menção da prova legal do casamento), resultar manifestada pelo próprio título apresentado, prática que não contraia a doutrina constante do mencionado Pº R.P. 5/2013 SJC-CC e relativamente à qual a recorrida manifesta alguma discordância. Já contrariaria aquela doutrina a prática que se tivesse traduzido em aceder ao SIRIC, não para obter a prova legal em falta (legalmente exigida), mas porque a consulta de registo de aquisição existente sobre outro prédio (a favor do justificante no estado de casado, efetuado no ano indicado como tendo sido o do início da posse no estado de solteiro) lhe tivesse provocado dúvida acerca da veracidade das declarações constantes do título. Não vamos aqui repetir a fundamentação constante da mencionada deliberação, para a qual remetemos, a qual, não constituindo novidade ( cfr. por exemplo o PºR.P. 77/97 DSJ-CT, in BRN nº 3/98(II), já houve inclusive oportunidade de ser reiterada em processos posteriores [ cfr. a título exemplificativo, Pº R.P. 20/2013 STJ-CC, Pº R.P. 27/2013 STJ-CC e Pº 74/2013 STJ-CC, todos disponíveis em www.irn.mj.pt (Doutrina)]. Os três primeiros pontos daquela deliberação foram: «I O princípio da legalidade consagrado no artigo 68º do Código do Registo Predial determina que a viabilidade do pedido de registo seja apreciada tendo em consideração as disposições legais aplicáveis, os documentos apresentados (artigo 43º do citado Código) e os registos anteriores, verificando-se em especial a identidade do prédio, a legitimidade dos interessados e a regularidade formal dos títulos bem com a validade dos atos neles contidos. II Por conseguinte, na qualificação do pedido, a análise do conservador deve, em regra, circunscrever-se aos documentos apresentados ou oferecidos com o pedido, só podendo ser alargada a informação externa ao processo de registal mediante recurso ao suprimento de deficiências previsto no artigo 73º do Código de Registo Predial, encetado com vista a obviar à qualificação desfavorável do correspondente pedido de registo. III Consequentemente, em face da literalidade do preceito e da sua ratio legis, afigura-se-nos que o aludido procedimento não pode ser desencadeado para fundamentar eventuais dúvidas do qualificador que não se encontrem patenteadas nos títulos apresentados para instruir o ato de registo peticionado, nem mesmo para averiguar da veracidade das declarações proferidas na escritura pública de justificação, posto que não se trata de matéria por si sindicável.» 7/9

3. Outorgada escritura de justificação por ambos os cônjuges, casados na comunhão de adquiridos, e em que a usucapião é invocada apenas por um deles, com fundamento na circunstância de a posse ter sido iniciada no estado de solteiro, em 1989, com menção de que o casamento foi celebrado em 1990 -mas sem indicação de que tenha sido feita respetiva prova legal-, e verificando-se, pela consulta da mencionada base de dados do SIRIC, que afinal o casamento teve lugar em 1989 (no dia 2 de março), é manifesto que o título enferma de erro quanto ao ano do casamento, o qual produziu incerteza quanto à pertinência do bem à massa patrimonial própria do cônjuge justificante, já que não consta do título o dia do início da posse. 4. Aquela incerteza sai reforçada pela circunstância de a data de emissão do alvará de loteamento 5, que serviu de base à autonomização dos prédios em sede de registo predial, ser posterior à data do casamento: a) Ou o início da posse se deu efetivamente no estado de solteiro necessariamente antes de 2 de março de 1989 caso em que os prédios integrariam a massa patrimonial própria do cônjuge justificante, mas em que, não tendo ainda sido emitido o alvará de loteamento, haveria que atribuir relevância ao disposto no art. 57º/1 do mencionado D.L. nº 400/84; b) Ou o início da posse se deu depois do casamento mas antes da emissão do alvará de loteamento, caso em que os bens integrariam a massa patrimonial comum, mas em que haveria que atribuir a mesma mencionada relevância à falta de emissão do alvará de loteamento; c) Ou o início da posse se deu já depois de emitido o alvará de loteamento- logo, depois do casamento - caso em que, embora não fosse de atribuir relevância à falta de identificação do alvará (conforme referido no ponto Nº 1 desta deliberação), resultaria do título que o bem integrava a massa patrimonial comum. Em face do exposto, propomos a improcedência da presente impugnação 6. 5 Sem prejuízo do que ficou dito na nota 2 quanto ao averbamento (indevido) da data de emissão do alvará, há que ter presente que, agora sim por imposição legal, houve que proceder á desanexação de um dos prédios objeto da justificação, já que o mesmo não fora oportunamente desanexado na dependência da inscrição de autorização de loteamento, o que, necessariamente, só podia ser feito com base no alvará. 6 Nada dissemos quanto à falta de indicação do código de acesso das certidões permanentes, porque a recorrida reparou o despacho de qualificação quanto a esse fundamento e porque concordamos que a exigência inicialmente feita contrariou o regime legal. Se assim não fosse, a reparação da decisão não poderia constituir obstáculo à sua inclusão no âmbito de apreciação do presente recurso, dada a nulidade formal prevista no art.70º/1/g) da CRP. Como em variadíssimas ocasiões este Conselho tem defendido (uma das primeiras, senão mesmo a primeira, foi no Pº nº 2/96 R.P.4, in BRN nº 5/96), a circunstância de da falta de pronúncia poder 8/9

Deliberação aprovada em sessão do Conselho Consultivo de 27 de fevereiro de 2015. Luís Manuel Nunes Martins, relator. Esta deliberação foi homologada em 10.03.2015 pelo Senhor Vice-Presidente do Conselho Diretivo, em substituição. resultar um registo nulo, deve levar à cedência do princípio segundo o qual o mérito do recurso se deve conter nos limites das questões suscitadas no despacho objeto de impugnação. 9/9