O Marxismo de Karl Marx. Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior

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Transcrição:

O Marxismo de Karl Marx Professor Cesar Alberto Ranquetat Júnior

Karl Marx (1818-1883). Obras principais: Manifesto Comunista (1847-1848). O Capital em 3 volumes.volume 1(1867) Volume 2 e 3 publicado por F. Engels. Ideologia Alemã (1845-1846).

Karl Marx era um sociólogo-economista. Acreditava que não poderíamos compreender a sociedade moderna sem referência ao funcionamento do sistema econômico. Foi o sociólogo e o economista do sistema capitalista. O Marxismo é uma teoria política, social e econômica que parte de uma crítica radical ao capitalismo.

O pensamento de Marx explica-se pela confluência da dialética de Hegel, da economia política inglesa e dos socialistas utópicos. Influência do humanismo ateu de Feuerbach.

O pensamento de Marx é uma análise da sociedade capitalista na sua estrutura, funcionamento, e no seu devir histórico. É uma interpretação do caráter contraditório e antagônico da sociedade capitalista.

Marx insurge-se duramente contra os filósofos que o precederam. Afirmava que eles se limitavam a conhecer e especular acerca da realidade, quando o que importava era transformá-la. O primado da práxis é uma característica do marxismo. O marxismo é uma filosofia da ação, de intervenção direta no mundo.

Marx encara a história da humanidade como uma contínua luta de classes. Luta entre explorados e exploradores. Burguesia X Proletários. Para Marx, os conflitos entre operários e burgueses são os fatos mais importantes da sociedade moderna.

Contradições do capitalismo: é capaz de produzir cada vez mais; aumento das riquezas junto com a miséria crescente da maioria. Estas contradições conduziriam a uma crise revolucionária.

O proletariado constituiria a imensa maioria da população, a classe social explorada. Teria como objetivo à tomada do poder e à transformação das relações sociais. A revolução proletária marcaria o fim das classes e do caráter antagônico da sociedade capitalista.

Os interesses contrários entre trabalhadores e capitalistas geraria fortes tensões nas sociedades industriais capitalistas, acarretando uma mudança radical. Para Marx, essa mudança assumiria a forma de uma revolução. A Sociologia de Marx é uma sociologia da luta de classes (Aron).

Algumas proposições: a sociedade atual é uma sociedade antagônica; as classes são os principais atores da história; a luta de classes é o motor da história, que redunda em uma revolução. Segundo Marx, o capitalismo cavaria sua própria fossa. O crescimento dos níveis de produção levaria a um duplo processo de proletarização e pauperização.

Os proletários alcançariam o poder político, o Estado, instaurando a ditadura do proletariado. Para Marx, o poder político é o meio pelo qual a classe dominante mantém seu domínio e sua exploração. Assim, a supressão das contradições de classe deveria levar ao desaparecimento do Estado.

Karl Marx parte de uma interpretação econômica da história. Em toda sociedade pode-se distinguir a base econômica, a infra-estrutura, e a superestrutura. A infra-estrutura é constituída essencialmente pelas forças e relações de produção.

A superestrutura pelas instituições jurídicas, morais, religiosas, a filosofia, a arte, etc. Os modos de produção, a infra-estrutura econômica, determina a superestrutura política, jurídica, religiosa e moral. Marx, também, diferencia a realidade social e a consciência dos homens.

Para Marx, não é a consciência dos homens que determina a realidade, mas é a realidade social que determina a consciência. Desse modo, é preciso explicar a maneira de pensar dos homens pelas relações sociais às quais estão integrados.

A essência do capitalismo é a busca do lucro. Baseia-se na propriedade privada dos meios de produção. A origem do lucro do empresário é a mais-valia. Assim, o operário é explorado, trabalhando uma parte do seu tempo para si e outra parte do seu tempo para o capitalista.

Marx era ao mesmo tempo cientista e profeta, sociólogo e revolucionário (Aron). Determinismo histórico. Reducionismo econômico

O fator econômico não pode ser nitidamente separado dos demais. Em cada ato humano há sempre o econômico, sua presença, como há o biológico, o psicológico e o social (Santos). Não há fatores predominantes sempre, mas algumas vezes. Não há um fator único, mas a interação de uma multiplicidade de fatores.

A concepção materialista da história só tem ressonância nos períodos em que o fator econômico prepondera (Santos.) Se o fator econômico é preponderante no tipo do empresário utilitário, não o é no tipo hierático. Jamais se explicará São Francisco de Assis e São Tomás de Aquino pela economia (Santos). O materialismo histórico é a cosmovisão própria do empresário utilitário. Percebe tudo pela ótica material do ganho, do lucro e da produção.

A realidade histórica desmentiu Marx. O capitalismo não se autodestruiu e o Estado não definhou. O marxismo na URSS e em outros países do Leste Europeu, não conseguiu abolir o Estado, nem sequer diminuir seu poder. Além disso, não conseguiu evitar a polícia e o exército. Não evitou a proliferação da burocracia (Santos). Passagem de um capitalismo privado para um capitalismo de Estado. - Nomenklatura- (Djilas; Voslenski).

As duas ideias de planificação da economia e desaparecimento do Estado são contraditórias. O Estado não desaparece em uma sociedade industrial planificada. O enunciado marxista o proletariado no poder é apenas uma fórmula simbólica para dizer: no poder o partido, ou o grupo que representa o povo (Aron). Ditadura do proletariado ou ditadura sobre o proletariado? (Kautsky).

Numa sociedade planificada não há uma harmonia pré-estabelecida entre os diferentes grupos(aron). A revolução foi feita em um país não industrializado (Rússia), onde a classe operária era uma minoria, não foi uma revolução socialista (Kautsky).

O socialismo científico de Marx, sob certos aspectos exprime o desejo de uma sociedade mais justa. Revolta contra as desigualdades sociais, a miséria e a sede irracional de lucro da classe capitalista. A revolução socialista pretendia uma radical mudança na natureza humana e na estrutura da sociedade (Voegelin).

Seria um meio de refazer e recriar a sociedade. Utopia de um novo homem e uma nova sociedade. Representaria a emancipação da classe operária e a instauração do reino da liberdade e da igualdade. Há em Marx uma espécie de autodivinização e auto-salvação do homem (Voegelin).

- Messianismo revolucionário -. Marxismo (socialismo-comunismo) como uma religião política. Contradição entre o determinismo histórico e o voluntarismo prometéico da ação revolucionária.