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Transcrição:

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br Interpretação das Normas Penais Bruna Maggi de Sousa* ÍNDICE Introdução 1 - Objeto da interpretação - Fontes de interpretação 2.1 - Quanto ao órgão do qual emana 2.2 - Quanto aos meios ou métodos empregados,2.3 - Quanto ao resultado 3 - Integração das normas penais 3.1 - Modos de Integração 3.2 - Limites que se põem ao intérprete Conclusão Bibliografia INTRODUÇÃO Sabe-se que a dogmática analítica tem como princípios a proibição do non liquet - o juiz não pode eximir-se de resolver as divergências de pretensões - e a inegabilidade dos pontos de partida - deve haver um sentido básico, é preciso reconhecer a norma jurídica -, tendo em vista a decidibilidade dos conflitos. No entanto, para que as decisões sejam possíveis, é preciso interpretar, explicar, esclarecer, fixar um sentido básico para o conteúdo das normas jurídicas. É através da dogmática

hermenêutica que se encontram as regras e princípios para a determinação do sentido das normas e o correto entendimento do significado dos seus textos e intenções. Cabe ao jurista não só compreender o texto normativo, mas também conhecê-lo, colocandoos na presença dos dados atuais de um problema, pois o jurista é um intérprete que funciona como uma ponte, a qual liga o texto da lei à realidade. É ele quem faz a lei falar. Como qualquer norma jurídica, as normas penais não estão livres do trabalho de exegese. Não são somente as leis obscuras, vagas e ambíguas que devem ser interpretadas, as perfeitas, claríssimas, isentas de controvérsia também são sucetíveis de interpretação, inclinando-se para a explicação da real vontade da lei, da ratio juris. Toda norma, pelo simples fato de ser posta, é passível de interpretação. Conforme já dito, a lei penal é interpretada como qualquer outra, segundo os vários processos de hermenêutica, porém as únicas limitações impostas são: o principio da reserva legal (ou da legalidade) - a lei só compreende como crime os casos que especifica (tipifica), nula poena, nula crimen sine lege - e a não permissão do emprego da analogia, para qualificar as faltas reprimíveis, ou lhes aplicar penas. 1. OBJETO DA INTERPRETAÇÃO Interpretar é uma atividade cognoscitiva. O ato da interpretação jurídica tem por objeto o conhecimento do preciso significado da norma. Não é o caso de pesquisar a vontade do legislador, como pretendia a doutrina subjetivista, formada pela Escola da Exegese (França) e Jurisprudência dos Conhecimentos (Alemanha), em meados do século XIX. Fala-se da doutrina objetivista, que cumpre revelar a vontade objetiva da norma, pois o legislador não pode prever nem estabelecer todas hipóteses que podem ocorrer na vida real. A realidade muda constantemente e a lei escrita é insuficiente para traduzir tal realidade. Por isso cabe ao intérprete descobrir o conteúdo atual da norma.

2. FONTES DE INTERPRETAÇÃO 2.1. - Quanto ao órgão do qual emana. Interpretação é o processo unitário que abrange todos esses momentos: a) Autêntica - É a interpretação realizada pelo próprio órgão que elaborou o preceito interpretativo. Pode ser: contextual - é aquela que o legislador faz no próprio texto da lei, por ex. o conceito de funcionário público, art. 327 e definição de casa art.150 4 e 5 do CP - ou posterior - é aquela realizada pelo legislador depois de ditada a lei, em outras normas, com a finalidade de eliminar incertezas ou ambiguidades. Alguns autores consideram que quando há uma intervenção posterior do legislador, não há ato interpretativo, tratando-se, portanto, de lei nova. Já outras contestam esta posição com o argumento de que se o novo dispositivo apenas determina o sentido do precedente, não se lhe pode negar o caráter meramente interpretativo, e não criador de Direito. Contudo se a nova lei acrescenta algo de novo, modificando a relação jurídica contida na anterior, constitui uma nova regra (Jesus, 1991: 36). A interpretação autêntica é retroativa, tem efeito ex tunc e não somente ex nunc, obriga a partir da vigência da norma interpretada, respeitando-se, porém, a coisa julgada e os princípios referentes à aplicação de lei mais favorável (art. 2, CP) (Fragoso, 1991: 81). A interpretação autêntica vincula. b) Doutrinária - também chamada de doutrinal ou científica, comunnis opinio doctorium; é feita pelos escritores de direito (jurisconsultos), através de seus comentários às leis, livros ou pareceres. Não produz um enunciado vinculante, mesmo quando diz qual deva ser o sentido de uma norma, pois não tem caráter normativo.

c) Judicial - constitui o que se chama de jurisprudência; é realizada pelos órgãos judiciários (juízes e tribunais). Não vincula, senão para o caso concreto (sobrevindo a coisa julgada), no entanto cria precedente em questões semelhantes. A atividade jurisdicional não é criadora de Direito. Somente aplica e anima o preceito legal. 2.2. - Quanto aos meios ou métodos empregados. Esses métodos são, na verdade, regras técnicas, com as quais procuram-se orientações para os problemas de decidibilidade de conflitos. Estes problemas são de ordem a) sintática, b) semântica e c) pragmática (Ferraz Jr., 1994: 286). a) Interpretação gramatical, lógica e sistemática. Os problemas sintáticos se referem a questões de: conexão das palavras nas sentenças, fala-se de interpretação gramatical. Segundo H. C. Fragoso, há de se seguir as seguintes regras: 1 - Em princípio nenhuma palavra na lei é supérflua; 2 - No geral, as expressões empregadas pela lei têm significado técnico e não vulgar; 3 - Em regra, o singular não exclui o plural e o emprego do gênero masculino não exclui o feminino. conexão de uma expressão com as expressões dentro de um contexto para obtenção de um significado correto, fala-se em interpretação lógica. conexão das sentenças num todo orgânico, estrutural, fala-se de interpretação sistemática. A ordem jurídica constitui um todo unitário. A norma deve ser interpretada, não isoladamente, porém em harmônica com as outras partes do sistema, considerando sua classificação e as demais disposições que com ela se relacionam. No entanto, deve-se respeitar a organização hierárquica das fontes (subordinação e conexão), a qual tem como ápice a Constituição (norma-origem).

b) Interpretação histórica, sociológica e evolutiva. Os problemas semânticos se referem ao significado das palavras individuais ou de sentenças prescritivas. Pode-se diferenciar as interpretações, mas na prática é difícil, pois elas se interpenetram. Para a interpretação histórica faz-se, um levantamento das condições históricas, do sentido efetivo da norma no momento da criação. Para procurar a origem da lei, o intérprete pode usar como recursos os precedentes normativos, são eles: os trabalhos preparatórios (debates dos parlamentares) e a exposição de motivos, o que deve ficar bem claro é que estes não constituem interpretação autêntica. Tudo isto converte-se na chamada occasio legis (motivos ocasionais que marcaram efetivamente a gênese da norma). Para interpretação sociológica (político-social ou extra penal), faz-se um levantamento das condições atuais e do sentido efetivo da norma na atualidade, objetivando, o intérprete, à verificação das funções do comportamento e das instituições sociais (política, economia, cultura, etc.,) no contexto existencial em que ocorrem. Visto que, para cumprir sua finalidade reguladora dos fatos sociais, a lei deve ajustar-se à ininterrupta mobilidade da vida (Jesus, 1991: 39-40). Por ex. o conceito de mulher honesta (citada nos art. 215 e 219 do CP). Caberia à interpretação histórica e sociológica a descrição, em conformidade com as condições históricas e atuais, das qualidades do comportamento de uma mulher que, no contexto existencial, configurem a honestidade de comportamento. A interpretação evolutiva é limitada pela interpretação extensiva. Já que não se quer reformar a lei freqüentemente, é necessário adaptá-la às necessidades e concepções do presente. Assim, por ex. as expressões coisa móvel e doença mental, art. 155 e 26 do CP. c) Interpretação teológica e axiológica. Os problemas pragmáticos se referem a uma relação entre emissores e receptores das mensagens normativas. Fala-se, então, da interpretação teológica e axiológica, isto é, nas quais se postulam fins e se valorizam situações. No caso do Direito Penal, a finalidade é, através das normas incriminadoras, a proteção de bens e interesses jurídicos de especial relevância para a sociedade.

2.3. - Quanto ao resultado. O intérprete, após fazer uso dos meios vistos anteriormente no item 2.2, chega a uma conclusão, que constitui o resultado interpretativo, o qual pode ser declarativo, restritivo ou extensivo. Fala-se, então, em interpretação: a) Declarativa ou especificadora. Refere-se aos casos nos quais há dúvida, porém esta é esclarecida por estar em harmonia entre a letra da lei e a mens legis (espírito da lei) Um exemplo seria o art. 141, III do CP, o qual diz que nos crimes contra a honra as penas são aumentadas de um terço se o fato for cometido na presença de várias pessoas. Contudo não explícita se o mínimo é de duas ou três pessoas. Entendendo-se, portanto, que o mínimo é superior a 2 pessoas, porque quando a lei se contenta com 2 pessoas di-lo expressamente (art.150, 1, 226, I etc.) (Jesus, 1991: 40-41). b) Restritiva. Quando é preciso restringir o significado da lei, por causa da amplitude de sua expressão literal não corresponder com seu real sentido (plus script quam voluit). c) Extensiva. Quando é necessário ampliar o sentido da norma para além do contido na sua letra (minus script quam voluit). I - No caso da lei penal, a respeito da aplicação da interpretação extensiva e restritiva, autores, como Damásio e Fragoso, aceitam-nas; também o CPP, art. 3, admite a interpretação extensiva e aplicação analógica. II - Há divergências em relação à eficácia do princípio in dubio pro reo. Aqueles que o negam, assim como M. Noronha e J. F. Marques, dizem que o adágio somente pode ser aplicado à apreciação de provas de um crime a alguém atribuído. Em contra partida, maior parte da doutrina nacional o adota, desde que as dúvidas se mostrem invencíveis (G. Siqueira ), irredutíveis (A. Bruno e N. Hungria) após se ter usado de todos os meios de interpretação. Não obstante, continuando com dúvidas e não sendo possível descobrir a voluntas legis aplica-se, então, a interpretação mais favorável ao agente.

III - Interpretação analógica é uma hipótese de interpretação extensiva; é uma extensão do conteúdo da norma aos casos analógicos correspondentes à vontade da lei. A diferença entre interpretação análoga e analogia (aplicação do conteúdo de uma norma a casos não previstos pela vontade da lei), além de ser esta última um processo de integração da ordem legal e a outra meio de esclarecer o conteúdo normativo, está a diferencia, também, na volutas legis. Por ex.: art.171, 2, III ( por outro modo ), art.28, II (substâncias de efeitos análogos) dentre outros. 3 - INTEGRAÇÃO DAS NORMAS PENAIS. Não é possível ao legislador qualificar normativamente todos os comportamentos que podem ocorrer na vida real, ou, eventualmente, aquelas condutas para as quais o ordenamento não oferece qualificação. Devido a isso, surgirão inúmeras situações não previstas de modo especial pelo legislador. Segundo o art.126 do CPC: esgotados todos os meios interpretativas, cumpre ao aplicador suprir a lacuna da lei, uma vez que não pode se eximir de sentenciar ou despachar a pretexto de omissão da norma. Surge então, o problema de integração da norma, o qual tem em vista dizer como deverão preenchidas as lacunas; conforme determina o art. 4 da LICC: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. As normas penais incriminadoras não possuem lacunas, ante o princípio da reserva legal. Contudo, as normas penais não-incriminadoras, quando apresentam falhas ou omissões, podem ser integradas pelos recursos fornecidos pela ciência jurídica. Segundo J. F. Marques, é onde o art. 4 da LICC encontra aplicação plena e cabal é em relação aos casos de licitude excepcional (exclusão da antijuricidade e causas supralegais da exclusão da antijuricidade) e de isenção de culpabilidade.

3.1. - Modos de integração. a) Analogia - aplica-se, por semelhança, a lei à hipótese por ela não prevista (N.Hungria). Como diz C. Maximiliano, o processo analógico não cria direito novo, mas decobre o já existente e integra a norma estabelecida comum ao caso previsto pelo legislador. A diferença entre analogia e interpretação analógica, já foi feita no 2.3. c)iii. Como nota Monzini, a distinção entre analogia legis (parte de um preceito legal e aplica-o a casos semelhantes) e juris (parte de vários preceitos e aplica-os a casos não direta e expressamente previstos pelos dispositivos) é confusa e inútil, pois toda disposição particular está sempre em função do sistema jurídico geral. A analogia in malam partem (para prejudicar o acusado) é terminantemente proibida. Já em relação a analogia in bonam partem, a doutrina diverge; no entanto, a opinião dominante se manifesta no sentido de ela ser admitida, porque as normas penais incriminadoras não são excepcionais (as que abrem exceção à regra) e o art. 4 da LICC determina primeiramente como recurso em caso de lei omissa. b) costume - fonte formal secundária; conjunto de normas de comportamento que as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica. Serve como elemento de interpretação, tendo validade no próprio campo das normas incriminadoras. Por ex. art.217 inexperiência e justificável confiança. c)princípios gerais do direito - têm função no campo da licitude penal, ampliando-a. O fato é típico, ensejando a sanctio juris. No entanto, a conclusão choca-se com a consciência ética do povo. Então, o fato deve ser justificado pelo princípio geral do Direito e o agente absolvido. Por ex.: mãe que fura a orelha do filho, pai que dá um remédio ao filho, injúrias em jogo de futebol.

3.2 - Limites que se poêm ao intérprete. A analogia, o costume e os princípios gerais do Direito não são admitidos como forma revogadora das normas penais, isto é, não podem criar delitos nem determinar penas, estão limitados pelo princípio da legalidade. CONCLUSÃO Diante do exposto, observa-se que o juiz é obrigado a decidir. Para isso utiliza-se dos meios hermenêuticos, pois os conteúdos normativos são por natureza linguística plurívocos. Não obstante, às vezes em que há lacunas no ordenamento. Portanto, no caso das normas penais, o hermeneuta deve usar todos os métodos de interpretação, e se for o caso, os de integração, respeitando os limites impostos pelo princípio da legalidade e do uso da analogia sendo, proibida a criação de delitos e cominação de penas. BIBLIOGRAFIA 1. FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito, 2a ed., Atlas, São Paulo, 1994. 2. FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal, 13a ed., Forense, Rio de Janeiro, 1991. 3. JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, 22a ed., Saraiva, São Paulo, 1991, v.1.

4. KELZEN, Hans. Teoria Geral do Direito e do Estado, 2a ed., Martins Fontes, São Paulo, 1995. 5. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito, 14a edição, Forense, Rio de Janeiro, 1994. *Aluna do curso de graduação em Direito da Faculdade de Direito do Recife, Univ. Federal de PE brunamaggi@zipmail.com.br Recife - Pernambuco Disponível em: http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=54&idareasel=4&seeart=yes. Acesso em: 13 nov. 2007.