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Transcrição:

Editorial CATOLICISMO CONTEMPORÂNEO: UMA RELIGIÃO, MUITAS FACES Iniciamos esta reflexão fazendo eco às palavras de Sanchis (2008) sobre o catolicismo. Para ele, dentro das vertentes cristãs, o catolicismo parece ser aquela que, em poucos séculos, realizou o revestimento da fé com todas as mediações institucionais e rituais que precisamente constituem uma religião: organização de caráter hierático, templo, sacerdócio, sacrifício, conjunto dogmático de crenças etc. Por esse motivo, afirma Sanchis, o Catolicismo se configura como uma fé em forma de religião. Essa característica, para o autor, seria o elemento que torna o catolicismo com tamanha capacidade de adaptação e ou negociação com diversos aspectos da cultura na qual se insere. Assim, quando o catolicismo se implanta num espaço dominado por anteriores instituições religiosas, ele tende a operar por meio da transmutação do que lhe parece possível assimilar e ressemantizar na sua própria síntese. Isso ocorre porque sua auto-concepção como uma totalidade, a católica, o predispõe a essa estratégia, pois ele tem mais vocação de fagocitose do que de exclusão (SANCHIS, 2008, p. 13). Em afirmações semelhantes à perspectiva de Sanchis, também Teixeira (2005) afirma que o catolicismo no Brasil revela uma grande complexidade, diversidade e pluralidade tanto em sua configuração como nas formas em que se expressa. Para Teixeira (2005, p. 17) o que impressiona é a capacidade de adaptação e ajustamento dessa religião às novas situações: quando observada de perto, vemos como ela se abre e se permite diversificar, de modo a oferecer, em seu interior, quase todos os estilos de crença e de prática da fé existentes também fora do catolicismo. FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011. 165

Pelas características acima destacadas, o catolicismo se apresenta como lugar privilegiado para se observar a presença de diferentes formas de crer que vão dos rituais devocionais do culto aos santos e anjos às das experiências místicas segundo o modelo da Nova Era, passando pelo tipo-ideal das religiões de conversão, que se destaca nos catolicismos de libertação e carismático (CAMURÇA, 1998; STEIL, 2004). De nossa parte, entendemos que além das diferentes formas possíveis de SER católico, devido à própria forma como o catolicismo se compõe internamente, outros aspectos poderão ser considerados na análise de tal fenômeno na atualidade, como a autonomia do indivíduo associada à perda do poder da instituição religiosa (HERVIEU-LÉGER, 1993, 1997; PIERUCCI, 1996). É visando contribuir para o enriquecimento do debate em torno do catolicismo, em sua complexidade e diversidade de formas de expressão que se insere este número da Fragmentos. Este número da Revista está organizado em três blocos, contendo ao todo oito artigos que analisam, sob diferentes perspectivas, as diferentes formas em que o catolicismo se apresenta na sociedade brasileira. São eles: Catolicismo em sua expressão através do Movimento de Renovação Carismática Católica, com os artigos de Ribeiro, Uma Tipologia do Pentecostalismo Católico: a RCC em ondas, e de Silva, Renovação Carismática Católica: campo de convergência entre fé (milagres) e razão (medicina formal) na atualidade. O segundo bloco trata do Catolicismo em sua expressão através de festas e romarias, com os artigos de Castro, Romaria de Carros de Boi: a comunidade em foco, de Silva, A Festa do Boi-bumbá e a Reprodução da Cultura Popular, e de Oliveira, A Romaria do Bom Jesus da Lapa: prática do catolicismo popular. O terceiro bloco apresenta o catolicismo em seus diferentes posicionamentos teológicos e de temas tratados em seus documentos ou planos de pastoral, bem como a reação dos (in)fiéis ao tratamento dado a essas diferentes questões. Nesse bloco estão os artigos de Tavares, A Igreja Católica e a Política: o caso da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Pires do Rio, Goiás, 1964-1985), de Ecco, Ideário Católico sobre Família e Sociedade a partir dos Documentos da Igreja Católica, de Oliveira, A Cristandade: um modelo eclesial de poder, de Miranda, Permanências d África no Catolicismo Goiano, e de Guerra, Imagens do Estatuário da Igreja de Nossa Senhora de Pompéia, em Manhattan, Nova York, nos Estados Unidos da América. Merece atenção o fato de que, com a exceção de Miranda e Guerra, todos os/as autores/as que nos brindam com suas reflexões são alunos ou ex-alunos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Re- 166 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011.

ligião da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). A seguir faremos uma breve apresentação de cada artigo. Antônio Lopes Ribeiro escreveu Uma Tipologia do Pentecostalismo Católico: a RCC em ondas. Para Ribeiro, na década de 60 a Igreja Católica passou por uma substancial reforma interna promovida pelo Concílio Vaticano II, que abriu suas portas para a era contemporânea. Esse concílio, além de valorizar a participação do leigo na igreja, proporcionou o surgimento de importantes movimentos que mudariam sua história. Desses movimentos, destaca-se a RCC, como sendo um movimento de dupla reação: uma interna (com relação às Comunidades Eclesiais de Bases) e outra externa (com relação ao pentecostalismo). O artigo de Ribeiro apresenta a tipologia das três etapas históricas desse movimento que, segundo o autor, mudou a maneira de ser da Igreja Católica no mundo de hoje. Selcio de Souza Silva escreveu Renovação Carismática Católica: campo de convergência entre fé (milagres) e razão (medicina formal) na atualidade. Nesse artigo Silva busca evidenciar que a Renovação Carismática Católica se constitui como um campo em que a religião e a medicina, enquanto elementos relacionados à fé e a razão podem se encontrar. Essa especificidade, na perspectiva do autor, se constitui em uma das razões para o êxito dessa oferta religiosa. Para atingir seu objetivo, silva faz um breve histórico da RCC no Brasil, destacando a presença do milagre como elemento constituinte da mesma e a relação estabelecida pelo fiel entre o milagre e a medicina formal. Abrindo o segundo bloco está o artigo de Maria Aparecida de Castro, Romaria de Carros de Boi: a comunidade em foco. Para a autora, a romaria de carros de boi é uma prática religiosa da ruralidade que vai de encontro ao ethos do romeiro-carreiro urbano, que vive na cidade de Inhumas. A ruralidade, afirma Castro, enquanto uma característica do grupo de romeiros-carreiros de Inhumas tem a comunidade como centro e está na contramão da modernidade, que tem o indivíduo como centro. Para os romeiros-carreiros que se reúnem nos encontros programados e na romaria para a festa de Trindade a participação no grupo é uma experiência de comunidade. No segundo artigo deste bloco, Rosângela da Silva Gomes escreve sobre A Festa do Boi-Bumbá e a Reprodução da Cultura Popular. A autora busca oferecer uma descrição da história da Festa do Boi-Bumbá na cidade de Parintins - Estado do Amazonas, relacionando-a com as tradições culturais e religiosas no Brasil. A autora faz uma análise dos elementos simbólicos dessa festa de caráter popular, buscando evidenciar que o sincretis- FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011. 167

mo é uma forma de resistência cultural na qual, com elementos distintos, constroem-se novas formas culturais. Sandra Célia Coelho G. da S. Serra de Oliveira, por sua vez, escreve sobre A Romaria do Bom Jesus da Lapa: prática do catolicismo popular. Segundo a autora, seu estudo objetiva principalmente compreender a religiosidade popular a partir do catolicismo popular. Ela analisa o perfil do romeiro, com as peculiaridades resultantes das experiências concretas de vida destes, contrastando com a realidade sócio-geográfica da região onde ocorre a romaria. O terceiro bloco se inicia com o artigo de Ruth de Fátima Oliveira Tavares A Igreja Católica e a Política: o caso da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Pires do Rio, Goiás, 1964-1985). A partir do instrumento metodológico tipo ideal de Max Weber, Tavares faz uma comparação entre as ações dos freis franciscanos da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Pires do Rio-Goiás, durante o regime militar (1964-1985) e os conceitos típicos ideais de Igreja Progressista, Igreja Conservadora e Igreja Moderada, desenvolvidos por Skidmore (1988) para o referido período. Para tanto, utiliza-se de dois documentos da Paróquia local: o Livro de Tombo II e o caderno de anotações House Meetings. Fazendo a análise de posicionamentos da Igreja Católica em relação à família, está o segundo artigo deste terceiro bloco, escrito por Clóvis Ecco, intitulado Ideário Católico sobre Família e Sociedade a partir dos Documentos da Igreja Católica. Segundo Ecco, a família entendida como átomo da sociedade civil, conforme preconizada pela Igreja Católica, assume os preceitos de gerenciar os interesses privados, cujo bom funcionamento é imprescindível para a organização da vida social e o bem estar da coletividade. No entanto, em grande parte do século XIX, a família Ocidental na sua complexidade, não age de acordo com as pretensões e preconizações da Igreja Católica. A família age livremente com muitas variantes ligadas às tradições históricas, culturais e políticas de cada região. Dando continuidade a este terceiro bloco encontra-se o artigo de Carlos Augusto Ferreira de Oliveira A Cristandade: um modelo eclesial de poder. O autor se propôs analisar historicamente a Cristandade como modelo eclesial de poder. Para Oliveira, tendo na relação íntima entre Igreja Cristã e sociedade civil mediada pelo Estado sua definição, a Cristandade estabeleceu ao longo de dezesseis séculos um modelo de poder verificado na legitimação do Status Quo e na função da Igreja Cristã como aparelho ideológico do Estado. Fechando este terceiro bloco e também este número da Fragmentos encontram-se o artigo de Janira Sodré Miranda, Permanências d África no 168 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011.

Catolicismo Goiano. Para construí-lo a autora toma por fontes históricas livros de memórias escritos no século XIX e analisa as permanências africanas que moldaram expressões do catolicismo goiano, evidenciando as formas de silenciamento da presença africana e afro-descendente neste contexto. Aborda a presença africana em Goiás colonial, bem como as associatividades, espaços de sociabilidade e as festas da população negra, e ainda os efeitos residuais do racismo sobre a memória goiana no que concerne à permanência da presença africana e afro-descendente. Gutemberg Guerra, em Imagens do Estatuário da Igreja de Nossa Senhora de Pompéia, em Manhattan, Nova York, nos Estados Unidos da América, informa que a Paróquia de Nossa Senhora de Pompéia, localizada no Greenwich Village, é carregada de história de imigrantes italianos, filipinos e brasileiros, onde cultos se realizam nas línguas desses povos, movimentando o quarteirão com atividades culturais desde final do século XIX. Como afirmamos no início desta apresentação, com os artigos aqui disponibilizados, pretendemos lançar pequenas luzes no entendimento das riquezas, dos desafios, da complexidade e da diversidade de formas em que se expressa o catolicismo na atualidade. Esta é nossa forma de entender a sociedade, uma vez que o catolicismo como elemento constituinte / constituído da e pela cultura é parte integrante dela. Boa leitura! Referências CAMURÇA, Marcelo. Sombras na catedral: a influência New Age na Igreja Católica e o holismo da Teologia de Leonardo Boff e Frei Betto. Numen, v. 1, n. 1, p. 65-80, 1998. FAUSTINO TEIXEIRA. Faces do catolicismo brasileiro contemporâneo. Revista USP, São Paulo, n.67, p. 14-23, set./nov. 2005. HERVIEU-LÉGER, Danièle. La religion pour memoire. Paris: Cerf, 1993. HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido. Tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis: Vozes, 1999. HERVIEU-LÉGER, Danièle. Representam os surtos emocionais contemporâneos o fim da secularização ou o fim da religião?. Religião e Sociedade, v. 18, n. 1, p. 31-48, 1997. SANCHIS, Pierre. Cultura brasileira e religião... passado e atualidade...cadernos CERU, v.19 n. 2 São Paulo, dez. 2008. PIERUCCI, Antonio Flávio; PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996. FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011. 169

STEIL, Carlos Alberto. Renovação Carismática Católica: porta de entrada ou de saída do catolicismo? Uma etnografia do Grupo São José, Porto Alegre (RS). Religião & Sociedade, v. 24, n. 1, p. 11-36, 2004. Carolina Teles Lemos Doutora em Ciências Sociais e da Religião pela Umesp. Professora na PUC Goiás. Editora deste número. 170 FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 21, n. 4/6, p. 165-170, abr./jun. 2011.