A rainha dos pavões E ra uma vez uma família muito feliz: o rei, a rainha e seus dois filhos: Ricardo e Rogério. A felicidade da família aumentou quando nasceu uma bela menina. O nascimento da princesa foi comemorado com uma grande festa. Entre os convidados havia uma fada para quem a rainha perguntou sobre o futuro da filha. A fada respondeu: A princesa crescerá bonita, bondosa e educada, mas, um dia, ela poderá causar a morte dos próprios irmãos.
Para evitar que a má previsão se cumprisse, o rei mandou construir uma torre alta e luxuosa. A princesinha, Renata, passou a viver lá dentro, servida por vários criados. O rei e a rainha e os irmãos iam todos os dias visitá-la na torre. A princesinha cresceu, mas, ao completar dezesseis anos, o rei e a rainha adoeceram gravemente, morrendo ambos e levando para o túmulo o segredo sobre o isolamento da filha. Terminado o período do luto, os príncipes Ricardo e Rogério libertaram a querida irmã, levando-a para morar no palácio real.
A princesa ia descobrindo muitas coisas que desconhecia. Ficou fascinada pelo jardim do palácio real, cheio de flores, árvores e fontes. Um dia, durante um passeio, admirou-se ao ver um belo pavão e perguntou aos irmãos como se chamava aquele bicho. É um pavão! respondeu Ricardo. E, além de ser bonito, tem uma carne gostosa para se comer assada. Mas que costume cruel! Sabem de uma coisa? Vou casar com o próprio Rei dos Pavões e, assim que me tornar rainha, criarei uma lei proibindo que comam pavões. O tempo passou e a princesa insistia nesse projeto. Ela até contratou um pintor de quadros para que fizesse seu retrato, a fim de enviá-lo ao Rei dos Pavões. Mas, será o Rei dos Pavões existia? E onde achá-lo? A princesa se entristecia, pensando num modo de encontrar o futuro noivo. Querendo alegrar a irmã, os dois príncipes decidiram partir à procura do tão desejado noivo. Renata agradeceu aos irmãos e prometeu que, durante a ausência deles, governaria com sabedoria. Ricardo e Rogério partiram, levando o retrato da irmã. Viajaram, mas não acreditavam ser possível encontrar o tal Rei dos Pavões. Foram a muitos países e pediam informações sobre o Rei dos
Pavões, até que, finalmente, encontraram um besouro que o conhecia. Quando chegarem ao lugar que o besouro indicara, foram recebidos pelo Rei dos Pavões. Era um jovem bonito, com roupas muito luxuosas. Viemos de muito longe para mostrar-lhe o retrato de nossa irmã e saber se deseja tê-la como esposa. Que jovem bela! exclamou o Rei dos Pavões, olhando o retrato. Aceito-a como esposa. Mandem a princesa vir aqui. Se o retrato é fiel, casarei-me com ela, mas se existir algum truque, vocês pagarão caro pela trapaça. Enquanto aguardamos a chegada dela, vocês serão meus prisioneiros.
O Rei dos Pavões alojou os príncipes numa confortável casa. Um enviado viajara para comunicar à princesa que o Rei dos Pavões queria casar-se com ela. Renata recebeu o recado com muita felicidade e foi à procura de alguém que conhecesse o Reino dos Pavões. Encontrou, depois de alguma procura, um velho capitão de navio, que esteve lá na sua juventude. A princesa explicou-lhe a situação, e o capitão se dispôs a ajudá-la em troca de mil moedas de ouro. Levando todos os seus pertences, a princesa viajou acompanhada de uma criada já anciã e sua filha. Com elas, seguiu Esperança, um cãozinho de uma orelha só. O navio zarpou na madrugada. Depois de muitas semanas navegando, certa tarde, o capitão falou: Amanhã chegaremos ao nosso destino. Então, a criada perguntou ao capião, em segredo: Diga-me, capitão, gostaria de se tornar rico, riquíssimo? E como! Quem não gostaria?! Essa é boa!
Jogue a princesa no mar e, em troca desse favor, entregarei todas as jóias dela ao senhor. O capitão achou a proposta da criada terrível e cruel. Não faria aquilo de modo algum. Contudo, depois de ter visto as preciosas jóias de Renata e de ter bebido uma garrafa de licor, criou coragem e decidiu fazer o que a traidora pedia. Assim, enquanto a princesa dormia profundamente com o cãozinho, ele agiu rapidamente e atirou a jovem, com colchão e tudo, ao mar. Certa de que havia se livrado da princesa, a criada ficou muito satisfeita. Realizaria o plano perverso que tinha elaborado desde o dia do embarque: substituiria a princesa por sua filha. Assim, mandou-a vestir as roupas de Renata, fez um penteado e recomendou-lhe que se comportasse como uma dama.
O rei havia enviado uma comitiva para receber a futura noiva, mas ao se deparar com aquela mocinha tão feia e de modos tão grosseiros, enfureceu-se. Havia sido enganado pelos dois irmãos. Eles seriam julgados em breve. Enquanto isso, Renata boiava em alto mar na companhia de seu cãozinho. Após cinco dias, chegou a uma praia que pertencia ao Reino dos Pavões. Um velho pescador a socorreu e levou-a para a sua pobre cabana, onde cuidou dela, mas, ele não tinha comida para oferecer. Sabendo da esperteza de Esperança, Renata pendurou uma cestinha na boca do cãozinho e disse: Vá, procure comida e traga-a para mim. Estou com fome e também quero oferecer algo a este senhor que me socorreu. Esperança logo encontrou a cozinha do palácio. Sem ser visto, derrubou na cesta um frango assado, pão fresquinho e frutas. Em seguida correu e levou tudo para a dona.
Naquela noite, o Rei dos Pavões foi avisado que sumira parte da comida. Ele deu ordens para os guardas descobrirem e capturarem o culpado. No dia seguinte, quando o cãozinho levou alguns bifes, o chefe dos guardas perseguiu-o. Ao chegar na cabana, prendeu a princesa e o pescador e os conduziu à presença do rei. Ele logo reconheceu a princesa do retrato e apaixonou-se perdidamente. A jovem, em lágrimas, revelou-lhe quem era e lhe contou os problemas que enfrentou para chegar até ali. O rei ordenou que libertassem os príncipes, pedindo-lhes perdão por tanto sofrimento. Mandou trancar numa prisão escura a criada e sua filha. Ao bondoso velho, que tinha acolhido Renata, deu uma boa quantidade de moedas de ouro. Renta casouse com o Rei dos Pavões e eles foram felizes para sempre.