Qualidade Físico-Química de Grãos de Milho Ozonizados

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Transcrição:

Qualidade Físico-Química de Grãos de Milho Ozonizados 79 Joel Guimarães de Brito Júnior 1 ; Lêda Rita D Antonino Faroni 2 ; Fernanda Fernandes Heleno 2 ; Wellingta Cristina Almeida do Nascimento Benevenuto 3 ; Augusto Aloísio Benevenuto Júnior 3 ; Daniel Francis Ribeiro 2 RESUMO O ozônio é um poderoso agente oxidante que promove estresses oxidativos em células vivas e vem sendo indicado como alternativa no controle de insetospraga e microrganismos em alimentos. No entanto, pouco se conhece a respeito do efeito desse gás nas características físico-químicas de grãos armazenados. Diante do exposto, objetivou-se com este trabalho determinar o efeito da ozonização nas características físico-químicas de milho armazenado. Durante a ozonização, amostras de 2,0 kg de grãos foram acondicionadas em recipientes cilíndricos de PVC. Para determinação da concentração e do tempo de saturação dos grãos de milho pelo ozônio, aplicou-se o gás na concentração de 2,14 mg L -1 e fluxo de 5,8 L min -1. Foram estabelecidos cinco períodos de exposição ao ozônio, com a finalidade de avaliar o efeito do gás na qualidade dos grãos de milho. No controle, grãos de milho foram submetidos ao tratamento com ar atmosférico, em condições semelhantes ao tratamento com gás ozônio. Ao final de cada período de exposição, os grãos de milho foram avaliados quanto ao teor de água, à condutividade elétrica, ao teor de lipídeos, ao teor de proteínas e ao índice de peróxido. O ozônio reduziu o teor de água e elevou o índice de peróxido dos grãos. No entanto, a ozonização não alterou a condutividade elétrica, o teor de lipídios e o teor de proteínas. Palavras-chave: Teor de Água, Condutividade Elétrica, Lipídeos, Proteínas, Índice de Peróxido. 1 Departamento de Ciências Agrárias, Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Bambuí, Fazenda Varginha, CEP: 38900-000 Bambuí, MG. E-mail: joel.junior@ifmg.edu.br 2 Departamento de Engenharia Agrícola, Campus Universitário, Universidade Federal de Viçosa, CEP: 36570-900 Viçosa, MG. E-mail: lfaroni@ufv.br, fernanda.heleno@ufv.br 3 Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais, Campus Rio Pomba, CEP: 36180-000 Rio Pomba, MG. 722

INTRODUÇÃO A busca constante por redução de perdas na pós-colheita, tanto no aspecto quantitativo, quanto qualitativo, tem se tornado preocupação cada vez mais expressiva, e tem motivado esforços direcionados à implementação de condições seguras e eficazes de armazenamento de grãos. Várias questões, como a legislação alimentar em vigor, a crescente resistência de pragas em relação aos fumigantes convencionais, bem como o aumento da demanda por produtos alternativos de uso ecologicamente correto, têm incentivado órgãos de pesquisa e até mesmo a iniciativa privada a buscarem inovações tecnológicas que satisfaçam a necessidade presente (Tiwari et al., 2010). Dentre as diversas alternativas em estudo, com o propósito de se reduzir os danos causados aos grãos armazenados pela presença de insetos-praga e microrganismos fúngicos destaca-se o uso do gás ozônio. A tecnologia de utilização do ozônio em alimentos apresenta diversas vantagens, a começar pela possibilidade de ser gerado no próprio local de atuação, além de ser considerado um dos mais efetivos agentes oxidantes. Sua decomposição ocorre rapidamente em oxigênio, deixando o ambiente livre de qualquer resíduo tóxico, em poucos minutos. Com relação ao seu efeito desinfetante, possui ação mais rápida e mais eficaz que outros produtos com a mesma função (Ibanoglu, 2002; Young & Setlow, 2004). Embora vários estudos tenham sido realizados utilizando o gás ozônio como agente inseticida, sanificante e microbiocida, poucas informações foram disponibilizadas em relação ao efeito desse gás nas características físicoquímicas de grãos armazenados. Diante do exposto, objetivou-se com este trabalho determinar o efeito da ozonização nas características físico-químicas de milho armazenado. MATERIAL E MÉTODOS O gás ozônio (O 3 ) foi obtido por intermédio do gerador de ozônio O&LM, desenvolvido pela empresa Ozone & Life (São Paulo, Brasil). No processo de geração do gás foi utilizado oxigênio (O 2 ) como insumo primário, livre de umidade, obtido pelo concentrador do próprio gerador de ozônio. Para a determinação da concentração do gás ozônio formado, utilizou-se o método iodométrico, adotando a titulação indireta, conforme recomendação da International Ozone Association (IOA). Este método, descrito por Clescerl et al. (2000), consistiu no borbulhamento do gás ozônio em uma solução de 723

50 ml de iodeto de potássio (KI) 20 g L -1. Com a finalidade de assegurar a produção de I 2, fez-se necessário acidificar o meio, adicionando-se à solução de KI, 2,5 ml de ácido sulfúrico (H 2 SO 4 ), 0.5 mol L -1. Posteriormente, titulou-se com tiossulfato de sódio (Na 2 S 2 O 3 ), 0,01 mol L -1, até que a coloração amarelada do iodo se tornasse pouco perceptível. Na sequência, adicionou-se 1 ml de solução indicadora, de amido, 1%, retomando a titulação, até que a coloração azul da solução desaparecesse. Os grãos de milho foram acondicionados em recipientes cilíndricos de cloreto de polivinil (PVC), com 19,3 cm de diâmetro e 23,0 cm de altura, contendo, cada um deles, 2,0 kg de grãos. Posicionada a 0,10 m do fundo de cada recipiente, uma tela metálica foi fixada para sustentação dos grãos e formação de uma câmara para melhor distribuição do ozônio, no interior dos cilindros. Na tampa inferior e superior dos mesmos foram instaladas conexões para injeção e exaustão do gás. A injeção de gás ozônio foi efetuada na concentração de 2,14 mg L -1, em fluxo contínuo de 5,8 L min -1 e à temperatura de 25±2 C. Com a finalidade de avaliar o efeito do gás nas características físico-químicas de grãos de milho, foram estabelecidos cinco períodos de exposição ao ozônio (0, 10, 20, 30 e 50 h). Três recipientes, com 2 kg de grãos de milho com teor de água médio de 14,4% b.u., foram utilizados para o tratamento com o gás ozônio e três para o ar atmosférico (controle). O teor de água dos grãos foi determinado utilizando-se o método de estufa, segundo as normas da ASAE (2000). A condutividade elétrica da solução contendo grãos de milho foi medida utilizando-se o Sistema de Copo ou Condutividade de Massa (Vieira, 1994). A determinação do teor de lipídios presente na amostra de milho foi realizada após moagem dos grãos em moinho de facas, marca FRITSCH, modelo Pulverisette 14, utilizando o método AC 3-49 da AOCS (1993). A extração do óleo ocorreu por meio de aparelho extrator tipo Soxhlet, adotando, como solvente, éter de petróleo. O teor de proteínas foi obtido pela determinação do nitrogênio total, empregando-se a técnica Kjeldahl, conforme método nº 46-13 da AACC (1999), utilizando o fator 5,7 para a conversão em proteína bruta. A análise foi realizada em triplicatas, utilizando-se destilador para extração de nitrogênio, marca Marconi, modelo MA 036. Os peróxidos foram medidos por meio da técnica baseada em sua capacidade de liberar o iodeto de potássio e seu teor expresso em miliequivalentes (meq) de peróxido por quilograma de óleo, de acordo com o método cd 8-53 das normas AOCS (1993). RESULTADOS E DISCUSSÃO O teor de água apresentou variação significativa (p<0,05) entre os 724

tratamentos com o ar atmosférico e com o gás ozônio, nos períodos de exposição de 10, 20, 30 e 50 h. A Figura 1 apresenta o comportamento dos valores médios do teor de água dos grãos de milho expostos ao gás ozônio e ao ar atmosférico, nos períodos de exposição considerados. Figura 1. Valores estimados e observados referentes ao teor de água em grãos de milho expostos ao ar atmosférico e ao gás ozônio, na concentração de 2,14 mg L -1, nos diversos períodos de exposição. A alteração do teor de água observada se deu, provavelmente, devido à utilização do oxigênio isento de umidade, como elemento primordial na geração do ozônio. Portanto, o equilíbrio higroscópico entre a massa de grãos e seu ambiente intersticial pode ser um dos fatores responsáveis pela citada oscilação, quando as pressões de vapor do grão e do ar que o envolve tendem ao equilíbrio (Corrêa et al., 2005). Resultados análogos foram obtidos por Wang et al. (2010), ao detectarem redução no teor de água do milho ozonizado (12,86%) em relação ao milho controle (15,56%), após exposição à concentração de 4,8 mg L -1 de gás ozônio, ao fluxo contínuo de 0,4 L min -1, por período de 12 h. Com relação ao teor de lipídios nos grãos de milho, este permaneceu entre 3,3 e 3,4%, independentemente da exposição ao ar atmosférico e ao gás ozônio, nos diversos períodos de exposição (p>0,05). O comportamento praticamente 725

inalterado do teor de lipídios nos grãos está retratado na Figura 2. Resultados semelhantes foram encontrados por Mendez et al., (2003) ao ozonizarem milho a 0,107 mg L -1 (50 mg kg -1 ) e Faroni et al. (2007) que também relataram ausência de alteração no teor de lipídios em milho tratado com 0,107 mg L -1 (50 ppm) de ozônio, por 168 h. Figura 2. Valores estimados e observados referentes ao teor de lipídios de grãos de milho expostos ao ar atmosférico e ao gás ozônio, na concentração de 2,14 mg L -1, nos diversos períodos de exposição. No tocante ao teor protéico do milho, nenhuma alteração foi encontrada, seja nos grãos expostos ao gás ozônio ou naqueles submetidos ao ar atmosférico, tampouco em relação à variação do período de exposição. Infere-se, portanto, que o gás ozônio, nas condições apresentadas, não afeta a constituição de proteínas do milho tratado. Os resultados obtidos coincidem com aqueles apontados por Mendez et al. (2003), onde não se constatou qualquer diferença entre os teores de proteína de grãos de trigo ozonizados e não ozonizados. A avaliação da condutividade elétrica de grãos de milho constitui um dos procedimentos analíticos com o propósito de se analisar o vigor e, portanto, a condição fisiológica destes grãos. Seus resultados expressam a quantidade de íons lixiviados do interior dos grãos para o meio externo, ou seja, a solução na qual estão mergulhados, retratando, diretamente seu grau de deterioração (Vieira, 1994). Não ocorreu variação dos valores de condutividade elétrica na solução contendo os grãos de milho, entre os tratamentos com o gás ozônio e o ar atmosférico, nos diferentes períodos de exposição. No entanto, observou-se um aumento significativo nos valores de condutividade 726

elétrica dos grãos, à medida que se elevava o tempo de exposição, sendo este de 0,0635135 para cada 1 h de variação, para o milho controle e de 0,095360, para o milho ozonizado. Apesar de significativa, a variação ocorreu entre os valores 41 e 46 μs cm -1 g -1. Na Figura 3, observa-se leve alteração para os dois tratamentos (ozônio e ar atmosférico), nos diferentes períodos de exposição. Em estudos conduzidos por Santos (2008), ao ozonizar grãos de milho, na concentração de 0,214 mg L -1 (100 ppm), por 180 min, não foi constada variação nas características fisiológicas dos grãos submetidos ao ozônio, em relação ao milho controle. Ao contrário, Silva (2011), observou aumento significativo de valores referentes à condutividade elétrica em grãos de trigo ozonizados, na concentração de 2,14 mg L -1, por períodos de 20, 40 e 60 h. No que se refere ao índice de peróxido, os valores correspondentes ao óleo extraído dos grãos tratados com ar atmosférico e aos expostos ao ozônio apresentaram valores crescentes, conforme se aumentava o tempo de exposição. No entanto, observou-se maior elevação nos índices referentes aos grãos ozonizados, o que sugere possível oxidação induzida pela exposição ao gás. Observa-se que, até 30 h de ozonização, os valores médios do índice de peróxido permaneceram abaixo de 10 meq kg -1, limite máximo definido pela ANVISA (1999), como parâmetro de comercialização de óleo bruto de milho (Figura 4). Resultados diferentes foram obtidos por Alencar et al. (2011), que constataram que o gás ozônio não afetou o índice de peróxido de grãos de amendoim ozonizados, à concentração de 21 mg L -1, por período de 96 h de exposição ao gás. Figura 3. Valores estimados e observados referentes à Condutividade elétrica de grãos de milho expostos ao ar atmosférico e ao gás ozônio, na concentração de 2,14 mg L -1, nos diversos períodos de exposição. 727

Figura 4. Valores estimados e observados referentes ao Índice de peróxido de grãos de milho expostos ao ar atmosférico e ao gás ozônio, na concentração de 2,14 mg L -1, nos diversos períodos de exposição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AACC. American Association of Cereal Chemists. Approved methods of AACC. 10 ed. Saint Paul: AACC, 1999. ALENCAR, E. R.; FARONI, L. R. A.; SOARES, N. F. F.; CARVALHO, M. C. S.; PEREIRA, K. F. Effect of the ozonization process on the quality of peanuts and crue oil. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.15, n.2, p.154-160, 2011 ANVISA. Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de óleos e gorduras vegetais. Resolução nº 482, de 23.09.1999. AOCS. Official methods and recommended practices of the American Oil Chemists Society. 4 ed. Champaign: AOCS Press, 1993. 2v. ASAE. AMERICAN SOCIETY OF AGRICULTURAL ENGINEERING. Moisture measurement Unground grain and seed. In: Standards, 2000. St. Joseph: American Society of Agricultural Engineers. p.563. CLESCERL, L. S.; GREENBERG, A. E.; EATON, A. D. Standard methods for the ex- 728

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