MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ - UNIFAP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD COORDENAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ - UNIFAP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD COORDENAÇÃO DO CURSO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS ECOLOGIA PARASITÁRIA DE Pterophyllum scalare (LICHTENSTEIN, 1823) E Mesonauta acora (CASTELNAU, 1855) (CICHLIDAE) EM ÁREA ÚMIDA DA AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL WANDERSON MICHEL DE FARIAS PANTOJA Macapá, Amazônia-Brasil Abril-2013

WANDERSON MICHEL DE FARIAS PANTOJA ECOLOGIA PARASITÁRIA DE Pterophyllum scalare (LICHTENSTEIN, 1823) E Mesonauta acora (CASTELNAU, 1855) (CICHLIDAE) EM ÁREA ÚMIDA DA AMAZÔNIA ORIENTAL, BRASIL Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Amapá para obtenção do. título em Bacharel em Ciências Ambientais. Área de concentração: Ecologia e Sanidade de peixes Orientadora: Dra. Roberta Sá Leitão Barbosa Macapá, Amazônia-Brasil Abril-2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá Pantoja, Wanderson Michel de Farias. Ecologia parasitária de Pterophyllum scalare (LICHTENSTEIN, 1823) e Mesonauta acora (CASTELNAU, 1855) (CICHLIDAE) em área úmida da Amazônia oriental, Brasil/Wanderson Michel de Farias Pantoja; orientadora Roberta Sá Leitão Barbosa. Macapá, 2013. 47p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) Fundação Universidade Federal do Amapá, Coordenação do Curso de Bacharelado em Ciências Ambientais. 1. Áreas úmidas Amapá (AP). 2. Ecologia. 3. Peixes Ecologia Macapá (AP). 4. Qualidade FOLHA ambiental. DE I. AVALIAÇÃO Barbosa, Roberta Sá Leitão, orient. II. Fundação Universidade Federal do Amapá. III. Título. CDD. 22.ed. 597.098116

Nome do Autor: PANTOJA, Wanderson Michel de Farias. Título: Ecologia parasitária de Pterophyllum scalare (lichtenstein, 1823) e Mesonauta acora (castelnau, 1855) (cichlidae) em área úmida da Amazônia oriental, Brasil. Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Ambientais da Universidade Federal do Amapá para obtenção do título em Bacharel em Ciências Ambientais. Data da Aprovação: 25/04/2013 Banca examinadora Orientador e Presidente Profa. Dra. Roberta Sá Leitão Barboza Curso de Ciências Ambientais/Universidade Federal do Amapá Membro Titular Dr. Marcelo José de Oliveira Curso de Ciências Ambientais/Universidade Federal do Amapá Membro Titular Maria Danielle Figueiredo Guimarâes Hoshino MSc. Biodiversidade Tropical/Universidade Federal do Amapá

Aos meus Orientadores, Professores, pais, irmãos e familiares pela compreensão, ensino e atenção durante este período de minha formação.

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter-me oportunizado a vida, além de Saúde e força para chegar ao final de mais uma graduação. A minha mãe, Raimunda de Farias Pantoja, que direta e indiretamente contribuiu para que eu pudesse alcançar este objetivo, que é um dos mais importantes. A meu avô, Habram de Oliveira Pantoja, que faleceu este mês de abril e deixou muitas saudades e o lamento pela perda de tanta experiência e conhecimento. A minha avó, Julieta Gonçalves de Araújo, que com carinho e paciência me ensinou a viver, e que mesmo por estar debilitada conseguiu dar-me força e carinho durante toda minha vida. A Embrapa-AP pela infraestrutura, material e transporte para o desenvolvimento deste estudo. A Dra. Roberta Sá Leitão Barboza por ter se dedicado o quanto pode para me Orientar no ramo da pesquisa em ecologia e também sua dedicação e colaboração no decorrer dos estudos que realizei. Assim como sua amizade, paciência. Ao meu co-orientador Marcos Tavares-Dias, pela capacidade de orientação, auxílio durante a execução e redação do trabalho, fornecimento de material bibliográfico, e o mais importante, por confiar em minha capacidade de vencer mais essa etapa. Aos meus Companheiros e amigos Simone Tigusa, Francis Brazão, Jacklinne Matta, Marlon Junior e Jair Pantoja pela ajuda em coletas de campo, quando precisei de apoio físico e confiança no trabalho aqui investido.

RESUMO PANTOJA, W. M. F. Ecologia parasitária de Pterophyllum scalare (Lichtenstein, 1823) e Mesonauta acora (castelnau, 1855) (cichlidae) em área úmida da Amazônia oriental, Brasil. 2013. 47 f. Monografia (TCC em Ecologia e Sanidade de Peixes) Coordenação do Curso de Ciências Ambientais, Universidade Federal do Amapá. A Amazônia possui uma grande biodiversidade. Um dos ambientes que contribui para a alta diversidade na região são os ecossistemas aquáticos. Em Macapá-AP, existem áreas úmidas conhecidas regionalmente por ressacas. São sistemas de alta diversidade e produtividade, no entanto, vem sofrendo degradação ambiental. O desequilíbrio do meio ambiente pode interferir na vida dos peixes e seus parasitos. Este estudo objetivou comparar a fauna parasitaria de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora (CICLIDAE) desta área úmida de Macapá. Espécimes de P. scalare e M.acora foram coletados de setembro a dezembro de 2012 em Macapá (00 02 37,5 N e 51 06 19,2"W). Em P. scalare peso (7,0 ± 4,2 g), comprimento (7.0 ± 1.3 cm) foram coletados 2.363 parasitos. A maior prevalência e dominância relativa foi de Sciadcleithrum iphthimum seguida por Icthyouris sp. Em M.acora peso (6,7 ± 4,7 g),comprimento (6,7 ± 1,2 cm) foram coletados um total 8459 parasitos. A maior prevalência foi de metacercárias Posthodiplostomum sp. no intestino do hospedeiro. O gênero Sciadcleithrum sp. foi identificado nos dois ciclideos, mais a espécie Sciadcleithrum joanae ocorreu apenas em P. scalare e Sciadcleithrum iphthimum apenas em M. acora. Os dois hospedeiros apresentaram típico padrão de distribuição agregada de seus parasitos. O maior índice de dispersão em P.scalare foi de Sciadcleithrum phthimum (ID = 4,322; d = 9,82) e em M.acora de Sciadcleithrum joanae (ID = 5,456; d = 11,59). A diversidade parasitária (HB= 0.5602±0.2906 ) em M. acora foi maior do que a registrada em P. scalare (HB= 0.4623 ± 0.2590). O comprimento (cm) e o peso (g) mostraram correlação negativa com abundância de S.iphthimum e C.pterophylum.em P. scalare, no entanto, comprimento (cm) e o peso (g) não apresentaram correlação com nenhum dos parasitos em M. acora. Estes estudos ecológicos são importantes para o entendimento da relação hospedeiroparasito nesse ambiente para o aprimoramento de programas de conservação ambiental. Palavras-chave: Áreas úmidas, Ciclidae, Ecologia, Parasitos.

ABSTRACT PANTOJA, W. M. F. Parasite ecology Pterophyllum scalare (Lichtenstein, 1823) and Mesonauta Acora (Castelnau, 1855) (cichlidae) in humid area of the eastern Amazon, Brazil. 2013. 47 f. Monograph (TCC in Fish Ecology and Health) - Course Coordination of Environmental Sciences, Federal University of Amapá. The Amazon has a great biodiversity. One of the environments that contributes to the high diversity in the region are the aquatic ecosystems. In Macapa-AP, there are wetlands known locally as "Ressaca". Are systems of high diversity and productivity, however, has been suffering from environmental degradation. The imbalance of the environment can interfere in the lives of fish and their parasites. This study aimed to compare the parasitic fauna of Pterophyllum scalare and Mesonauta Acora (Ciclidae) of this wetland area of Macapa. Specimens of P. scalare and M.acora were collected from September to December 2012 in Macapa (00 02'37, 5'' N and 51 06'19, 2 "W). P.scalare in weight (7.0 ± 4, 2 g), length (7.0 ± 1.3 cm) were collected 2,363 parasites. The highest prevalence and relative dominance was Sciadcleithrum iphthimum followed by Icthyouris sp. M.acora weight (6.7 ± 4.7 g), length (6 7 ± 1.2 cm) were collected from a total of 8,459 parasites. Higher prevalence was metacercariae Posthodiplostomum sp. intestine of the host. Gender Sciadcleithrum sp. was identified in two cichlids, most species Sciadcleithrum joanae occurred only in P. scalare and Sciadcleithrum iphthimum only M.acora. Both hosts showed a typical pattern of uneven distribution of their parasites. The dispersion was P.scalare greater Sciadcleithrum iphthimum (ID = 4.322, d = 9.82) and M.acora of Sciadcleithrum joanae (ID = 5456 = 11.59 d). Parasite diversity (HB = 0.5602 ± 0.2906) in M.acora was higher than that recorded in P.scalare (HB = 0.4623 ± 0.2590). The length (cm) and weight (g) showed a negative correlation with the abundance of S.iphthimum and C.pterophylum however P.scalare length (cm) and weight (g) not correlated with any of the parasites M.acora. These ecological studies are important to understanding the host-parasite relationship in this environment for the improvement of environmental conservation programs. Keywords: wetlands, Ciclidae, ecology, parasites.

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Natureza geomorfológica das áreas úmidas do Amapá ressacas. 13 Figura 2. Pterophyllum scalare (A) e Mesonauta acora (B). 17 Figura 3. Localização da área de coleta dos peixes em Macapá-Amapá. (A) Mapa do Brasil localizando Amapá, (B) Visualização da área de extensão da bacia do Igarapé Fortaleza. (C) Extensão da área de ressaca da Lagoa dos Índios e visualização da rodovia duque de Caxias que corta a área úmida. (D) Local de coleta dos peixes dentro da extensão da Lagoa dos Índios. 23 Figura 4. Correlação entre a abundancia de Sciadcleithrum iphthimum com o comprimento (cm) e o peso (g) de Pterophyllum scalare (Cichlidae) de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. 35 Figura 5. Correlação entre a abundancia de Capillaria pterophylum com o comprimento (cm) e o peso (g) de Pterophyllum scalare (Cichlidae) de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. 35

LISTA DE TABELA Tabela 1. Parâmetros limnologicos Média ± DP medidos na coleta dos espécimes de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora de área úmida da Amazônia oriental. Tabela 2. Infecções por metazoários parasitos em duas espécies de Cichlidae de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. B=Brânquias; I=Intestino; P=Prevalência; IM=Intensidade Media; DP= Desvio padrão; AM=Abundância média; NTP= Número total de parasitos; DR=Dominância relativa. Tabela 3. Índice de dispersão (ID), estatístico d e índice de discrepância (D) para as infracomunidades de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora com prevalência 10 %, de área úmida da Amazônia oriental. Tabela 4. Índices médios de diversidade para duas espécies de Cichlidae de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. DP: Desvio padrão. Tabela 5. Coeficiente de correlação de Spearman (rs) entre, e nível de confiabilidade (p) entre o Comprimento (cm), peso corporal e a Abundancia média de parasitos de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora de área úmida da Amazônia oriental. B=Brânquias; I=Intestino. 26 30 32 33 34

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Riqueza de espécies de parasitos de P. scalare (Cichlidae) e M.acora de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. 33

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 10 1. REVISÃO DA LITERATURA... 12 1.1 Caracterização das áreas úmidas do Estado do Amapá... 12 1.2 Dinâmica das áreas úmidas do Amapá... 13 1.3 Vegetação das áreas úmidas... 14 1.4 Problemas ambientais das áreas úmidas do Amapá... 15 1.5 Ictiofauna das áreas úmidas do Amapá... 16 1.6 Parasitofauna em Pterophyllum scalare e Mesonauta acora... 18 2. OBJETIVOS... 22 2.1-GERAL... 22 2.2- ESPECIFICO... 22 3. MATERIAIS E METODOS... 22 3.1 Área de estudo e coleta dos peixes... 22 3.2 Procedimentos de analise dos parasitos... 23 3.3 Parâmetros físicos e químicos da agua... 24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO... 25 4.1 Analise físico-química da água... 25 4.2 Biometria... 26 4.3 Composição da comunidade de parasitos... 27 4.3.1 Índices parasitários em P. scalare... 27 4.3.2 Índices parasitários em M. acora... 28 4.3.3 Padrão de distribuição espacial dos parasitos... 31 4.3.4 Diversidade de parasitos... 31 4.4 Relação Hospedeiro-Parasitos... 35 5. CONCLUSÕES... 36 REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO... 37

10 INTRODUÇÃO A Amazônia possui uma biodiversidade sustentada por diferentes níveis taxonômicos de grupos de seres vivos (HASEYAMA & CARVALHO, 2011). Um dos ambientes que contribui para a alta diversidade na região são os ecossistemas aquáticos. Esses ambientes abrigam um conjunto de interações ecológicas onde a variação periódica do nível das águas é um fator determinante para comunidade de organismos aquáticos presente em rios com planícies alagadas (WELCOMME, 1985; JUNK et al., 1989). A alteração do nível das águas causa modificações cíclicas tanto abióticas quanto bióticas (LOWE-MCCONNELL, 1999). A extensão de habitats ao longo dos rios da bacia hidrográfica amazônica determina a sobrevivência de uma diversidade de espécies de acordo com a teoria do rio continuo (JUNK, 1980). Entretanto, o regime sazonal das chuvas aliado ao pulso de inundação em áreas úmidas e alagáveis, podem provocar perturbações na dinâmica das populações dos ecossistemas, afetando diretamente a fauna íctia da região (VANNOTE et al., 1980). Os períodos sazonais na Amazônia são diferenciados pelas características limnológicas durante dois períodos extremos, a estiagem (águas baixas) e a cheia (águas altas). A influência desse fenômeno, associado ao grau de interferência dos rios adjacentes, pode causar grandes alterações nos processos ecológicos dos lagos de inundação ao longo deste ciclo sazonal (BITTENCOURT & AMADIO, 2007). A variação do nível das águas aparece como uma das maiores forças controladoras da dinâmica dos ecossistemas aquáticos amazônicos, propiciando o aparecimento de áreas alagáveis (SIOLI, 1985). Assim, essa dinâmica influencia significativamente a vida dos peixes e outros organismos aquáticos, incluindo a fauna de parasitos dos peixes. No município de Macapá, Estado do Amapá existe áreas úmidas conhecidas regionalmente por ressaca. Este termo é utilizado para designar áreas periodicamente inundáveis que abrigam uma rede de canais e cursos de água perenes (TAKIYAMA & SILVA, 2004). São caracterizadas por extensas áreas planas formadas por sedimentos argilosos, siltosos e arenosos de origem

11 mista e fluvial. Em outras regiões do país este habitat é definido como áreas úmidas (MACIEL, 2001). Essas áreas úmidas funcionam como bacias de acumulação de água, influenciadas pelo regime das marés, dos rios e das chuvas. Servem como berçários para várias espécies de animais (aves, insetos, etc.) e área de desova para organismos aquáticos (peixes, crustáceos e outros). Pode também funcionar como corredores naturais para a circulação de vento e de amenizar a temperatura das áreas do entorno da região (SANTOS, 2006). As áreas de ressacas são descritas como sistemas de alta diversidade e produtividade, principalmente quando associadas aos sistemas estuarinos e às águas costeiras (TAKIYAMA & SILVA, 2004). No entanto, no município de Macapá, essas áreas estão sofrendo um rápido e desordenado processo de ocupação humana. As ressacas estão localizadas em quase todo o perímetro urbano de Macapá, o que facilita o acesso e consequentemente a degradação ambiental deste habitat (TAKIYAMA & SILVA, 2004). A degradação ambiental pode alterar a qualidade e o equilíbrio do meio ambiente, configurando assim um indicador de estresse ao meio biótico, que pode interferir na vida dos peixes e seus parasitos. Diversos agentes estressores podem interferir no equilíbrio da relação hospedeiro-parasito (SELYE, 1973). Nos peixes, os níveis de infecção parasitária variam de acordo com a espécie, período sazonal e a qualidade do habitat (TAKEMOTO & LIZAMA, 2010). Além disso, fatores tais como a pré-disposição podem levar a um quadro de estresse com uma serie de respostas que dependendo da com condição patológica pode levar o hospedeiro a morte (PAVANELLI et al., 2008; ONAKA, 2009; MARTINS et al., 2010). Tendo em vista a importância das áreas úmidas para o Estado e a preocupação ambiental pertinente, o estudo dos parasitos em espécies de peixes de área úmida do Estado do Amapá é de grande relevância para o conhecimento da biodiversidade dessas áreas pouco estudadas, além auxiliar programas de conservação desses ecossistemas.

12 1. REVISÃO DA LITERATURA 1.1 Caracterização das áreas úmidas do Estado do Amapá Na Amazônia oriental, estado do Amapá, bacia do Igarapé Fortaleza, existe áreas úmidas que são caracterizadas como bacias de acumulação de água em locais de baixo relevo que possuem ligação com a rede de canais da bacia hidrográfica da região influenciadas pelo regime das marés, das chuvas e do estuário (GAMA & HALBOTH, 2004). Durante o período seco (estiagem na Amazônia). Estes ambientes estão em um grupo intermediário entre os ecossistemas terrestres e aquáticos (MACIEL, 2001). No Amapá estas áreas além de estarem associadas à alta diversidade e produtividade do sistema fluvial amazônico, também estão associadas aos sistemas estuarinos e às águas costeiras (TAKIYAMA & SILVA, 2004). As informações científicas existentes sobre o meio biótico, meio abiótico e meio antrópico das ressacas de Macapá ainda encontran-se limitadas ao diagnostico realizado por Takyama e Silva (2004) na obra Diagnóstico de ressacas do estado do Amapá: Bacias do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú. Em Macapá, existem várias áreas de ressaca, entre elas a ressaca denominada como Lagoa dos Índios, que assim como as demais, apresenta um clima tipicamente Amazônico, com período de menor precipitação pluviométrica (período menos chuvoso-julho a dezembro) e de maior pluviosidade (período mais chuvoso-janeiro a junho) (TAKIYAMA & SILVA, 2004). A umidade relativa do ar por sua vez sofre pouca variação durante todo o ano e a temperatura permanece quase estável, tornando o clima da área quente e úmido (MACIEL, 2001).

13 1.2 Dinâmica das áreas úmidas do Amapá A área úmida conhecida como Lagoa dos Índios, é ligada à bacia do Igarapé Fortaleza por meio de vários canais e córregos, funcionando como ponto de equilíbrio entre as águas fluviais e pluviais no período das aguas altas (período mais chuvoso). Isso porque se liga ao Rio Amazonas ocasionando a descarga das águas, além de oportunizar a entrada de nutrientes e alimentos aos animais aquáticos (TAKIYAMA & SILVA, 2004). A maior parte da bacia do Igarapé Fortaleza é constituída de agua branca que conforme as definições de Sioli (1985) e Junk (1980) possuem características nas quais se destaca a coloração marrom, pouca transparência devido aos sólidos em suspenção, baixa acidez devido ao grande aporte de minerais como magnésio e cálcio, e apresenta alta produtividade primária. No entanto, essas áreas úmidas podem ser caracterizadas como áreas campos de várzea de planícies quaternárias. Suas águas são de coloração variando entre o claro e o escuro, possuindo acidez maior que a apresentada para o rio amazonas (Figura 1), pois possui matéria orgânica em maior quantidade devido ao aporte de macrofitas e outros materiais em constante dinâmica de decomposição formando uma camada húmica neste ambiente, configurando dentre essas características limnológicas, um ambiente particular dentro da Amazônia oriental (TORRES & OLIVEIRA, 2003). Figura 1. Natureza geomorfológica das áreas úmidas do Amapá ressacas Fonte: Torres e Oliveira (2003).

14 1.3 Vegetação das áreas úmidas A cobertura vegetal apresenta variações locais, seguindo o maior ou menor grau de inundação. Nos locais onde os terrenos são mais altos e a água não permanece longamente, formam-se verdadeiras ilhas de vegetação (MACIEL, 2001). A vegetação é caracterizada por uma mata de terra firme, com árvores altas composta principalmente por espécies como bacurizeiro (Platonia insignis), jenipapeiro (Genipa americana), mamorana (Catostema commune) e muitas outras (MACIEL, 2001). Em sua maior extensão, a superfície das ressacas é coberta por plantas aquáticas como macrófitas e algas. O importante papel ecológico das macrófitas aquáticas como fonte de alimento, local de refúgio para diversas espécies de vertebrados e invertebrados e na ciclagem de nutrientes tem sido enfatizado em vários ecossistemas aquáticos continentais (ESTEVES, 1998). Acredita-se que estes organismos assumam papel ainda mais importante em ecossistemas rasos, como as planícies de inundação, onde colonizam extensas áreas e apresentam elevadas taxas de produção primária (NEIFF, 1986; THOMAZ et al. 2004). Estes vegetais constituem uns dos maiores produtores de biomassa nos ambientes em que se encontram, tornando os locais onde ocorrem significativamente mais produtivos. Além disso, propiciam maior heterogeneidade espacial, aumentando o número de nichos e interferindo na dinâmica das comunidades e do ecossistema lacustre como um todo (SANTOS et al., 1998; PEIRÓ; ALVES, 2006). Dentre as macrófitas registradas, 49% foram consideradas espécies anfíbias, isto é, capazes de viver tanto em área alagada como fora d água modificando sua morfologia conforme as condições ambientais. Essa estão representadas por espécies de transição do cerrado (Polygala variabilis, Polygalaceae e Piriqueta cistoides, Turneraceae), da várzea (Heliconia bihai, Hliconiaceae e Inga sp., Mimosaceae) e de terra firme (Ficus catappaefolia, Moraceae). As espécies flutuantes (Utricularia sp., Lentibulariaceae) e submersas (Cabomba spp., Cabombaceae) foram obtidas nos canais, onde a

15 profundidade é maior e nunca secam no período de verão (THOMAZ et al., 2004). No espelho d água, as plantas aquáticas submersas com folhas flutuadoras ou emergentes, ocupam quase todo o espaço. Conforme, Thomaz et al. (2004) e Tavares (2008) as principais espécies de macrófitas aquáticas encontradas são: Eichhornia azurea, Juncus effesus, Nymhaea caerulea Savigny, SalvInia auriculata e Thalia geniculata. Estas plantas aquáticas cobrem a superfície da ressaca juntamente com as algas, tornando o ambiente mais protegido e de difícil acesso aos grandes predadores, servindo de abrigo e sendo um local de berçário e propício ao desenvolvimento dos animais que vivem na água (GAMA & HALBOTH 2004). 1. 4 Problemas ambientais das áreas úmidas do Amapá A bacia do Igarapé Fortaleza, incluindo a área conhecida como Lagoa dos Índios, lida constantemente com as ações antrópicas (TAKIYAMA, 2004; SANTOS, 2006). Ao redor da bacia estão instalados concessionárias automobilísticas, faculdades, conjuntos habitacionais e loteamentos de classe média, que eventualmente, lançam produtos industriais e/ou esgoto sem nenhum tipo de tratamento dentro da Lagoa (NERI, 2004). A adição constante de matéria orgânica nos cursos d água excede a capacidade de autodepuração, consome oxigênio dos mesmos, por meio da oxidação química e principalmente da bioquímica, via respiração dos microorganismos, depurando assim a matéria orgânica (FELLENBERG, 1980) provocando problemas estéticos e de liberação de odor impedindo a existência de peixes e outros seres aquáticos. Com isso, uma das principais fontes de ameaça é a poluição de água estão associados ao tipo de uso e ocupação do solo, que acabam por afetar o equilíbrio ecológico destes ambientes (FELLENBERG, 1980; SANTOS, 2006). A mortalidade de peixes ocorre não por toxicidade, mas por asfixia, pois todos os organismos vivos dependem de uma forma ou de outra do oxigênio para manter os processos metabólicos de produção de energia e de reprodução (SILVA, 2004). Dessa forma o conhecimento das relações

16 ecológicas é uma ferramenta indispensável para ampliar o conhecimento das espécies e aprimorar programas de conservação neste ambiente. 1.5 Ictiofauna das áreas úmidas do Amapá A América do Sul possui o maior número de espécies conhecidas de peixes de água doce dentre todas as regiões zoogeográficas do mundo (LOWE-MCCONNELL, 1999; VARJ & WEITZMAN, 1990). Os peixes são os vertebrados mais antigos e numerosos (COHEN, 1970), sendo que a maior parte vive em águas tropicais. A água doce sustenta surpreendentemente um total aproximado de 8.500 espécies (mais de 40%), a maioria das espécies ocorre nos vastos sistemas de rios e lagos tropicais do mundo. Além disso, correspondem a um dos recursos naturais mais abundantes e explorados na Amazônia (COHEN, 1970). Dentre os peixes no mundo, a família Cichlidae é uma das mais representativas, possui cerca de 1.300 espécies conhecidas com distribuição natural restrita à América do Sul e Central, África e Índia. São muito versáteis, territorialistas e resistentes, com predileção por ambientes lênticos e em sua maioria são onívoros (ANDREATA & TENÓRIO, 1997; LOWE-MCCONNELL, 1999; KULLANDER, 2003; ABELHA & GOULART, 2004), mas algumas espécies são carnívoras (exemplo, Cichla spp.). Estudos conduzidos por Gama e Halboth (2004) na bacia do Igarapé Fortaleza registraram 81 morfoespécies de peixes pertencentes a 15 famílias. Hyphessobrycon sp. (Characidae) foi a espécie mais abundante representando cerca de 95% do material coletado. Também estudos realizados por Brandão (2008) confirmaram que esse ambiente abriga grande número de espécies de peixes (Osteichthyes), pois foram coletados 225 espécimes pertencentes a 7 ordens, 12 famílias e 21 gêneros, entre as espécies coletadas foram identificados ao menor nível taxonomico: Moenkausia astyanax, Hoplias malabaricus, Polycentrus schomburgki, Mesonauta acora, Satanoperca daemo e Brachyhypopomus bravirostris. Nesse ambiente ocorre o predomínio das espécies de pequeno porte e estas áreas servem de abrigo às fases jovens de, no mínimo, 28 espécies de peixes. Dentre os peixes registrados na bacia do Igarapé Fortaleza há também

17 espécies de importância para a pesca (sardinha, tambaqui, tucunaré), assim como espécies ornamentais com potencial para aquariofilia (GAMA & HALBOTH, 2004). Espécies de Cichlidae da Amazônia tem sido usadas para aquariofilia em diversas partes do mundo, devido ao seu padrão multicolorido. Dentre essas espécies estão o acará-bandeira Pterophyllum scalare Lichtenstein, 1823 (Figura 2A) e mesonauta Mesonauta acora Castelnau, 1855 (Figura 2B). Pterophyllum scalare está amplamente distribuído no Peru, Colômbia, Guianas e Brasil (CACHO et al., 1999; FISHBASE, 2013). É considerada uma espécie onívora-carnívora (FUJIMOTO et al., 2002). Na natureza, prefere locais de água com baixa dureza e levemente ácida. Quando jovem, vive em cardumes e estabelece hierarquia. Em geral, é encontrado junto a madeiras e vegetação submersa, que servem de abrigo contra predadores (CACHO et al., 1999). Habita pântanos ou áreas inundadas onde a vegetação aquática e fluvial é densa e a água está clara ou barrenta, seu comprimento pode chegar a 15 cm (FISHBASE, 2013). Figura 2. Pterophyllum scalare (A) e Mesonauta acora (B). Fonte: Pantoja (2012) Mesonauta acora, peixe bentopelágico, é endêmico do Brasil, ocorrendo nas bacias do Rio Amazonas, Tocantins e Xingu. Habita locais com até 1 m de profundidade, com substrato de fundo contendo areia e lama e presença de plantas aquáticas (FISHBASE, 2013). As áreas úmidas do Amapá desempenham papel fundamental na alimentação e desenvolvimento dessas espécies, pois, durante o período

18 chuvoso, as águas que se espalham sobre a planície, são enriquecidas com nutrientes devido à rápida decomposição de gramíneas e de restos de animais, ou à camada humífera. Isto acarreta em um crescimento na população de microorganismos, seguido de grande explosão de macroinvertebrados (insetos, crustáceos, moluscos) usados como alimento pelos peixes. (LOWE- MCCONNELL, 1999; GAMA & HALBOLTH, 2004). No estado do Amapá, Amazônia oriental, P. scalare e M. acora vivem no mesmo ambiente e estão expostas aos mesmos impactos ambientais nas áreas úmidas, além de serem espécies ecologicamente similares. Assim, podem apresentar mesma fauna parasitária, no entanto não se tem registro de estudos sobre a ecologia de parasitos para essas espécies nesse ecossistema. 1.6 Parasitofauna em Pterophyllum scalare e Mesonauta acora Os parasitos de peixes são encontrados naturalmente e constituem um excelente modelo para estudos sobre ecologia de comunidades (TAKEMOTO et al.,1996). Cada espécie de peixe possui fauna parasitaria, sejam estes ecto ou endoparasitos. O conhecimento da interação hospedeiro-parasito visa à compreensão de aspectos em que o primeiro possa interferir no segundo, incluindo desde padrões comportamentais até a dinâmica das populações de hospedeiros entre si e de parasitos dentro de um mesmo hospedeiro. Para a melhor compreensão da distribuição de parasitos em uma espécie de hospedeiro, estudos sobre a ecologia parasitária devem ser realizados (REZENDE, 2009). Dessa forma, entende-se que o conhecimento da ecologia de parasitos e seus hospedeiros, com ênfase em aspectos de sua biologia e distribuição podem ajudar a identificar características ambientais. A severidade da ocorrência depende de variações nos fatores abióticos e bióticos que influenciam, consequentemente, as populações de parasitos e o tamanho das infrapopulações nos hospedeiros (DOGIEL, 1958). Além disso, a possibilidade de obter numerosas réplicas e de quantificar a totalidade dos parasitos que estão distribuídos em diversos sítios de infecção (locais de infecção) facilitam a detecção de padrões da dinâmica populacional, de

19 relacionamentos interespecíficos e também alimentares que revelam sua grande potencialidade para participar como hospedeiros intermediários, ou definitivos em sistemas parasitários (TAKEMOTO et al.,1996; ROHDE, 1991). Os níveis de parasitismo diferenciam-se de acordo com a espécie, período sazonal e habitat (TAKEMOTO & LIZAMA, 2010). Tanto em peixes de água doce como em ambiente marinho, os grupos de parasitos mais comumente encontrados são respectivamente os Digenea, Nematoda, Monogenea e Cestoda (LUQUE & POULIN, 2007). Os digenéticos são helmintos endoparasitos de vertebrados. Apresentam órgãos de fixação musculares pouco desenvolvidos e seu ciclo biológico é indireto, podendo incluir até dois hospedeiros intermediários. A maioria de espécies com importância patogênica pertence às famílias Diplostomidae e Clinostomidae, cujas metacercárias ficam encistadas na superfície corporal e órgãos internos dos peixes, provocando diversas lesões (LUQUE, 2004). Nematoides, apesar de ser o maior grupo de parasitos de peixes, são consideradas, de maneira geral, espécies pouco patogênicas. São fáceis de serem reconhecidos devido ao formato alongado com extremidades afiladas. Apresentam ciclo indireto, com a participação de copépodes planctônicos como hospedeiros intermediários (LUQUE, 2004). Os monogenéticos são helmintos ectoparasitos de peixes, anfíbios e répteis caracterizados pela presença de estruturas de fixação esclerotizadas e pelo ciclo biológico direto. A localização preferencial nos peixes é nas brânquias, narinas, olhos e na superfície corporal. Todas estas características acentuam sua patogenicidade, provocando (no caso de infecções intensas) lesões nos tecidos e alterando o comportamento dos peixes (LUQUE, 2004). No entanto, em peixes de agua doce também podemos encontrar Acantocéfalo que são endoparasitos quase sempre encontrados no intestino dos peixes e Crustáceos são ectoparasitos muito frequentemente visíveis a olho nu na superfície corporal dos peixes (SCHALCH & MORAES, 2005; PAVANELLI et al., 2008; EIRAS et al., 2006; CARVALHO et al., 2010) dentre outros parasitos. Embora a Amazônia seja estudada nas mais diversas vertentes cientificas, os estudos de parasitologia em peixes tem sido objetivo de poucos

20 trabalhos (MATOS et al.,1999). Também no Amapá, poucos estudos sobre os parasitos de peixes de ambiente natural têm sido realizados, incluindo as áreas úmidas. Contudo, estes estudos deveriam merecer mais atenção devido especialmente, ao fato de alguns peixes serem utilizados como recursos à pesca e ou aquariofilia, atividade esta crescente em algumas regiões da Amazônia (CHAO et al., 2001). Em P. scalare, diversos estudos mostraram a ocorrência de metazoários tais como Monogenoidea, Nematoda e Digenea tais como, Gyrodactylus sp. (TAVARES-DIAS et al., 2010), Dactylogyrus extensus (THILAKARATNE et al., 2003), Gyrodactylus turnbulli (THILAKARATNE et al., 2003), Capillaridae gen. sp. (THILAKARATNE et al., 2003), Clinostomum marginatum (ALVES et al.,2001) em hospedeiros de diversas localidades do mundo. Porém, não há estudos sobre a fauna de parasitos de M. acora, incluindo o estado do Amapá.

22 2. OBJETIVOS 2.1 GERAL Comparar a parasitofauna de metazoários em Pterophyllum scalare e Mesonauta acora de área úmida de Macapá, estado do Amapá. 2.2 ESPECIFICOS Identificar e quantificar as espécies de parasitos metazoários de P. scalare e M. acora; Comparar os níveis de infecção dos parasitos metazoários em P. scalare e M. acora; Comparar diversidade de parasitos metazoários em P. scalare e M. acora. Comparar os índices de dispersão dos parasitos em P. scalare e M. acora. 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Área de estudo e coleta dos peixes A área úmida conhecida como da Lagoa dos Índios (00 02 37,5 N e 51 06 19,2"W) localizada na área correspondente a bacia hidrográfica do Igarapé Fortaleza no estado do Amapá (Figura 3), está localizada às margens da Rodovia Duque de Caxias no município de Macapá no estado do Amapá. Liga-se à bacia do Igarapé Fortaleza por meio de vários canais e córregos que não estão em sua totalidade interligados. Neste ambiente, foram coletados no período de setembro a dezembro de 2012, 42 espécimes de Pterophyllum scalare e 38 espécimes de Mesonauta acora com auxilio de puçá (25 mm) e malhadeira (25 mm) colocada no inicio da coleta e retirada ao fim das duas horas de esforço de pesca em cada coleta. Os peixes

23 foram coletados próximo as macrófitas. Vivos foram transportados em bobonas de plástico (10 litros) para o Laboratório de Aquicultura e Pesca da Embrapa Amapá. Figura 3. Localização da área de coleta dos peixes em Macapá-Amapá. (A) Mapa do Brasil localizando Amapá, (B) Visualização da área de extensão da bacia do Igarapé Fortaleza. (C) Extensão da área de ressaca da Lagoa dos Índios e visualização da rodovia duque de Caxias que corta a área úmida. (D) Local de coleta dos peixes dentro da extensão da Lagoa dos Índios. Fonte: Adaptado de (Takyama et al. 2004), Araújo (2004) e Pantoja (2012).Imagens do Google Earth (Lagoa dos Índios (00 02 37,5 N e 51 06 19,2"W), município de Macapá, Estado do Amapá). 3.2 Procedimentos de análises dos parasitos Em laboratório, todos os peixes foram pesados (g) com balança digital semianalítica e medidos com auxilio de um ictiômetro. Em seguida, os peixes foram sacrificados por secção medular para a coletada dos parasitos metazoários. As brânquias e o trato gastrointestinal foram examinados para verificação da presença de parasitos. Foi usado microscópio e estereomicroscópio para identificação dos parasitos. Os espécimes de parasitos encontrados foram identificados, quantificados e fixados seguindo recomendações previas (Tavares-Dias et al., 2001; Eiras et al., 2006).Os parasitos das brânquias fixados em formol 5%. Os parasitos do trato

24 gastrointestinal fixados em AFA (20 ml de Ácido acético glacial, 50 ml de formol e 930 ml de álcool 70%). De posse desses dados foram calculados os índices parasitários para avaliação do nível de infecção dos peixes, tais como: 1 - prevalência (número de peixes infectados por uma determinada espécie de parasito, dividido pelo número de hospedeiros examinados e multiplicados por 100); 2 - intensidade média (número total de parasitos de uma determinada espécie, dividido pelo número de hospedeiros infectados com esta espécie de parasito na amostra); 3 - abundância média (número total de parasitos em uma amostra, dividido pelo número total de peixes examinados, incluindo os peixes infectados e não infectados) (Bush et al., 1997) e 4 - dominância relativa (número total de parasitos de cada espécie dividido pelo número de total de parasitos de todas as espécies de parasitos encontrados(rhode et al., 1995). O índice de Brillouin (HB), a riqueza de espécies, a uniformidade (E) e o índice de dominância de Berger-Parker (d) foram calculados para cada infracomunidade parasitária, usando software Diversity (Pisces Conservation Ltda, UK). O índice de dispersão (ID) e o índice de discrepância (D) foram calculados usando o software Quantitative Parasitology 3.0, para detectar o padrão de distribuição das infracomunidades de parasitos (RÓZSA et al., 2000) em espécies com prevalência >10%. A significância do ID, para cada infracomunidade, foi testada usando estatístico d (LUDWIG & REYNOLDS, 1988). O coeficiente de correlação por postos de Spearman (rs) foi utilizado para determinar possíveis correlações entre o comprimento total e peso corporal dos hospedeiros e a abundância de infecção de cada espécie de parasito (ZAR, 2010). A existência de correlação entre o comprimento total e o peso dos hospedeiros e a abundancia de cada espécie de parasito foi plotada em gráficos de regressão linear a fim de melhor identificar a correlação existente. 3.3 Parâmetros físicos e químicos da água A análise dos parâmetros físicos e químicos da água foi feita nos dias de coletas dos peixes com o objetivo de descrever as condições limnologicas do local no período sazonal de estudo. Foram realizadas no período da manhã, entre 8 e 9

25 horas. A temperatura, oxigênio dissolvido, ph, Condutividade, Turbidez, Sólidos totais dissolvidos e foram medido com auxilio de Sonda Multiparâmetro (Horiba, Modelo U-52). Os níveis de amônia, nitrito, alcalinidade e dureza foram medido com auxilio de kit (ALFAKIT) e a transparência com Disco de Sechi. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Parâmetros físicos e químicos da água Os parâmetros físicos e químicos da água estão descritos na Tabela 1. O ultimo diagnostico publicado para os dados limnologicos nesta região são referentes a estudos feitos por Takyama (2003) em coletas realizadas nos meses de dezembro de 2001 e junho de 2002. Alguns parâmetros medidos (ph, oxigênio dissolvido, turbidez) apresentaram diferenças quando comparados aos dados de Takyama (2003) para o mesmo período sazonal, os outros não apresentaram diferenças significativas quanto a comparação com os dados já publicados para esta área úmida da Amazônia oriental. Tais diferenças podem ser justificados pelo isolamento do corpo aquático no período da estiagem, pois, reduziu-se a lamina da agua e o ambiente deixou de renovar a água através da dinâmica da maré, mantendo-se úmida com pequenos corpos aquáticos permanentes e com nível de água bem aquém do período de maior precipitação. No entanto é possível identificar uma maior quantidade de matéria orgânica em decomposição neste local visto o mesmo ser cortado por uma rodovia e em função da proximidade de algumas residências possui acumulo de lixo e outros impactos advindos do uso desta área para o lazer e a pesca, no entanto, a forma de ocupação desordenada, acompanhada de problemas ambientais pode justificar a diferença dos parâmetros medidos para este período sazonal, podendo ser realizado estudos mais sistematizados para melhor analisar a influencia destes impactos na qualidade da agua e na biota local.

26 Tabela 1. Parâmetros limnologicos (Média ± DP e Variação) medidos na coleta dos espécimes de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora de área úmida da Amazônia oriental. Parâmetros Físico-químicos Média ± DP Variação Temperatura (ºC) 28,5 ± 0,25 28,3-28,8 Alcalinidade (mg/l) 26,6 ± 5,7 20-30 Oxigênio Dissolvido (mg/l) 2,1 ± 0,32 1,8 2,4 ph 5,5 ± 0,39 5,1 5,9 Amônia (mg/l) 0,52 ± 0,41 0,2 1,0 Transparência (cm) 31,8 ± 13,5 18,5 45,5 Dureza (mg/l) 23,3 ± 5,7 20-30 Condutividade elétrica(µ/cm) 0,15 ± 0,17 0,04 0,30 Turbidez (unt) 40,9 ± 17,9 9,9 64,0 SolidosTotais Dissolvidos (g/l) 0,02 ± 0,0 0,01 0,03 4.2 Biometria Os espécimes de P. scalare necropsiados tiveram peso médio de 7,0 ± 4,2 g com variação de (3-22 g) e comprimento médio de 7,0 ± 1,3 cm com variação de (5,5-10,5 cm) e os espécimes de M.acora tiveram peso médio de 6,7 ± 4,7 g com variação de (2-26 g) e comprimento médio de 6,7 ± 1,2 cm com variação de (5,1-10.5 cm). Estes parâmetros biométricos corroboram dados disponíveis para P. scalare com registro do tamanho máximo para esta espécie de 15 cm (FISHBASE, 2013), no entanto para M.acora não há registros de tamanho máximo na literatura, tendo este estudo contribuído para conhecimento da biometria desta espécie nesta área úmida da Amazônia oriental. Segundo os autores Gama e Halboth (2004) nas ressacas ocorre o predomínio das espécies de pequeno porte e estas servem de abrigo às fases jovens de, no mínimo, 28 espécies de peixes. Dentre os peixes registrados há espécies de importância para a pesca e com potencial para aquariofilia. Dessa forma como as áreas de ressaca estão ligadas a toda bacia do igarapé da fortaleza, pode haver indivíduos destas espécies com tamanho e peso superiores aos registrados neste estudo.

27 4.3 Composição da comunidade de parasitos A Comunidade de parasitos identificados nas duas espécies de peixe estudadas é pertencente a sete espécies de metazoários sendo elas Posthodiplostomum sp. (Digenea), Sciadcleithrum joanae (Monogenoidea), Sciadcleithrum iphthimum (Monogenoidea), Capillaria pterophylum (Nematoda), Pseudoproleptus sp. (Nematoda), Icthyouris sp. (Nematoda), Gorytocephalus spectabili (Acanthocephala). Foi coletado um total de 10.822 parasitos. A maioria pertence ao grupo dos digenea (n=7.672) em M. acora seguida pelos monogenoidea (n=1.279) em P. scalare. Posthodiplostomum sp., Icthyouris sp e Gorytocephalus spectabilis foram coletados nos dois hospedeiros, no entanto Sciadcleithrum iphthimum e Capillaria pterophylum apenas em P. scalare e Sciadcleithrum joanae e Pseudoproleptus sp. apenas em M. acora dessa forma apresentam especificidade parasitaria para estas espécies independente serem da mesma familia. 4.3.1 Índices parasitários em P. scalare Foram coletados um total de 2.363 parasitos pertencentes a 4 táxons, sendo 1 Monogenoidea, 1 Digenea, 2 Nematoda e 1 Acanthocephala. A maior prevalência foi de Sciadcleithrum iphthimum seguida por Icthyouris sp. A dominância relativa em P. scalare foi de Sciadcleithrum iphthimum, parasito este com distribuição geográfica na bacia amazônica (KOHN, 1998). Esses parasitos têm alta especificidade e ciclo biológico direto, o que facilita a proliferação e a propagação do parasitismo (NOGA, 1996). Segundo Luque (2004) a transmissão destes parasitas ocorre através da forma infectante conhecida como oncomiracidio. Os ovos formam massas peculiares devido à presença de filamentos polares com ganchos, aumentando assim a flutuação na coluna de água e permitindo o aumento da possibilidade de contato com o hospedeiro, seja via respiração (parasitando brânquias) ou por contato externo (no tegumento).

28 O grande número de helmintos nas brânquias tem alcançado aproximadamente 3.000 espécimes, provocando hiperplasia epitelial e mucosa lamelar com necroses de extensões variáveis e edema subepitelial, desencadeando síndrome de estresse respiratório (MARTINS et al., 2000; 2002). A prevalência de Sciadcleithrum iphthimum em P. scalare (Tabela 2) neste estudo (P%=92,8) foi similar ao mesmo índice descrito por Tavares-Dias et al. (2010), (P%=92,3) no entanto a intensidade média e sua variação para este estudo IM=32.79 (2-237) foram maiores do que as descritas por Tavares-Dias et al. (2010) IM=12.2 (10-23). Em acarás-bandeiras, os nematóides encontrados com mais frequência são do gênero Capillaria, que, quando em grande número, podem provocar apatia, obstrução intestinal, jejum crônico e morte. O ciclo biológico desses nematóides é direto e o desenvolvimento embrionário ocorre em três semanas, em temperatura que varia entre 20 o C e 23 o C, eclodindo somente no intestino do hospedeiro (SCHUBERT, 1987; UNTERGASSER, 1989; NOGA, 1996). Para este estudo Capillaria pterophylum foi coletado no intestino deste hospedeiro com baixa prevalência (Tabela 2). 4.3.2 Índices parasitários em M. acora Foram coletados um total 8.459 parasitos pertencentes 4 táxons, sendo 1 Monogenoidea, 1 Digenea, 2 Nematoda e 1 Acanthocephala. A maior prevalência foi de metacercárias Posthodiplostomum sp. no intestino do hospedeiro. Metacercárias de Posthodiplostomum sp. no Amapá já foram descritas por Tavares-Dias et al. (2011) no município de Pracuúba, estado do Amapá, Amazônia oriental parasitando as brânquias de Astronotus ocellatus (Perciformes: Cichlidae), com prevalência variando de (25-93%) para o mesmo período sazonal coletado neste estudo, no entanto para este, apresentou maior prevalência em M. acora. variando de (82-100%) para esta área úmida da Amazônia oriental. De acordo com Luque (2004) todas as espécies deste parasito apresentam como hospedeiro definitivo aves piscívoras. Entretanto, os moluscos são os primeiros hospedeiros intermediários, sendo possível justificar a presença deste parasito nesta área úmida pelas relações ecológicas alimentares estabelecidas com

29 moluscos e aves presentes nesse ambiente e pelo habito alimentar bentopelágico de M. acora. Em M. acora Sciadcleithrum joanae, também apresentou alta prevalência, seguida por Icthyouris sp. segundo luque (2004) Icthyouris sp apresentam ciclo indireto, com a participação de copépodes planctônicos como hospedeiros intermediários, comprovando a alta produtividade neste ambiente que permite a participação de vários grupos nos ciclos de parasitismo para está espécie já que estes ciclideos são onívoros-carnívoros. Gorytocephalus spectabilis foi o parasito que apresentou menor prevalência e intensidade média nos dois hospedeiros (Tabela 2), corroborando dados de Azevedo et al. (2006) que apresentou prevalência de 2,0 % e IM±DP (1,0 ± 0,6) para este grupo de parasito.

Tabela 2. Infecções por metazoários parasitos em duas espécies de Cichlidae de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. B=Brânquias; I=Intestino; P=Prevalência; IM=Intensidade Media; DP= Desvio padrão; AM=Abundância média; NTP= Número total de parasitos; DR=Dominância relativa. 30 Parasitos Pteroplyllum scalare (N= 42) Mesonauta acora (N=38) P (%) IM (Variação) AM NTP DR P (%) IM (Variação) AM NTP DR Posthodiplostomum sp. (B) 4,8 38,5 (5-72) 1,8 77 0,03 89,47 4 (1-17) 3,68 136 0,01 Posthodiplostomum sp. (I) 26,2 33,55(1-152) 8,8 369 0,15 55,26 251,05(1-2400) 138,7 7.672 0,90 Sciadcleithrum joanae (B) - - - - - 89,47 8,74(1-29) 7,82 297 0,03 Sciadcleithrum iphthimum (B) 92,8 32,79 (2-237) 30,4 1279 0,54 - - - - - Capillaria pterophylum (I) 28,6 3,5(1-15) 1,0 42 0,01 - - - - - Pseudoproleptus sp. (I) larvas - - - - - 7,89 1.0 0,08 3 0,0 Icthyouris sp. (I) 69,0 20,48(1-94) 14,1 594 0,25 86,84 10,55(1-45) 9,16 348 0,04 Gorytocephalus spectabilis (I) 4,8 1,0(1-1) 0,04 2 0,0 7,89 1.0 0,08 3 0,0

31 4.3.3 Padrão de Distribuição espacial dos parasitos Em relação às Infra-comunidades parasitárias, dos 80 espécimes examinados, 78 estavam parasitados por pelo menos, uma espécie de metazoário. Os componentes da comunidade parasitária de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora apresentaram típico padrão de distribuição agregada (Tabela 3). O parasito que apresentou o maior índice de dispersão em P.scalare o Sciadcleithrum phthimum (ID = 4,322; d = 9,82) e em M.acora foi Sciadcleithrum joanae (ID = 5,456; d = 11,59) No entanto é interessante observar que em P. scalare o comprimento (cm) e o peso (g) mostraram correlação negativa com abundância de S.iphthimum, sendo registrada alta prevalência (P=92,8%) desse parasito neste hospedeiro. Esse padrão de distribuição agregado pode estar relacionado à heterogeneidade na susceptibilidade de alguns hospedeiros a infecção já que muitos espécimes com menor peso registrado nos metadados albergaram uma maior quantidade de parasitos. 4.3.4 Diversidade de parasitos A diversidade parasitária média ± DP (HB= 0.5602 ± 0.2906) em Mesonauta acora foi maior do que a registrada para Pterophyllum scalare (HB= 0.4623 ± 0.2590) nesse estudo. Os valores de diversidade encontrados para ambas as espécies reflete a fauna parasitaria comum com 4 táxons encontrados, no entanto a diversidade foi maior em M.acora onde houve forte dominância de Posthodiplostomum sp. e Icthyouris sp. no intestino. Os valores de equitabilidade mostram diferenças nas duas espécies, sendo M.acora o que apresentou maior índice, justificado pela maior homogeneidade da ocorrência dos parasitos nos espécimes coletados.

32 Tabela 3. Índice de dispersão (ID), estatístico d e índice de discrepância (D) para as infracomunidades de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora com prevalência 10 %, de área úmida da Amazônia oriental. Parasitos Pteroplyllum scalare (N=42) Mesonauta acora (N=38) ID d D Tipo ID d D Tipo Posthodiplostomum sp. (B) - - - - 2,579 5,31 0,452 Agregado Posthodiplostomum sp. (I) 2,853 6,29 0,353 Agregado 1,757 2,90 0,377 Agregado Sciadcleithrum joanae (B) - - - - 5,456 11,59 0,655 Agregado Sciadcleithrum iphthimum (B) 4,322 9,82 0,811 Agregado - - - - Capillaria pterophylum (I) 3,013 6,71 0,79 Agregado - - - - Icthyouris sp.(i) 3,295 7,43 0,54 Agregado 2,737 5,73 0,447 Agregado

33 Tabela 4. Índices médios ± Desvio padrão de diversidade para duas espécies de Cichlidae de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental. Parâmetros Pteroplyllum scalare Mesonauta acora Índice de Brillouin (HB) 0.46 ± 0.26 0.56 ± 0.29 Índice de Uniformidade (E) 0.29 ± 0.16 0.42 ± 0.24 Riqueza de espécies 2.26 ± 0.86 3.13 ±1.26 Índice de Berger-Parker 0.75 ± 0.18 0.71 ± 0.21 A riqueza, que reflete o número de espécies encontradas apresentou pouca diferença (Tabela 4), no entanto M.acora apresentou ocorrência de espécies em maior numero nos seus hospedeiros apresentando maior riqueza (Gráfico 1). Foi encontrado mesmo numero de espécies de parasitos nas duas espécies, embora de mesmos táxons, manogenoidea e nematoda apresentaram espécies diferentes para cada hospedeiro. Gráfico 1. Riqueza de espécies de parasitos de P. scalare (Cichlidae) e M.acora de área úmida do estado do Amapá, Amazônia oriental.

Tabela 5. Coeficiente de correlação de Spearman (rs) e nível de confiabilidade (p) entre o Comprimento (cm), peso corporal e a Abundancia média de parasitos de Pterophyllum scalare e Mesonauta acora de área úmida da Amazônia oriental. B=Brânquias; I=Intestino. 34 Parasitos Pteroplyllum scalare (N=42) Mesonauta acora (N=38) Comprimento total Peso corporal Comprimento total Peso corporal rs p rs p rs p rs p Posthodiplostomum sp. (B) 0,1444 0,3615 0,1788 0,2572 0,0853 0,6107 0,0149 0,9294 Posthodiplostomum sp. (I) -0,1722 0,2755-0,3330 0,0311 0,1893 0,2550 0,1539 0,3563 Sciadcleithrum joanae (B) - - - - -0,0331 0,8435-0,0708 0,6726 Sciadcleithrum iphthimum (B) -0,5298 0,0003 -.0,5863 0,0001 - - - - Capillaria pterophylum -0,4336 0,0041-0,4140 0,0064 - - - - Pseudoproleptus sp. (I) larvas - - - - 0,0625 0,7092 0,0327 0,8455 Icthyouris sp.(i) 0,1472 0,3523 0,0100 0,9498-0.0097 0,9537 0,0188 0,9109 Goryrtcephalus spectabilis (I) 0,0418 0,7926 0,0240 0,8802 0,1429 0,3920 0,1401 0,4015