Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 660 ANÁLISE DE RELATOS DE PAIS E PROFESSORES DE ALUNOS COM DIAGNÓSTICO DE TDAH Camila Rodrigues Costa 1, 2 Matheus Augusto Mendes Amparo, 3 Rômulo Araújo Fernandes, 4 Manoel Osmar Seabra Júnior 1 Graduanda de Educação Física UNESP Presidente Prudente. 2 Graduando de Pedagogia UNESP Presidente Prudente. 3 Professor Doutor Curso de Educação Física UNESP Presidente Prudente. 4 Professor curso de Educação Física Doutor UNESP Presidente Prudente. Universidade Estadual Paulista Campus de Presidente Prudente Departamento de Educação Física. E mail: kmilinha_sag@hotmail.com RESUMO O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. É um dos mais frequentes transtornos emocionais, cognitivo e comportamental que acomete especialmente crianças em idade escolar. O diagnóstico de TDAH em crianças e adolescentes, de acordo com o DSM IV, considerado padrão ouro para diagnóstico, requer que os sintomas estejam presentes em, ao menos, dois ambientes distintos em especial na escola e família. Desta forma, a presente pesquisa teve como finalidade investigar a concordância entre os relatos dos pais e professores de uma amostra composta por 10 alunos com idades variando entre 6 e 10 anos (8 meninos e 2 meninas) com diagnóstico clínico de TDAH, regularmente matriculados em uma instituição pública de ensino do município de Presidente Prudente. Após a análise e comparação pode se concluir que não há diferenças estatísticas entre os escores dos pais e professores. Palavras chave: Transtorno Déficit de Atenção; Hiperatividade; Pais; Professores; diagnóstico. INTRODUÇÃO O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade atingem cerca de 3 a 5% das crianças em idade escolar, sendo mais usualmente encontrado em meninos do que meninas (ABDA, 2012). Os sintomas com frequência aparecem na infância e em alguns casos acompanham o individuo até a idade adulta. Suas causas são discutidas e apresentadas na literatura sobre diferentes aspectos estando relacionadas a fatores genético familiares, adversidades biológicas e psicossociais associada a um desempenho inadequado nos mecanismos que regulam a atenção, reflexibilidade e a atividade motora (SENO, 2010; TALLIS, 2004). O diagnóstico de Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade/ impulsividade (TDAH) é baseado no Manual Diagnóstico e Estático de Transtornos Mentais (DSM), desenvolvido nos Estados Unidos e considerado padrão ouro para classificação dos transtornos mentais, sendo frequentemente utilizado por profissionais da saúde APA, (1844). De acordo com este protocolo para fins diagnóstico é necessário que a criança seja acompanhada e observada por uma equipe multidisciplinar, durante um período mínimo de seis meses, e que a mesma apresente sintomas
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 661 persistentes em pelo menos dois ambientes como o escolar e familiar e a criança deve apresentar seis ou mais sintomas de cada item avaliado. No entanto Pereira (2009), salienta que o diagnóstico não deve ocorrer apenas por meio de exames clínicos, uma vez que este transtorno manifesta se no ambiente escolar sendo frequentemente observados e sugeridos por professores. É necessário que seja obtida informações com os docentes a cerca de suas percepções, assim como, deve ser realizada uma entrevista com os responsáveis pela criança para que ambas as fontes de informações possam auxiliar e serem consideradas no diagnóstico reforçando a importância do relato proveniente dos pais e da escola. Alguns estudos demostraram que a correlação entre relatos de pais e professores é modesta e que com frequência divergem quanto a classificação do TDAH por subtipo. Por outro lado uma pesquisa com amostra clínica de crianças com TDAH demonstrou que taxas de concordância entre pais e professores foram melhores para sintomas de desatenção, do que para hiperatividade. Discordância entre as variadas fontes de informação também foi apontada em um estudo, no qual mães relataram uma incidência maior de sintomas de hiperatividade, ao passo que professores evidenciaram mais sintomas de desatenção. Com base na revisão realizada apenas dois estudos brasileiros contemplaram este tema. Serra Pinheiro et al. Avaliaram a concordância entre pais e professores e os resultados demonstraram que professores relataram mais sintomas de desatenção ao contrario dos pais que apontaram mais sintomas de hiperatividade. Outro estudo realizado por Coutinho et al, (2008) demonstrou que pais referiam mais sintomas entre ambos os domínios (desatenção e hiperatividade) em relação aos professores. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar taxas de concordância entre os relatos de pais e professores para sintomas de TDAH em uma amostra de crianças com diagnóstico clínico, com base na revisão de literatura e em estudos que demonstram que profissionais brasileiros da área da educação possuem baixo conhecimento acerca da sintomatologia do TDAH. METODOLOGIA Realizou se um estudo transversal, com caráter descritivo. A amostra foi composta por 10 alunos com idades variando entre 6 e 10 anos (8 meninos e 2 meninas) com diagnóstico clínico de TDAH, regularmente matriculados em uma instituição pública de ensino do município de Presidente Prudente. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, Campus de Presidente Prudente, com protocolo CE 109/2010, em atendimento à Resolução 196/96 do CNS.
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 662 Para fins de coleta de dados foi agendada uma reunião com os pais dos alunos e professores, onde nesta oportunidade os mesmos assinaram um Termo de Consentimento Livre e esclarecido, conforme Resolução 196/96 do CSN. Em seguida os mesmos preencheram o questionário Swanson Nolan and Pelhan (SNAP IV), Swanson, (1992). O SNAP IV é um questionário construído a partir dos sintomas do transtorno de déficit de atenção, hiperatividade/impulsividade descritos no DSM IV com questões de domínio público e emprega os sintomas listados no DSM IV para diagnóstico TDAH (APA,2000). No presente estudo, foi utilizada a versão brasileira do questionário SNAP IV validado por Mattos e colaboradores (2005). O questionário tem 18 questões relativas a sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Para cada questão são oferecidas quatro alternativas de resposta com pontuações que vão de 0 à 3: nem um pouco, só um pouco, bastante ou demais. As questões de um a nove são relativas aos sintomas de desatenção e as questões de dez a dezoito são referentes a sintomas de hiperatividade e impulsividade. Em decorrência de o questionário fornecer respostas numéricas ordinais, os dados foram apresentados em valores de mediana e diferença entre quartil (DQ). Por serem os mesmos indivíduos avaliados pelos pais e professores, utilizou se o teste de Wilcoxon para dados pareados. A significância estatística (p valor) foi determinada em valores inferiores a 5%. O software estatístico utilizado foi o BioEstat (versão 5.0). RESULTADOS Ao todo foram avaliados 10 jovens, dos quais os Pais e Professores responderam o questionário (Tabela 1). Houve diferença apenas para a Questão 10 (Mexe com as mãos ou pés ou se remexe na cadeira), na qual os valores dos pais foram superiores aos dos Professores. Para cada professor e pai calculou se a somatória das 18 perguntas e, quando comparados, embora com valores 62% diferentes, a mediana dos pais (mediana: 38,5 [variação interquartil: 14,2]) e dos professores (mediana: 26,5 [variação interquartil: 23,7]) não diferiu estatisticamente (p valor= 0,315).
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 663 Tabela 1. Respostas de pais e professores dos alunos envolvidos no estudo. Questionário Pais (n= 10) Professores (n= 10) Mediana (DQ) Mediana (DQ) p valor* Questão 1 2,5 (1) 2 (1) 0,589 Questão 2 2 (1) 2 (2) 0,317 Questão 3 2 (2) 2 (2) 0,490 Questão 4 1,5 (1) 2 (2) 0,102 Questão 5 1,5 (1) 2 (1) 0,160 Questão 6 2 (2) 2 (2) 0,380 Questão 7 2,5 (1) 1,5 (2) 0,084 Questão 8 2,5 (1) 2,5 (1) 0,317 Questão 9 2 (2) 1,5 (2) 0,332 Soma 1 a 9 (Desatenção) 18,5 (11,2) 18,5 (12,2) 0,678 Questão 10 3 (1) 1 (3) 0,047 Questão 11 3 (1) 2 (2) 0,096 Questão 12 2 (2) 1,5 (2) 0,476 Questão 13 2 (1) 1,5 (2) 0,490 Questão 14 2,5 (1) 1,5 (1) 0,084 Questão 15 3 (1) 1,5 (2) 0,129 Questão 16 2,5 (1) 1 (2) 0,056 Questão 17 2 (1) 2 (2) 0,524 Questão 18 2,5 (2) 1,5 (3) 0,380 Soma 10 a18 (Hiperatividade) 22,5 (7,7) 14 (16) 0,172 Soma 1 a 18 38,5 (14,2) 26,5 (23,7) 0,315 DQ= diferença entre quartil; *= teste de wilcoxon para dados categóricos pareados. O mesmo ocorreu para a hiperatividade (p valor= 0,172) e desatenção (p valor= 0,678). DISCUSSÃO Apenas dois estudos brasileiros haviam investigado taxas de concordância entre pais e professores para sintomas de TDAH, onde ficou evidenciado que professores relatam mais sintomas de desatenção, ao passo que pais relatam mais sintomas de hiperatividade. Já no estudo realizado por Coitinho et. al. (2009) com 44 crianças diagnosticadas com TDAH, a concordância para diagnóstico revelou se moderada ocorrendo na maioria dos casos, porém ao considerar apenas os relatos dos pais 90% da amostra seria diagnosticada como portadora de TDAH. Corroborando com os estudos existentes, após a pesquisa observou se que existe uma proximidade nas respostas dos pais e professores no que diz respeito a desatenção e a hiperatividade, o que sugere que tanto no ambiente escolar, quanto no ambiente familiar o individuo já diagnosticado com TDAH, apresenta comportamentos semelhantes. De acordo com Pereira (2009) a opinião dos responsáveis e professores deve ser agregada ao diagnóstico efetuado por um profissional neuropsiquiatria infantil ou por uma equipe multidisciplinar.
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 664 Os resultados obtidos demonstraram que existe concordância entre o relato de pais e professores o que se presumi que os pais apresentam acerca do comportamento ou desempenho acadêmico de sua prole, o que poderia explicar os sintomas relatados comparados com os professores. CONCLUSÃO Em resumo pode se concluir que não há diferenças estatísticas entre os escores dos pais e professores, o que sugere que ambos possuem relato semelhantes a cerca do comportamento do individuo com TDAH. Desta forma, o relato dos pais e professores devem ser incorporado ao diagnóstico clínico que usualmente é realizado apenas com a avaliação clínica. Por outro lado o estudo sugere que seja realizado um trabalho de intervenção com os pais e professores de crianças com TDAH a fim de auxiliar na identificação e também na busca de recursos e estratégias. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO. Disponível em: < http://www.tdah.org.br/>. Acesso em: 10 dez 2011; AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1844. Disponível em: < http://www.psych.org/ >. Acesso em: 10 jan. 2012; COUTINHO, G. et al. Concordância entre relato de pais e professores para sintomas de TDAH: resultados de uma amostra clínica brasileira. Revista de Psiquiatria Clínica. 2009; 36(3): 97 100. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/rpc/v36n3/v36n3a03.pdf>. Acesso em: 20 Jan 2012; MATTOS, P. et al. Apresentação de uma versão em português para uso no Brasil do instrumento de avaliação de sintomas de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e sintomas de transtorno desafiador e de oposição. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Vol.28. n. 3.Porto Alegre. set/ dez, 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0101 81082006000300008&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 set. 2011; PEREIRA, C. de. S. C. Conversas e controvérsias: uma análise da constituição do TDAH no cenário científico e educacional brasileiro. Programa de pós graduação em História das Ciências e da Saúde. Rio de Janeiro, 2009); SWANSON, J. M. School based assessment and interventions for ADD students. Irvine, CA: K.C. Publishing.