8.2 ASPECTOS CONCEITUAIS

Documentos relacionados
ACUPUNTURA CONSTITUCIONAL COREANA

11/06/2017. Prof. Raquel Peverari de Campos. Visão holística

Filosofia da Arte. Unidade II O Universo das artes

Quando dividimos uma oração em partes para estudar as diferentes funções que as palavras podem desempenhar na oração e entre as orações de um texto, e

Concepções sobre a Saúde e doença. Maria da Conceição Muniz Ribeiro

Aula 09. Gente... Que saudade!!!! Filosofia Medieval Patrística Sto. Agostinho

Filosofia Moderna: a nova ciência e o racionalismo.

Consequências do Conhecimento Espírita

SEMINÁRIO SEGURANÇA MEDIÚNICA E ENERGIA DOS CHAKRAS

O PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL MÓDULO 2

Para entender Pietro Ubaldi VIII PROBLEMAS DO FUTURO

ENEGRIA DOS CHAKRAS E O PODER TERAPÊUTICO DA. GRATIDÃO

MANIFESTO EVVIVA. UMA MARCA COM ALMA

REVISÃO PARA O TESTE. Professora Camilla

Auto-Estima. Elaboração:

mapa de manifestação Prospere em todas as áreas da sua vida E-book

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

Imagem 1 disponível em: Imagem 2 disponível em: HTTP. Acesso em 07/02/2014.

Textos verbais e não verbais: Charges, Cartum e tirinhas.

Tipologia Junguiana e sua u.lização no Esporte

Ementas das Disciplinas CURSO DE ESCRITA CRIATIVA

Preparatório EsPCEx História Geral. Aula 7 O Renascimento cultural

Elementos da comunicação e Funções da linguagem. Profª Michele Arruda Literatura Brasileira

Alfabetização visual. Liane Tarouco

AULA DE VÉSPERA VESTIBULAR Português

O ESPIRITISMO SEM O CRISTO PERDE O RUMO

Cristianne Patrícia Melo Amorim 2 Társila Moscoso Borges 3 Paulo Matias de Figueiredo Júnior 4 Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, PB

Projeto Mediação Escolar e Comunitária

PEDAGOGIA. Currículo (Teoria e Prática) Teorias curriculares Parte 2. Professora: Nathália Bastos

AULA DE VÉSPERA VESTIBULAR Português

Limpeza psíquica LIMPEZA PSÍQUICA

MECANISMOS DA MEDIUNIDADE (Cap. XV-XX)

Cultura : noções, definições e ciências

INTRODUÇÃO À PESQUISA EM ARTE 4

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Prêmio Expocom 2009 Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação

ESCOLA SECUNDÁRIA DA AMADORA CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA A 10º ANO CURSOS CIENTÍFICO-HUMANÍSTICOS

Adolescência: A escola que fragmenta ou que forma o sujeito?

EDITAL 144/2014 CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS

PEDAGOGIA. Aspecto Psicológico Brasileiro. Vygotsky e a Teoria Histórico-Cultural Parte 3. Professora: Nathália Bastos

ORIGEM E NATUREZA DO ESPÍRITO. Origem e natureza do Espírito Evolução do princípio inteligente

Adolescência: A escola que fragmenta ou que forma o sujeito? Júlio Furtado

NORMAS COMPLEMENTARES AO EDITAL Nº 03 DE 2016 CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROFESSOR ASSISTENTE 1 DA UNIRV UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

A FORMAÇÃO EM SAÚDE SOB A ÓTICA DO PARADIGMA VITALISTA: VIA DE ENTRADA EM UM MUNDO NOVO. Maria Inês Nogueira

Plano de Aula: Níveis de Significado na Imagem ANÁLISE GRÁFICA - CCA0153

Roteiro 4 O Espírito imortal

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Sumário. Pausa para reflexão... 11

Título. Tópico frasal. Tópico frasal. Tópico frasal

Platão 428/27 348/47 a.c.

Jornal Laboratório Minuano: Comunicação Institucional. Glauber Pereira Programa de Extensão

O ser humano multidimensional. Estudo da Aura, Chacras e Corpos sutis

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2016/2017 PLANIFICAÇÃO ANUAL. Documento Orientado: Programa da Disciplina

O processo de ensino e aprendizagem em Ciências no Ensino Fundamental. Aula 2

IMAGENS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM CHARGES E CARTUNS POSTADOS NA INTERNET

Eclosão da mediunidade

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DOMÍNIOS DISCURSIVOS (TIPOS DE DISCURSOS)

A Religião no Jornalismo Opinativo: Uma análise do Humor Gráfico publicado no Jornal Folha de S. Paulo entre 2014 E

300 propostas de artes visuais

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA PROFESSOR: REINALDO SOUZA

Redação Publicitária reflexões sobre teoria e prática 1

Curso AUTOdefesa Energética

ACTIVIDADE: M.C. Escher Arte e Matemática Actividade desenvolvida pela Escola Secundária com 3º ciclo Padre António Vieira.

«Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino». Ele respondeu-lhe : «Em verdade te digo : Hoje estarás comigo no Paraíso».(Lc.23,42-43).

CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROFESSOR ASSISTENTE 1 DA UNIRV UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Virtudes: conceito e classificação

Todos buscamos respostas que possam nos satisfazer. Mas, não há respostas prontas, toda explicação e conhecimento recebidos buscam nos auxiliar na

O QUE É ESPIRITISMO:

O Ciseco entre o ritmo do mar e o ritmo dos signos

Colégio salesiano dom Bosco FIGURAS DE LINGUAGEM PROFESSORA: HILANETE PORPINO DE PAIVA

Andréa B. Bertoncel Coaching e PNL Segunda reunião caps 3 20/08/2013

Você esta recebendo o Mapa Cristalino da sua vida.

A Reforma da Lei Autoral no Brasil

Figuras de Linguagem. Anáfora Repetição constante de palavras no início de vários versos, como a expressão: E agora...

CIVILIZAÇÃO DOS PROFESSORES

Os olhos da. lacraia. Jorge de Souza Araujo

Patrimônio, museus e arqueologia

CURSO PASSE. Aula 04 Pensamento e Aura 1 / 15

PLANO CURRICULAR DISCIPLINAR. Ciências Naturais 9º Ano

VI Congresso de Neuropsicologia e Aprendizagem de Poços de Caldas

Análise de Texto e Fenômenos Linguísticos - Ambiguidade, Polissemia, Tipos de Discurso e Intertextualidade.

Constituição de Pessoa Jurídica para a prestação de serviços personalíssimos. Rosana Oleinik Mestre e doutoranda PUC/SP

Uma proposta para leitura e interpretação de charges. Prof. José Carlos

Interpretação de Textos - INSS 2015 Revisão 2. Professor Nélson Sartori

Entre Margens 12.º ano. Mensagem Fernando Pessoa. Análise de poemas

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Mediunidade: Estudo e Prática Programa 1 Módulo I Fundamentos ao Estudo da Mediunidade

Surgidas ao final do século XIX, as Histórias em Quadrinhos (HQs) se consolidaram como uma das expressões artísticas, culturais e midiáticas


13ª aula de Tópicos de Humanidade & Metodologia Científica 20 a 25/05/02. Diretrizes para a realização de um seminário

Roteiros Mensais para Grupos

Nenhuma mudança será duradoura e verdadeira se não afetar o CORAÇÃO

Cargo: M03 TÉCNICO EM CONTABILIDADE Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA. Conclusão (Deferido ou Indeferido) Questão Gabarito por extenso Justificativa

O QUE É A LINGÜÍSTICA TEXTUAL

EGC - Engenharia e gestão do conhecimento Disciplina: Complexidade, conhecimento e sociedades em rede Professor: Aires Rover Aluna: Desirée Sant Anna

2. O ângulo de incidência é i = 45 0 e o índice de refração do ar é 1. Determine:

Vamos brincar de construir as nossas e outras histórias

22/08/2014. Tema 7: Ética e Filosofia. O Conceito de Ética. Profa. Ma. Mariciane Mores Nunes

TEMA DA SESSÃO. Patriarcado de Lisboa JUAN AMBROSIO / PAULO PAIVA 1º SEMESTRE ANO LETIVO Instituto Diocesano da Formação Cristã

O Temperamento. Análise do Temperamento. Escrito por João Ventura, Ph.D. para. Barack Obama. nascido em 04 Agosto 1961 Honolulu USA

O poder da fluidoterapia: o passe

Transcrição:

8.2 ASPECTOS CONCEITUAIS O riso não é uma característica inata no ser humano, nem simplesmente uma reação fisiológica. O riso é um aprendizado conquistado pela humanidade ao longo dos tempos. Revela-se como vestígio de sua civilização. É um sintoma da evolução cultural do Homo Sapiens. Transparece como uma capacidade intelectual, ou seja, uma característica que pressupõe possibilidades de ver em torno de si e a si mesmo. A reação fisiológica do humor transparece na face humana desde um sorriso sutil até uma espalhafatosa gargalhada. No entanto, somente essa reação fisiológica não esclarece plenamente o fenômeno da manifestação do humor. O que se percebe de comum nas manifestações do humor é a associação fisiológica com o prazer intelectual repentino que é transmitido. Por ser prazer resultante de conquista cultural, o conceito de humor certamente acompanha as evoluções e mutações culturais que ocorrem ao longo dos séculos. A reação de uma gargalhada ao presenciar um escorregão, como nas comédias, se traduz como perda da conquista do equilíbrio vertical, não só de si, mas como árdua conquista obtida pela humanidade ao erguer-se da condição de animal rastejante. Assim, no extremo oposto temos o humor sutil, um prazer inconsciente oriundo de um lampejo advindo de qualquer esclarecimento intelectual, como se encontrássemos uma saída iluminada nos libertando de um obscuro labirinto mental. Conclui-se que em comum há prazer no humor, com o riso ou sem o riso. 199

Um vínculo que frequentemente está associado ao humor é o que se refere à diversão. E aqui cabe esclarecer as variações semânticas na interpretação que hoje são feitas com os 2 termos: humor e diversão. HUMOR O termo tem sua origem na palavra latina humore, definido etimologicamente como umidade, isto é, o que é próprio dos elementos líquidos. Segundo a velha medicina romana dos tempos de Galeno, o organismo humano era regido por humores que percorriam o corpo. Eram quatro esses humores: o sangue, a fleuma (secreção pulmonar), a bile amarela e a bile negra. A predominância de um desses humores no organismo determinava os 4 temperamentos do homem: o sangüíneo, o fleumático, o colérico ou o melancólico. O homem que possuísse todos esses humores em perfeito equilíbrio seria um bem humorado, um homem de bons humores.. (RABAÇA; BARBOSA,1978, p. 248). DIVERSÃO É um conceito que está comumente associado ao humor, e seu sentido etimológico fortalece ainda mais essa associação. O termo tem sua origem na palavra latina divertere, com o sentido de divergir, isto é: afastar-se, desviar a atenção de algo, como possibilidade de redirecionar para outros pontos de vista, para outros aspectos. Para aspectos, também, não revelados. Assim, a diversão ao ser usada como estratégia dentro do desenho de humor busca focar elementos comumente não percebidos. (...) uma concepção do riso, surgida em forma de rascunho na Antiguidade cristã e que atravessou incólume intacta praticamente toda a Idade Média e Renascença, é a que veio a ser descrita em 1855 por Charles Baudelaire: o riso é sinal inequívoco da condição humana, situada entre duas distâncias privadas do riso: Deus e os animais. O riso do homem se dá, por um lado, em razão de sua infinita inferioridade diante de Deus, e por um outro lado, em virtude de sua infinita superioridade em relação ao restante da criação. (XAVIER, 1997, p. 10). Somente na Renascença é que surge o conceito da razão dando significado ao riso e à sua concepção como impulso criativo e como impulso criador. Portanto, o motivo para o humor se manifestar hoje já não é mais como o era considerado nos alfarrábios medicinais, isto é, vinculado à saúde espiritual do indivíduo. Não é mais estar submetido à fluidez dos líquidos vitais do corpo, mas submetido à uma forma de expressão que aprofunde a consciência crítica, estimulando o espírito humano. 200

Caco Xavier, em seu trabalho (...) Humor e Saúde: Análise dos cartuns (...) (1997, p. 16) lembra que foi Laurent Joubert o primeiro a dizer que os recém-nascidos e os animais não riem porque lhes falta o pensamento. Pois é a partir do intelecto que temos a introdução do súbito, que atravessa o pensamento como uma flecha e fere a lógica, inserindo um tipo de lógica imprevisível, absurda, cuja intromissão leva ao riso. Da maior relevância é (...) destacar que o humor, além de ser uma arrojada posição do espírito criador, que requer erudição e competência na (...) arte de invenção e renovação, consegue, também, a proeza através da sua força alusiva, ressignificadora (...), de reler e repensar os próprios fatos culturais. (MARTINS,1992, p. 179). Para José Marques de Melo (1994, p. 22) a introdução do desenho de humor na imprensa explica-se pela conjugação de dois fatores sócio-culturais: o avanço tecnológico dos processos de reprodução gráfica e a popularização do jornal como veículo de comunicação coletiva. No primeiro caso, o desenho de humor só se desenvolveu depois que a litografia passou a constituir um recurso plenamente incorporado aos processos de produção jornalística. No segundo caso, o recurso do desenho de humor representou uma necessidade social de um jornalismo que ampliava o seu raio de ação ganhando novos contingentes de leitores. O desenho de humor pode ser considerado mais como forma narrativa do que um meio de expressão estética. Podemos dizer que nele o objetivo estético sempre ocupa um espaço secundário, pois é a idéia quem ocupa o ponto principal. Conforme esclarece Caco Xavier (1997, p. 16) qualquer aspecto do humor gráfico estará enquadrado predominantemente num desses seis tópicos abaixo relacionados: METÁFORA - Um elemento qualquer ocupando lugar de outro. HIPÉRBOLE - Um elemento ou situação qualquer sendo apresentada de maneira exagerada PARADOXO - Conciliação de duas idéias antagônicas e inicialmente inconciliáveis. IRONIA - Algo transmitindo idéia contrária ao que comumente significa. COMPARAÇÃO - Situações ou elementos similares ocupando o mesmo espaço. METALINGUAGEM - O desenho tem como tema o seu próprio processo de realização. Josephine Baker por Di Cavalcanti - 1929 Josephine Baker por Guevara - 1929 201

METÁFORA HIPÉRBOLE CAULOS PARADOXO IRONIA METALINGUAGEM COMPARAÇÃO 202 ESCHER

Nem sempre o objetivo do humor é fazer rir. Como no humor satírico, provocando rejeição do objeto da ridicularização, mesmo sendo um ataque fictício. Ou como no humor irônico, onde se expressa algo com o propósito de expressar o inverso, essencialmente tendo um caráter moral que se destina a fazer a sociedade refletir e se rever. (...) Num extremo temos as situações de comédia pastelão (...) e no outro extremo da escala, há a sátira, como uma composição sarcástica, mordaz, que apela para a inteligência, divertindo uns e golpeando outros. (SILVA, 2002, p.119) Portanto o humor gráfico como um gênero jornalístico possui uma missão social. Ela pode se manifestar através de textos ou pelo impacto do desenho de imediata absorção pelo leitor. É um tipo de manifestação que só se desenvolve e sobrevive em regimes democráticos, devido às suas características de crítica social e política, minguando, portanto, nos regimes autoritários. 203