O Pelotão de Exploradores do Batalhão de Infantaria Blindado como órgão de busca para a inteligência em campanha

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Transcrição:

115 O Pelotão de Exploradores do Batalhão de Infantaria Blindado como órgão de busca para a inteligência em campanha Enio Barbosa Fett de Magalhães* Resumo Este trabalho verifica se a organização de pessoal e material do Pelotão de Exploradores (Pel Exp) do Batalhão de Infantaria Blindado (BIB) permite o emprego eficiente dessa fração no cumprimento de missões de reconhecimento. Busca-se, inicialmente, visualizar o cenário onde o Pel Exp irá atuar e a forma como está inserido dentro do sistema operacional inteligência, considerando-se as injunções da guerra moderna. Na seqüência, discorre-se sobre as Forças-Tarefas blindadas (FT Bld) / BIB, quando são apresentados alguns exemplos de operações onde estas unidades são mais usualmente empregadas. Nesta oportunidade, focaliza-se a participação do Pel Exp na condução das missões de reconhecimento como forma de avaliar as dificuldades que a fração encontrará para cumpri-las. Posteriormente, analisa-se a organização em pessoal e material do Pel Exp, as suas possibilidades e limitações e aspectos particulares das missões de reconhecimento. É apresentada, também, a organização da fração equivalente adotada pelo Exército norteamericano, de concepção mais moderna, possibilitando uma posterior comparação. Por último, conclui-se sobre as restrições da atual organização do Pel Exp para o cumprimento eficiente das missões de reconhecimento. O presente trabalho desenvolveu-se ao longo dos anos de 2003 e 2004. O estudo se baseou em pesquisas bibliográficas e documentais e contou ainda com uma pesquisa de campo junto a oficiais com reconhecido conhecimento prático e teórico sobre o assunto. Palavras-chave: Pelotão de Exploradores. Missões de Reconhecimento. 1 Introdução O presente trabalho de pesquisa está norteado pela seguinte situação-problema: a estrutura do Pelotão de Exploradores do BIB permite o seu emprego eficiente nas missões de reconhecimento? A partir da questão levantada, buscou-se a confirmação ou negação da seguinte hipótese: a estrutura do Pelotão de Exploradores (Pel Exp) do BIB permite o seu emprego nas missões de reconhecimento, com restrições. O trabalho focalizou o emprego do Pel Exp apenas nas missões de reconhecimento. Nesse contexto, é verificada a adequação da sua estrutura em pessoal * O Capitão Enio Barbosa Fett de Magalhães é formado em Infantaria pela AMAN, turma de 1996. O referido militar é concludente de Mestrado em Gerações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), realizado nos anos 2004 e 2005, além de ter sido estagiário no Centro de Instruções de Blindados (CIBld), em 2000. e material, sendo esta última limitada à análise das viaturas, armamentos e equipamentos de comunicações. Com a finalidade de se obter uma visão generalizada da questão em estudo, a pesquisa se estruturou em três partes distintas, a saber: pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa documental buscou revisar os principais conceitos teóricos atinentes ao tema do trabalho, entre eles os cenários operacionais, a forma de atuação do Pelotão e a sua estrutura organizacional pormenorizada. A pesquisa documental permitiu reunir dados importantes disponíveis nas Escolas e unidades blindadas, destacando-se aqueles que tratam de experimentações doutrinárias ou estágios práticos envolvendo o Pelotão em sua estrutura atual. A pesquisa de campo ouviu a opinião de um públicoalvo composto de oficiais especialistas no assunto,

116 dentre os quais comandantes e ex-comandantes da fração e militares que realizaram o estágio de Pel Exp no Centro de Instrução de Blindados (CIBld). Devido a fatores limitadores como tempo e meios, as experimentações práticas não foram realizadas. Por fim, pretende-se que este trabalho possa contribuir para o aperfeiçoamento e modernização da estrutura organizacional do Pelotão de Exploradores orgânico do BIB. 2 A guerra moderna De acordo com o manual de campanha C 100-5 OPERAÇÕES, os sistemas operacionais que integram elementos de combate, apoio ao combate e logísticos são o comando e controle, inteligência, manobra, apoio de fogo, defesa antiaérea, mobilidade contramobilidade e proteção, e logístico (BRA- SIL,1997, p. 2-13). Ao mencioná-los, o propósito é chamar a atenção para a primazia do sistema inteligência, pelo menos no aspecto temporal. Embora os diversos sistemas funcionem simultaneamente, todos são dependentes das informações produzidas pelo sistema de inteligência para que possam atuar. Por seu turno, as Instruções Provisórias IP 100-1 Doutrina DELTA, que instituíram novos paradigmas para o Exército Brasileiro já incorporados ao C 100-5, introduziram novos conceitos operacionais, entre eles o da guerra de movimento. A guerra de movimento seria o tipo de conflito a ser travado nas Áreas Operacionais do Continente (AOC), caracterizando-se por ações rápidas e profundas, frentes amplas e descontínuas e descentralização das operações. De acordo com o C 100-5 (BRASIL, 1996), outros conceitos operacionais menos abrangentes podem ser deduzidos da concepção de guerra de movimento. Flexibilidade, ação em profundidade, ação tridimensional, combate continuado e combate não-linear são idéias que em conjunto contribuem para compor um cenário de grande incerteza, próprio do moderno campo de batalha (BRASIL, 1997, p. 4-7, grifo nosso). Assim, para contrapor-se ao ambiente de incerteza e vencer batalhas, é imprescindível contar com um sistema de inteligência eficiente, em que todas as unidades e elementos subordinados estejam aptos ao esforço de busca de dados. Esta consideração é especialmente válida para aquelas frações que são organizadas para as ações de reconhecimento, vigilância e segurança, como o Pel Exp do BIB. 3 A inteligência no campo de batalha A finalidade da inteligência nas operações militares é a produção de conhecimentos sobre o ambiente operacional (terreno e efeitos meteorológicos sobre ele) e sobre o inimigo, especialmente os que levem a conclusões sobre as suas linhas de ação (LA) mais prováveis (BRASIL, 1999, p. 1-3). Definidas as necessidades de inteligência, elas são consolidadas em um plano de busca e traduzidas ou em ordens de busca (OB) às unidades subordinadas, ou em pedidos de busca (PB) ao escalão superior e unidades vizinhas. No caso do BIB, seus órgãos de busca são as suas próprias subunidades (SU) e o Pelotão de Exploradores, a fração mais apta para este tipo de missão. No escalão brigada, os meios disponíveis para as ações de reconhecimento, vigilância e segurança são constituídos normalmente pelo Esquadrão de Cavalaria Mecanizado orgânico e pelos batalhões subordinados, que poderão empregar as suas subunidades e o seu Pelotão de Exploradores. Naturalmente, a disponibilidade de meios envolvidos e as medida de coordenação entre eles irão variar em função do tipo de operação em que o BIB/FT BIB estará sendo empregado. No tópico seguinte serão abordadas essas operações e particularidades das missões cumpridas pelo Pelotão. 4 O Batalhão de Infantaria Blindado / A FT Batalhão de Infantaria Blindado Os BIB e as FT BIB são orgânicos das brigadas blindadas e, normalmente, cumprem as suas missões enquadrados por elas. Para constituir uma FT, geralmente o BIB conta com suas companhias de fuzileiros blindadas (Cia Fuz Bld) orgânicas e recebe um ou dois esquadrões de carros de combate (Esqd CC) (BRASIL, 2002a, p. 1-100).

117 Com relação às missões em que são empregadas, as FT poderão conduzir ou participar de qualquer tipo de operação ofensiva. Todavia, o reconhecimento em força, o aproveitamento do êxito, a perseguição e o ataque de oportunidade são os que apresentam melhores condições para o aproveitamento das suas características. Na defensiva, as FT são especialmente aptas para as ações dinâmicas da defesa e para a realização de movimentos retrógrados (BRA- SIL, 2002a, p. 5-8, 6-57). O C 17-20 lista as seguintes características como próprias das Forças-Tarefas blindadas: mobilidade, flexibilidade, potência de fogo, proteção blindada, ação de choque e sistema de comunicações amplo e flexível (BRASIL, 2002a, p. 1-3). No caso do Pelotão de Exploradores, é evidente a importância da mobilidade, da flexibilidade e das comunicações amplas para que possa bem cumprir as suas missões de reconhecimento em todos os tipos de operações citados. Algumas das suas principais limitações, relacionadas a essas características, serão analisadas no tópico seguinte, a partir de uma comparação com o pelotão de exploradores norteamericano. 5 O Pelotão de Exploradores do BIB e o Scout platoon O Pelotão de Exploradores é composto por 1 (um) grupo de comando (Gp Cmdo) e 2 (dois) grupos de exploradores (G Exp), segundo o que prevê a portaria (Port) Nr 187 reservada (Res) de 28 de dezembro de 1998 do EME, num total de vinte e quatro militares. Quando atuando descentralizadamente, o Pel Exp pode ser empregado com apenas duas organizações básicas: 2 (dois) G Exp ou 6 (seis) patrulhas. O Pelotão de Exploradores (HMMWV Scout platoon) do batalhão de infantaria mecanizado do Exército norte-americano, unidade que mais se assemelha ao BIB brasileiro, conta com um efetivo de trinta militares e está organizado em 01 (um) grupo de comando e 04 (quatro) grupos de exploradores. O pelotão é equipado com 10 (dez) viaturas M1025/ 1026 HMMWV (high-mobility multipurpose wheeled vehicle 2 ), sendo uma para cada patrulha (ESTADOS UNIDOS, 1999, p. 1-1). Comparando-se as duas frações com base nos parâmetros mobilidade, segurança, flexibilidade e comunicações, considerados essenciais para as operações de reconhecimento, o HMMWV Scout platoon mostra-se mais apto, pelas seguintes razões: mobilidade: o HMMWV modelo 1043 A2 mostra-se superior ao Jeep Willys do Pel Exp nos seguintes aspectos: autonomia, velocidade máxima, capacidade de deslocamento em terreno variado e transposição de obstáculos; segurança: o HMMWV scout platoon apresenta um maior poder de fogo que o Pel Exp do BIB. O HMMWV scout platoon possui 5 (cinco) Mtr.50 mm, 5 (cinco) Mtr 5.56 mm, 5 (cinco) Lç Gda MK19 e 5 mísseis JAVELIN, enquanto o Pel Exp conta com apenas 6 (seis) Mtr 7,62 mm e 06 (seis) AT-4. Por último, o HMMWV é revestido por uma blindagem leve e o Jeep Willys não conta com nenhum tipo de blindagem. flexibilidade: o HMMWV scout platoon possui maior efetivo, o que lhe possibilita adotar uma maior variedade de organizações, cumprir uma maior quantidade de missões simultâneas e contar com uma maior flexibilidade para mobiliar e operar P Obs. Além disso, o HMMWV possui capacidade de carga maior que a do Jeep Willys, diminuindo a necessidade de ressuprimento; comunicações: o receptor-transmissor RT-1523 do HMMWV scout platoon possui salto de freqüência, criptografia digital e permite o monitoramento de seis canais simultaneamente. Já o receptor-transmissor EB 11 - RY20B / ERC não conta com nenhum dispositivo de segurança similar e permite o monitoramento de apenas um canal por vez. 6 Pesquisa do tipo levantamento descritivo - quantitativo aplicado A pesquisa de campo empregada foi do tipo levantamento descritivo-quantitativo aplicado. Foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário que analisou a estrutura organizacional em pessoal e material do Pel Exp orgânico do BIB, ao ser empregado como órgão de busca de dados em missões de reconhecimento.

118 O questionário é do tipo estruturado e não-disfarçado. Dessa forma, a sua composição seguiu uma seqüência lógica de perguntas as quais não puderam ser modificadas pelo entrevistador e apresentaram os objetivos de pesquisa expostos no seu corpo (SAMARA; BARROS, 2002). O instrumento de pesquisa foi constituído por perguntas do tipo com ordem de preferência, utilizando a escala de Likert, em que o respondente indicou o seu grau de concordância ou discordância, de acordo com as variáveis e atitudes relacionadas ao objeto de estudo. Aprovado em um pré-teste com oficiais do corpo discente da EsAO, o questionário foi remetido a todos os BIB para ser respondido pelos respectivos S3 e Cmt Pel Exp. Também foi enviado ao CIBld o qual remeteu um documento consolidando as respostas dos instrutores e monitores que participaram do estágio de Pel Exp no ano de 2003. 7 Análise dos dados A análise foi conduzida interpretando e comparando os dados colhidos com os relatórios da experimentação doutrinária da 6ª Bda Inf Bld e do estágio de Pel Exp do CIBld, ambos realizados no ano de 2003. Cumpre salientar que, durante esta etapa, as opiniões do 29º BIB e do CIBld exerceram um papel fundamental, particularmente nas situações em que não se constatou uma homogeneidade das respostas ao questionário aplicado. Nestas oportunidades elas foram consideradas com maior peso que as demais, tendo em vista a maior experiência prática destas unidades. A seguir, são apresentados os resultados de maior expressão da análise feita, relativos às dimensões pessoal e material (comunicações, armamento e viatura) da variável estrutura do Pel Exp em estudo. Dimensão pessoal: o efetivo atual do Pel Exp permite o cumprimento das missões de reconhecimento, com restrições. O CI Bld e o 29 o BIB apresentam a sugestão de aumentá-lo para 32 e 28 militares respectivamente; a organização atual, com dois grupos de exploradores, proporciona, com limitações, a flexibilidade necessária ao cumprimento das missões de reconhecimento. Para otimizá-la, o CI Bld e o 29 o BIB sugerem a criação de mais um Gp Exp; mais de 50% dos militares consultados discordam total ou parcialmente do emprego do cabo na função de comandante de patrulha. Dimensão material / comunicações: 50% dos militares consultados discordam total ou parcialmente que os meios de comunicação orgânicos do Pel Exp permitem o gerenciamento adequado das mensagens em missões de reconhecimento; no aspecto segurança, 66% dos entrevistados consideram os equipamentos de comunicações vulneráveis às ações de guerra eletrônica do inimigo; os meios rádio possibilitam ao Cmt Pel Exp o exercício do comando e controle da fração com restrições; 61% dos militares consultados consideram que a quantidade de equipamentos -rádio do pelotão é insuficiente quando todas as patrulhas atuam desembarcadas; 71% dos militares consultados consideram a ausência de meios de comunicação físicos prejudicial ao cumprimento das missões de reconhecimento, principalmente nas situações estáticas. Dimensão material / armamento: o armamento AC do Pel Exp proporciona, com restrições, segurança e proteção à fração. 67% dos militares consultados consideram que os grupos de exploradores não contam com a segurança adequada, quando atuando desembarcados. Dimensão material/ viatura: a atual viatura de dotação não confere ao Pel as melhores condições para deslocar-se através campo, principalmente em terreno acidentado; Apenas 12% dos militares consultados concordam totalmente que a capacidade de carga da viatura é satisfatória. O CIBld concordou parcial-

119 mente pois considerou que o material da guarnição excede a capacidade de carga das principais viaturas ½ Ton do Exército Brasileiro. 82% dos militares consultados consideram que a viatura não proporciona proteção adequada à sua guarnição; 8 Conclusão O presente trabalho buscou verificar se a estrutura organizacional de pessoal e material do Pel Exp do BIB permitem o emprego eficiente dessa fração no cumprimento de missões de reconhecimento. Serviram como parâmetros para avaliar tal eficiência, os seguintes aspectos considerados fundamentais para este tipo de operação: mobilidade, flexibilidade, segurança e comunicações. Considerando o ambiente operacional diversificado em que o Pel Exp poderá atuar, verificou-se que ele necessita contar com uma grande mobilidade para poder deslocar-se em estradas, trilhas e através campo, transpondo pequenos obstáculos e cursos d água de pequeno porte. Essa característica está diretamente ligada ao desempenho apresentado pelas suas viaturas de dotação, responsáveis pelo transporte de todo o efetivo do Pel. Com base nas características técnicas do Jeep Willys, particularmente as afetas à sua performance em terreno acidentado e à experiência prática do CIBld, pode-se concluir que essa viatura não proporciona a mobilidade adequada para que o Pel Exp possa cumprir as missões de reconhecimento que lhe são designadas. Para verificar se a estrutura do Pel proporciona a flexibilidade necessária ao cumprimento de missões de reconhecimento, foram analisados seu efetivo, a sua organização de pessoal e a capacidade de transporte das viaturas. No que diz respeito ao efetivo, constatou-se que ele é insuficiente para atender todas as missões impostas ao Pel. A organização de pessoal com 2 (dois) G Exp também foi considerada inadequada por não propiciar uma grande flexibilidade ao Cmt Pel para selecionar a organização mais apta a cada missão específica. Esse fato torna-se mais relevante ao se constatar que as missões serão cumpridas, na maioria das vezes, com as peças de manobra do Pel descentralizadas. Ainda com base na pesquisa, foi identificado que o militar com a graduação de cabo não exerce, nas melhores condições, a função de Cmt de patrulha. Esse fato agrava a limitação imposta pela organização de pessoal, na medida em que inviabiliza o emprego descentralizado de duas patrulhas que são comandadas por militares na graduação de cabo. A capacidade de carga das viaturas foi considerada inadequada aumentando, dessa forma, a necessidade de ressuprimento e proporcionando uma maior flexibilidade ao Pel. Resumindo, constatou-se que o Pel Exp conta com uma flexibilidade restrita para cumprir missões de reconhecimento. Constatou-se a necessidade do Pel Exp em contar com uma segurança adequada, já que invariavelmente ele opera junto ao inimigo, afastado dos elementos de manobra da sua Unidade. Para isso foram analisados os aspectos relativos à proteção proporcionada pelas viaturas e pelo armamento orgânico, durante missões embarcadas e desembarcadas. Dos militares consultados, 82% discordaram parcial ou totalmente de que o Jeep Willis proporcione segurança à sua guarnição, principalmente devido à ausência da blindagem. Com relação ao armamento AC do Pel Exp, concluiu-se que o AT - 4 proporciona proteção, com restrições, ao emprego de veículos blindados inimigos devido ao seu alcance reduzido de 300m. Ainda sobre esse tópico, foi considerado inadequado o apoio proporcionado pelo armamento orgânico, nas situações em que o Pel Exp opera desembarcado. Com base nessas informações, pode-se concluir que o armamento e a viatura de dotação do Pel não lhe proporcionam a segurança adequada para cumprir missões de reconhecimento. Foi visualizada a necessidade imperiosa de o Pel Exp contar com equipamentos de comunicação eficientes e modernos para cumprir as missões de reconhecimento. É vital que eles permitam a transmissão dos dados obtidos com rapidez e segurança, para que possam ser usados com oportunidade pelo escalão superior. Considerando ainda o emprego descentralizado do Pel nessas ações, eles devem propiciar ao Cmt do Pel o perfeito exercício do comando e controle da fração. Sobre esses aspectos, a pesquisa estabeleceu algumas conclusões. O equipamento rádio não foi considerado seguro principalmente por não possuir nenhum dispositivo ou tecnologia de transmissão de dados anti-medidas eletrônicas de apoio. A quantidade de equipamentos portáteis foi considerada insuficiente, fato que afetará com maior gravidade o cumprimento das missões desembarcadas. A capacidade de monitorar apenas uma rede-rádio por vez foi uma limitação técnica apontada que é

120 maximizada pela necessidade do Pel Exp explorar mais de uma rede simultaneamente. Esse fato aliado aos próprios obstáculos naturais do terreno prejudica o exercício do comando e controle. A ausência de meios físicos no Pel também prejudica as comunicações, particularmente nas situações estáticas, como, por exemplo, na ocupação de P Obs. Com base nessas observações pode-se concluir que os meios de comunicação do Pel Exp permitem cumprir, com restrições, as missões de reconhecimento. Finalmente concluiu-se que nos aspectos avaliados mobilidade, segurança, flexibilidade e comunicações a estrutura do Pel Exp permite que esta fração cumpra, com restrições, as missões de reconhecimento que lhe forem designadas. Mecanized Infantry Bataion Scout Platoon working to military intelligence Abstract The purpose of this thesis is to verify if the personnel organization and Scout Platoon s material from the Armored Infantry Battalion (AIB) allow efficient application of this fraction on the accomplishment of reconnaissance missions. Initially, it s visualized the scenery where the Scout Platoon would proceed and the way it would be inserted in the intelligence operational system, all of that inside the new conception of the modern war. Posteriorly, it s discoursed about the Armored Task-Force when are presented some examples of operations where these units are most frequently resorted. On this opportunity, the focus is the participation of the Scout Platoon on the handling of the reconnaissance missions as a way of evaluate the difficulties which the fraction will come across when achieving it. Subsequently, is done an analysis of the personnel and material organization of the Scout Platoon, it s possibilities and limitations, and specific aspects of the reconnaissance missions. It s also presented the organization of the corresponding fraction adopted by the US Army, with and up-to-date conception, permitting a later comparison. The present work was developed during the years of 2003 and 2004. The study was based on bibliographic and documented research and reckoned with a field research which tried to raise subsidies along officers with great practical and theoretical knowledge about the subject. Keywords: Scout Platoon. Reconnaissance Mission. Referências BASTOS, Expedito Carlos Stephani. HUMVEE MILITAR. Tecnologia & Defesa, São Paulo, ano 20, n. 95, p. 64, 2003. BRASIL. Exército. Estado-Maior. CI 17-1: O Pelotão de Exploradores. 2. ed. Brasília, DF, 2002b.. C 17-20: Forças Tarefas Blindadas. 2. ed. Brasília, DF, 2002a.. C 100-5: Operações. 3. ed. Brasília, DF, 1997.. IP 30-1: A Atividade de Inteligência Militar. 2 a parte: A Inteligência nas Operações Militares.1. ed. Brasília, DF,1999.. IP 100-1: Bases para a Modernização da Doutrina de Emprego Força Terrestre: Doutrina Delta. Brasília, DF, 1996. ESTADOS UNIDOS. Department of the Army. FM 17-98: Scout Platoon. Washington, D.C., 1999.. FM 100-6: Information Operations. Washington, D.C., 1996. SAMARA, Beatriz Santos; BARROS, José Carlos. Pesquisa de marketing: conceitos e metodologia. 3. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002.