A AUTENTICIDADE NA PRESERVAÇÃO DA INFORMAÇÃO DIGITAL



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Transcrição:

552 A AUTENTICIDADE NA PRESERVAÇÃO DA INFORMAÇÃO DIGITAL José Carlos Abbud Grácio (UNESP Marília) Bárbara Fadel (UNESP Marília / Uni-FACEF Franca) 1. Introdução O papel surgiu como um dos principais suportes à informação e até hoje continua sendo, pois contribuiu de maneira importante para a difusão do conhecimento através do registro das informações. Com o atual processo de globalização e os grandes avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas, como os computadores e a Internet, pode-se presenciar o surgimento e a explosão das informações armazenadas em meio digital. Diferente do papel, a informação digital tem como uma de suas características a dissociação do suporte e do conteúdo, pois nesse novo tipo de suporte a informação pode ser transferida de um suporte digital para outro, possibilitando uma maior difusão da informação como nunca tínhamos presenciado. Entretanto essa característica também pode levar à perda ou à modificação do conteúdo original. Se a informação tem como objetivo gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo e na sociedade, a informação digital poder ser definida como um tipo de informação, com os mesmos objetivos, mas cuja especificidade se refere a suas formas de produção, organização, administração, distribuição, acesso e preservação, bem como quanto aos suportes de armazenamento. Ferreira (2006) denomina as informações armazenadas em meio digital de objetos digitais, que podem ser definidas como todo e qualquer objeto de informação que possa ser representado através de uma seqüência de dígitos binários, como por exemplo, textos científicos, bancos de dados, fotos digitais, vídeos, páginas Web, software, etc. Uma informação, disponível em um documento digital, pode estar presente em diversos objetos digitais, armazenados em suportes diversos e acessíveis por diversas formas. Essa diversidade, nas formas de suporte e acesso, são uma das

553 principais diferenças da uma informação disponível em meio digital para uma informação armazenada em meio analógico, como por exemplo o papel. Surgida no final do século XX, a informação digital possibilitou um grande desenvolvimento na sociedade atual, gerando novas possibilidades e grandes avanços. Mas como toda nova tecnologia, deixou também alguns desafios a serem enfrentados. Entre eles podemos citar: mudanças e avanços muito rápidos nas tecnologias de acesso à informação digital, causadas principalmente pelo surgimento da internet; obsolescência do hardware e do software, que com os avanços tecnológicos, tornam-se ultrapassados muito rapidamente; a explosão da quantidade de informação armazenada em meio digital, que cresce a cada dia, substituindo os meios de armazenamento tradicionais; as mudanças no formato dos arquivos e das mídias de armazenamento; custo elevados das novas tecnologias. Essas ameaças e desafios estão relacionados, pois as mudanças nas Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) levam à rápida obsolescência do hardware e do software, à explosão da quantidade de informação armazenada em meio digital e a uma constante mudança no formato dos arquivos e nas mídias de armazenamento digital, que por sua vez esbarram no problema do custo elevado dessas novas tecnologias, tanto para as pessoas como para as instituições. Ao mesmo tempo em que as novas TICs estão mudando os conceitos de documentos e seus registros, no que tange à informação digital, esses documentos registrados em meio digital são mais frágeis que o papel e correm um risco maior de perda ao longo do tempo. Essas informações contêm um valor historio para muitos governos, instituições e pessoas, e se não forem tradadas e preservadas adequadamente serão perdidas para as gerações futuras (Rothenberg, 1999, p.1). Essa obsolescência tecnológica nos leva à necessidade de se buscar soluções para a recuperação, no futuro, dessas informações armazenadas em meio digital. Nesse contexto, surge a necessidade da preservação de um novo tipo de

554 patrimônio, a informação digital, armazenada nos computadores e nos suportes digitais, e com ela uma nova área de pesquisa, a preservação digital. 2. Objetivos Essa pesquisa tem por objetivo estudar um dos aspectos que envolvem a preservação digital: a autenticidade. Foram realizadas análises dos principais aspectos relacionados à preservação digital, em publicações científicas, mapeando-os e relacionando-os à questão da autenticidade. 3. Preservação Digital Para Ferreira (2006), a preservação digital é definida como a capacidade de garantir que a informação digital permaneça acessível e com qualidade de autenticidade para que possa, no futuro, ser interpretada numa plataforma tecnológica diferente daquela utilizada em sua criação. Arellano (2004) define preservação digital como mecanismos que permitem o armazenamento em repositórios de dados digitais que garantam a perenidade dos seus conteúdos, integrando a preservação física, lógica e intelectual dos objetos digitais. Portanto, a preservação digital tem como objetivo definir um conjunto de propriedades que garantam e permitam o acesso, no futuro, à informação digital numa plataforma tecnológica diferente daquela utilizada em sua criação. Vários são os aspectos que estão relacionados com a preservação digital e entre eles podemos destacar: objetivos da instituição; modelo a ser utilizado; definição de responsabilidades; necessidade de recursos financeiros e de uma política continuada de investimento; quais informações devem ser preservadas (seleção); metadados; aspectos legais da preservação; direitos autorais; autenticidade; necessidades de infra-estrutura tecnológica; repositórios digitais; equipe multidisciplinar; estratégias de preservação; tipo do suporte adequado; implementação de políticas de preservação digital. Todos os aspectos são relevantes para a preservação digital e estão relacionados entre si, ou seja, qualquer política de preservação digital a ser

555 implantada em uma organização deve levar em conta esses aspectos e suas relações. A autenticidade é um aspecto importante na preservação digital e tem relação direta com os outros aspectos. 4. Autenticidade O contexto digital, diferente do analógico, oferece ferramentas de software e de hardware que possibilitam facilmente realizar alterações em documentos digitais. Ao mesmo tempo em que essas ferramentas facilitam algumas atividades, tornam-se um fator de risco quando tratamos da preservação desse documento digital, uma vez que exige tratamento adequado que garanta sua autenticidade ao longo do tempo. O conceito de autenticidade pode ser entendido como a capacidade de identificar elementos que permitam definir se um objeto é autêntico ou não. Para isso, é importante a definição das propriedades desse objeto digital que deverão ser mantidas e preservadas para que o mesmo possa ser considerado autêntico, influenciando também diretamente na forma com esse deverá ser preservado (Ferreira, 2006). Na arquivologia, um documento arquivístico autêntico é aquele que é o que diz ser, independente de se tratar de minuta, original ou cópia, e que é livre de adulterações ou qualquer outro tipo de corrupção. Enquanto a confiabilidade está relacionada ao momento da produção, a autenticidade está ligada à transmissão do documento e à sua preservação e custódia. Um documento autêntico é aquele que se mantém da mesma forma como foi produzido e, portanto, apresenta o mesmo grau de confiabilidade que tinha no momento de sua produção. Assim, um documento não completamente confiável, mas transmitido e preservado sem adulteração ou qualquer outro tipo de corrupção, é autêntico. (e-arq, 2006, p.22) Dessa forma, podemos observar que a autenticidade está inserida em dois contextos, o analógico e o digital, onde a diferença principal é que no contexto analógico o suporte e o conteúdo são entidades que caminham juntas, ao contrário do contexto digital, onde o conteúdo pode estar relacionado a diferentes suportes ao longo de sua vida. No contexto analógico a autenticidade é verificada utilizando propriedades do suporte, que fornece as informações necessárias para garantir que o objeto é

556 autêntico ou não, pois a preservação tem como objetivo conservar o suporte inalterado durante o máximo de tempo possível (Ferreira, 2006, p. 51) No contexto digital essas propriedades relacionadas ao suporte não garantem a autenticidade do objeto digital, pois o suporte não é a garantia para que a informação permaneça acessível e autêntica durante seu ciclo de vida, pois no mundo digital muitas vezes preservar significa mudar o suporte de armazenamento e as vezes até sua estrutura de armazenamento e apresentação. A mudança nos suportes de armazenamento é necessária em função da fragilidade dos suportes que são afetados pela rápida obsolescência das TICs, especialmente do hardware e do software, que leva a necessidade de atualizar esses suportes sob o risco de perder as ferramentas de acesso. O suporte também possui uma vida útil, na maioria das vezes menor que os suportes analógicos. Os avanços nas TICs também possibilitam um ambiente tecnológico propício ao surgimento de ferramentas que facilitam a modificação tanto do conteúdo como das estruturas de um documento digital. Essas ferramentas acabam na maioria das vezes não deixando pistas dessas modificações, diferente do ambiente analógico, onde essas ferramentas são mais escassas e costumam deixar pistas mais claras da adulteração do objeto analógico, como o papel. Esse ambiente pode provocar uma desconfiança se o objeto digital é autêntico ou não, e para que isso não aconteça é necessário definir, para cada tipo de objeto digital, um conjunto de propriedades significantes que deverão ser preservadas de forma intacta para que esse objeto possa ser considerado autêntico. Essas propriedades não são estáticas e podem ser revistas ao longo do ciclo de vida do objeto digital em função dos avanços tecnológicos pelos qual esse objeto irá passar. Ferreira (2006, p. 52) aponta que a definição dessas propriedades deverá ter em conta a natureza da organização responsável pela preservação, as características da coleção e, acima de tudo, os requisitos e exigências da comunidade de interesse. São essas propriedades, definidas dentro de uma política de preservação digital da instituição, que irão determinar a forma como o objeto digital deverá ser preservado. Podemos dizer que a autenticidade deve ter como objetivo atingir três elementos relacionados ao documento, que são o autor, a instituição que está preservando e os usuários. Dessa forma, a autenticidade está relacionada à três

557 fatores que são a garantia, credibilidade e segurança, ou seja, garantia para o autor que seu documento permanece autêntico, credibilidade à instituição que preserva o documento e segurança ao usuário que acessa a informação. O usuário que busca uma informação digital precisa ter a certeza que essa informação é autêntica, ou seja, as instituições precisam garantir a autenticidade da mesma através de estratégias bem definidas e que dêem ao usuário segurança quando este for utilizar a informação. Assim como o usuário que busca a informação digital, o responsável por esse objeto digital também tem a necessidade que a instituição garanta que aquele trabalho desenvolvido por ele permaneça da forma como foi criado. Uma forma de dar ao usuário e ao responsável do objeto digital maior garantia de autenticidade da informação preservada é mostrar a responsabilidade política da instituição que está preservando, através da existência de políticas de preservação digital, que tornem pública as atividades a serem desenvolvidas e as pessoas envolvidas, bem como a disponibilidade de recursos financeiros disponíveis para os investimentos permanentes em tecnologia, infra-estrutura e capacitação de pessoal. No caso específico das informações científicas, a utilização de repositórios digitais é uma ferramenta importante para o armazenamento e divulgação de documentos em formato digital, e também uma forma de mostrar a capacitação técnica da instituição de ensino em manter a integridade e a autenticidade das informações digitais preservadas. Os repositórios digitais possuem também a capacidade para armazenar outros tipos de informação. Também observamos que podemos utilizar ao longo da vida do objeto digital estratégias de preservação diferentes, dependendo do contexto tecnológico na qual o objeto foi tratado. Essas estratégias devem estar amparadas em políticas e diretrizes para conversão ou migração desses objetos com o objetivo de garantir sua autenticidade, acessibilidade e utilização. As atividades de preservação digital dos documentos digitais podem ser aplicadas de duas formas: em relação apenas ao suporte de armazenamento ou em relação ao suporte e ao seu conteúdo. A autenticidade deve ser tratada nessas duas formas.

558 Eventualmente apenas o aspecto do suporte deve ser tratado, como por exemplo, quando da necessidade de realizar uma mudança de suporte (refrescamento) em função da fragilidade do mesmo ou em relação à sua obsolescência, sem a necessidade de tratar a questão do conteúdo e estrutura. Em outros casos, como por exemplo, na atividade de migração, onde a mesma pode afetar o conteúdo e sua estrutura, a autenticidade do documento digital deve ser observada nas duas formas. É nesse caso que existe a maior possibilidade de adulteração do documento digital, pois além das questões e soluções tecnológicas aplicadas à atividade de preservação digital, existe também a influência de fatores relacionados à equipe técnica responsável por essa atividade. Entre esses fatores podemos apontar o nível de conhecimento técnico, o seu comprometimento, a administração e a integridade da equipe. A gestão incorreta da equipe pode ocasionar problemas nas atividades de preservação, tais como: adulteração do documento digital, migração para formatos não adequados, refrescamento para suportes inadequados, perda da estrutura dos documentos digitais originais, perda dos dados, perda dos metadados de conteúdo e de preservação e o pior dor problemas, perda do documento digital. Portanto, é necessário que a equipe responsável pelas atividades de preservação digital aplique rotinas e métodos adequados que garantam a autenticidade do documento. Das estratégias de preservação existentes, podemos destacar que a migração é a estratégia que mais evolui e que mais está sendo utilizada, de acordo com estudos recentes, pois a emulação é atualmente uma estratégia muito cara e necessita da criação de um ambiente de software e hardware exatamente igual ao original. O refrescamento é uma estratégia que deve ser aplicada principalmente em função da obsolescência dos suportes e dos hardwares necessários para sua escrita e leitura. É necessário que as instituições adotem estratégias de preservação digital bem definidas em suas políticas para cada tipo de objeto digital, avaliando-as periodicamente para determinar qual a melhor estratégia a ser implementada de acordo com as tecnologias existentes naquele momento. É essencial que todas as estratégias aplicadas no objeto digital durante sua existência sejam registradas através da descrição dos procedimentos adotados.

559 Para minimizar a carência de dados descritivos do conteúdo da informação digital, que possibilite sua busca, recuperação e preservação, é consenso, entre maioria dos profissionais que estudam esse o problema, a necessidade do desenvolvimento de elementos de descrição que possam representar os conteúdos armazenados em meio digital. Nesse sentido, a criação de metadados é apontada como solução para essa descrição, bem como um aspecto importante para garantir a autenticidade da informação digital. Comumente chamado de dados sobre dados, o termo metadados pode ser mais bem descrito como um conjunto de dados, chamados de elementos, cujo número é variável, de acordo com o padrão adotado, e que descreve o conteúdo de um recurso, possibilitando a um usuário ou a um mecanismo de busca acessar e recuperar esse recurso. Também possibilita ao profissional da informação tratar de forma mais adequada esse recurso. Esses elementos descrevem informações como nome, descrição, localização, formato, entre outras. Podemos estabelecer a relação de um recurso com a sua descrição por metadados, como fazemos a relação dos documentos de uma Biblioteca com os seus registros no catálogo, com o objetivo organizar as informações contidas nos documentos e permitir sua recuperação. Metadados são um conjunto de elementos que descrevem as informações contidas em um recurso, com o objetivo de possibilitar sua busca e recuperação. O conjunto de elementos representa o conteúdo do recurso descrito, ou seja, as informações que possibilitam identificar o que o recurso representa e seu conteúdo, podendo ter um número de elementos variável de acordo com o padrão de metadados. Esses elementos devem, preferencialmente, seguir esquemas de codificação, como o uso de vocabulário controlado, esquemas de classificação e formatos de descrição formais, com o objetivo de proporcionar uma qualidade melhor na descrição. O recurso pode ser entendido como toda informação que pode ser armazenada em meio eletrônico, como texto, imagem, som, vídeo, página da Web etc. Os metadados possuem uma relação direta com o recurso, assim como um livro tem com seu registro em um catálogo de biblioteca. Um exemplo onde metadados tem uma importância relevante é a Internet, que não surgiu com a preocupação de catalogar as informações contidas nela. Com seu crescimento, recentemente essa preocupação tem sido alvo de estudos, mesmo porque os instrumentos de busca atuais da Internet, apesar de robustos, não

560 atendem de maneira satisfatória os usuários que os utilizam, pois não trazem toda a informação disponível na rede. Metadados podem ser utilizados para representar vários recursos, dependendo do domínio: em um provedor Web, para identificar e localizar páginas na Internet; na digitalização de imagens, para descrever a informação contida nelas; em dados eletrônicos, para descrever a informação contextual contida no documento eletrônico. Uma característica importante é que metadados podem ser representados no próprio recurso, como em uma página web, ou separadamente, como em uma imagem digitalizada, onde os metadados podem estar, por exemplo, em um banco de dados. Podemos observar na literatura e existência de diversos padrões de metadados, um para cada tipo de informações específicas. Com relação a metadados relacionados a informações disponíveis em instituições de ensino, podemos destacar dois, o Dublin Core (DC), mais simples e genérico, mas amplamente utilizado e o Metadata Encoding and Transmission Standards (METS), mais complexo e sofisticado. A utilização de metadados tem como objetivo descrever e documentar o objeto digital detalhadamente, permitindo armazenar informações do tipo proveniência, autenticidade, formato, ambiente tecnológico e outras informações. Gilliland-Swetland (1998) divide os metadados em 5 tipos, de acordo com os aspectos de sua funcionalidade em um sistema digital: Administrativos: Metadados usados no gerenciamento e administração dos recursos informacionais Descritivos: Metadados usados para descrever e identificar informações sobre recursos; Conservação: Metadados relacionados à conservação de recursos de informação, ou seja, que representam ações tomadas para a preservação de um recurso informacional, digital ou não, tal como indicação de condições físicas do documento, ou indicação de migração; Técnicos: Metadados relacionados ao funcionamento do sistema e comportamento dos metadados;

561 Uso: Metadados relacionados com o nível e tipo de uso dos recursos informacionais. Algumas definições de metadados não levam em conta a questão da preservação, mas somente as questões referentes à descrição, busca e recuperação da informação. Isso é um erro, pois atualmente os metadados de preservação são essenciais para a aplicação das estratégias de preservação. As mudanças que ocorrem frequentemente nas tecnologias de informação, principalmente nos suportes e nos formatos de armazenamento, levam à necessidade da aplicação das estratégias de preservação ao longo do tempo. Dessa forma os metadados relacionados à preservação digital devem acompanhar todo o ciclo de vida do recurso e irão apoiar todo o processo de preservação digital, desde a criação até a preservação, registrando todas as estratégias aplicadas e as mudanças ocorridas com esse recurso. Devem ser utilizados juntamente com os metadados descritivos, como assunto, título, autor e outras, e devem conter informações administrativas e técnicas que permitam o registro das decisões, ações e estratégias de preservação tomadas desde a criação do recurso, assegurando a autenticidade do mesmo. Para Saramago (2003), os metadados de preservação devem conter informação técnica e administrativa sobre decisões e ações de preservação, registrar os efeitos das estratégias de conversão de dados, assegurar a autenticidade dos recursos digitais ao longo do tempo, registrar informação acerca de gestão de coleções e de direitos e ainda fornecer informação acerca dos próprios metadados. Saramago (2003) divide os metadados para preservação em três tipos: Descritivos: descrevem o recurso. Administrativos: documentam os atos de gestão ao longo do tempo para a preservação do recurso. Estruturais: complementam os metadados administrativos pois acrescentam as informações tecnológicas para a preservação do recurso. Nessa divisão, os metadados administrativos e os estruturais contêm as descrições dos métodos e estratégias aplicadas para a preservação digital dos recursos. Atualmente, cremos que metadados poderiam ser melhor definidos como um conjunto de elementos que descrevem as informações contidas em um recurso, com

562 o objetivo de possibilitar sua busca, recuperação e preservação. Portanto, são essenciais não somente para a descrição do conteúdo de um objeto digital, mas também para as atividades de preservação do mesmo. 5. Considerações finais A preservação digital busca preservar a informação armazenada em meio digital tratando aspectos relacionados è essa atividade, com procedimentos específicos e técnicas apropriadas para cada tipo de informação, garantindo que essa informação permaneça acessível no futuro e com a garantia de que a mesma é autentica. Um dos aspectos importantes que devem ser tratados na preservação digital é a autenticidade e sua relação direta com os outros aspectos relacionados à preservação digital. A instituição que deseja preservar sua informação digital com garantias de autenticidade deve ter inserida em seus objetivos a preservação digital, através da disponibilização de recursos financeiros permanentes, definição de responsabilidades para cada atividade de preservação, capacitação permanente da equipe, respeito aos direitos autorais dos autores e políticas de preservação digital. Um dos requisitos essenciais para garantir a autenticidade de um objeto digital é a utilização de metadados, especialmente os metadados de preservação, que devem apoiar todo o processo de preservação digital ao longo do tempo, registrando todas as estratégias aplicadas e as mudanças ocorridas. A preservação digital estar inserida nos objetivos da instituição e nos projetos de Tecnologia da Informação (TI), tratando de todos os aspectos que a envolvem, como forma de garantir que o patrimônio digital dessa instituição possa ser preservado para busca e recuperação no futuro com garantias de autenticidade. Referências ARELLANO, MIGUEL ANGEL. Preservação de documentos digitais. Ciência da Informação, Brasília, v. 33, n. 2, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n2/a02v33n2.pdf. Acesso em: 04 jan. 2007. DOI: 10.1590/S0100-19652004000200002. DUBLIN CORE METADATA INITIATIVE. Disponível em: <http://dublincore.org>. Acesso em: 24 fev. 2009.

563 E-ARQ BRASIL: Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos. 2006. Disponível em: http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/media/publicacoes/earqbrasilv1.pdf. Acesso em: 19 dez. 2009. FERREIRA, M. Introdução à preservação digital: conceitos, estratégias e actuais consensos. Guimarães, Portugal: Escola de Engenharia da Universidade do Minho, 2006. Disponível em: <https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5820/1 /livro.pdf>. Acesso em: 17 jan. 2007. GRÁCIO, JOSÉ CARLOS ABBUD. Metadados para a Descrição de Recursos da Internet: o padrão Dublin Core, aplicações e a questão da interoperabilidade. 2002. 104 f. Dissertação (Mestrado). - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Universidade Estadual Paulista, Marília, 2002. GILLILAND-SWETLAND, A. J. La definición de los metadatos. In: BACA, M. (Ed.). Introducción a los metadatos vías a la informacíon digital. Traducido al español por Marisol Jacas-Santoll. Los Angeles, CA: J. Paul Getty Trust, 1998. p. 1-9. METS Metadata Encoding & Transmission Standard: Official Web Site. Disponível em: <http://www.loc.gov/standards/mets/>. Acesso em: 27 Jan. 2009. ORGANIZATION OF THE DUBLIN CORE METADATA INITIATIVE. In: DUBLIN CORE METADATA INITIATIVE. Disponível em: <http://dublincore.org/about/organization>. Acesso em: 05 fev. 2002. ROTHENBERG, JEFF. Ensuring the longevity of digital information. Revision February, 22 1999. Disponível em: <http://www.clir.org/pubs/archives/ensuring.pdf>. Acesso em: 13 out. 2009. SARAMAGO, M. L. Metadados para preservação digital e aplicação do modelo OAIS. 2003. Disponível em: <http://www.unicamp.br/siarq/doc_eletronico/metadados.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2009.