TÍTULO EXECUTIVO A execução depende de um título executivo. O título executivo consiste numa espécie de bilhete de ingresso, sem o qual o credor não pode valer-se do procedimento executivo. Ele é o documento indispensável para a propositura da execução e é com base nele que todos os elementos da ação, as condições da ação, vários requisitos processuais etc. Serão examinados. A falta de título executivo implica, sem dúvida, inadmissibilidade do procedimento executivo, em razão de defeito do instrumento da demanda, assim como a falta de documento indispensável à propositura da ação pode ensejar indeferimento da petição inicial (art. 282 c/c art. 284 do CPC). É por ele que se comprovam a legitimidade das partes, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE DOS TÍTULOS EXECUTIVOS O título é executivo se estiver em rol legal taxativo. Não é a natureza da obrigação que qualifica um título executivo, mas sua inserção entre aqueles assim considerados por disposição legal expressa. Pelo princípio da taxatividade, não há título se não houver lei o prevendo (nullus titulus sine legis). Somente a lei pode criar um título executivo. O títulos executivos podem ser judiciais ou extrajudiciais. Os primeiros estão previstos no art. 475-N, enquanto estes últimos encontram-se relacionados no art. 585 do CPC. ROL DE TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS O art. 475-N do CPC estabelece o rol dos títulos executivos judiciais, ou seja, o rol de decisões que permitem a instauração da atividade executiva do Estado. A característica comum a todos esses títulos é a identificação da norma jurídica individualizada que atribua a um sujeito o dever de prestar (fazer, não-fazer, entregar coisa ou pagar quantia). I) SENTENÇA PROFERIDA NO PROCESSO CIVIL QUE RECONHEÇA A EXISTÊNCIA DA OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER, ENTREGAR COISA OU PAGAR QUANTIA. É a hipótese mais comum de título executivo judicial. Tal eficácia (a determinação para uma parte cumprir prestação perante a outra) não se faz presente só nas chamadas sentenças precipuamente condenatórias, vale dizer, as que têm na condenação seu comando principal (exemplos: a sentença condenando o réu ao cumprimento de obrigação contratual, ao pagamento de indenização por ato ilícito
etc.). As sentenças declaratórias e constitutivas também portam, normalmente, eficácia condenatória, pois, com algumas exceções, veiculam condenação do vencido ao pagamento das custas judiciais e dos honorários advocatícios do vencedor. E, relativamente a tais verbas de sucumbência, aquelas sentenças funcionam como título executivo.(luiz Rodrigues Wambier // Eduardo Talamini pág 70 item a ) II) SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO É a eficácia civil da sentença penal condenatória: a sentença que condena o acusado no processo penal vale, desde logo, como título executivo para a vítima (ou familiares) receber indenização civil, a ser arcada pelo condenado, em virtude do crime que cometeu. Não será necessário novo processo na esfera civil: bastará que se proceda a apuração do valor devido, através de procedimento de liquidação. Agora, quando se proceder a indenização perante outros responsáveis civis que não a pessoa condenada na esfera penal (exemplo: CC, art. 932, III), a sentença penal não servirá de título executivo, sob pena de ofensa ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório (CF, art. 5 o, LIV e LV): frente aos que não foram parte no processo penal, será necessária a obtenção de prévia sentença civil condenatória, mediante processo de conhecimento. Embora se trate de um título executivo judicial, a sentença penal condenatória não pode ser civilmente executada no próprio processo em que foi proferida. Nesse ponto, tem-se a exceção ao regime geral estabelecido pela Lei 11.232/2005. Haverá a necessidade de instauração de um específico processo civil destinado à liquidação e à execução. Esse processo terá de ser instaurado por iniciativa do credor, mediante ação proposta perante o juiz competente, e nele o executado haverá de se rcitado (art. 475-N, parágrafo único, acrescido pela Lei 11.232/2005)..(Luiz Rodrigues Wambier // Eduardo Talamini pág 72 item b ) III) A SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE CONCILIAÇÃO OU DE TRANSAÇÃO, AINDA QUE INCLUA MATÉRIA NÃO POSTA EM JUÍZO. Com a sentença homologatória de transação (art. 269, III; Lei 9.099/95, art. 57) e conciliação (art. 449; Lei 9.099/95, art. 22, parágrafo único etc.), o juiz, ao chancelar a autocomposição, torna jurisdicional a solução que as partes deram ao conflito. Daí que, contendo o acordo homologado a imposição de prestação a alguma das partes, a sentença homologatória será condenatória quanto a esse ponto, servindo de título para a execução. A Lei 8.953/94 havia alterado a redação do art.584, III, para que dele constasse ser título executivo a sentença homologatória de conciliação ou transação, ainda que esta não verse questão posta em juízo. Exemplo:
João cobra de Pedro R$ 500,00. Na audiência de conciliação, as partes chegam ao consenso: Pedro dispõe-se a pagar a João aquela quantia; João, de sua parte, compromete-se a devolver a Pedro um televisor que havia tomado emprestado. A questão do televisor não era objeto do processo (questão posta em juízo): não integrava a pretensão exposta na ação de João nem estava contida em reconvenção de Pedro. O acordo é reduzido a termo e o juiz profere sentença homologatória. A alteração introduzida pela lei 8.953 servia para deixar claro que tal sentença homologatória não só é título executivo em favor de João, para receber os R$ 500,00, como também em prol de Pedro, para obter o televisor. Qualquer dos dois poderia pleitear execução, caso o outro descumprisse o pactuado..(luiz Rodrigues Wambier // Eduardo Talamini pág 73 item c ) IV) A SENTENÇA ARBITRAL (ART. 475-N, IV A sentença arbitral (Lei 9.307/96, art. 23 e seguintes) é decisão final em procedimento de arbitragem. Pela arbitragem, de comum acordo, pessoas com capacidade de contratar submetem seu litígio, que verse sobre direitos patrimoniais disponíveis, à decisão de terceiro(s) particular(es) por elas escolhido(os) (Lei 9.307/96, art. 1 o ). A execução da sentença arbitral será realizada pelo Judiciário, e não pelo arbitro. Portanto, também nesse caso a execução da sentença não consistirá em simples fase subseqüente do processo em que se formou o título executivo. Tal como já se observou relativamente com a sentença penal condenatória, também nessa hipótese haverá a necessidade de instauração de um específico processo destinado à execução da sentença arbitral. Isso dependerá de demanda do credor e será imprescindível a citação do executado para integrar esse novo processo, conforme determina o art. 475-N, parágrafo único (acrescido pela Lei 11.232/2005)..(Luiz Rodrigues Wambier // Eduardo Talamini pág 72 item f ) V) O ACORDO EXTRAJUDICIAL, DE QUALQUER NATUREZA, HOMOLOGADO JUDICIALMENTE Não é apenas a transação a que as partes cheguem na pendência de um processo anteriormente instaurado que poderá ser homologada e gerar título executivo. Nos termos do art. 57, caput, da Lei 9.099: O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente de termo, valendo a sentença como título executivo judicial. Os interessados, portanto, podem requerer a instauração de procedimento judicial especificamente destinado a tal homologação. A Lei Federal n o 11.232/2005 acrescentou ao rol dos títulos executivos judiciais o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente (CPC, art. 475-N, V).
De acordo com o texto normativo, é possível que qualquer acordo, inclusive em causas trabalhistas (aplicação subsidiária do CPC) e de família, possa ser levado ao juízo materialmente competente para ser homologado e, assim, constituir-se título executivo judicial. A homologação ocorrerá após a instauração de um procedimento de jurisdição voluntária, em que o magistrado examinará o preenchimento dos pressupostos e requisitos para a celebração do negócio jurídico (CPC, arts. 1.103 a 1.111). VI) A SENTENÇA ESTRANGEIRA, HOMOLOGADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA A sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, é título executivo judicial (CPC, art. 475-N, VI), e deve ser executada perante um juízo federal de primeira instância (CF/88, ART. 109, X). Convém lembrar que antes da EC n o 45/2004, a competência para homologar a sentença estrangeira era do STF. Também nessa hipótese, embora se trate de título executivo judicial, haverá a necessidade de instauração de um novo processo destinado à liquidação da sentença, se for o caso, e à execução, perante o competente juiz federal de primeiro grau. Nesse novo processo, será imprescindível a citação do executado (art. 475-N, parágrafo único, acrescido pela Lei 11.232/2005). VII) O FORMAL E A CERTIDÃO DE PARTILHA, EXCLUSIVAMENTE EM RELAÇÃO AO INVENTARIANTE, AOS HERDEIROS E AOS SUCESSORES A TÍTULO SINGULAR OU UNIVERSAL A partilha dos bens, feita em inventário ou arrolamento, é homologada por sentença, representada por formal ou certidão de partilha. São os documentos que retratam a adjudicação de quinhão sucessório, formalizando a transferência da titularidade de bens em virtude de sucessão causa mortis. No art. 1.027 são previstos os requisitos do formal, que poderá ser substituído por certidão do pagamento do quinhão hereditário, quando este não exceder cinco vezes o salário mínimo (art. 1.027, parágrafo único). O formal e a certidão de partilha têm força executiva exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título universal ou singular (art. 475-N, VII, segunda parte). Vale dizer: se o bem objeto da herança estiver em poder de alguma dessas pessoas, o beneficiado pelo formal ou certidão poderá requerer execução para receber o bem; estando na posse de outras pessoas, haverá necessidade de prévio processo de conhecimento perante esses possuidores, no qual se obtenha condenação à entrega do bem. A Lei 11.441?2007 criou a possibilidade de o inventário e a partilha realizarem-se extrajudicialmente, perante tabelião, quando não houver testamento e todos os interessados forem capazes e não tiverem nenhuma divergência quanto à partilha.
Nessa hipótese, a escritura pública lavrada pelo tabelião servirá de título hábil para o registro imobiliário. Todavia, tal escritura não tem caráter de título executivo judicial, pois não provém de autoridade jurisdicional ou equivalente. A escritura terá apenas valor de eficácia de título executivo extrajudicial (art. 585, II). Para assumir força de título judicial, a partilha em questão terá de ser homologada pelo juiz, nos termos do art. 1.031 do Código.