Influência de programas governamentais na fecundidade dos mais pobres: uma comparação entre Brasil e México *

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Transcrição:

Influência de programas governamentais na fecundidade dos mais pobres: uma comparação entre Brasil e México * Resumo Ernesto F. Amaral Joseph E. Potter México e Brasil experimentaram um declínio substancial da fecundidade durante as últimas décadas, embora tenham experienciado diferentes trajetórias quanto ao papel do governo na promoção do planejamento familiar. Desde os anos 70, o governo mexicano tem implementado uma política de controle da fecundidade. No Brasil, o governo teve um papel muito menos relevante. Recentemente, gestores de políticas públicas no Brasil têm sugerido que a ausência de efetivos programas de planejamento familiar tem gerado o desenvolvimento de diferenciais de fecundidade entre classes sociais menos e mais favorecidas. Neste trabalho, a influência de programas governamentais nas tendências de fecundidade entre segmentos sociais é estimada com o uso de modelos hierárquicos que incorporam variávies municipais e individuais. Diferenciais de fecundidade no México e Brasil foram analisados nos Estados de Guerrero, Veracruz, Pernambuco e Piauí, por serem áreas desprivilegiadas nesses países. Os dados utilizados foram: Censos Demográficos do México e Brasil de 2000, Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde no Brasil de 1996 (DHS), e Pesquisa Nacional da Dinâmica Demográfica no México de 1997 (ENADID). Os resultados apontam que embora no Brasil os níveis de fecundidade sejam menores, os diferenciais por grupo de escolaridade são maiores em Pernambuco e Piauí. No México, as maiores taxas de fecundidade deveriam gerar maiores diferenciais entre grupos educacionais. Porém, os resultados sugerem um padrão oposto nesses países do que aqueles tratados por Bongaarts (2003) de que a diferença absoluta na fecundidade entre grupos de escolaridade deveria diminuir com processo de transição. As mulheres mexicanas com diferentes níveis de escolaridade têm fecundidade mais próximas entre si, comparadas às brasileiras. Essas informações são consistente com a hipótese de que programas de planejamento familiar direcionados a classes mais baixas diminuem os diferenciais entre mexicanas de classes baixas e altas, se comparadas às brasileiras. * Trabalho apresentado no I Congresso da Associação Latino Americana de População, ALAP, realizado em Caxambú- MG Brasil, de 18-20 de Setembro de 2004. Departamento de Sociologia da Universidade do Texas em Austin. Centro de População da Universidade do Texas em Austin. 1

Influência de programas governamentais na fecundidade dos mais pobres: uma comparação entre Brasil e México * Ernesto F. Amaral Joseph E. Potter 1) Introdução México e Brasil experimentaram um declínio substancial nas taxas de fecundidade durante as últimas três décadas, embora tenham experienciado diferentes trajetórias no que diz respeito ao papel do governo na promoção do planejamento familiar. Desde o final da década de 1970, o governo mexicano tem implementado uma política para reduzir a taxa de crescimento populacional e promover o planejamento familiar em áreas urbanas e rurais. No Brasil, o governo teve um papel muito menos relevante no suprimento de serviços de contracepção, o que aumenta a obtenção desses métodos no setor privado. Recentemente, alguns jornalistas e gestores de políticas públicas no Brasil têm sugerido que a ausência de efetivos programas de planejamento familiar tem gerado o desenvolvimento de grandes diferenciais de fecundidade entre classes sociais menos e mais favorecidas. Nessa pesquisa, os níveis de fecundidade entre os segmentos mais pobres em ambos os países são calculados. Além disso, a influência de programas governamentais nas tendências de fecundidade entre segmentos sociais é estimada com o uso de modelos hierárquicos que incorporam efeitos de município e características individuais. 2) Dados e metodologia Diferenciais de fecundidade no México e Brasil foram analisados nos Estados de Guerrero, Veracruz, Pernambuco e Piauí, por serem áreas desprivilegiadas nesses países. Os dados utilizados foram: Censos Demográficos do México e Brasil de 2000, Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde no Brasil de 1996 (DHS), e Pesquisa Nacional da Dinâmica Demográfica no México de 1997 (ENADID). Primeiramente, os Censos foram utilizados para elaboração de estatísticas descritivas: mulheres com filho nascido vivo no ano anterior; grupo de escolaridade; proporção de domicílios com eletrificação, televisão e refrigerador. * Trabalho apresentado no I Congresso da Associação Latino Americana de População, ALAP, realizado em Caxambú- MG Brasil, de 18-20 de Setembro de 2004. Departamento de Sociologia da Universidade do Texas em Austin. 2

Posteriormente, a informação sobre filho no último ano gerou a variável dependente dicotômica. No nível individual (nível 1), variáveis independentes foram criadas para indicar mulher indígena e católica. A variável de escolaridade foi categorizada em 0-2, 3-6, 7-9, e 10 ou mais anos de estudo. A informação de idade foi usada como variável independente contínua. Os modelos foram gerados separadamente para mulheres de 15-19, 20-29, e 30-49 anos. O total de mulheres foi de 79.899 (Guerrero), 202.187 (Veracruz), 246.769 (Pernambuco), e 101.532 (Piauí). A existência de eletrificação, posse de televisão e refrigerador foram variáveis de domicílio selecionadas. Dados de domicílio geraram bancos por município (nível 2). Guerrero tem 76 municípios, Veracruz 210, Pernambuco 185, e Piauí 221. Uma variável síntese foi criada com análise fatorial, utilizando informações de eletrificação, televisão e refrigerador. Modelos hierárquicos utilizaram distribuição Bernoulli para a variável dependente. Devido à hipótese de que programas de planejamento familiar diminuíram o nível da fecundidade em áreas urbanas e rurais no México, as variáveis de município foram introduzidas como produzindo efeito em coeficientes individuais (intercepto do modelo, idade da mulher, anos de estudo). O modelo pode ser assim especificado: Nível 1 - variáveis individuais: Prob(Y=1 B) = P log[p/(1-p)] = B0 + B1*(idade) + B2*(indígena) + B3*(católica) + B4*(educ0-2) + B5*(educ3-6) + B6*(educ10+) Nível 2 - variáveis municipais: B0 = G00 + G01*(Guerrero) + G02*(Veracruz) + G03*(Pernambuco) + G04*(elect.-tv-refr.) + U0 B1 = G10 + G11*(Guerrero) + G12*(Veracruz) + G13*(Pernambuco) + G14*(elect.-tv-refr.) + U1 B2 = G20 B3 = G30 B4 = G40 + G41*(Guerrero) + G42*(Veracruz) + G43*(Pernambuco) + G44*(elect.-tv-refr.) + U4 B5 = G50 + G51*(Guerrero) + G52*(Veracruz) + G53*(Pernambuco) + G54*(elect.-tv-refr.) + U5 B6 = G60 + G61*(Guerrero) + G62*(Veracruz) + G63*(Pernambuco) + G64*(elect.-tv-refr.) + U6 DHS e ENADID foram utilizadas para complementar estatísticas descritivas, com informações sobre desejo de mais filhos, número ideal de filhos, e lugar do parto do último Centro de População da Universidade do Texas em Austin. 3

filho. Esses números se referem ao Nordeste (DHS), e Guerrero e Veracruz em conjunto (ENADID). 3) Resultados e discussão Estatísticas descritivas dos Censos mostram concentração de mulheres nos grupos com menos escolaridade no Piauí: 25,7% (0-2 anos de estudo), e 35,6% (3-6 anos de estudo). Os percentuais de domicílios com eletrificação, televisão e refrigerador são maiores em Pernambuco: 92,3%, 75,7% e 53,7%, respectivamente. Piauí têm menores taxas de eletrificação (59,7%) e televisão (44,6%). No Piauí, mesmo com baixa escolaridade das mulheres e menor infra-estrtura dos municípios, percentuais de filhos no último ano são menores: 7,8% (entre mulheres de 15 a 19 anos); 13,5% (20 a 29 anos); e 3,3% (30 a 49 anos). Guerrero mostra elevados percentuais: 8,6%, 19,5%, e 7,6%, respectivamente. O padrão em Piauí talvez possa ser explicado pelos altos níveis de esterilização no Estado. Caetano e Potter (2004) analisam o contexto em que mulheres de baixo nível econômico têm acesso a esse método contraceptivo em troca de votos em candidatos a cargos políticos. DHS e ENADID mostram maiores percentuais de esterilização no Brasil para classes mais baixas do que no México. Isso pode ser entendido pelo alto percentual de mulheres de 0 a 2 anos de estudo que realizou parto em casa (42,9%) em Guerrero e Veracruz. Isso serve como impedime nto ao acesso à esterilização pós-parto. No Nordeste, esse percentual foi de 23,4%. No Nordeste, mulheres com menos escolaridade apresentaram menor número ideal de filhos. Para as mulheres com 0-2 e 7-9 anos de estudo, os percentuais que pensam que nenhum filho é ideal são de 12,2% e 2,7% (15 a 19 anos); 13,4% e 8,5% (20 a 29 anos); e 18,6% e 11,9% (30 a 49 anos), respectivamente. Em Guerrero e Veracruz, o padrão é inverso: mulheres com menos escolaridade têm como ideal um maior número de filhos, o que pode explicar os maiores níveis de fecundidade no México. Resultados obtidos com modelos hierárquicos mostram que embora Estados brasileiros tenham menores níveis de fecundidade, diferenciais por grupo de escolaridade são maiores em Pernambuco e Piauí. Esses diferenciais são maiores em Pernambuco nos três grupos de idade selecionados. Também foi realizado um exercício de mudança dos valores da variável síntese do nível 2 em Veracruz. Foi observado que aqueles municípios com melhor infra-estrutura apresentam menores diferenciais entre mulheres por grupos de escolaridade. 4

Esses resultados podem ser analisados com estudo de Bongaarts (2003) de que diferenciais de fecundidade são menores em fases avançadas da transição. A diferença absoluta na fecundidade entre grupos de escolaridade deveria diminuir com o processo de transição. Na presente pesquisa, mesmo com o declínio da fecundidade, o Brasil mantem altos diferenciais por grupos de escolaridade. No México, as maiores taxas de fecundidade deveriam gerar maiores diferenciais entre grupos educacionais. Porém, resultados dos modelos hierárquicos sugerem um padrão oposto nesses países do que aqueles tratados por Bongaarts. No México, mulheres em diferentes faixas de escolaridade têm fecundidade mais próximas entre si, comparadas às brasileiras. Questões para discussão são salientadas com resultados alcançados nessa pesquisa. Os níveis de fecundidade entre mulheres com menor escolaridade não são os mesmos de países africanos, ao contrário do que tem sido defendido por jornalistas brasileiros. Porém, esses resultados são consistentes com a hipótese de que programas de planejamento familiar direcionados a classes mais baixas diminuem os diferenciais entre mexicanas de classes baixas e altas, se comparadas às brasileiras. 4) Lista de referências Alba, Francisco and Joseph E. Potter. 1986. "Population and Development in Mexico since 1940: An Interpretation." Population and Development Review, Vol. 12, No. 1, 47-75. BEMFAM. 1997a. Brasil: Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde 1996. Rio de Janeiro, RJ, Brazil: BEMFAM Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil. BEMFAM. 1997b. Brasil: Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde 1996, Microdados. Rio de Janeiro, RJ, Brazil: BEMFAM Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil. (Available in ASCII format) Bongaarts, John. 2003. "Completing the Fertility Transition in the Developing World: The Role of Educational Differences and Fertility Preferences." Population Studies, Vol. 57, No. 3, 321-336. Caetano, André J. 2000. Sterilization for votes in the Brazilian Northeast: the case of Pernambuco. (Ph.D. dissertation) Austin, Texas: The University of Texas at Austin. Caetano, André J., Joseph E. Potter. 2004. "Politics and Female Sterilization in Northeast Brazil." Population and Development Review, Vol. 30, No. 1, 79-108. Camargo, A. B. M. and L. M. Yazaki. 2002. "A Fecundidade Recente em São Paulo: abaixo do nível da reposição?" In: XIII Conference of Brazilian Association of Population Studies. Ouro Preto, MG, Brazil: ABEP. Carvalho, José A. M. 1997/1998. "Demographic dynamics in Brazil recent trends and perspectives." Brazil Journal of Population Studies, Vol. 1. Brasília, DF, Brazil. IBGE. 2000. Censo Demográfico 2000: Microdados. Rio de Janeiro, RJ, Brazil: IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (Disponível em formato ASCII) INEGI. 2000. XII Censo General de Población y Vivienda 2000. Mexico: INEGI Instituto Nacional de Estadística, Geografía e Informática. (Disponível em formato ASCII) 5

Jannuzzi, Paulo M. 2002. "Considerações sobre o uso, mau uso e abuso dos indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas municipais." Revista Brasileira de Administração Pública, Vol. 36, No. 1, 51-72. Rio de Janeiro, RJ, Brazil. Potter, Joseph E. 1999. "The Persistence of Outmoded Contraceptive Regimes: The Cases of Mexico and Brazil" Population and Development Review, Vol. 25, No. 4, 703-739. Potter, Joseph E., Carl P. Schmertmann and Suzana M. Cavenaghi. 2002. "Fertility and Development: Evidence from Brazil." Demography, Vol. 39, No. 4, 739-761. Raudenbush, Stephen W., Anthony S. Bryk, Yuk F. Cheong and Richard T. Congdon. 2001. HLM5: Hierarchical Linear and Nonlinear Modeling. Lincolnwood, Illinois: Scientific Software International, Inc. Raudenbush, Stephen W., Anthony S. Bryk. 2002. Hierarchical Linear Models: Applications and Data Analysis Methods. 2nd ed. Thousand Oaks, California: Sage Publications, Inc. 6

Tabela 1. Estatísticas Descritivas de Variáveis Individuais e Municipais: Guerrero, Veracruz (Censo General de Población y Vivienda 2000 México), Pernambuco, Piauí (Censo Demográfico 2000 Brasil) Pernamb Guerrero Veracruz Piauí uco VARIÁVEIS INDIVIDUAIS (n) 79.899 202.187 246.769 101.532 Soma dos pesos 722.470 1.779.847 2.142.523 735.391 Filho tido no último ano Média 0,12 0,09 0,07 0,08 Desvio padrão 0,32 0,28 0,26 Filho de mulheres entre 15-19 Média 0,09 0,07 0,07 0,08 Desvio padrão 0,28 0,26 0,26 Filho de mulheres entre 20-29 Média 0,12 0,13 Desvio padrão 0,40 0,36 0,33 0,32 Filho de mulheres entre 30-49 Média 0,08 0,04 0,03 Desvio padrão 0,26 0,22 0,19 0,17 Indígena Média 0,12 0,07 Desvio padrão 0,32 Religião Católica Média 0,90 0,84 0,74 0,90 Desvio padrão 0,31 0,37 0,45 0,28 Idade em anos Média 28,36 29,46 29,39 28,76 Desvio padrão 9,68 9,75 9,99 9,23 Anos de escolaridade Média 7,03 7,20 6,41 5,50 Desvio padrão 4,57 4,48 4,28 3,67 VARIÁVEIS MUNICIPAIS (n) 76 210 185 221 Média de domicílios com eletricidade Média 0,83 0,85 0,92 0,60 Desvio padrão 0,18 0,08 0,21 5º percentil 0,43 0,56 0,74 25º percentil 0,76 0,80 0,91 0,46 Mediana 0,91 0,89 0,95 0,62 75º percentil 0,95 0,94 0,97 0,75 95º percentil 0,98 0,99 0,99 0,92 IQR 0,14 0,06 0,29 Média de domicílios com televisão Média 0,56 0,65 0,76 0,45 Desvio padrão 0,23 0,21 0,11 0,19 5º percentil 0,24 0,57 0,13 25º percentil 0,37 0,53 0,71 0,32 Mediana 0,63 0,70 0,78 0,44 7

75º percentil 0,74 0,83 0,83 0,57 95º percentil 0,87 0,92 0,89 0,77 IQR 0,37 0,12 Média de domicílios com refrigerador Média 0,39 0,54 0,39 Desvio padrão 0,21 0,22 0,17 5º percentil 0,08 0,03 0,33 25º percentil 0,17 0,44 0,27 Mediana 0,42 0,34 0,53 0,39 75º percentil 0,53 0,53 0,61 0,50 95º percentil 0,74 0,74 0,80 0,68 IQR 0,33 0,36 0,17 0,23 Fator "Luz" (eletricidade, televisão, refrigerador) Média -0,13 0,17 0,02-1,41 Desvio padrão 0,98 0,89 0,49 0,89 5º percentil -1,75-1,58-0,84-2,95 25º percentil -0,99-0,38-0,16-1,97 Mediana 0,27 0,33 0,11-1,40 75º percentil 0,63 0,90 0,34-0,79 95º percentil 1,18 1,35 0,61 0,08 IQR 1,62 1,28 0,50 1,18 Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 8

Figura 1 Variáveis Descritivas para Guerrero, Veracruz, Pernambuco e Piauí Censo Demográfico do México e Brasil de 2000 % 25,0 22,5 20,0 17,5 15,0 12,5 10,0 7,5 5,0 8,6 PORCENTAGEM DE MULHERES COM FILHO NASCIDO VIVO NO ÚLTIMO ANO GUERRERO, VERACRUZ, PERNAMBUCO E PIAUÍ, 2000 19,5 7,6 15,0 12,2 7,4 7,5 7,8 4,9 13,5 3,6 3,3 % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 82,6 PORCENTAGEM DE DOMICÍLIOS COM ACESSO A ELETRIC, TELEVISOR E REFRIGERADOR GUERRERO, VERACRUZ, PERNAMBUCO E PIAUÍ, 2000 55,9 39,1 84,7 65,4 35,4 92,3 75,7 53,7 59,7 44,6 38,8 2,5 10 0,0 Guerrero Veracruz Pernambuco Piauí 0 Guerrero Veracruz Pernambuco Piauí 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 49 anos Eletricidade Televisor Refrigerador PORCENTAGEM DE MULHERES POR GRUPO DE GUERRERO, VERACRUZ, PERNAMBUCO, PIAUÍ, 2000 PORCENTAGEM DE MULHERES POR ANOS DE ESCOLAR GUERRERO, VERACRUZ, PERNAMBUCO E PIAUÍ, 2000 50 45 41,8 46,7 46,4 43,8 40 35 33,2 33,8 32,7 35,6 % 40 35 30 25 20 23,4 34,7 19,6 33,7 20,2 33,3 23,0 33,2 % 30 25 20 15 19,2 25,9 26,6 21,7 22,4 17,3 20,3 28,3 25,7 20,6 18,8 18,1 15 10 10 5 5 0 0 Guerrero Veracruz Pernambuco Piauí Guerrero Veracruz Pernambuco Piauí 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 49 anos 0 a 2 anos 3 a 6 anos 7 a 9 anos 10 anos ou mais Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 9

Tabela 2a. Estimação final de efeitos fixos com variável dependente binária (filho nascido vivo nos últimos 12 meses) e variáveis independentes de nível individual e municipal para mulheres entre 15 e 19 anos: Guerrero, Veracruz (México), Pernambuco e Piauí (Brasil), 2000 Variáveis de nível municipal Variáveis de nível individual Intercepto (b0) Intercep to -11,36 *** (0,36) Guerrer o 1,02 (0,53) Veracru z -0,08 (0,45) Pernamb uco 0,44 (0,48) Fator de eletricidade, televisão e refrigerador 0,16 (0,18) Idade (b1) 0,48 *** (0,02) *** 0,03 0,02-0,01 0 a 2 anos de estudo (b4) 1,40 *** (0,09) 0,64 *** (0,13) 0,51 *** (0,11) (0,12) 0,08 (0,04) 3 a 6 anos de estudo (b5) 1,07 *** (0,08) 0,49 *** () 0,38 *** (0,09) 0,18 () 0,02 (0,04) 10+ anos de estudo (b6) -0,53 *** (0,17) 0,70 *** (0,21) 0,79 *** (0,19) 0,16 (0,19) 0,19 *** (0,07) Indígena (b2) 0,09 () Católica (b3) Tabela 2b. Estimação final de efeitos fixos com variável dependente binária (filho nascido vivo nos últimos 12 meses) e variáveis independentes de nível individual e municipal para mulheres entre 20 e 29 anos: Guerrero, Veracruz (México), Pernambuco e Piauí (Brasil), 2000 Variáveis de nível individual Intercepto (b0) Intercep to 0,36 * (0,16) Guerrer o 0,76 ** (0,22) Variáveis de nível municipal Veracru z 0,57 ** (0,19) Pernamb uco 0,99 *** (0,21) Fator de eletricidade, televisão e refrigerador 0,06 (0,07) Idade (b1) 0,07 *** 0,06 *** 0,04 *** 0,04 *** 3 (2) 0 a 2 anos de estudo (b4) 0,47 *** (0,06) 0,19 * (0,08) 0,09 (0,07) 0,13 (0,07) 0,08 ** 3 a 6 anos de estudo (b5) 0,45 *** () 0,18 ** (0,07) 0,14 * (0,06) 0,02 (0,06) 0,09 *** (0,02) 10+ anos de estudo (b6) 0,22 *** (0,07) *** (0,09) 0,13 (0,08) 0,04 (0,08) 0,09 *** 10

Indígena (b2) 0,06 0,01 Católica (b3) (0,02) Tabela 2c. Estimação final de efeitos fixos com variável dependente binária (filho nascido vivo nos últimos 12 meses) e variáveis independentes de nível individual e municipal para mulheres entre 30 e 49 anos: Guerrero, Veracruz (México), Pernambuco e Piauí (Brasil), 2000 Variáveis de nível individual Intercepto (b0) Intercep to 2,16 *** (0,23) Guerrer o 0,62 * (0,28) Variáveis de nível municipal Veracru z 0,69** (0,26) Pernamb uco -0,09 (0,28) Fator de eletricidade, televisão e refrigerador 0,33 *** (0,09) Idade (b1) -0,16 *** 0,02 * 1 0,02 * -0,01 *** (3) 0 a 2 anos de estudo (b4) 0,65 *** (0,11) * (0,14) 0,17 (0,13) 0,17 (0,14) 0,09 * () 3 a 6 anos de estudo (b5) 0,19 (0,11) 0,06 (0,14) 0,07 (0,13) 0,24 (0,14) 0,14 *** () 10+ anos de estudo (b6) 0,38 *** (0,12) 0,60 *** () 0,27 * (0,13) 0,23 (0,14) () Indígena (b2) 0,23 *** () 0,09 *** Católica (b3) * Significante a 95%; ** Significante a 99%; *** Significante a 99,9%. Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 11

Figura 2 Fecundidade Estimada com Modelos Hierárquicos para Mulheres entre 15 e 19 anos Censos Demográficos de 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - GUERRERO-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PERNAMBUCO-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 15 16 17 18 19 15 16 17 18 19 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - VERACRUZ-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PIAUÍ-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 15 16 17 18 19 15 16 17 18 19 Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 12

Figura 3 Fecundidade Estimada com Modelos Hierárquicos para Mulheres entre 20 e 29 anos Censos Demográficos de 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - GUERRERO-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PERNAMBUCO-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - VERACRUZ-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PIAUÍ-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 13

Figura 4 Fecundidade Estimada com Modelos Hierárquicos para Mulheres entre 30 e 49 anos Censos Demográficos de 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - GUERRERO-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PERNAMBUCO-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - VERACRUZ-MÉXICO, 2000 FECUND ESTIMADA POR DAS MULHERES E ANOS DE ESCOLAR - PIAUÍ-BRASIL, 2000 FECUND ESTIMADA FECUND ESTIMADA 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 Fonte: Censo Demográfico do Brasil (IBGE 2000) e Censo General de Población y Vivienda do México (INEGI 2000). 14