CUSTO DE DUAS ALTERNATIVAS DE REDE DE MICRODRENAGEM COM USO DE VÁRIAS CURVAS IDF PARA A CIDADE DE RECIFE/PE

Documentos relacionados
CURVAS IDF VERSUS VAZÃO DE PROJETO DE UM SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

Sistema de Esgotamento Sanitário

Estimativa da Chuva e Vazão de Projeto Introdução

Parâmetros Da Equação De Chuvas Intensas Nos Municípios De Viçosa E Palmeira Dos Índios- AL

Dimensionamento hidráulico de cada trecho de colector. Conhecidos I colector, D, e Q dim : a) calcular Q f e V f. b) determinar a relação Q dim /Q f

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Precipitação: análise de dados pluviométricos. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA VAZÃO MÁXIMA COM BASE NA PRECIPITAÇÃO Material elaborado por Gracely, monitora da disciplina.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental - PPGEAmb

MEMORIAL REFERENTE AO PROJETO AO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO NA PROMOTORIA DO ESTADO - MT EM PRIMAVERA DO LESTE.

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA SUB-BACIA HIDROGRAFICA DO CÓRREGO DO CERRADÃO

XIII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE DETERMINAÇÃO DE EQUAÇÃO DE CHUVAS INTENSAS PARA A CIDADE DE CARUARU POR MEIO DO MÉTODO DE BELL

RELAÇÕES IDF DE CHAPECÓ- SC ATUALIZADAS COM DADOS DE 1976 A 2014 IDF RAINFALL RELATIONSHIP FOR CHAPECÓ- SC FROM 1976 TO 2014

ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DE EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO DIARIA NA CIDADE DE SÃO PAULO

Hidráulica de Canais. Universidade Regional do Cariri URCA

Curvas Intensidade-Duração-Frequência das precipitações extremas para o município de Cuiabá (MT)

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil. ESCOAMENTO SUPERFICIAL 2 Profª. Priscila Pini

Universidade Tecnológica Federal do Paraná. CC54Z - Hidrologia. Medição de vazão e curva-chave. Prof. Fernando Andrade Curitiba, 2014

CAPÍTULO VII PREVISÕES DE ENCHENTES 7.2. PREVISÃO DE ENCHENTES EXECUTADO POR MÉTODOS INDIRETOS.-

Exercício 1: Calcular a declividade média do curso d água principal da bacia abaixo, sendo fornecidos os dados da tabela 1:

Relação Intensidade-Duração-Frequência Da Precipitação Máxima Para Os Municípios De Penedo E Rio Largo

ESTRADAS E AEROPORTOS DRENAGEM DE VIAS. Prof. Vinícius C. Patrizzi

Palavras-chave: Ensino de hidrologia urbana, informatização do ensino, galerias pluviais.

RELAÇÕES INTENSIDADE-DURAÇÃO-FREQÜÊNCIA DE CHUVAS INTENSAS DE URUSSANGA, SC.

Dissipador de energia Tipo IX rampa dentada

AUT Infraestrutura Urbana e Meio Ambiente

Decreto que regulamenta o artigo 115 do Código de Obras de Guarulhos

ESTUDO PLUVIOMÉTRICO E FLUVIOMÉTRICO PRELIMINAR NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO EMBU-GUAÇU, SP.

Microdrenagem urbana

PHD 0313 Instalações e Equipamentos Hidráulicos

COMPARAÇÃO ENTRE CHUVAS INTENSAS OBTIDAS A PARTIR DE IDF S E PELA METODOLOGIA DA RELAÇÃO ENTRE DURAÇÕES

DIRETRIZES PARA PROJETO

BACIA HIDROGRÁFICA. Nomenclatura. Divisor de água da bacia. Talweg (talvegue) Lugar geométrico dos pontos de mínimas cotas das seções transversais

Quantificação de grandezas Ambientais

Capítulo 4. Precipitação

MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS EM GUARULHOS 1. O Manejo de Águas Pluviais compreende: quantidade, qualidade e ecossistema aquático.

DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE MANNING EM CANAL EXPERIMENTAL

TH 030- Sistemas Prediais Hidráulico Sanitários

RECOMENDAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE DRENAGEM URBANA

Estruturas hidráulicas

ÁGUAS PLUVIAIS E DRENAGEM URBANA INFLUÊNCIA DE RESERVATÓRIOS DE DETENÇÃO NO CONTROLE DE VAZÃO 1

detenção estendido (enchentes + melhoria da qualidade das águas pluviais)

PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE DIMENSIONAMENTO DA MICRODRENAGEM DO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ

ÁGUAS PLUVIAIS. d) a estabilidade da vazão de esgotos, que é muito mais crítica, no sistema separador absoluto é maior.

Hidráulica e Hidrologia

COMPARAÇÃO DE DUAS METODOLOGIAS PARA DETERMINAÇÃO DO VOLUME DE DETENÇÃO EM PEQUENAS BACIAS URBANAS O CASO DE PORTO ALEGRE/RS BRASIL.

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

HIDROLOGIA AULAS 04 E 05

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA HIDRÁULICA DE GALERIAS DE DRENAGEM PLUVIAIS COM SEÇÕES RETANGULARES E CIRCULARES

PLANO DE ENSINO. Semestre letivo

ESCOAMENTO SUPERFICIAL Segmento do ciclo hidrológico que estuda o deslocamento das águas sobre a superfície do solo.

EQUAÇÃO DE CHUVAS INTENSAS PARA O MUNICÍPIO DE JAÚ-ESTADO DE SÃO PAULO - BRASIL: PROPOSTA DE UMA EQUAÇÃO GERAL E ANÁLISE DO SEU DESEMPENHO.

ESTUDO DAS PRECIPITAÇÕES PARA DIFERENTES PERÍODOS DE RETORNO NO MUNICIPIO DE SÃO JOÃO DO JAGUARIBE/CE

Grelhas: Calhas de piso: Fácil instalação: Grelhas com simples encaixe.

3.8 - Diretrizes para Concepção da Rede Coletora de Esgoto

Instalações Hidráulicas/Sanitárias Água Pluvial

Endereço (1) : Rua Cobre, Cruzeiro - Belo Horizonte - MG - CEP: Brasil - Tel: (31)

ANÁLISE ESTATÍSTICA E TENDÊNCIA DAS PRECIPITAÇÕES NO MUNICÍPIO DE CARUARU - PE

DIMENSIONAMENTO DE UMA REDE COLETORA DE ESGOTO PLUVIAL NA CIDADE SANTA MARIA - RS 1

Bacias Hidrográficas. Universidade de São Paulo PHA3307 Hidrologia Aplicada. Escola Politécnica. Aula 3

Saneamento Ambiental I. Aula 07 Redes de Distribuição de Água Parte II

Drenagem de vias terrestre Notas de aulas

Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica. Prof. D.Sc Enoque Pereira da Silva

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO NO JUAZEIRO DO NORTE

Hidrologia - Lista de exercícios 2008

9 - Escoamento Superficial

DRENAGEM AULA 04 DRENAGEM SUPERFICIAL

Unidade: Instalações prediais de coleta e condução de águas. Unidade I: pluviais

ESTUDO DA PRECIPITAÇÃO MÁXIMA DIÁRIA PARA BLUMENAU-SC E O EVENTO DE NOVEMBRO DE 2008

Reservatórios de Distribuição de Água

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO EM DIFERENTES INTERVALOS DE CLASSES PARA ITUPORANGA SC

REGIONALIZAÇÃO DE CHUVAS INTENSAS EM ALAGOAS

CC54Z - Hidrologia. Definições, aspectos gerais e o ciclo hidrológico. Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Uso do radar meteorológico na definição de parâmetros de distribuição temporal e espacial de chuvas intensas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO DECIV DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

II ESTUDO DE ALTERNATIVAS DE TRAÇADO DA REDE COLETORA DE ESGOTO SANITÁRIO E AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA NA REDUÇÃO DOS CUSTOS DE CONSTRUÇÃO

ESTUDO HIDROLÓGICO DE FRAGMENTO DA BACIA DO RIO GUAXUPÉ. Eixo temático: Gerenciamento de Recursos Hídricos e Energéticos

Capítulo 136 Dimensionamento de reservatório para enchente com pré e pós desenvolvimento

ESCOAMENTOS UNIFORMES EM CANAIS

UTILIZAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM TERMINAL RODOVIÁRIO DE POMBAL - PB

As barragens de terra apresentam muitas finalidades:

Instalações Hidráulicas Prediais

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL CPRM DIRETORIA DE HIDROLOGIA E GESTÃO TERRITORIAL DHT

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO PROGRAMA GERAL DE DISCIPLINA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS AULA 13 CONDUTOS LIVRES OU CANAIS

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

PERÍODO DE RETORNO DAS PRECIPITAÇÕES MÁXIMAS PARA ALGUMAS CIDADES DO RIO GRANDE DO NORTE

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E ARQUITECTURA SECÇÃO DE HIDRÁULICA E DOS RECURSOS HÍDRICOS E AMBIENTAIS

ESTADO DE MATO GROSSO SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP DEPARTAMENTO DE

AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA SOB DIFERENTES VAZÕES E COMPRIMENTO DE MICROTUBOS

Análise de Chuvas Intensas na Bacia Hidrográfica do Rio Piranhas a partir de dados Pluviométricos

7 Drenagem Urbana Ciclo Hidrológico. Nuvem de chuva (vapor condensado) Formação de nuvem (vapor) Evaporação e transpiração de plantas e árvores

URBANIZAÇÃO E DRENAGEM URNANA EM PORTO ALEGRE. Joel Avruch Goldenfum - IPH/UFRGS

CAIXA SEPARADORA ÁGUA/ÓLEO DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO Memória de Cálculo

Unidade de Captação. João Karlos Locastro contato:

Serviço Geológico do Brasil CPRM

CONCESSÃO DE OUTORGA DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES, MEDIANTE A APLICAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO DE STREETER-PHELPS

Capítulo 1 INTRODUÇÃO

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA HIDROGRAFIA

I PRESENÇA DE AR EM CONDUTO FORÇADO OPERANDO POR GRAVIDADE: ESTUDO DE CASO

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NA REGIÃO DO SUB-MÉDIO SÃO FRANCISCO EM EVENTOS CLIMÁTICOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

Transcrição:

CUSTO DE DUAS ALTERNATIVAS DE REDE DE MICRODRENAGEM COM USO DE VÁRIAS CURVAS IDF PARA A CIDADE DE RECIFE/PE Julio Cezar Batista de Souza 1 1 * & José Roberto Gonçalves de Azevedo 2 Resumo Em projetos de obras hidráulicas, tais como vertedores de barragem, redes de drenagem urbana, dimensionamento de canais, bueiros rodoviários e pontes, é de fundamental importância a determinação das equações de chuvas intensas para a definição da chuva de projeto. Este trabalho visa verificar o custo orçamentário de duas alternativas de redes de microdrenagem urbana com o uso das curvas IDF geradas a partir das novas equações de chuvas intensas para a cidade de Recife/PE, conforme o maior coeficiente de determinação R² para o tempo de retorno conhecido. Para isto, foi calculado um conjunto de novas equações de chuvas intensas para a cidade de Recife, cada uma levando em conta o melhor coeficiente c para diversos tempos de retorno especificados. Conclui-se que apenas uma equação de chuvas intensas pode ser aplicada para qualquer empreendimento, não importando o tempo de retorno escolhido, entretanto a melhor equação que se adequa, é aquela com base no coeficiente de determinação R² médio de todos os coeficientes dos tempos de retorno selecionados. Palavras-Chave drenagem urbana, chuvas intensas, Recife. COST OF TWO ALTERNATIVE MICRODRAINAGE NETWORK WITH MULTIPLE CURVES IDF USE FOR THE CITY OF RECIFE / PE Abstract In hydraulic building s projects such as spillways, urban drainage networks, design of channels, road culverts and bridges, determining the heavy rainfall equations is fundamental to the definition of the project rain. This work aims to verify the budgetary cost of two alternative urban microdrainage networks with the use of IDF curves generated from the new equations of rainfall intensity to the city of Recife / PE, according to the highest coefficient of determination R² for the return time known. Thereby, a set of new equations of rainfall intensity to the city of Recife was calculated, each one taking into account the best "c" coefficient for different return times. It was concluded that only one of the equations of intense rainfall could be applied to any business for any turnaround time. However, the best fit is the equation based on the average coefficient of determination R² for all turnaround times selected. Keywords urban drainage, rainfall intensity, Recife. 1 Analista de Recursos Hídricos da Agência Pernambucana de Águas e Clima. Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco. E-mail: julio.batista@apac.pe.gov.br. 2 Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil da UFPE. E-mail: robdosport@hotmail.com XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

1. INTRODUÇÃO A determinação das Equações de Chuvas Intensas tem grande importância em projetos de obras hidráulicas, tais como sistemas de drenagem urbana, vertedores de barragens, dimensionamentos hidráulicos de pontes e bueiros rodoviários, para estimar vazões de projeto e auxiliar na tomada de decisão de grandes empreendimentos. Como no Brasil não se dispõe de uma rede pluviométrica representativa para definição das chuvas de projeto, em drenagem urbana, estimam-se as vazões com base nas séries históricas dos dados de chuvas de apenas poucas estações disponíveis. Em vários estudos sobre a temática, verificou-se que as equações de chuvas intensas da cidade de Recife eram da década de 70, tornando, por certas vezes, as obras hidráulicas mal dimensionadas. Zuffo (2004) afirma que as equações de chuvas intensas precisam ser revisadas a cada 10, para evitar subdimensionamentos em sistemas hidráulicos, principalmente na macrodrenagem da rede urbana. Para determinação das curvas intensidade, duração e frequência proposta por Chow (1964), é preciso conhecer seus parâmetros a, b, c e d, que são estabelecidos em relação a sua localidade; entretanto o parâmetro c da equação genérica influencia diretamente na formulação das curvas IDF. Verificou-se, então, que para estimar as vazões de projetos em sistemas de drenagem urbana, para tempos de retorno conhecidos, arbitrando o parâmetro c, de acordo com o maior coeficiente de determinação R², mudava a configuração das curvas e, consequentemente, as vazões de projeto. Diante disto, este trabalho visa verificar o custo orçamentário de duas alternativas de redes de microdrenagem urbana com o uso das curvas IDF geradas a partir das novas equações de chuvas intensas para a cidade de Recife/PE, conforme o maior coeficiente de determinação R² para o tempo de retorno conhecido. Para isto, foi calculado um conjunto de novas equações de chuvas intensas para a cidade de Recife, cada uma levando em conta o melhor coeficiente c para diversos tempos de retorno especificados. 2. METODOLOGIA Foram utilizados os dados obtidos por Ramos (2010). As durações propostas no presente trabalho foram de 5, 10, 15, 30, 60, 120, 240, 360, 720, 1080 e 1440 minutos. Os valores mínimos adotados para chuvas intensas foram considerados de acordo com o tradicionalmente proposto. Após a obtenção da série anual de chuvas intensas pra cada duração foi feito o ajuste de distribuição de probabilidades aos valores escolhidos. A análise estatística escolhida neste trabalho foi a Distribuição de Gumbel. De acordo com Naguettini e Pinto (2007) é o método de valores extremos mais utilizado na análise de frequência de chuvas intensas, justificando, por isso, a sua opção. De posse das equações de ajuste de distribuição foram calculadas as intensidades máximas de precipitação para os respectivos períodos de retorno. Para avaliação da consistência dos dados calculados na Distribuição de Gumbel, foi utilizado o teste de aderência de Kolmogov-Smirnov, para o nível de significância de 10%. Tal teste consiste em rejeitar a hipótese de adequação do ajuste, se a diferença máxima entre os valores calculados e observados for superior ao crítico tabelado, para o nível de significância correspondente. Após a avaliação do ajuste da Distribuição de Gumbel aos dados observados pelo teste de aderência Kolmogov-Smirnov, pode-se determinar a equação de chuvas intensas para a série de XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

dados de chuva selecionada, expressa pela Equação Geral de Chuvas Intensas, proposta por Chow (1964). Para o início da determinação da equação, foram traçadas as curvas intensidade, duração e frequência, a partir dos valores calculados pelo Método de Gumbel, procedendo-se a linearização destas curvas IDF. Os parâmetros a, b, c e d foram determinados pela mesma metodologia utilizada por Ramos (2010). A única exceção foi na determinação do c que ao invés de se utilizar um único tempo de retorno, foram utilizados todos e mais o maior valor da média dos coeficientes R² de todos os tempos de retorno. Com isto, ao invés de uma única equação foram obtidas nove equações mostradas na Tabela 1. Tabela 1 Parâmetros determinados para a família de Equações de Chuvas Intensas para todos os períodos de retorno especificados e R² Médio Parâmetros da Equação Melhor "c" T = 2 T = 5 T = 10 T = 15 T = 20 T = 25 T = 50 T = 100 R² Médio a 1064,24 1423,92 1701,34 1852,69 2013,09 2096,84 2271,77 2553,70 1775,91 b 0,1162 0,1124 0,1101 0,1089 0,1079 0,1073 0,1063 0,1047 0,1095 c 15 21 25 27 29 30 32 35 26 d 0,7295 0,7721 0,7979 0,8101 0,8220 0,8279 0,8393 0,8559 0,8040 R² 0,999302 0,999496 0,999585 0,999620 0,999640 0,999651 0,999675 0,999681 0,999166 3. ESTUDO DE CASO Determinadas a família de equações de chuvas intensas, já devidamente expostas no item anterior, um projeto de dimensionamento de duas redes de drenagem fictícias foi criado para verificar o comportamento das equações de chuvas estabelecidas para a cidade de Recife. O presente projeto está localizado no Bairro Vermelho (projeto fictício), no município de Recife, considerando este um bairro residencial, com predominância de casas com quintais e jardins, conforme observado no croqui de cada sistema da região (Figura 1). Considerando imprecisão nos traçados dos croquis da rede de drenagem, foram adotadas algumas simplificações ao dimensionamento. Primeiramente, as quadras Q11, Q21, Q31, Q41, Q22, Q23, Q14 e Q24 foram consideradas com as mesmas dimensões de 250m 200m. As quadras Q32 e Q33 possuem formato triangular, com os catetos medindo as mesmas dimensões das quadras citadas. Já para a quadra Q12, suas dimensões foram de 250m 500m, além da quadra Q13, que tem 600m 200m. De forma a continuar com as simplificações adotadas para melhor desenvolver o trabalho ora em tela, desconsideradas as áreas das ruas na bacia de contribuição, uma vez que, as vias teriam 100m de largura, inexistindo pistas nestas dimensões. Para a determinação da vazão de projeto, adotou-se o Método Racional, por se tratar de uma área inferior a 2,0 km² (PORTO, 1995). Vale salientar que, para efeito de dimensionamento de sistemas de drenagem urbana, a duração da chuva é igual ao tempo de concentração da bacia. A intensidade de precipitação da área em estudo é obtida através das equações de chuvas intensas desenvolvidas neste trabalho. Como preleciona Bidone e Tucci (1995), o tempo de concentração em bacias urbanas é determinado pela soma dos tempos de concentração dos diferentes trechos, e o tempo inicial nos XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

trechos de cabeceira de rede, que muitas vezes é adotado como sendo de dez minutos. Logo, este foi o tempo adotado para o estudo. Em sistemas de drenagem urbana, o tempo de retorno adotado varia entre 2 e 10 (CETESB, 1986; BIDONE E TUCCI, 1995; AZEVEDO NETTO et. al., 1998). No presente estudo, os sistemas foram dimensionados para um tempo de retorno de 2. O bairro é composto por casas com jardins e quintais, podendo parte da área ser destinada a atividades comerciais, correspondendo a local de edificação com muitas superfícies livres, ou seja, partes residenciais com ruas pavimentadas, mas com muitas áreas verdes (PORTO, 1995), o que origina um coeficiente médio de escoamento superficial (C) que pode variar de 0,25 a 0,50. Diante disto, adotou-se o valor intermediário de 0,38 para a região em estudo. A capacidade hidráulica da sarjeta foi verificada nas ruas do bairro em análise. Para tanto, lançou-se mão da fórmula de Manning, com a definição de alguns parâmetros: altura de guia de 15 cm, enchimento máximo de 13 cm, declividade transversal de 3% e com um coeficiente de Manning de 0,016 (concreto rústico), ficando dependente apenas a declividade longitudinal da via (AZEVEDO NETTO et. al., 1998). Há necessidade de inserção de bocas-de-lobo quando a vazão gerada pelas bacias de contribuição superar a capacidade hidráulica da sarjeta. Ao considerar que esta última não comporta o deflúvio superficial, procedeu-se à locação daquelas e, consequentemente, ao dimensionamento das galerias. Figura 1 Croquis do sistema de drenagem do Bairro Vermelho Modelo 01 O croqui do bairro e todo o traçado das redes de drenagem estão expostos nas Figuras 1 e 2. Foram criados dois sistemas (Modelo 01 e Modelo 02) para melhor avaliação do comportamento das equações de Chuvas Intensas, assim como possibilitar a análise dos custos. Os percursos foram estabelecidos, de acordo com as curvas de nível, com a locação das bocas-de-lobo e as bacias de contribuição bem delimitadas. O cumprimento de cada trecho foi obtido em planta. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Adotou-se 10 min como o tempo de concentração inicial, segundo orientação previamente repassada nas folhas deste trabalho. Quando há a junção de dois trechos em um único a jusante, o tempo de concentração desse trecho de jusante foi calculado pelo maior tempo de concentração dos trechos a montante. As cotas de montante e jusante do terreno de cada trecho foram obtidas em planta, arbitradas para melhor desenvolvimento do estudo. As declividades foram calculadas com base no comprimento, medido em planta, e nas cotas arbitradas. O recobrimento mínimo da rede foi considerado de 1,0 m. Figura 2 Croquis do sistema de drenagem do Bairro Vermelho Modelo 02 O diâmetro de cada trecho de galeria foi calculado através da equação de Manning, que, aliado à equação da continuidade. O diâmetro mínimo adotado para cada trecho foi de 0,40m e o coeficiente de Manning para tubos de concreto, 0,013. Foi realizado o cálculo da velocidade na tubulação, tendo como referência para velocidade máxima admissível 5,0 m/s e a mínima admissível de 0,60 m/s (BIDONE E TUCCI, 1995), condições satisfeitas no dimensionamento. Para condução final das águas pluviais coletadas nos sistemas dimensionados até o Riacho Azul, sugere-se a construção de um canal, que não foi dimensionado por não se ter informações necessárias, mas, sobretudo, por não se configurar como foco desta pesquisa. Os cálculos para o dimensionamento das galerias foram realizados, bem como planilhas orçamentárias elaboradas com suas respectivas memórias de cálculo, para avaliar a melhor opção econômica diante das equações de chuvas, de acordo com o traçado da rede de drenagem para o tempo de retorno de 2. Adotou-se a tabela de preços do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco DER/PE, de abril de 2013, desconsiderando as distâncias de transporte, para a efetivação do custo total da obra, cujos resultados estão apresentados. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

4. RESULTADOS Como se pode perceber nas planilhas do Sistema de Drenagem Urbana Modelo 01, não houve grandes mudanças quanto ao uso das Equações de Chuvas Intensas no dimensionamento hidráulico da rede de drenagem urbana. Salvo, todavia, nos trechos em que há as maiores bacias de contribuição, tendo como consequência um maior tempo de concentração aliado a grandes descargas hidráulicas. Estes trechos foram localizados nos PV15-PV15A ao PV16A-PV19, além dos PV43-PV44 e PV44-Canal (final dos trechos desaguando no canal), ao observar mudanças nos diâmetros dos tubos de no máximo 27 mm, o que refletiu diretamente na planilha de custos e, em consequência, no dimensionamento do sistema (SOUZA, 2014). Com o desiderato de avaliar a viabilidade econômico-financeira do uso das Equações de Chuvas Intensas, a planilha orçamentária foi elaborada. Assim, observou-se que as equações com o tempo de retorno de 25, 50 e 100 afiguraram-se como as mais caras, mostrando claramente que estas equações superdimensionam o sistema. As equações com o período de retorno de 10, 15 e a equação com a média dos coeficientes de determinação R², a seu turno, apresentaram o melhor resultado, em torno de R$ 150.551,19 mais baratas em relação as equações que superdimensionaram a rede de drenagem. Tabela 2 Comparação dos custos total da obra do Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 01 Planilha Orçamentária Custo Total Diferença da equação com maior custo total (R$) T = 2 R$ 2.602.888,04 R$ 134.990,85 T = 5 R$ 2.602.888,04 R$ 134.990,85 T = 10 R$ 2.587.327,70 R$ 150.551,19 T = 15 R$ 2.587.327,70 R$ 150.551,19 T = R² Médio R$ 2.587.327,70 R$ 150.551,19 T = 20 R$ 2.701.885,19 R$ 35.993,70 T = 25 R$ 2.701.885,19 R$ 35.993,70 T = 50 R$ 2.737.878,89 R$ 0,00 T = 100 R$ 2.737.878,89 R$ 0,00 Do cotejo das planilhas do Sistema de Drenagem Urbana Modelo 02, perceberam-se efeitos semelhantes em relação ao uso das equações de Chuvas Intensas, que assim como o Modelo 01, não apresentou mudanças significativas. Nos trechos onde há maiores áreas de contribuição, maior tempo de percurso do escoamento, influenciando em altas descargas hidráulicas, houve mudanças nos diâmetros dos tubos de no máximo 43 mm, nos trechos PV19-PV20 a PV21-PV26, PV26-PV27 a PV29-Canal e PV55-Canal, influindo no sub ou superdimensionamento do sistema (SOUZA, 2014). O orçamento do sistema também foi elaborado com vistas a fazer uma avaliação econômica quanto ao uso das equações de chuvas. O valor total do sistema é de R$ 2.364.846,95 para os tempos de retorno de 5, 10, 15, 20, 25, 50 e a equação com a média dos coeficientes de determinação R² foi R$ 35.993,70 mais econômico do que a equação com o tempo de retorno de 100. Isto implica que qualquer equação de chuvas intensas poderia ser utilizada para o dimensionamento deste sistema de drenagem urbana, visto que não existe diferença significativa no custo total da obra, tampouco nos diâmetros dos tubos, conforme Tabela 3. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

Tabela 3 Comparação dos custos total da obra do Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 02 Planilha Orçamentária Custo Total Diferença da equação com maior custo total (R$) T = 2 R$ 2.365.731,91 R$ 35.108,74 T = 5 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 10 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 15 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = R² Médio R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 20 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 25 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 50 R$ 2.364.846,95 R$ 35.993,70 T = 100 R$ 2.400.840,65 R$ 0,00 5. CONCLUSÕES A maioria das pesquisas relativa aos estudos de chuvas intensas, demonstra-se aumento na frequência e magnitude das precipitações durante o século passado, em decorrência do aumento da poluição do planeta. O regime de escoamento das águas pluviais seguirá esta mesma tendência, intensificando as vazões de pico, fato este verificado em constantes inundações na cidade de Recife, local escolhido neste estudo. Verificou-se que, no Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 01, houve pequenas mudanças no comportamento das equações nos finais de trecho da rede, tendo como características grandes bacias de contribuição, maior tempo de concentração aliados a grandes descargas hidráulicas, o que refletiu no tamanho dos diâmetros dos tubos em no máximo de 27mm, onerando em R$ 150.551,19 (cento e cinquenta mil, quinhentos e cinquenta e um reais e dezenove centavos) o custo total da obra. Os melhores dimensionamentos hidráulicos foram com as equações de 10, 15 e a da média dos coeficientes de determinação R², representando uma economia no custo total do sistema. Já para o Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 02, perceberam-se as mesmas modificações no comportamento das equações nos finais de trecho, entretanto na planilha de custos do empreendimento não houve grandes mudanças, posto que demonstrou diferença de apenas R$ 35.993,70 (trinta e cinco mil, novecentos e noventa e três reais e setenta centavos). Acrescenta-se, ainda, que a escolha do melhor traçado da rede de drenagem urbana é determinante para o custo total da obra, pois, como pode ser verificado nas planilhas orçamentárias, o Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 02 é bem mais econômico em relação ao Sistema de Drenagem Urbana do Bairro Vermelho Modelo 01. Diante do narrado, conclui-se que a equação do R² Médio de todos os tempos de retorno especificados, pode ser utilizada em empreendimentos para pequenas bacias urbanas. Finalmente, para que uma única equação de chuvas intensas possa ser aplicada para qualquer obra de engenharia, não importando, portanto, o quanto tenha que ser o tempo de retorno utilizado, sugere-se que a escolha do parâmetro c seja feita com base no coeficiente de determinação R² médio de todos os coeficientes dos tempos de retorno selecionados. Recomenda-se fazer o mesmo estudo para um sistema de drenagem completo e real, o qual irá conter não apenas as microdrenagens aqui estudadas, mas também as macrodrenagens necessárias. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

As obras que exigem tempos de retorno maiores dos que os aqui utilizados, como por exemplo, dimensionamento de barragens e outros grandes empreendimentos, deveriam também serem testadas. REFERÊNCIAS AZEVEDO NETTO, J. M., FERNANDEZ Y FERNANDEZ, M., ARAUJO, R. de, ITO, A. E. Sistemas Urb de Hidráulica Aplicada. In: Manual de Hidráulica. 8ª Edição. São Paulo: Ed. Edgard Blücher, 1998. BIDONE, F. e TUCCI, C. E. M. Microdrenagem. In: Tucci, C. E. M., Porto R. L, Barros, M. T. (Org.). Drenagem Urbana. Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1995. CETESB COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (1986) Drenagem Urbana: manual de projeto. 3ª Edição. São Paulo, 464p. CHOW, V. T. (1964). Handbook of Applied Hydrology. McGraw-Hill Book Company. New York, USA, 1418p. NAGHETTINI, M.; PINTO, E. J. A. (2007). Hidrologia estatística. Belo Horizonte: CPRM, 552 p. PORTO, R. (1995). Escoamento Superficial Direto. In: Tucci, C. E. M., Porto R. L, Barros, M. T. (Org.). Drenagem Urbana. Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, v.5. RAMOS, A. M. (2010). Influência das mudanças climáticas devido ao efeito estufa na drenagem urbana de uma grande cidade. Tese (Doutorado) Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE. SOUZA, J. C. B. (2014). A Influência do método de escolha do parâmetro C na determinação de equações de chuvas intensas. Recife. Dissertação (Mestrado) Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE. ZUFFO, A. C. (2004). Equações de chuvas são eternas? In: XXI CONGRESSO LATINOAMERICANO DE HIDRÁULICA, São Pedro-SP, Brasil. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8