Página1 AÇÃO EMERGENCIAL PARA A SETORIZAÇÃO DE ÁREAS COM INDÍCIOS OU POTENCIAIS PARA ALTO OU MUITO ALTO RISCO A DESLIZAMENTOS E INUNDAÇÕES EM TIMBÓ E JARAGUÁ DO SUL (SC) Deyna PINHO 1, Bruno ELLDORF 1. 1 Serviço Geológico do Brasil - CPRM, deyna.pinho@cprm.gov.br, 1 Serviço Geológico do Brasil CPRM, bruno.elldorf@cprm.gov.br Resumo Diante da situação e da necessidade de um maior conhecimento e quantificação das áreas de risco no país, o Governo Federal em uma iniciativa única iniciou um trabalho preventivo em consonância com diversos ministérios, em parceria com o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD) e com a criação do Centro Nacional de Alerta a Desastres Naturais (CEMADEN), cabendo ao Serviço Geológico do Brasil levantar e fornecer a base de dados de áreas de alto e muito alto risco para ser usado no sistema nacional de alertas. Para atender esta demanda foi adotada uma metodologia expedita de setorização de áreas de alto e muito alto risco a deslizamentos e inundações das regiões densamente povoadas do território nacional. Como resultado este trabalho apresenta o número de setores de alto e muito alto risco em Timbó (SC) e Jaraguá do Sul (SC), assim como, a tipologia dos processos que predominam em cada município. Palavras Chave: Risco Geológico, Setorização, CENAD, CEMADEN, CPRM, Defesa Civil, SIG. Abstract Given the situation and the need for a better understanding and quantification of risk areas in the country, the Federal Government in a unique initiative started preventive work in line with various ministries in partnership with the National Center for Risk Management and Disaster (CENAD ) and the creation of the national Center for Natural Disaster Alert (CEMADEN), being the Geological Survey of Brazil to raise and provide the basis of data from areas of high and very high risk to be used in the national system of alerts. To meet this demand was swiftly adopted a methodology of sectors in areas of high and very high risk of landslides and floods in densely populated regions of the country. As a result of this work presents the number of sectors of high and very high risk in Timbo (SC) and Jaragua do Sul (SC), as well as the types of processes that predominate in each municipality. Key Words: Geological Hazard, Sectorization, CENAD, CEMADEN, CPRM, Civil Defense, SIG. 1. Introdução O crescimento acelerado das cidades brasileiras, aliado a ocupação desordenada e sem planejamento e fiscalização adequadas sobre áreas suscetíveis à deslizamentos e inundações tem sido o principal responsável pela elevação dos eventos naturais para
Página2 desastres naturais, com consequências catastróficas, sobre a nova população ocupante das encostas e planícies de inundação. Historicamente com referência aos cinco últimos anos podemos citar as grandes inundações ocorridas em Alagoas e Pernambuco em 2010, os deslizamentos e inundações ocorridos em Santa Catarina em 2008 e 2011, os deslizamentos ocorridos no Paraná entre 2010 e 2011, as chuvas que atingiram o Rio de Janeiro no verão de 2011 e 2012, bem como em Minas Gerais e Espirito Santo no mesmo período deste ano, além da grande inundação ocorrida no Acre em fevereiro de 2012. Procurando então reduzir os impactos destes fenômenos naturais, o Governo Federal em uma ação coordenada pela Casa Civil da Presidência da República, envolvendo o Ministério da Integração Nacional, Ministério das Cidades, Ministério de Ciência e Tecnologia, Ministério da Defesa e o Ministério de Minas e Energia firmaram convênios de colaboração mútua para executar em todo o país o diagnóstico e setorização das áreas com potencial de risco alto a muito alto para o programa nacional de prevenção de desastres naturais, ficando a cargo do Serviço Geológico do Brasil durante os próximos quatro anos desenvolver a metodologia e obter os dados necessários para subsidiar o trabalho do recém-criado Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN). Desta forma o Serviço Geológico do Brasil, realizou entre novembro de 2011 e Dezembro de 2011 uma ação emergencial para a setorização de áreas com alto e muito alto risco a deslizamentos e inundações, em diversos municípios brasileiros, dentre eles, Jaraguá do Sul e Timbó no Estado de Santa Catarina. Com base nestes mapas de setores o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres - CENAD, o Centro de Monitoramento e Alerta a Desastres Naturais - CEMADEN e as Defesas Civis Estaduais e Municipais terão base para as emissões de alertas de evacuação e tomadas de decisões em momentos de emergência, salvando vidas. 2. Localização e Contextualização na Geodiversidade As cidades de Jaraguá do sul e timbó estão localizadas na região nordeste do estado de Santa Catarina, a primeira a 148 km e a segunda a 172 km de Florianópolis (Figura 1). As cidades são bem próximas entre si cerca de 50 km, e pertencem a mesma região hidrográfica do atlântico sul. Sendo o Itapocu e seus afluentes Jaraguá e Itapocuzinho os principais rios que permeiam o centro da zona urbana de Jaraguá do sul, pertencente a bacia do itajaí-açu, assim como, o rio Benedito que permeia a zona urbana de Timbó pertencente a mesma bacia.
Figura 1 - Localização de Jaraguá do Sul e Timbó no Estado de Santa Catarina e Território nacional. Ambas as cidades estão localizadas sobre a planície de inundação de seus respectivos rios, entretanto, o vale em que se encontra a cidade de Jaraguá do sul, é muito mais estreito e elevado que timbó, chegando a alturas de 824 m, 816 m, e 926 m, no morro da boa vista, com a zona urbana localizada a 30 m em relação ao nível médio do mar, além disso, Jaraguá conta com uma ocupação muito maior cerca de 143.206 habitantes (IBGE, 2010). Enquanto que Timbó está localizada sobre uma planície de inundação mais larga com 70 m de altitude média em relação ao nível médio do mar, com morros menos elevados com 580 m e 758 m, respectivamente, morro arapongas e morro azul, e com uma ocupação mais reduzida, cerca de 36.817 habitantes (IBGE, 2010). De acordo com o mapa da geodiversidade de santa Catarina (Silva, 2010), o substrato da cidade de Jaraguá do sul, é um pouco mais diversificado que em relação ao município de timbó, predominando os gnaisses ortoderivados e granulíticos, entretanto, ambas as cidades estão localizadas sobre rochas e relevo com altíssimo potencial de movimentos de massa, deslizamentos e inundações (Figura 2). Página3
Página4 Figura 2 - Mapa da Geodiversidade de Timbó e Jaraguá do Sul, sobre a visão da suscetibilidade à movimentos de massa e inundações, adaptado de Silva (2010). 3. Histórico de Eventos e Desastres Os eventos de deslizamentos, desmoronamentos e enchentes são comuns pela por toda a região do vale do Itajaí e entre os municípios de Jaraguá do sul e timbó, devido principalmente as características naturais do solo, rochas e relevo que predomina na região, além da ocorrência dos eventos climáticos extremos. Entretanto, com o crescimento populacional e a ocupação não planejada de determinadas áreas, agravam a situação aumentando a ocorrência de desastres naturais desde 1985. No último trimestre de 2008, ocorreram desastres naturais em toda a extensão do vale do Itajaí, atingindo 60 municípios, afetando 1,5 milhões de pessoas (Silva, 2011). Em Jaraguá do sul, ocorreram desastres naturais de maiores proporções que se tem registro em 1985, 2008 e 2011. entre novembro e dezembro de 2008, foi registrado pela defesa civil, 13 vitimas fatais, 147 feridos e 40 famílias desalojadas devido a sucessivos deslizamentos, corridas de massa e inundações decorrentes da elevada e contínua precipitação. Em janeiro de 2011, a catástrofe foi de menor proporção, mas também trouxe severos danos a população e ao município. Em Timbó, a zona urbana sofreu mais os efeitos das inundações ocorridas das elevadas precipitações do final de 2008, ficando quase que toda a zona urbana debaixo d'água, houve também associadamente a ocorrência de corridas e deslizamentos e pontos
Página5 mais periféricos e aglomerados rurais do município. A mesma situação se repetiu em janeiro de 2011, mas em menores proporções. 4. Materiais e Métodos A nova metodologia consiste numa setorização expedita, voltada para a identificação apenas de áreas de alto e muito alto risco, com base na suscetibilidade, perigo, vulnerabilidade e grau de exposição de pessoas e moradias, aos processos de movimentos de massa e inundações. O trabalho é dividido em três etapas, uma constituída do planejamento e levantamento das bases bibliográficas e cartográficas do município alvo, a segunda constituída de vistoria no local e a terceira, constituída na compilação, consolidação e resumo das informações, e geração de um SIG e prancha de setores. A primeira etapa começa com a aquisição de imagens de satélite de alta resolução (50 cm) georreferenciadas e de composição RGB no visível, do município alvo da setorização, juntamente com a pesquisa sobre o substrato rochoso, tipo de solo e bacias hidrográficas dos municípios de Timbó e Jaraguá do Sul. A segunda etapa foi iniciada com o contato diretamente com as defesas civis municipais de Timbó e Jaraguá do Sul, seguidos da identificação e priorização dos locais com maiores ocorrências em cada município, incluindo na setorização, outras áreas potenciais, ainda que sem ocorrência registrada pela defesa civil. A setorização começa com a vistoria em campo dos locais prioritários em cada município, na procura de indícios, suscetibilidades ou potencialidades dos processos de movimentos de massa e inundações, são observados e registrados através de fotografias as características das encostas, a presença de taludes de corte e/ou aterros, as drenagens naturais e artificiais, blocos de rocha, a presença de intervenções estruturais, a vulnerabilidade das moradias, a presença de degraus de abatimento, fissuras e trincas no solo e/ou moradias, tipo de solo com relação ao comportamento geotécnico, a presença de cicatrizes de deslizamento, marcas de inundações, e a potencialidade ou suscetibilidade a ocorrência de determinado fenômeno com base no registro geológico visível. Também é adquirido através de um receptor GPS, coordenadas em projeção UTM de um ponto de referência pertencente ao perímetro do setor a ser delimitado. A última e terceira etapa iniciou-se com a compilação, resumo e consolidação dos dados levantados, para a confecção de um Sistema de Informações Georreferenciadas (SIG), com a delimitação do polígono sobre a imagem de satélite, e a criação de uma tabela de atributos contendo as informações apresentadas no Quadro 1. A delimitação do polígono é realizada de modo mais restritivo, tentando prever o alcance e área fonte de possíveis corridas de massa, e a classificação adotada para o grau de risco é similar a adotada pelo ministério das cidades, conforme o Quadro 2.
Página6 Quadro 1 - Campos constituintes da tabela de atributos com as informações levantadas de cada setor de risco: CAMPOS TIPO DESCRIÇÃO DAS INFORMAÇÕES UF Sigla da unidade da federação com 2 caracteres MUNIC Nome do município com 50 caracteres LOCAL Nome da localidade ou nome dado pela defesa civil municipal ao setor com 50 caracteres DATA_SETOR Data do dia em que foi realizada a visita em campo ao setor e de sua delimitação no formato dia/mês/ano com 10 caracteres NUM_SETOR Código de controle sequencial dado ao setor, com 6 caracteres TIPOLOGIA DESCRICAO GRAU_RISCO NUM_MORAD NUM_PESS SUG_OBRAS ORGAO UTME UTMN Numérico Numérico Numérico Numérico Tipologia do processo predominante no local identificado em campo através de indícios (quando já ocorrido ou instalado) ou potencialidade/suscetibilidade do processo com 50 caracteres Descrição do setor de risco delimitado contendo altura estimada da encosta, declividade estimada da encosta, outros processos secundários identificados, vulnerabilidade incluindo as condições de drenagem, urbanização, qualidade das moradias, e os indícios dos processos, com 255 caracteres. Classificação do grau de risco em alto ou muito alto com base no perigo, vulnerabilidade, suscetibilidade, grau de exposição em que os moradores e os bens materiais se encontram no setor delimitado, com 25 caracteres. Número estimado de residências existentes dentro do setor delimitado, obtido pela contagem de casas em imagens de satélite de alta resolução, com 8 caracteres. Número estimado de pessoas que residem dentro do setor delimitado, baseado no numero de pessoas por residência, com 8 caracteres. Sugestão de intervenções para redução ou eliminação do risco dentre estruturais e não estruturais, com 50 caracteres. Sigla do órgão governamental responsável pela delimitação dos setores e levantamento dos dados, com 5 caracteres. Coordenada leste de um ponto no interior do setor delimitado, obtida em campo e em projeção UTM no datum WGS84, com 6 caracteres. Coordenada norte de um ponto no interior do setor delimitado, obtida em campo e em projeção UTM no datum WGS84, com 7 caracteres. FUSO Numérico Nome do fuso terrestre na quadrícula em projeção UTM, com 2 caracteres. ZONA Nome da zona na quadrícula em projeção UTM, com 1 caractere.
Página7 Quadro 2 - Critérios para a classificação de Risco Alto e Muito Alto GRAU DO RISCO CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO Observa-se a presença de significativa(s) evidência(s) de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes etc.) R3 - Risco Alto Mantidas as condições existentes, é perfeitamente possível a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas. R4 - Risco Muito Alto As evidências de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de contenção, árvores ou postes inclinados, cicatrizes de escorregamento, feições erosivas, proximidade da moradia em relação ao córrego etc.) são expressivas e estão presentes em grande número e/ou magnitude. Mantidas as condições existentes, é muito provável a ocorrência de eventos destrutivos durante episódios de chuvas intensas e prolongadas. O SIG de cada município com todos os setores de risco foi enviado em tempo real ao CEMADEN, sendo este SIG sobreposto a imagens de radares meteorológicos de alta resolução, fornecendo em tempo real, por exemplo, a quantidade de precipitação na área, permitindo a ação da Defesa Civil com antecedência. Como um segundo produto desta terceira etapa, foi disponibilizado para a Defesa Civil Municipal de cada município, uma prancha para cada setor de risco (Figura 2), com a delimitação do setor sobre uma imagem de satélite ortoretificada em ângulo de visualização do relevo, ou fotografia obliqua do local com localização e identificação dos indícios e suscetibilidade identificados na vistoria em campo. Também constam na prancha a ilustração dos principais indícios observados através de fotografias, resumo da descrição do setor de risco, número de moradias e pessoas em risco, e sugestões de intervenções estruturais e não estruturais.
Página8 Figura 2 - Exemplo de setorização de área de alto e muito alto risco, com as informações levantadas em campo. 5. Resultados De 10 de novembro a 18 de novembro de 2011, foram delimitados 19 setores de muito alto risco a deslizamentos e inundações no município de Jaraguá do sul (Figura 3). Em todos os setores ocorrem indícios e alta suscetibilidade a deslizamentos planares, foram estimadas 12.942 pessoas morando em 3.113 residências dentre todos os setores delimitados. De 23 de novembro a 29 de novembro de 2011, foram delimitados 15 setores de muito alto risco a deslizamentos e inundações no município de timbó (Figura 4). Em todos os setores ocorrem indícios e alta suscetibilidade a deslizamentos planares, foram estimadas 4.067 pessoas morando em 1.017 residências dentre todos os setores delimitados. Comparando-se os resultados entre os dois municípios, é possível observar que os indícios e suscetibilidades para inundações ocorrem em mesma quantidade de setores entre os dois municípios, observa-se também que há maiores indícios e suscetibilidades a queda e/ou rolamento de blocos, e enxurradas em Timbó, e a ocorrência de deslizamentos
Página9 rotacionais em Timbó, citado também por Goerl et al. (2009), mostrando que há determinadas diferenças entre o substrato dos dois municípios. Com relação as sugestões de intervenção, nota-se que houve uma predominância maior em remoção de moradias para o município de Timbó, podendo ser devido a melhor situação de urbanização que se encontram essas moradias em Jaraguá do Sul. Figura 3 - Localização dos setores de muito alto risco, as tipologias dos processos encontrados e potenciais, e as sugestões de intervenções estruturais, levantadas na ação emergencial de 2011, no município de Jaraguá do Sul.
Página10 Figura 4 - Localização dos setores de muito alto risco, as tipologias dos processos encontrados e potenciais, e as sugestões de intervenções estruturais, levantadas na ação emergencial de 2011, no município de Timbó. 6. Considerações Finais Espera-se que com os resultados dessa ação emergencial, haja ações de desdobramentos como a estruturação dos municípios, implantação de planos de ordenamento territorial, planos de redução de riscos, maior controle e fiscalização das obras municipais e estaduais, maior trabalho participativo no que se refere às emissões de alertas e ações de atendimento emergencial nos momentos de crise, bem como a estruturação das defesas civis municipais e estaduais para atender as demandas nos municípios visitados. 7. Bibliografia Silva, C.R., 2010. Mapa Geodiversidade de Santa Catarina. Rio de Janeiro: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Ministério de Minas e Energia, 2011.Escala 1:500.000. IBGE (2010). Censo Populacional 2010. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 21 de Novembro de 2010. http://www.ibge.gov.br/ Goerl et al. (2009). Características gerais dos escorregamentos ocorridos em novembro de 2008 nos municípios de Brusque, Rio dos Cedros e Timbó - SC. In: XIII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada (2009: Viçosa) Viçosa: UFV, Anais, 2009.CD-rom 16p. Silva, F.A. (2011). Percepção dos Desastres Ambientais Climáticos em Jaraguá do Sul - SC. Monografia do Curso de Bacharelado em Geografia. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS. Campus Três Lagoas - CPTL. disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos3/percepcaodesastres-ambientais-climaticos-jaragua/percepcao-desastres-ambientais-climaticos-jaragua.shtml