DESPACHO COJUR n.º 070/2017 (Aprovado em Reunião de Diretoria em 01/02/2017) Exp. CFM n.º 582/2017 Assunto: Isenção tributária. Anuidade. Resolução CFM n.º 2.150/2016. Pessoas Jurídicas. Exames complementares Oftalmologistas. Do relatório Trata-se de consulta formulada pelo CRM/ES, no qual solicita orientação sobre a aplicabilidade do desconto de 50% sobre o valor da anuidade de pessoas jurídicas, conforme estabelecido pela Resolução CFM n.º 2.150/2016. Afirma que médicos oftalmologistas alegam que os exames realizados nos consultórios (fundo de olho, refração, tonometria e etc) não devem ser considerados exames complementares, fazendo jus, assim, ao desconto. Da análise É o relatório. De início, convém destacar que a Resolução CFM n.º 2.150/2016 fixou os valores das anuidades e taxas para o exercício de 2017. Tal ato normativo está baseado na Lei n.º 12.514/2011, que prevê em seu art. 5º ser o fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempo limitado, ao longo do exercício, permitindo, ainda, a cobrança de pessoas físicas e jurídicas, que se submetam à atividade fiscalizatória dos Conselhos de Medicina. Nesse contexto, ainda que o CRM/ES se refira ao desconto concedido pelo art. 13 da Resolução CFM n.º 2.150/2016, em verdade, tal norma estabelece hipótese de isenção tributária, devendo ser aplicado o regime tributário específico, conforme previsto na CF/88 e no Código Tributário Nacional. A par disso, o dispositivo questionado pela requerente é o art. 13 da Resolução nº 2.150/2016 que dispõe: Art. 13. As pessoas jurídicas compostas por, no máximo, dois sócios, sendo obrigatoriamente um deles médico, enquadradas na primeira faixa de capital social, constituídas exclusivamente para a execução de consultas médicas sem
a realização de exames complementares para diagnósticos realizados em seu próprio consultório, que não possuam filiais e não mantenham contratação de serviços médicos a serem prestados por terceiros poderão requerer ao Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição até 31 de janeiro de 2017, um desconto de 50% sobre o valor da anuidade fixada no caput do artigo 11. O pagamento deve ser feito de acordo com o estabelecido no artigo 11 e parágrafos, mediante apresentação de declaração subscrita pelo médico responsável pela empresa, indicando seu enquadramento nessa situação. Parágrafo único. Para a obtenção do desconto, a pessoa jurídica e respectivos sócios médicos e responsável técnico deverão estar em situação cadastral regular, bem como quite com o pagamento das anuidades e da taxa de certificado de regularidade de exercícios anteriores. Da mesma forma, o Manual de Procedimentos do Conselho Federal de Medicina dispõe que: As pessoas jurídicas compostas por, no máximo, dois sócios, sendo obrigatoriamente um deles médico, poderão fazer jus a um desconto de 50% sobre o valor da anuidade. Procedimentos 1. O solicitante deve apresentar requerimento solicitando o desconto, devidamente preenchido, com assinatura do médico responsável. 2. Até o vencimento da anuidade de Pessoa Jurídica o solicitante deverá apresentar declaração subscrita pelo médico responsável pela empresa, indicando que esta se enquadra nos requisitos abaixo relacionados: a) está na primeira faixa de capital social; b) não possui filiais; c) é constituída exclusivamente para a execução de consultas médicas realizadas em seu próprio consultório, sem a ocorrência de exames complementares para diagnósticos; d) não mantém contratação de serviços médicos a serem prestados por terceiros.
3. Para a obtenção do desconto, a Pessoa Jurídica e os respectivos sócios médicos e diretor técnico deverão estar em situação regular com o pagamento das anuidades de exercícios anteriores. 4. Após o recebimento do requerimento de desconto e da declaração pertinente, o Setor de Inscrição de Pessoa Jurídica deve analisar se a empresa atende aos seguintes requisitos: a) se não possui débito; b) se o médico diretor técnico não possui débito; c) se sócio, quando médico, não possui débito; d) se a empresa solicitou a renovação dentro do prazo; e) se a faixa de capital social é inferior à primeira faixa; f) se a empresa não possui filial; g) se a empresa tem, no máximo, dois sócios, sendo obrigatoriamente um deles médico; h) se a empresa é privada, sociedade simples ou firma individual ou sociedade empresarial ou empresa individual; i) se não realiza procedimentos; j) se não possui contratação de serviços médicos de terceiros para a realização da atividade-fim da empresa; k) se a empresa não possui equipamento para exame e diagnóstico; l) se a empresa não desenvolve atendimento hospitalar; m) se o endereço de atendimento é comercial. 5. Somente após atendidos todos os requisitos acima, será concedido o desconto solicitado. Assim, verifica-se da análise dos normativos suprarreferidos que efetivamente o desconto é oferecido à Pessoa Jurídica que execute consultas médicas exclusivamente em seu próprio consultório, com exclusão expressa da Pessoa Jurídica que desenvolva atendimento hospitalar ou realize exames complementares.
A mens legis que norteia a possibilidade de desconto é a de minorar os custos daqueles médicos que optam por abrir pequenos consultórios e têm que manter toda uma infraestrutura, arcando com despesas como aluguel, água, luz, condomínio, tributos, como o IPTU, contratação de secretária. Tendo em vista que a anuidade é uma espécie do gênero tributo, deve-se aplicar na interpretação das normas que disponham sobre a sua cobrança o disposto no Código Tributário Nacional. O art. 111 do referido diploma legal é expresso: sobre: Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Dessa forma, a norma atual deve ser interpretada de forma literal, não comportado interpretação extensiva para ampliar o sentido do texto de modo a incluir outras hipóteses de isenção não previstas pelo legislador. saber: Nesse sentido, há manifestação do STJ em sede de recurso repetitivo, a PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. CPMF. CONVERSÃO DE CRÉDITOS ESTRANGEIROS EM INVESTIMENTO. OPERAÇÃO SIMBÓLICA DE CÂMBIO. INCIDÊNCIA. (...) 8. Outrossim, a teor do disposto nos artigos 3º (hipóteses de isenção) e 8º (hipóteses de alíquota zero), da Lei 9.311/96, a conversão de crédito (decorrente de empréstimo) em investimento externo direto (operação simbólica de câmbio) não se encontra albergada por qualquer norma exonerativa, sendo de rigor a interpretação literal da legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção ou exclusão do crédito tributário (artigo 111, incisos I e II, do CTN).
9. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1129335/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/06/2010, DJe 24/06/2010) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ITBI. ISENÇÃO. TRANSMISSÃO DE BENS E DIREITOS INCORPORADOS AO CAPITAL SOCIAL DE PESSOA JURÍDICA. EXCEÇÃO. ATIVIDADE IMOBILIÁRIA PREPONDERANTE. NECESSIDADE DE CUMULAÇÃO POR QUATRO ANOS. INTERPRETAÇÃO LITERAL. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (...) 3. O CTN prevê que a legislação tributária que disponha sobre isenção deve ser interpretada literalmente (art. 111). O legislador expressou a ideia de adição/soma, para definir o conceito de atividade preponderante para fins de imunidade de ITBI, não cabendo aos interpretes da lei ampliar/restringir o seu conceito. (...) (REsp 1336827/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/11/2015, DJe 27/11/2015) No caso dos autos, é certo que os exames complementares realizados pelo médico oftalmologista, bem como o fato de a pessoa jurídica possuir equipamentos para exames e diagnóstico afastam a aplicação da hipótese de isenção, conforme interpretação da Resolução CFM n.º 2.150/2016 e do Manual de Procedimento Administrativos editado pelo CFM. A realização de exames complementares é atinente a todos os ramos da medicina e não apenas à oftalmologia, de modo que a concessão da isenção a tais casos importaria em violação ao princípio da isonomia em relação aos demais médicos, bem como deturparia a finalidade da norma, que é diminuir os custos do pequeno consultório. Pelo exposto, é preciso registrar que a norma em vigor somente prevê a possibilidade de isenção de 50% da anuidade de pessoa jurídica para aquelas que
cumpram os requisitos do art. 13 da Resolução nº 2.150/2016, o que não se verifica na hipótese da consulta. Da Conclusão Por todo o exposto, a COJUR tem a informar que o art. 13 da Resolução nº 2.150/2016 não possibilita a concessão de isenção de 50% na anuidade para pessoas jurídicas que não cumpram todos os requisitos ali elencados e regulamentados na forma do Manual de Procedimentos Administrativos do CFM. Desse modo, os exames complementares realizados pelo médico oftalmologista, bem como o fato de a pessoa jurídica possuir equipamentos para exames e diagnóstico afastam a aplicação da hipótese de isenção. É o que nos parece, s.m.j. Brasília-DF, 25 de janeiro de 2017. Rafael Leandro Arantes Ribeiro Advogado do Conselho Federal de Medicina OAB/DF n.º 39.310 De acordo: José Alejandro Búllon Chefe do COJUR