O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria

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Transcrição:

BE2010 Encontro Nacional Betão Estrutural Lisboa 10, 11 e 12 de Novembro de 2010 O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria Carlos Rodrigues 1, Carlos Félix 2, Armindo Lage 3, Vera Perdigão 4, Carlos Biscaia 5, Joaquim Figueiras 6 RESUMO São inúmeras as potencialidades associadas à monitorização estrutural de carácter permanente no domínio da Engenharia Civil. Vários métodos e tecnologias têm sido empregues na tentativa de obter soluções robustas e economicamente viáveis com resultados fidedignos que permitam uma avaliação efectiva do desempenho estrutural. Tradicionalmente a instrumentação estrutural era baseada em sensores de natureza eléctrica tais como extensómetros de resistência eléctrica, sensores de cordas vibrantes, LVDT, etc. Mais recentemente, os sistemas de monitorização baseados em fibra óptica têm demonstrado um conjunto de vantagens que os fazem emergir relativamente às tecnologias convencionais. Neste trabalho descreve-se o sistema de monitorização estrutural em fibra óptica concebido para Ponte da Lezíria, sobre o rio Tejo no Carregado. Este sistema apresenta aspectos inovadores tanto nas grandezas monitorizadas como na sua arquitectura geral, reflectindo a importância e dimensão desta infraestrutura. São medidas, de forma permanente e automática, flechas, deformações, curvaturas e temperaturas nas secções chave da estrutura da Ponte Principal. Neste artigo, focam-se as potencialidades e os principais aspectos relacionados com a arquitectura deste sistema de monitorização, bem como, a sua implementação do ponto de vista prático. Os resultados recolhidos ao longo que quase dois anos de exploração são expostos procedendo-se à avaliação da evolução das grandezas medidas e do seu interesse do ponto de vista da avaliação do comportamento estrutural desta ponte de betão armado pré-esforçado. PALAVRAS-CHAVE Pontes; Monitorização Estrutural; Sensores em Fibra Óptica; Redes de Bragg (FBG). 1 2 3 4 5 6 LABEST, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto. 4200-465 Porto, Portugal. cfr@fe.up.pt LABEST. Instituto Superior de Engenharia do Porto. 4200-072 Porto, Portugal. cfelix@fe.up.pt DEEC, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto. 4200-465 Porto, Portugal. alage@fe.up.pt Brisa - Auto-estradas de Portugal S. A. vera.perdigao@brisa.pt Brisa - Auto-estradas de Portugal S. A. carlos.biscaia@brisa.pt LABEST, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto. 4200-465 Porto, Portugal. jafig@fe.up.pt

O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria 1. INTRODUÇÃO Novas construções com aspectos inovadores, bem como, a necessidade de uma gestão integrada das infraestruturas, com exigências crescentes ao nível da durabilidade e segurança, levam a uma crescente procura de medidas adicionais de aferição do respectivo comportamento e segurança estrutural. No contexto exposto, pela sua eficiência, a monitorização tem merecido destaque crescente no seio da engenharia estrutural. Os sistemas de monitorização têm evoluído para soluções fidedignas e economicamente vantajosas que permitem a obtenção de informação útil para uma avaliação efectiva do desempenho das estruturas [1]. Actualmente, existem diversas soluções que permitem a monitorização estrutural com grande flexibilidade e robustez, de forma totalmente autónoma, fornecendo indicadores em tempo real sobre o desempenho da estrutura. Fruto de diversos desenvolvimentos na instrumentação com base em fibras ópticas, a sua aplicação na engenharia civil tem vindo a crescer nos últimos anos, começando a conquistar significativamente o lugar até então ocupado pelos sensores de natureza eléctrica. Este facto deve-se, em muito, às vantagens exibidas por estes sistemas quando comparados com os sistemas convencionais, de onde se pode destacar [2]: dimensões reduzidas; tolerante a ambientes corrosivos e quimicamente agressivos; imunidade a campos electromagnéticos e radiofrequências; electricamente passivos (imunes a problemas com terras, relâmpagos, etc.); redes de sensores versáteis com possibilidade de adopção de esquemas de multiplexagem; resposta linear à extensão e à temperatura num campo amplo de medição; elevada sensibilidade e precisão. Apesar dos custos da tecnologia óptica serem tradicionalmente superiores às soluções concorrentes de natureza eléctrica, tal discrepância tem vindo a atenuar-se. Hoje em dia, a maior diferença reside no custo das respectivas unidades de leitura, verificando-se muitas vezes que no cômputo geral a solução óptica consegue ser economicamente vantajosa tendo em conta a sua maior versatilidade e capacidade de multiplexagem. Apresenta-se, ao longo deste trabalho, os principais aspectos relacionados com a concepção e implementação de um sistema avançado de monitorização estrutural de base óptica na Ponte da Lezíria no Carregado. Conjuntamente com a arquitectura geral deste sistema de monitorização, dá-se a conhecer um conjunto de resultados ilustrativos das potencialidades efectivas deste sistema. 2. A PONTE DA LEZÍRIA A Ponte da Lezíria, inaugurada em Julho de 2007, insere-se no Sublanço A1/Benavente da A10 Auto-Estrada Bucelas / Carregado / IC3, e constitui a mais recente travessia sobre o Tejo, junto ao Carregado. Esta obra de arte, apresenta uma extensão total de 970 m, dividida em vãos parciais aproximados de 95 + 6 x 130 + 95 m [3]. Mostra-se, na Fig. 1, uma perspectiva geral caracterizadora desta estrutura. Figura 1. Alçado geral da Ponte da Lezíria. 2

Encontro Nacional de Betão Estrutural 2010 C. Rodrigues et al. A ponte apresenta um tabuleiro único em caixão monocelular de betão armado pré-esforçado, com aproximadamente 30 m de largura total e altura variável entre 8 m nos apoios e 4 m a meio dos vãos e junto aos pilares de transição. As grandes consolas laterais são apoiadas em escoras metálicas que descarregam na laje de fundo do caixão. Os pilares são constituídos por duas lâminas de betão armado, sendo, cada uma destas lâminas, por sua vez dividida em duas por intermédio de um vazio central. A ligação do tabuleiro aos pilares P1 a P5 é monolítica, enquanto nos pilares P6, P7 e de transição (PTN e PTS) essa mesma ligação dá-se por intermédio de aparelhos de apoio do tipo panela guiados longitudinalmente. As fundações são indirectas por intermédio de grupos de estacas. 3. GRANDEZAS MEDIDAS E SENSORES UTILIZADOS 3.1 Aspectos gerais O sistema de monitorização de base óptica encontra-se instalado exclusivamente no tabuleiro da Ponte da Lezíria e é baseado em sensores de Bragg (Fiber Bragg Gratings [4]), desenvolvendo-se em paralelo com os restantes sistemas de monitorização de base eléctrica instalados na estrutura. Este sistema óptico está concebido para acompanhar o comportamento da obra durante a fase de exploração, designadamente na medição directa de extensões no tabuleiro, flechas estruturais e temperaturas. Com vista à aplicação na estrutura dos sensores de Bragg e com vista à medição das grandezas físicas representativas do comportamento estrutural foram desenvolvidos transdutores de características adequadas, amplamente testados e calibrados antes de aplicação em obra [5]. Na Fig. 2 esquematizam-se as secções e grandezas monitorizadas na Ponte da Lezíria [6]. A medição de extensões no tabuleiro da ponte é realizada por via de transdutores de deformação de base óptica embebidos no betão. Este sistema de medição alberga um total de 15 secções críticas, designadamente todos os meio-vãos e secções junto aos pilares. Em cada secção instrumentada encontram-se instalados, pelo lado interior do caixão e alinhados longitudinalmente com a estrutura, dois transdutores de deformação, um localizado na laje superior e o outro na laje inferior do caixão, de forma a permitir avaliar a curvatura da respectiva secção, conforme representado secção transversal presente na Fig. 2. No total 30 transdutores de deformação de base óptica são utilizados para caracterizar o tabuleiro da ponte. Figura 2. Indicação esquemática da localização das secções instrumentadas com sensores em fibra óptica: quatro secções com sensores de temperatura, 11 secções com sensores de deslocamento vertical e 15 secções com pares de sensores de deformação: a) localização esquemática numa secção transversal do tabuleiro; b) localização esquemática em alçado ao longo da ponte. 3

O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria Figura 3. Alguns aspectos ilustrativos da instalação dos transdutores em fibra óptica na Ponte da Lezíria: a) transdutor de deformação para embeber no betão; b) circuito hidráulico e transdutor de deslocamentos verticais; c) posto de observação. Por sua vez, a medição das flechas decorre sem qualquer referência física ao solo sustentando-se num nivelamento hidrostático e na aplicação do princípio dos vasos comunicantes a um circuito hidráulico interno, cheio de água, que percorre longitudinalmente toda a ponte e contempla todos os pontos interessados. Este circuito hidráulico, encontrando-se em equilíbrio hidrostático, permite acompanhar a deformada da estrutura (e do próprio circuito solidário com esta) por via do acompanhamento de variações da altura aparente do nível de água nos pontos em causa, relativamente a pontos de referência imunes a deslocamentos verticais. Nas secções onde se pretende medir os respectivos deslocamentos verticais encontram-se, desta forma, instalados transdutores de base óptica que com elevado rigor e estabilidade medem variações dos níveis hidrostáticos. Estes transdutores para medição de flechas foram desenvolvidos pelo LABEST/FEUP especificamente destinados à monitorização permanente de flechas com compensação interna dos efeitos da temperatura [7, 8]. Com a metodologia exposta são medidas as flechas da estrutura a todos os meio-vãos, perfazendo 8 pontos de medição (ver Fig. 2). São ainda utilizadas como referência e como meio de controlo do sistema as medições realizadas sobre o PTN, P2 e P7. Com o sistema de monitorização de base óptica são ainda medidas a temperatura em 10 pontos criteriosamente seleccionados. Esta informação permite, por um lado, caracterizar as condições ambientais a que a estrutura se encontra efectivamente sujeita. Por outro lado, a medição de temperaturas representativas junto aos transdutores de deformação permite a compensação da sensibilidade das redes de Bragg à temperatura, constituindo um aspecto essencial para a correcta avaliação das restantes grandezas observadas. Na Fig. 3 ilustram-se alguns aspectos relativos à instalação destes sensores na referida obra. 4. ARQUITECTURA DA REDE DE SENSORES A rede de sensores desenvolve-se ao longo de toda a ponte, envolvendo uma extensão de cabo óptico de cerca de 1250 m associado a 16 pontos repartidos de ligação. Este cabo serve, deste modo, todos os sensores de Bragg multiplexados quer no tempo quer no espaço e a medir grandezas distintas, designadamente 30 sensores de deformação, 11 sensores de deslocamento vertical e 10 sensores de temperatura. Tratando-se da medição de grandezas diferentes, estes sensores encontram-se também agrupados em fibras ópticas distintas ao longo de um cabo: 3 fibras para os transdutores deformações; 5 fibras para os transdutores de flechas e para as temperaturas. São adoptados simultaneamente, dentro de cada fibra, esquemas de multiplexagem espacial em série englobando um máximo de 10 sensores com comprimentos de onda de referência distintos. A configuração da rede é desta forma ramificada com ponto central sobre o pilar P2 onde se encontra alojado o equipamento de interrogação e armazenamento de dados de todo o sistema sensorial baseado em fibras ópticas (Posto de Observação Óptico). Este posto é constituído por um sistema de interrogação de sinal óptico de 4 canais (MOI sm130-500), um comutador óptico de 1x8 canais (Thorlabs PRO8 OSW8108) e uma unidade CPU do tipo industrial. Na Fig.4 representa-se de forma esquemática a arquitectura geral da rede óptica de sensores. 4

Encontro Nacional de Betão Estrutural 2010 C. Rodrigues et al. Figura 4. Configuração esquemática da rede de sensores ópticos. A composição apresentada conduz, neste caso concreto, a uma disponibilidade de 3 canais ópticos obtidos directamente no interrogador óptico para ligação de 3 séries de transdutores (transdutores de deformação) podendo atingir frequências de aquisição máximas de 500 Hz. Procede-se ainda a uma multiplexagem temporal do quarto canal do interrogador por intermédio de um comutador óptico de 1x8 canais. Esta última divisão permite a ligação dos restantes transdutores (transdutores de flechas e temperatura), limitando-se a frequências de aquisição significativamente mais baixas (natureza estática). O presente sistema de monitorização encontra-se ainda enquadrado numa rede de comunicação que engloba os vários sistemas distribuídos de aquisição e digitalização de dados provenientes dos restantes sensores eléctricos, permitindo a interligação de todos os postos de observação locais a um posto de observação central (POC). Esta rede de comunicação, também em fibra óptica, encontra-se, para o efeito, instalada na presente estrutura bem como nos viadutos de acesso também monitorizados. Os dados recolhidos na obra são enviados para um servidor localizado na BRISA (dono de obra), sendo inseridos numa base de dados. Uma aplicação web permite posteriormente o acesso aos dados a partir de um qualquer PC. 5. RESULTADOS 5.2. Modos de funcionamento Com o presente sistema de monitorização de base óptica consegue-se a medição directa de extensões, de flechas a meio-vão e de temperaturas de forma automática e permanente ao longo do tempo, bem como, de forma indirecta, a medição de curvaturas do tabuleiro. 5

O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria Quadro 1. Frequência de aquisição e modos de funcionamento. Grandeza Frequência Aquisição Modo Normal Modo Rápido Deformação 1/15min. até 500 Hz Flechas + Temperatura 1/15min. até 0.5Hz A monitorização decorre segundo dois modos de funcionamento previamente programados de acordo com o preconizado no Quadro 1. Contempla-se, nesta fase, a existência de um modo de aquisição normal (monitorização permanente) segundo o qual o sistema procede à aquisição de dados de todos os sensores com uma periodicidade de 15 minutos. A monitorização prevista tem como objectivo a caracterização do comportamento diferido da estrutura, nomeadamente os efeitos decorrentes da retracção e fluência dos materiais estruturais e potenciais avarias. Estes fenómenos ocorrem de forma contínua e lenta, implicando uma monitorização de longa duração. Complementarmente e de forma programada é possível accionar um modo de funcionamento rápido, no qual a frequência de aquisição poderá ser incrementada para valores que poderão ir até 500Hz na medição de extensões e 0.5 Hz na medição de flechas (campanhas de monitorização de curta duração). Com este modo de funcionamento potencia-se a caracterização do comportamento estrutural perante ensaios de carga, bem como, a medição desse mesmo comportamento decorrente de solicitações de tráfego corrente. Dada a natureza destas acções, estas justificam a adopção de frequências de aquisição significativamente superiores, compatíveis com a natureza dos fenómenos que se pretendem caracterizar. 5.2. Resultados da monitorização permanente Figura 5. Evolução das grandezas monitorizadas na secção de meio-vão entre os pilares P6 e P7: a) temperatura no interior dos banzos superior e inferior; b) variação da extensão no banzo superior e inferior; c) variação da flecha (ver localizações na Fig. 2). 6

Encontro Nacional de Betão Estrutural 2010 C. Rodrigues et al. 5.2.1. Variações Sazonais Na Fig.5 ilustra-se a evolução das temperaturas, extensões e flecha registadas ao longo de aproximadamente um ano e meio de exploração do sistema. A título ilustrativo foram seleccionados os registos obtidos na secção central do vão da ponte entre os pilares P6 e P7. Particularmente, nas Figs. 5.a) e 5.b) confronta-se ainda a evolução dos registos no interior dos banzos superior e inferior desta secção transversal (ver posição relativa na Fig. 2). Destaca-se que as extensões representadas são o resultado da compensação dos efeitos de natureza térmica quer sobre os sensores quer sobre a componente de deformação térmica livre dos materiais estruturais. Nos resultados apresentados é notório um efeito sazonal no comportamento da estrutura muito associado às variações anuais de temperatura. Regista-se assim um acompanhamento da resposta estrutural, traduzido pelo par de extensões e pela flecha, concomitante com a evolução da temperatura associada aos períodos de arrefecimento e aquecimento anual. Pese embora a resolução da figura não permita destrinçar claramente os ciclos diários, constata-se ainda, em termos gerais, uma maior amplitude da resposta estrutural nos ciclos diários de Verão traduzida pela maior espessura das linhas nos períodos quentes. De referir ainda que, para além da sazonalidade da resposta estrutural, não é perceptível qualquer tendência uniforme nestes registos confirmando que a retracção e fluência global é pouco significativa nesta fase de maturidade dos materiais estruturais. 5.2.2. Ciclos diários De forma a avaliar as variações diárias das grandezas acima referidas, representa-se na Fig. 6 esses mesmos registos mas destacando um período de três dias. Com vista a uma melhor análise da resposta estrutural traça-se ainda a componente estimada da curvatura e da extensão uniforme para estes mesmos dias (ver Figs. 6.d) e 6.f)). Observa-se com maior grau de detalhe a ocorrência de ciclos diários cujo período de 24 horas está bem definido. Verifica-se que a ocorrência dos mínimos e máximos das várias grandezas ocorre regularmente para as 6 e 18 horas de cada dia, respectivamente. No entanto, é importante referir que nem todas as grandezas medidas se encontram perfeitamente em fase. Por exemplo na Fig. 6.d) é possível observar que as componentes uniforme e diferencial da temperatura atingem os seus picos em períodos distintos separados por um hiato que pode chegar a 4 horas nos dias de maior insolação. Tal facto está em muito associado ao efeito da insolação e à inércia térmica associada à volumetria e dimensão da estrutura. Constatando-se que o efeito da temperatura, na sua componente diferencial e uniforme, é preponderante no comportamento global da estrutura, salienta-se que atendendo à sua complexidade numa análise da resposta estrutural é fundamental a correcta caracterização da temperatura em vários pontos representativos dos perfis de gradientes térmicos. 5.2.3.Correlação entre as grandezas medidas De forma a melhor compreender e quantificar a dependência dos indicadores estruturais atrás referidos é pertinente avaliar o grau e modo de correlação destas diferentes grandezas. Desta forma, representam-se na Fig. 7 as correlações que se julgam mais pertinentes correspondentes às várias componentes da resposta estrutural. Da análise destes resultados experimentais é de salientar a boa correlação da flecha a meio-vão quer com a respectiva curvatura quer com variação de temperatura diferencial nessa mesma secção (Figs. 7.a) e 7.b), respectivamente). De referir ainda que se encontra uma razoável correlação entre a variação uniforme de temperatura e a curvatura na secção de meio-vão (ver Fig. 7.e)), constatando-se assim que a componente uniforme da temperatura tem também contribuição na deformada da estrutura. Pese embora se considere que a descrição detalhada ultrapassa o âmbito deste artigo, é de referir ainda que os resultados obtidos estão em conformidade com um modelo numérico que permitiu aferir qualitativamente a reposta da estrutura induzida por variações de temperatura. 7

O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria Figura 6. Ciclos diários das várias grandezas monitorizadas na secção de meio-vão entre os pilares P6 e P7: a) temperatura no interior dos banzos superior e inferior da secção transversal; b) variação da extensão no banzo superior e inferior da secção transversal; c) variação da flecha; d) componentes uniforme e diferencial da variação da temperatura; e) variação de curvatura; f) variação da componente uniforme da extensão na secção transversal. a) b) c) d) e) f) Figura 7. Correlação das grandezas medidas a meio-vão entre P6 e P7: a) flecha vs. variação diferencial de temperatura; b) flecha vs. curvatura a meio-vão; c) flecha vs. variação uniforme de temperatura; d) variação diferencial de temperatura vs. curvatura; e) variação uniforme de temperatura vs. curvatura; f) variação uniforme de temperatura vs. variação média de extensão (componente axial). 8

Encontro Nacional de Betão Estrutural 2010 C. Rodrigues et al. 5.3. Resultados de campanhas de monitorização de curta duração 5.3.1. Acções do tráfego rodoviário Associado a frequências de aquisição mais elevadas remete-se para a Fig. 8 a caracterização da resposta estrutural, no vão P6-P7, induzida pelo tráfego rodoviário durante o período de 1 hora. Nesta figura, os efeitos da temperatura foram filtrados, encontrando-se destacados os picos de extensão associados à passagem de veículos relevantes. A realização de campanhas de caracterização neste âmbito permite caracterizar os efeitos da acção rodoviária de forma regular e sistemática. Inf. Sup. Figura 8. Detecção de picos (eventos) de extensão associados ao tráfego rodoviário no vão P6-P7. De forma geral, relativamente a estes resultados, importa assinalar que a amplitude de extensões induzidas pelo tráfego rodoviário é significativamente menor do que a referida amplitude associada aos ciclos térmicos diários. Uma vez mais fica assinalada a importância da acção térmica na avaliação do desempenho estrutural, nomeadamente quando comparada com a solicitação rodoviária. 5.3.2. Traçado de linhas de influência Focando-se ainda as potencialidades deste sistema associadas a aquisições de maior frequência, tornase possível o traçado de linhas de influência de extensões nas várias secções instrumentadas, associadas à passagem de veículos. Na Fig. 9 ilustra-se um registo de linhas de influência, nas oito secções de meio-vão (fibra superior e fibra inferior), obtidas durante a passagem de um veículo em condições normais de circulação (veículo pesado a circular a uma velocidade média de 75 km/h). Figura 9. Linhas de influência obtidas com a passagem de um veículo em condições normais de circulação. Neste particular os autores gostariam de salientar as potencialidades desta funcionalidade numa perspectiva de caracterizar periodicamente a resposta estrutural perante a passagem de um veículo convenientemente caracterizado. A passagem deste veículo poderá mesmo ocorrer sem necessidade de perturbar as condições normais de funcionamento desta infraestrutura. A caracterização desta resposta e a avaliação da sua evolução ao longo do tempo será um aspecto de maior importância na aferição do correcto desempenho da estrutura ao longo da sua exploração. 9

O Sistema de Monitorização em Fibra Óptica da Ponte da Lezíria 6. CONCLUSÕES Apresentou-se o sistema de monitorização de base óptica instalado na Ponte da Lezíria focando aspectos específicos associados a uma tecnologia emergente cada vez mais aplicada, baseada em sensores em fibra óptica, designadamente em redes de Bragg. Este sistema tem por objectivo principal contribuir para prolongar a vida útil desta importante infra-estrutura rodoviária e sustentar a sua utilização em condições de segurança e de economia. Neste contexto, mede-se a deformação ao nível das lajes superior e inferior do tabuleiro da ponte por intermédio de um par de transdutores de deformação embebidos no betão localizados no seu alinhamento médio. Complementarmente são medidas as flechas de todos os vãos da ponte. Desenvolveram-se transdutores específicos para medição das grandezas em causa. Com o sistema avançado de monitorização exposto, atendendo ao facto da frequência de aquisição poder ir até 500 Hz, torna-se possível obter o traçado de linhas de influência quer de extensões quer de curvaturas, com a passagem de veículos em circulação normal. Complementarmente, embora de carácter estritamente estático, propõe-se acompanhar a evolução da deformada global da estrutura por medição directa de flechas a meio-vão. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Brisa Auto-estradas de Portugal, S.A. e ao consórcio construtor TACE ACE a colaboração e o apoio prestado. Agradece-se igualmente ao Eng. Helder Sousa (FEUP- LABEST) o apoio prestado na instalação do presente sistema de monitorização. O primeiro autor agradece ainda o apoio financeiro concedido pela FCT e pela Newmensus, Lda na forma de uma bolsa de doutoramento em empresa SFRH/BDE/15645/2006. REFERÊNCIAS [1] ANSARI, F. - Sensing Issues in Civil Structural Health Monitoring. Springer, 2005. [2] MEASURES, R.M. - Structural monitoring with fiber optic technology. London: Academic, 2001. [3] COBA-PC&A-CIVILSER-ARCADIS A) Memória Descritiva e Justificativa. Volume II Ponte sobre o Rio Tejo. Projecto de Execução da Ponte sobre o Rio Tejo e dos Viadutos de Acesso. Empreitada de Concepção, Projecto e Construção da Travessia do Tejo no Carregado, no sublanço A1/Benavente, da A10 Auto-Estrada Bucelas/Carregado/IC3, 2005. [4] KERSEY, A.D. [et al.] - Fiber Grating Sensors. Journal of Lightwave Technology, 1997. 15(8): 1442-1462. [5] FIGUEIRAS, J. [et al.] Construção da Travessia do Tejo no Carregado Sublanço A1/Benavente, da A10 Auto-Estrada Bucelas/Carregado/IC3: Projecto Executivo Monitorização Estrutural e de Durabilidade. NewMensus/LABEST-FEUP, 2007. [6] RODRIGUES, C.; FÉLIX, C; LAGE, A.; FIGUEIRAS, J. - Development of a long-term monitoring system based on FBG sensors applied to concrete bridges. Engineering Structures, 2010. 32(8): 1993-2002. [7] FIGUEIRAS, J.; RODRIGUES, C.; FÉLIX, C. - Transdutor para medição de deslocamentos verticais. Patente Industrial (PT); INPI N.104250. [8] RODRIGUES, C.; FÉLIX, C; FIGUEIRAS, J. - Fiber optic based displacement transducer to measure bridge deflections. Structural Health Monitoring, 2010. 10