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CENTRO DE MEMÓRIA DO ESPORTE ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL PROJETO GARIMPANDO MEMÓRIAS JULIANA BORGES LIMA (depoimento) 2014 CEME-ESEF-UFRGS

FICHA TÉCNICA Projeto: Garimpando Memórias Número da entrevista: E-407 Entrevistado/a: Nascimento: 01/03/1996 Local da entrevista: Universidade de Caxias do Sul Entrevistadora: Daniela Romcy Data da entrevista: 10/04/2014 Transcrição: Alexandre Luz Alves Copidesque: Suélen de Souza Andres Pesquisa: Suélen de Souza Andres Revisão Final: Silvana Vilodre Goellner Total de gravação: 26 minutos e 5 segundos Páginas Digitadas: 10 páginas Observações: A entrevistada realizou algumas alterações após a leitura da entrevista transcrita. Entrevista realizada para a produção da pesquisa de Suélen de Souza Andres intitulado Mulheres e Handebol no Rio Grande do Sul: Narrativas acerca do processo de "profissionalização" da modalidade O Centro de Memória do Esporte está autorizado a utilizar, divulgar e publicar, para fins culturais, este depoimento de cunho documental e histórico. É permitida a citação no todo ou em parte desde que a fonte seja mencionada.

Sumário Introdução no handebol; Influência do professor de Educação Física na escolha da modalidade; Tempo de prática; Campeonatos disputados; Handebol como profissão; Bolsa atleta; Jogar em equipes fora do Estado do Rio Grande do Sul; Dificuldades de estar longe da família; Falta de visibilidade da modalidade no Brasil; Auxílios (moradia, alimentação e plano de saúde); Clubes que não remuneram; vínculo com a Universidade de Caxias do Sul; Treinos antes das competições; frustrações; Sonhos; Mensagem para as futuras jogadoras de handebol.

1 Porto Alegre, 10 de abril de 2014. Entrevista com a cargo da pesquisadora Daniela Romcy para o Projeto Garimpando Memórias do Centro de Memória do Esporte. D.R. Juliana, quanto tempo tu dedicas da tua vida ao handebol? J.L. Uns oito ou nove anos. D.R. Quantos anos tu tem agora? J.L. Eu tenho dezoito. D.R. Desde os nove... J.L. Nove, dez anos, por aí. D.R. Então conta um pouco dessa tua trajetória dentro do handebol, onde tu começaste a praticar? Quais os times que tu já jogaste? Campeonatos que participou... J.L. Comecei em Osório com o professor de Educação Física José Claudinei 1, que foi quem iniciou o Handebol em Osório 2. Até então eu nunca tinha escutado falar, fui conhecer quando minhas duas irmãs começaram a jogar. Sempre assistia aos treinos, mas nunca queria jogar até que um dia o professor me convidou. A partir daí, comecei a jogar, treinar e isso durou até 2012. No início de 2013, dia 8 de março, eu fui para o Espírito Santo, jogar no Castro Alves 3, um dos melhores times do Brasil. Joguei o ano todo lá e voltei em dezembro para casa. E agora estou aqui na UCS 4. D.R. E tu hoje vives de handebol? J.L. É 1 Nome sujeito à confirmação. 2 Cidade do Rio Grande do Sul. 3 Colégio Castro Alves, Cariacica (ES). 4 Universidade de Caxias do Sul;

2 D.R. Quando tu percebeste que poderia viver do handebol e ter ele como uma profissão? J.L. Na verdade desde que a gente começou. Porque o meu primeiro treinador falava, nos incentivava muito, sempre procurando nos fazer entender que o Handebol poderia ser a nossa profissão, que através dele poderíamos estudar, conseguir bolsa de estudos em uma faculdade. Então desde novinha ele vem ensinando isso e nos motivou. D.R. Quais os benefícios que tu tens? Mais ou menos quanto que tu ganhas? Benefícios que eu digo, plano de saúde, moradia, academia, essas coisas que envolvem ser atleta. Qual a estrutura da UCS para isso e de outros clubes. J.L. No clube que comecei não tinha muita estrutura, quem ajudava eram os pais, cada um pagava sua viagem. No ano passado no Castro Alves a gente ganhou tudo, escola particular, moradia, alimentação, só não tinha plano de saúde, mas cobriam se precisasse. Eles tinham uma conta na farmácia que qualquer medicamento que a gente precisasse era só pegar. Tinha tudo isso, só que não tinha ajuda de custo. Já aqui a gente tem plano de saúde, moradia, alimentação, faculdade e ajuda de custo. Eu agora estou fazendo cursinho, por que eu não fiz o vestibular, mas vou poder ingressar no meio do ano. D.R. Tu podes falar o valor mais ou menos? J.L. Não, o valor a gente não pode falar. D.R. Você já teve beneficio do Bolsa Atleta? Ou algum outro tipo de bolsa? J.L. Eu tenho direito. Porque ano passado fomos Vice-campeãs Brasileiras de Clubes e Campeãs Brasileiras Escolares. Então a gente tem direito a ter o Bolsa Atleta nacional. Mas tem que esperar as inscrições e depois sair à lista de contemplados, mas sai esse ano ainda. D.R. Tu já sabes que curso que tu vais fazer?

3 J.L. Eu estou em dúvida entre Fisioterapia e Artes Cênicas. D.R. Tu já serviste a Seleção Brasileira em categorias de base? J.L. Eu fui chamada segunda-feira agora... D.R. Parabéns! J.L. Saiu à lista da Seleção para jogar o Pan-Americano. É uma segunda fase, eles chamam vinte meninas e só ficam dezesseis. Vamos ficar do dia 11 ao dia 20 treinando em Blumenau 5. As dezesseis que ficarem viajam no dia 21 para jogar o Pan-Americano em Fortaleza 6. D.R. Juvenil ou adulto? J.L. Juvenil. D.R. O que o handebol já te proporcionou de bens materiais, já conseguiste comprar algo que queria muito? J.L. Olha até hoje não. Esse ano que vou começar a ter uma ajuda de custo. Porque até então nos outros anos não tinha. A gente ganhava tudo, mas não tinha o meu salário para comprar. D.R. Vocês têm carteira assinada ou funciona como uma bolsa? J.L. Não tem carteira assinada, porque os únicos esportes que são considerados profissionais são o futebol e o laçador eu acho, são as únicas coisas que são consideradas profissionais. Então não tem carteira assinada para a gente. 5 Blumenau (SC). 6 Fortaleza (CE).

4 D.R. Como que a tua família encarou essa tua decisão de viver do handebol, ter ele como uma profissão? J.L. Desde que comecei, sempre gostei muito, só que eu sempre fui muito molequinha. Gostava de fazer tudo quanto é esporte. Joguei Futebol, Futsal, fiz Atletismo. Fiz tudo que eu podia fazer na minha vida. Com minha mãe era mais complicado. Uma vez tirei nota baixa e ela falou: Está de castigo, sem handebol. Era a única coisa que ela me cortava, era o handebol, porque ela sabia que eu gostava muito. Mas foi só uma vez que eu tive uma nota baixa e ela me tirou. Lembro que no meu aniversário, eu já tinha recuperado as notas, mas ela não tinha me deixado voltar. Então na hora de cantar os parabéns, no momento que falaram: Faz um pedido eu falei Eu quero voltar a jogar handebol [RISOS]. Nesse momento ela viu que era importante para mim, que não dava para deixar parar assim, me fazia falta jogar. Acabaram entendendo, e desde novinha eu falo para eles que quero jogar na Europa. E agora que o Brasil está tendo mais visibilidade, está melhorando, está andando. Antes se você falava: Eu jogo handebol largavam um O que é isso?. Na Europa é melhor, lá tem clubes que proporcionam uma boa estrutura para as meninas. Desde o início eu já dizia que ia ser a melhor jogadora do mundo, desde novinha, minha mãe e meu pai compraram meu sonho e estou até hoje. D.R. Tu ainda tens esse desejo de ir para fora? J.L. Eu digo que quero jogar na Europa e ser a melhor jogadora do mundo e ainda vou ser. [riso] D.R. Como é tua rotina de treinamento durante a semana? O que tu fazes em casa? Como é o teu dia-a-dia? J.L. Desde que eu estou aqui na UCS? Ou nos outros? D.R. Pode contar desde o início. Desde que tu foste morar sozinha. J.L. Quando eu estava na minha cidade era normal, ia pela manhã para a escola, depois chegava em casa, arrumava a casa, fazia as coisas para a minha mãe e saia para treinar. O

5 treino era sempre lá pelas quatro, cinco horas, sempre treino. Em 2013, quando estava jogando no Castro Alves foi a primeira vez que eu sai de casa, chorava todos os dias. E era assim, a gente estudava das sete ao meio-dia, depois a gente tinha que voltar a uma e meia para a escola, tinha aula a tarde toda. Como eu era atleta e o treino era na escola, as vezes, dependendo do horário do treino, a gente saia 15 minutos antes da aula, colocava a roupa de treino, entrava em quadra e ficava até as nove. Então a gente passava o dia todo na escola, não tinha tempo para fazer nada. A gente chegava em casa, lá pelas nove da noite, tinha que jantar, ajeitar as coisas para a escola, tomar banho e sem contar que eu morava com 12 meninas, comigo 13. Então imagina todo mundo tomando banho tendo só dois banheiros, então era uma correria. D.R. Era tipo internato? Vocês dividiam quarto? J.L. Eu dividia o quarto com duas meninas paraguaias. Foi bem legal, um aprendizado muito bom. Aqui moram sete na casa, divido o quarto com outras três. Então vou para o cursinho de manhã, almoço no RU 7, depois eu venho para o treino. Treino segundas, quartas e sextas das oito às dez da noite. Nas quintas começa as quatro e nos sábados manhã toda. Na verdade você vive mais para o handebol. D.R. E final de semana? J.L. Em casa, descansando. Quando pode ou quando dá, a gente vai para casa. Na verdade, a gente consegue porque é pertinho, em Osório, mas tem meninas que esperam até junho, julho para ver a família. D.R. Como é o ritmo do dia-a-dia quando estão em torneio ou campeonato? Muda alguma coisa? Intensificam-se os treinos? J.L. Pelo menos até agora, como não teve nada de competição, não sei te dizer bem. Mas nos outros lugares que eu joguei até hoje, quando se aproxima de uma competição muito importante, faz dois turnos de treino, manhã e tarde e assim vai, fica mais puxado.

6 D.R. Como tu vês o interesse do público com relação ao handebol? Quando vocês jogam aqui vem um público considerável? Sai na imprensa que vocês estão tendo um jogo? J.L. Na Liga Nacional você tem mais visibilidade por ser adulto, ser profissional. E tem cobertura de TV e tal. Então tem uma visibilidade maior, agora nas categorias mais novas, não tem muito público. Mas se tu fores comparar aqui com a Europa, lá um jogo enche o ginásio, são 5.000 pessoas assistindo. É muito diferente. D.R. Qual é a maior frustração que tu já tiveste dentro do esporte? E o teu maior sonho? J.L. Como assim? Frustrações? D.R. Se você já se decepcionou com alguma coisa em relação ao Handebol? J.L. Não. Quanto a isso, em relação à visibilidade, pela falta de apoio, isso é muito normal. Por ser o país do futebol, o investimento está neles. Então em quase todos os outros esportes fica um pouco a desejar. Mas a pior coisa para um atleta é se machucar e não poder jogar. Mas a gente aprende a conviver com a dor, porque todos os dias é uma batida, uma pancada ou alguma coisa que causa dor, mas conseguimos lidar com essar dores. Agora, aquela dor que te proíbe, que o treinador, o fisioterapeuta falam que você não vai jogar, essa é terrível. Ano passado na semifinal das Olimpíadas Escolares eu tomei uma cotovelada na boca, na hora fiquei meio perdida, mas pensei vou continuar jogando. Só que em seguida eu caí no chão, caí de costas no chão. Nisso veio à fisioterapeuta e virou o meu rosto para o lado, sangrava muito, só que eu não entendia de onde vinha tanto sangue. Começaram a tentar estancar o sangue e me tiraram de quadra. Quando me tiraram eu falei para a fisioterapeuta fazer tudo rapidinho para eu voltar jogar. E ela disse: Não, você não vai poder voltar a jogar. E eu: Não! eu posso, eu estou bem. Daí ela disse: Juliana, você vai ter que suturar sua língua. A minha língua ficou bifurcada, tive que costurar, cortou muito, eu olhava abrir para os dois lados e eu: Gente o que é isso? No outro dia era a final e estávamos classificadas para jogar a final e lembro que todo mundo falava pra o meu treinador: Pelo amor de Deus não deixa essa menina jogar, ela está cheia de pontos na língua. Sem contar que por causa da pancada, minha cervical ficou travada, 7 Restaurante Universitário;

7 então eu não conseguia virar nem para a direita e nem para esquerda, eu ficava só olhando reto. E todo mundo: Gente é muito perigoso colocar essa menina para jogar. Lembro que o meu treinador veio falar comigo e perguntou pela manhã como eu estava. Falei que estava bem e pronta para o jogo. Na hora de falar o nome das atletas que iam iniciar a partida, meu nome não estava na lista. A lágrima escorreu e falei Emerson, eu estou bem, eu posso jogar. Ele respondeu: Calma, eu sei que tu podes, na hora que eu sentir o jogo, você entra. Entrei e fui muito bem e tranquila. Eu só pensava assim, passei o ano todo longe da minha família, longe de casa, dos amigos e chegar à final e não poder jogar a final das Olimpíadas Escolares, que é uma das competições mais faladas, até talvez mais que o Brasileiro de Clubes, que tem cobertura. Só pensava, não posso ficar sem jogar. [RISO] D.R. Quais são as diferenças que tu podes destacar entre o handebol feminino e o masculino? Em questões técnicas, de estrutura, de regras, de clubes, de atletas... J.L. De regras é a mesma coisa, o salário masculino é um pouco mais alto. E no masculino os caras são mais fortes, no jogo tu vês os caras saltando uns 10, 11 metros. Porque se ir para cima é muita porrada, mais peso. Feminino tu vês velocidade, técnica, alguma coisa assim. Mas no masculino tu vês muita coisa que impressiona, é aéreo, aéreo de uma ponta para outra e os dois no ar. Eu acho fascinante o handebol, então eu fico paralisada olhando. D.R. Todo mundo falou que o fato da Seleção Brasileira Feminina ter ganhado o Mundial foi bom para o Brasil, porque trouxe visibilidade. De alguma forma as meninas apareceram em rede nacional, deram entrevista. Na tua opinião o que tu consideras que deveria ser feito no Brasil para que o handebol fosse mais bem remunerado, mais valorizado. J.L. Na verdade se tu fores comparar. Quer ver? A Alexandra Nascimento, capixaba, eleita a melhor jogadora do mundo teve quinze segundos de Jornal Nacional, só falaram: Alexandra Nascimento, brasileira, a melhor jogadora do mundo. Então é muito rápido infelizmente. Felizmente elas foram Campeãs Mundiais, só que elas foram Campeãs Mundiais em ano de Copa do Mundo. Só se fala de Copa do Mundo, e uma coisa que foi grandiosa, que elas conquistaram, caiu no esquecimento. Porque só se fala nos estádios que

8 não estão prontos, falam disso e daquilo. Então a gente esperava que fosse dar uma mudança muito grande, mas é ano de Copa do Mundo, ficou um pouco esquecido. Mas acredito que em alguns anos vai dar uma melhorada, que as Olimpíadas de 2016 o Brasil, a Seleção Feminina serão Campeãs Olímpicas, já dá uma diferença e vai crescendo. D.R. Para ti, o que é ser profissional de handebol? J.L. Eu acho que você não precisa [INAUDÍVEL]. Você se torna profissional, quando você encara á sério o que você está fazendo. Tudo que você for fazer na vida, você tem que ter determinação, foco e objetivo. Igual a mim, eu tenho o objetivo, desde novinha, de ser a melhor jogadora do mundo, jogar na Europa. Trabalho em busca desse sonho. Tenho o objetivo de tentar entrar na Seleção e jogar as Olimpíadas de 2016, mas sou nova. Ser profissional é encarar e levar á sério. Acho que além de ter um salário, que é muito importante, ter condições, ginásio bom, quadra boa, bolas e estrutura, o que mais te leva a ser profissional é tu se vê como um profissional. Porque no Brasil e em todo mundo são milhões de pessoas fazendo esporte. E só afunila, toda vez que tu sobes de categoria, afunila mais um pouco. Porque é muita gente boa chegando, gente boa saindo. Mas a quantidade que entra é muito maior. Então uma coisa que eu levo comigo é sempre que eu achar que estou treinando demais, que já me dediquei demais, paro e penso, não! Em algum lugar desse mundo enorme, tem alguém que está treinando mais, se dedicando mais. Acho que isso ser profissional, é encarar e não desistir, continuar e buscar melhorar, aperfeiçoar técnica, velocidade, tudo. Acho que é isso. D.R. Desde que tu treinavas em Osório até chegar aqui. Teve algum momento em que tu te deste conta: Eu agora sou uma profissional, agora eu tenho condições de ser uma atleta de Seleção. Teve algum momento assim? J.L. Assim. A gente acha que nunca está pronto, porque nunca ninguém está preparado o suficiente. Então enquanto eu estava em casa junto com a minha mãe, com a minha família, era tudo muito tranqüilo. Mas quando você passa a conviver com outras pessoas, que não são do seu dia-a-dia, pessoas totalmente diferentes, que tem culturas diferentes, que tem jeitos diferentes. No Espírito Santo morava com paraguaias, meninas de outros estados, com jeitos, maneiras e educação diferentes. No clube que comecei, quatro meninas

9 que jogavam comigo eram minhas colegas de escola, passávamos o tempo todo juntas e tenho 9, 10 anos de amizade. Então dentro de quadra tinha uma relação muito afetuosa e não tinha aquele negócio de uma xingando a outra, esse tipo de coisa. No momento em que você sai de casa, do seu Estado e que você vai lá para o Espírito Santo é diferente, as meninas, elas cobram uma das outras. Nem se preocupam se foi uma cobrança educada ou não. Daí complica, você chega em casa, em casa não né? Você chega ao lugar em que está morando, para e pensa: O que eu estou fazendo aqui?. E foi a partir do ano passado, em relação a tudo isso, que eu me dei conta Agora é profissional. Tu já levaste um monte na cabeça, teve que aprender. Como te disse, no ano passado eu chorava todo o dia de saudade da minha família, nunca tinha ficado longe de casa. E quando fui, fui para bem longe. Via minha família só um dia e meio, na metade do ano e depois no final do ano. Fui aprender tudo sozinha lá, foi quando me toquei, agora é sério! Estou longe da família. Porque penso assim, se for para você ficar brincando, não levar a sério, vai para casa com sua família. Não tem coisa melhor do que ficar com a sua família, com os seus amigos, com quem tu gostas, não vai ficar sofrendo [RISO]. Por que a gente sente muita coisa, sente saudade, sente tudo e tem que conviver com isso todos os dias. Então se não é para levar a sério, vá para casa, vai estudar, se dedica a estudar, faz qualquer outra coisa, mas não tenta essa vida. D.R. Uma pergunta que eu fiz para outras meninas. Sei que tu és novinha, mas se tu pudesses dizer para uma menina que está começando no Handebol agora e que se espelha na Alexandra Nascimento, que vai se espelhar em ti. O que tu dirias para ela? Qual a mensagem tu deixarias para ela? J.L. Eu diria para ela nunca desistir. Por que eu acredito que o melhor livro de todos, que é a Bíblia, diz que quem ama nunca desiste. Então, tudo o que tu fizeres, faça porque tu amas, porque tu gostas. Acho que tu não podes pensar no dinheiro, não pode pensar em qualquer outra coisa que não seja tua felicidade, na tua realização pessoal. Tem que buscar fazer tudo de uma maneira correta, sem passar por cima de ninguém. Eu acho que é isso, nunca desistir. Muita gente fala: Ah! Você não vai ser nada, você não vai conseguir. Olha eu, tenho o sonho de ser a melhor jogadora do mundo, e muita gente deve ter esse sonho e falam: Não, tu não vais conseguir. Eu sei até onde você pode chegar, pois, a única pessoa que pode me derrotar é eu mesma, só vou parar, só vou ser uma derrotada

10 quando eu falar assim: Não, eu não consigo. Tudo que a gente quiser, todo sonho que a gente tiver a gente consegue realizar. Então acho que é nunca desistir, se gosta, se tem vontade, vai e tenta fazer. Então tenta e vê no que dá [RISO]. D.R. Muito obrigado Juliana. Em nome do Centro de Memória do Esporte, te agradeço. J.L. De nada. [FINAL DA ENTREVISTA]