DEPOSIÇÃO IRREGULAR DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO CONJUNTO EDUARDO GOMES NO MUNICÍPIO DE SÃO CRISTÓVÃO - SE: UMA ABORDAGEM A PARTIR DA APLICAÇÃO DAS GEOTECNOLOGIAS Leandro Barros de Santana¹, Cleverton dos Santos², Elisnan Alves dos Santos², Giselle Barreto Xavier Santos² ¹Mestre em Geografia NPGEO/UFS. E-mail: leobarsan@gmail.com ²Graduandos Tecnologia Saneamento Ambiental- IFS. Bolsistas do PIBIC. E-mail: saneamento2011ambiental@hotmail.com Resumo: Este artigo evidencia os problemas do descarte irregular dos resíduos sólidos no conjunto Eduardo Gomes no município de São Cristóvão - SE, tendo como ferramenta de auxilio e análise, as geotecnologias. Na execução do trabalho foram feitos levantamentos bibliográficos, além de dados populacionais do município de São Cristóvão coletados no IBGE. As imagens orbitais do satélite GeoEye, foram adquiridas através do software Google Earth complementadas com trabalhos de campo e registro fotográfico de diferentes pontos do conjunto Eduardo Gomes com o intuito de mapear as áreas onde ocorre grande acúmulo de resíduos. Constatou-se a partir da análise das imagens da região a identificação e estudo de 7 (sete) áreas de deposição irregular. Foi evidenciado que o conjunto Eduardo Gomes está passando por sérios problemas de descarte irregular de lixo decorrente da falta de educação dos moradores e da falta de cuidado com o meio ambiente. Palavras chave: Áreas, Descarte, Geotecnologias, Resíduos 1. INTRODUÇÃO A partir do século XVIII o homem passou a transformar matéria-prima em produtos industrializados num ritmo cada vez mais acelerado, geralmente, a manipulação desses recursos ocorre em áreas urbanas por serem locais de maior concentração industrial. Sem analisar as conseqüências, o ser humano passou a gerar enormes quantidades de resíduos, proveniente em sua maioria das sobras ou restos de produtos industrializados, sendo esses jogados no ambiente sem qualquer cuidado. À medida que a população de uma determinada região cresce existe a necessidade de adequação do lugar no que se refere aos serviços públicos básicos, ao exemplo de locais para a deposição de resíduos sólidos, logo a falta desses locais de descarte somados com a falta de consciência da população, faz surgir grandes depósitos a céu aberto nos perímetros urbanos, sendo assim, o estabelecimento de novos padrões comportamentais e culturais depende de um trabalho de educação e conscientização e deveria (deve) ser tarefa da atual geração e das próximas, na construção de um novo modelo de mundo. (SISINNO e OLIVEIRA 2003, p.19). Pois, o resíduo sólido ou simplesmente "lixo" é todo material sólido ou semi-sólido indesejável e que necessita ser removido por ter sido considerado inútil por quem o descarta em qualquer recipiente destinado a este ato. (MANUAL GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS SÓLIDOS, 2001, p.25). Vale ressaltar que o resíduo descartado pode ter utilidade para outras pessoas sendo até usado como fonte de renda principalmente em áreas urbanas onde a geração de resíduos é maior, no entanto, boa parte dos resíduos produzidos e encontrados nos perímetros urbanos é de origem domiciliar e de estabelecimentos comerciais como consultórios e escritórios, porém, é possível encontrar também resíduos industriais e hospitalares como agulhas e seringas. Dentro de vários inconvenientes que a deposição irregular dos resíduos sólidos pode causar destaca-se a poluição do ambiente, ocorrendo de várias formas, como a do solo, pois: As substâncias químicas poderão ser acumuladas pelos vegetais terrestres cultivados em solos utilizados anteriormente como depósito final para resíduos e, no caso dos metais pesados, também devido a solos corrigidos com adubos orgânicos (SISINNO e OLIVEIRA 2001, p.47).
Entretanto, a poluição do solo nos remete a outra preocupação, a contaminação das águas subterrâneas, geralmente por resíduos químicos que percola as rochas até atingir os lençóis subterrâneos, sendo que, a habilidade natural do solo acaba por devolver a qualidade da água, desde que não haja contaminação química ou infiltração de agrotóxicos e metais pesados (CARVALHO e OLIVEIRA 2003, p.21). De certa forma, a poluição do solo pode chegar a níveis mais baixos e atingir os lençóis freáticos e contaminar até mesmo as águas superficiais, nos casos de rios perenes que são alimentados também por água subterrânea. Enquanto as águas superficiais rios, lagos, e reservatórios não tem uma defesa natural (comparando com as águas subterrâneas que tem o solo como filtro) estão muito mais sujeitas à poluição ambiental, decorrente da decomposição dos resíduos (CARVALHO E OLIVEIRA 2003, p.21). Em áreas de lixões onde não se há um controle e gerenciamento, o acumulo desses resíduos ao passar do tempo gera uma espécie de liquido escuro com uma carga poluidora muito alta, decorrente da putrefação de matéria orgânica conhecida como chorume. Outro problema gerado em decorrência dos resíduos sólidos é a poluição do ar, sendo que esse tipo de poluição pode atingir pessoas em áreas distantes do foco da poluição, ou seja, o mau cheiro pode ser levado a locais distantes ocasionando para a população, distúrbios respiratórios provocados por substancias voláteis, sendo que uma área com deposição irregular de resíduos causa um impacto visual negativo e em alguns casos pode até prejudicar o mercado imobiliário com a desvalorização do imóvel perto de lixões a céu aberto, além disso, é importante ressaltar que: A poluição visual afeta o bem-estar das populações residentes nas vizinhanças das áreas de disposição de resíduos urbanos e industriais, uma vez que o quadro deprimente encontrado nestes locais provoca um impacto visual e emotivo, envolvendo sensações de medo, nojo etc. (SISINNO E OLIVEIRA 2003, p.48). No entanto, o avanço tecnológico permitiu a criação de diversas ferramentas que podem auxiliar o homem no monitoramento das suas atividades sobre a superfície do planeta e uma delas é a utilização do sensoriamento remoto. Ao longo dos anos, a utilização de imagens suborbitais foi sendo cada vez mais empregada nos estudos científicos possibilitando observar a Terra de outra forma. Lima e Rêgo (2011) afirmam que as imagens de satélite são utilizadas em escala crescente em estudos urbanos devido à necessidade constante de monitorar as mudanças contínuas em resposta ao crescimento acelerado das cidades. O uso dessa tecnologia possibilita a compreensão do interrelacionamento dos fenômenos urbanos ocorridos e detectam os impactos diretos e indiretos desse processo, informações essencialmente necessárias para o planejamento e gestão das cidades. Fitz (2008) considera que as ações vinculadas ao planejamento, à gestão, ao monitoramento, ao manejo, à caracterização de espaços urbanos e rurais certamente serão melhor aproveitados com o auxilio de um Sistema de Informações Geográficas, que em nível de município, podem-se extrair as seguintes aplicações em planejamento urbano: mapeamento atualizado do município; zoneamentos diversos (ambiental, socioeconômico, turístico, etc); monitoramento de áreas de risco e de proteção ambiental; estudos e modelagens de expansão urbana e controle de ocupações irregulares. O município de São Cristóvão tem a quinta maior população do Estado de Sergipe com 77.030 habitantes segundo os dados do censo 2010 do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Com uma área de 437 km 2, possui sérios problemas de infraestrutura e de saneamento básico. Contudo na Grande Rosa Elze composta pelos conjuntos: Lafaiete Coutinho, Eduardo Gomes, Madre Paulina, Jardim Universitário, Luiz Alves, Tijuquinha, Vila Vitória, Santa Susana, Rosa Maria, Rosa do Oeste e Maria do Carmo, onde esses problemas são mais evidentes, exceto o conjunto Eduardo Gomes, este sendo o objeto de estudo desse trabalho possui 100% da sua área saneada, em contra partida, as demais localidades necessitam de maior atenção das autoridades públicas. Com a utilização de imagens de satélites foi possível identificar as áreas do perímetro urbano da Grande Rosa Elze especificamente no Eduardo Gomes que possuem um grande acúmulo de resíduos sólidos de várias características como restos de construção civil, lixo doméstico, pneus etc. Mesmo ocorrendo periodicamente à coleta seletiva, boa parte da população jogas seus resíduos nas vias públicas ou em
área de vegetação nativa, percebe-se que a falta de consciência da população de modo geral, agrava a situação deprimente, fazendo com que cresçam nos perímetros urbanos verdadeiros lixões a céu abertos, contribuindo para a proliferação de ratos e insetos peçonhentos nocivos a saúde humana, além disso, animais mortos deixados a céu aberto como cachorro, gato e cavalo, que ao passar do tempo com a decomposição exalam um cheiro desagradável implicando também no impacto visual negativo e podendo contaminar o solo. O objetivo deste trabalho é estudar e caracterizar as áreas de deposição irregular de resíduos sólidos no conjunto Eduardo Gomes no Município de São Cristóvão - SE, com auxilio das geotecnologias. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Para execução do trabalho foram realizados levantamentos bibliográficos sobre o tema, além dos dados referentes à população do município de São Cristóvão - SE, disponibilizados pelo IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As imagens orbitais do satélite GeoEye, foram adquiridas através do software Google Earth para a identificação das áreas de deposição irregular de resíduos sólidos complementados com trabalhos de campo onde foram observados não só os depósitos irregulares dos resíduos, mas também os danos que são causados ao meio ambiente, com registro fotográfico de diferentes pontos do conjunto Eduardo Gomes com o intuito de mapear as áreas onde ocorrem descartes irregulares. 3. RESULTADO E DISCUSSÃO Com a utilização das geotecnologias através das imagens de satélites foi possível a identificação e a localização de diversos pontos do descarte irregular no conjunto Eduardo Gomes. A análise das imagens da região (Figura 01) proporcionou o estudo dos pontos onde ocorrem enormes depósitos de resíduos, sendo identificados e classificados por áreas. Por tanto, foram identificadas 7 (sete) áreas onde ocorrem grande acúmulo de dejetos, sendo estas analisadas e consideradas de maior relevância. Figura 01- Imagem do satélite GeoEye da áreas de deposição irregular de resíduos sólidos Fonte: Google Earth. Organização: Cleverton Santos /2012 Área1: Logo próximo a entrada do conjunto Eduardo Gomes foram identificados vários pontos de acúmulo irregular de resíduos. Em uma das principais avenidas, a Airton Senna (antiga Marginal) foram encontradas enormes quantidades de lixo ao longo de todo seu trecho, comprovando a falta de consciência da população que conta com a coleta do lixo três vezes por semana. Os resíduos encontrados nessa primeira parte da Avenida Airton Senna entre as ruas 32 e 36 (Figura 02) são de vários tipos, desde vasos sanitários, restos de construção civil e até sofás velhos, os mais encontrados, causando um impacto visual negativo.
Figura 02- Próximo a entrada do conjunto Eduardo Gomes Fonte: Giselle Barreto / 2012 Área 2: Seguindo na mesma avenida a situação se agrava por está próxima a Escola Estadual Hamilton Filho, compreendendo os trechos entre a rua 37 e 38, a visão que se tem do lugar lembra um verdadeiro lixão, é possível encontrar material orgânico envolvido em sacolas plásticas, sapatos e carcaças de computadores (Figura 03) sendo que os resíduos estão depositados nas margens da avenida, que em dia de feira livre que ocorre aos sábados e quartas-feiras, os moradores das áreas vizinhas como Madre Paulina, Luiz Alves e Vila Vitória, tem como percurso a Avenida Airton Senna, no entanto, não somente essas pessoas sofrem com o descaso, mas também os próprios moradores e usuários da Escola Estadual ao lado, por respirarem o mau cheiro que exala do lixo. Figura 03- Avenida Airton Senna (Antiga Marginal) próximo ao Colégio Estadual Hamilton Filho Fonte: Giselle Barreto / 2012 Área 3: Ainda na avenida Airton Senna a falta de educação dos moradores e comerciantes contribui bastante para a situação atual. Seguindo pela mesma avenida em direção ao final de linha do conjunto Eduardo Gomes, é possível ainda, encontrar vários pontos de descartes irregulares. Nesse trecho qualquer esquina se torna um ponto de deposição de resíduos. A falta de conscientização dos moradores é notória, sendo o descarte realizado em qualquer lugar, são variados os tipos de resíduos encontrados: desde restos de guarda-roupas, colchões e sanitários, a restos de materiais para a construção civil e televisores, até mesmo o fundo do Ginásio esportivo Armando Batalha (Figura 04) serve como área de deposição irregular. Figura 04- Fundo do Ginásio esportivo Armando Batalha Fonte: Elisnan Alves / 2012
Área 4: O problema do descarte irregular no Conjunto Eduardo Gomes é preocupante. Há necessidade de intervenção pública através de programas, campanhas de ensino e prática da educação ambiental, sendo esta a ferramenta que poderá ser utilizada pelos gestores públicos. Os danos ao meio ambiente e o perigo que oferece a saúde da população são cada vez maiores. Quando os resíduos são descartados em locais inapropriados como, por exemplo, a beira de rios, existe o risco das espécies que vivem no rio serem contaminadas, colocando em risco a saúde da população que pesca nas imediações. Em períodos de chuvas intensas, esses materiais são carreados para dentro do rio. Tal fato é constatado no Eduardo Gomes, por localizar-se as margens do Rio Poxim (Figura 05) onde existe um ponto de captação de água da Companhia de Saneamento de Sergipe-DESO, para abastecimento da própria região e da cidade de Aracaju. Na área em questão verificou-se o descarte de resíduos como pneus, caixas de papelão, bolsas plásticas restos de materiais de construção civil e carcaças de computadores. Figura 05- Depósito de resíduos às margens do Rio Poxim. Fonte: Elisnan Alves /2012 Área 5: É perceptível que a geração de resíduos sólidos tem impacto direto no meio ambiente, na Avenida Canal entre as ruas 82 e 86, alguns comerciantes da região, no intuito de ampliar suas instalações acabam degradando o ambiente com a derrubada de árvores, reduzindo a quantidade de áreas verdes nas imediações. Nessa área, também foi encontrado um verdadeiro depósito de restos de material de construção como pode ser observado na imagem abaixo (Figura06). Figura 06- Avenida Canal entre as ruas 82 e 86 Fonte: Cleverton Santos / 2012 Área 6: Seguindo na mesma avenida, ao fundo do Colégio Estadual Glorita Portugal, a situação torna-se mais crítica, por passar um canal pluvial que recebe boa parte dos esgotamentos domésticos da área, situada no fundo dessa escola que serve como depósito de vários tipos de resíduos. Os rejeitos estão à beira da avenida e as margens do canal. O agravante da situação são os resíduos de grande porte como guarda-roupas e restos de cama com grandes caixas de madeiras (Figura 07), esses, ao caírem dentro do canal podem interromper o fluxo do esgoto causando maiores problemas à população.
Figura 07- fundo do Colégio Estadual Glorita Portugal Fonte: Cleverton Santos / 2012 Área 7: Já na rua B (Figura 08), indo em direção ao conjunto Tijuquinha, a constatação da degradação ambiental é mais visível, pois na localidade existe uma frutaria e duas lojas de materiais de construção. Portanto, boa parte dos resíduos encontrados são restos de material orgânico. Também são encontrados caixas de embalagens de frutas, além de resto de material de construção e sofás queimados. O descarte nessa área é feita de forma indiscriminada agredindo o meio ambiente prejudicando a vegetação e até mesmo pondo em risco a saúde da população pela existência de animais peçonhentos, tais como: escorpião, cobras e ratos, estes vetores de várias doenças, atraídos pelo acúmulo inadequado desses resíduos. Figura 08- degradação ambiental Fonte: Cleverton Santos / 2012 4. CONCLUSÃO A utilização das geotecnologias como ferramenta de análise espacial juntamente com os dados e imagens de satélite mostra que o conjunto Eduardo Gomes está passando por sérios problemas, referentes à geração de resíduos e o acúmulo em locais inapropriados. Dentre as principais causas observadas durante a pesquisa estão: a falta de educação dos moradores, a falta de cuidado com o meio ambiente e o descarte inadequado do lixo. O poder público contribui de certa forma para o descaso, pela falta de campanhas educativas junto à população, limitando-se a coleta de lixo, pois já é notório que o problema existe há muito tempo, entretanto os responsáveis pela gestão municipal não tomaram nenhuma providência a esse respeito. Logo é necessário que haja um trabalho de conscientização da população pela importância do descarte correto e os benefícios advindos dessa prática que contribuem para melhoria da qualidade de vida dos próprios moradores do local. 5. REFERÊNCIAS. Censo Demográfico. Sergipe. 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/resultados_do_censo2010.php FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. Oficina de textos, São Paulo, 2008.
LIMA, P. RÊGO, S. Estudo da Urbanização na zona sul da cidade de João Pessoa-PB através de sensoriamento remoto e análise espacial. Anais do I Simpósio de Estudos Urbanos: Desenvolvimento Regional e Dinâmica Ambiental. Campo Mourão PR, 2011. Manual de Gerenciamento Integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001. OLIVEIRA, Maria Vendramini Castrignano de; CARVALHO, Anésio Rodrigues. Princípios Básicos do Saneamento do Meio Ambiente. São Paulo: Ed. Senac, 2003. SISINNO, Cristina Lucia Silveira; OLIVEIRA, Rosália Maria de. Resíduos Sólidos, Ambiente e Saúde: Uma Visão Multidisciplinar. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2000.