SEMINÁRIO A MODERNIZAÇÃO DA LEI DE DIREITOS AUTORAIS: CONTRIBUIÇÕES FINAIS PARA O APL Subsídios adicionais para as mesas temáticas em relação aos pontos de aperfeiçoamento identificados pela Diretoria de Direitos Intelectuais, levando em consideração, inclusive, comentários e contribuições oferecidas pela sociedade desde que o texto do APL foi disponibilizado no site do Ministério da Cultura (de abril a maio deste ano). MESAS 1 e 2 - LIMITAÇÕES E EXCEÇÕES AO DIREITO DO AUTOR Pontos comuns a todos os incisos e para apreço das MESAS 1 e 2 acerca do artigo 46: a) Verificar se as limitações não ferem os três passos indicados na Convenção de Berna e no Acordo ADPIC (TRIPS); b) Se existem indefinições nos seus campos de abrangência; e c) Em quais hipóteses é imperiosa a regulamentação supletiva pelo Poder Executivo da limitação e exceção para não desvirtuar a sua utilização. Questionamentos específicos para a MESA 1: 1º) A redação dos incisos I e II do artigo 46 deveria adotar o termo locação ou o termo mais abrangente empréstimo? 2º) A extensão às rádios comunitárias das limitações e exceções ao direito de autor atendem as regras dos três passos? 3º) A extensão aos eventos beneficentes (religiosos ou não) atendem as regras dos três passos?
Questionamentos específicos para a MESA 02: 1º) Sobre o 2º do artigo 46: 1) Quais as vantagens e desvantagens do Poder Judiciário declarar outros casos análogos de limitações e exceções ao direito do autor? 2) Quem seria legitimado a propor a ação judicial e a ser indicado como ex-adverso? 3) Qual órgão do Poder Judiciário seria competente para julgar essa ação? 2º) Sobre o artigo 52-D - Obra Órfã: a) Aferida a similaridade dos conceitos autor não identificado, anotado no dispositivo inédito do 52-D, com autor desconhecido assente no inciso II do artigo 45 da Lei vigente, mantido no APL, quais as possíveis repercussões no caso de evidenciada a identidade desses conceitos, mormente no que toca à caracterização do domínio público? b) O 2º do dispositivo expõe à União a sua responsabilidade objetiva estatal ao condicionar o licenciamento de obra órfã ao pagamento futuro pelo licenciado, qualificado como depositário fiel do valor devido, a ser adimplido na hipótese de identificação do autor ou titular da obra? c) Ao atribuir o arbitramento do valor para remunerar o autor não identificado ao Poder Público, termo mais abrangente inscrito no 2º do dispositivo, dissente ou não do termo Ministério da Cultura inscrito no seu caput, órgão superior da administração pública federal a quem confere inicialmente o dispositivo a atribuição para conceder a licença não exclusiva? d) Dada a sua voluntariedade, qual o papel do Registro Público das obras autorais em face da proposta de licenciamento compulsório de obra órfã? MESA 3 - USO DAS OBRAS DA INTERNET 1º) O artigo 105-A ao criar a solidarização civil entre o contrafator da obra intelectual e o hospedeiro de conteúdo em ambiente digital é suficiente para coibir a violação do direito autoral na internet? 2º) Esse dispositivo abarca ou não a responsabilidade solidária dos provedores de internet? 3º) A forma e os requisitos de validade da notificação via internet é suficiente ou apresenta excesso de formalismo? 4º) Os prazos a serem observados para os seus efeitos legais são satisfatórios e eficazes para coibir o uso indevido da obra autoral?
MESA 4 - REPROGRAFIA 1º) Diante da alegação de que controlar a atividade de cópia se mostra impossível, não deveria neste momento a proposição legislativa apontar solução tão somente para o âmbito dessa utilização nos estabelecimentos de educação formal? 2º) De outra feita, diante de soluções que vêm sendo adotadas pelo mercado editorial, como a edição de livros que reúnem conteúdos selecionados de molde a atender a demanda das instituições de ensino, respeitados os direitos autorais, haveria necessidade dessa atividade de reprodução vir regulada na lei? 3º) Há incompatibilidade entre o regime de limitação, que permite a cópia privada, e o regime da reprografia proposto? MESA 5 - SUPERVISÃO ESTATAL Diante da necessidade de supervisionar a gestão coletiva dos direitos autorais, principalmente aquela realizada de forma unificada, cujo modelo aplicado ao segmento da música (ECAD) está sendo estendido para o segmento audiovisual (art. 99-A) e da reprografia (art. 99-B), o APL no seu artigo 98-A estabelece a necessidade de duplo registro dessas associações para efeito de autorizá-las a promoverem a arrecadação e distribuição de direitos autorais. Desta forma, para além da sua constituição nos termos da lei civil, promovida junto ao competente Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas (atividade delegada do Poder Judiciário), as associações e demais entidades representativas de autores, titulares e detentores de direitos conexos para exercer esta atividade em especial deverão obter esse novel registro especializado junto ao Ministério da Cultura. O referido modelo de registro foi inspirado no registro sindical exigido pelo Ministério do Trabalho e Emprego para efeito de validar a representação sindical de categoria econômica e de trabalhador. 1º) Para efeito de obtenção desse registro específico a associação interessada deve apresentar os documentos e elementos listados no caput do artigo 98-A. Diante desta disposição legal proposta questiona-se:
a) As atividades econômicas realizadas pela gestão coletiva, dada a multiplicidade de interesses individuais por ela administrados e a cobrança de usuários no mercado, autoriza a regulação dessa atividade pelo Estado? b) Qual o limite da supervisão estatal no disciplinamento desses direitos geridos coletivamente por associações civis sem finalidade lucrativa e cobrados da sociedade? c) Os documentos e elementos requeridos pelo Ministério da Cultura nos incisos I a III do artigo 98-A bastam para efeito de promover a eficaz supervisão estatal da gestão coletiva proposta pelo APL? d) O desenho de registro proposto pelo Ministério da Cultura caracteriza ato administrativo vinculado ou discricionário do administrador público? Sendo discricionário, seria aplicável ao artigo 98-A a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal construída a partir do julgamento do Mandado de Injunção n.º 144-8, Relator Ministro Sepúlveda Pertence? e) Os critérios e parâmetros supletivos para efeito de definir ou caracterizar o que seja associação de gestão coletiva de administração eficaz, transparente na arrecadação e distribuição dos direitos a ela confiados e de significativa representatividade, podem ser fixados por Decreto presidencial ou portaria ministerial? 2º) Os documentos e informações necessários para obtenção do registro no Ministério da Cultura listados nos incisos II e III deverão ser apresentados e renovados anualmente pela associação de gestão coletiva, conforme 1º do artigo 98-A, sendo que logo no 2º desse mesmo dispositivo é prevista a possibilidade do registro ser anulado, no caso de vício de ilegalidade ou cancelado administrativamente quando verificado que a associação não atende ao disposto neste artigo, assegurado sempre o contraditório. o Diante desta nova realidade posta pelo APL, questiona-se, em face do artigo 5º, incisos XVII, XVIII e XIX da Constituição Federal, a constitucionalidade do Ministério da Cultura anular ou cancelar o registro de associação de gestão coletiva? o No caso de anulação ou cancelamento do registro junto ao Ministério da Cultura, este órgão superior da administração pública federal, para evitar prejuízos econômicos para os autores, titulares e conexos de direito autoral poderia apontar outra gestão coletiva para realizar temporariamente os serviços de gestão coletiva, ou a única solução viável seria a prevista na última parte do 3º do artigo 98-A do APL?
3º) As informações e elementos elencados no artigo 98-B do APL são suficientes para assegurar transparência e controle da gestão dos seus direitos pelos associados das entidades de gestão coletiva? MESA 6 - GESTÃO COLETIVA DE DIREITOS AUTORAIS 1) A gestão coletiva unificada de direitos autorais é a melhor opção para a arrecadação e distribuição da remuneração desses direitos, a exemplo do que já acontece hoje com o ECAD? 2) O APL no seu artigo 99-A estabelece a unificação da arrecadação e distribuição de direitos autorais entre a incipiente gestão coletiva de direitos audiovisuais (inclusive os conexos dessa obra) com a do ECAD (segmento da música), quando essa cobrança tiver que recair sobre um mesmo usuário. Assim, determina o APL praticamente que a integralidade da cobrança pela exibição audiovisual e execução musical públicas sejam realizadas em conjunto em relação à obra audiovisual, e apenas por um desses envolvidos ou mesmo por um terceiro ente a ser criado pela gestão coletiva do audiovisual e da música. Diante deste panorama traçado no APL questiona-se: a) É a melhor opção a cobrança unificada entre o ECAD e a futura gestão coletiva do audiovisual para a cobrança? b) Quem dos envolvidos seria a melhor opção para realizar essa cobrança no caso de não haver acordo entre as duas gestões coletivas para definir o responsável? c) Como seria e qual a extensão da atuação administrativa do Ministério da Cultura para solucionar esse impasse, tendo em vista que a arrecadação da gestão audiovisual somente poderá ser realizada de forma unificada por um ente solitário? d) Quais as formas jurídicas que esse terceiro ente previsto pela norma poderá se revestir para promover essa cobrança (associação civil, sindicato, sociedade comercial e etc.)? e) Como e quando o Poder Judiciário poderia atuar para a solução das controvérsias advindas da falta de acordo no estabelecimento de um único arrecadador e distribuidor dos direitos autorais da obra audiovisual? 3) O mesmo desenho e soluções visionadas em face da cobrança e distribuição unificada de direitos autorais foi estabelecido no artigo 99-B do APL para a reprografia prevista no seu artigo 88-A. Desta forma, questiona-se do mesmo modo as implicações e repercussões que foram lançadas em relação ao artigo 99- A do APL (gestão coletiva do audiovisual), para este outro novo modelo de gestão coletiva de direitos autorais da reprografia.
MESA 7 - REGISTRO DE OBRAS AUTORAIS 1º) O registro de obras autorais deveria ser único e integrado ao ambiente digital, para efeito de centralização das informações e seu gerenciamento, ou o seu desenho atual, mantido pelo APL de forma descentralizada, apresenta-se mais adequado à nossa realidade? 2º) Quais as vantagens e desvantagens da não obrigatoriedade do registro público de obras para efeito de seus usos, garantia estabelecida em favor do autor inclusive em sede do tratado internacional de Berna? 3º) Que funções o registro de obra autoral pode desempenhar, além de conferir segurança jurídica à titularidade da obra registrada ao transferir o ônus da prova para quem tem interesse de contestar a sua força probante? 4º) O registro de obras públicas tem condições de declarar qual obra está caída em domínio público? 5º) Quais averbações e demais atos seriam necessários, a par do próprio registro, para conferir a possibilidade de se declarar com segurança jurídica uma obra caída em domínio público? 6º) Quais atores envolvidos na cadeia produtiva cultural, à exceção do autor da obra intelectual, poderiam ser obrigados a declarar elementos de suas avenças e contratos no registro público para efeito de se aferir o domínio público? 7º) Quais os elementos essenciais e comuns para se conferir informações mínimas e distintivas a uma obra autoral, inclusive no âmbito internacional, partindo-se do cotejo dos cadastros já existentes e mundialmente utilizados, padronizados através dos códigos da ISO (International Organization Standardization), como o IRSC (International Standard Recording Code), IRSW (International Standard Musical Work Code), ISBN (International Standard Book Number) e ISAN (International Standard Audiovisual Number)?
8º) O registro único de obras autorais poderia emprestar maior fidedignidade e evitaria a fraude nos cadastros particulares das entidades de gestão coletiva de direitos autorais? 9º) O registro público de obras autorais seria sede adequada para o autor da obra intelectual restringir voluntariamente seus próprios direitos ou de seus herdeiros (principalmente os não necessários) em favor do domínio público ou mesmo do Estado, nos limites dispostos pela legislação internacional aplicada ao Brasil e atendidas as demais prescrições do Direito das Sucessões do Código Civil? MESA 8 - DAS OBRAS PRODUZIDAS MEDIANTE VÍNCULO EMPREGATÍCIO 1º) A regulamentação no APL disposta no artigo 52-C representa uma avanço na proteção do direito autoral ou um retrocesso, partindo do pressuposto de que a exclusividade dos direitos sobre a obra autoral pertencem ao seu autor? 2º) No caso de servidor público estatutário a regulamentação do seu regime de prestação de serviços obrigatoriamente deveria decorrer de um estatuto legal, geralmente lei ordinária, de modo que seria inarredável nessa hipótese a disciplina exaustiva da obra intelectual decorrente deste vínculo jurídico, descabendo inclusive na contratação dispor de regras particulares, porquanto o Estado não pode dispor de forma discricionária dos direitos e deveres dos servidores públicos estatutários, exclusivamente tratados em sede legal? 3º) A atual redação do 1º do artigo 52-C ao estipular dois marcos iniciais para a contagem do prazo de 10 (anos) do direito de exclusividade do empregador sobre a obra autoral, não acaba por elastecer e até mesmo dobrar esse prazo, conquanto na iminência de findar o prazo decenal, contado a partir da feitura da obra, uma vez a mesma não sendo utilizada pelo empregador, esse prazo escoado desde a sua realização (não acompanhada da sua utilização) será devolvido na sua integralidade ao empregador a partir do seu primeiro uso, como transparece assegurar a primeira parte do dispositivo legal visado (contados da data da primeira utilização da obra pelo empregador) combinada com a sua parte final (ou, na ausência desta, da data de conclusão da obra)? --------------------------------------------------